Vivemos em uma época em que a liberdade de expressão é pauta constante nas discussões políticas. Muitas pessoas — especialmente as mais envolvidas com política — denunciam a “censura” imposta por figuras públicas como o ministro Alexandre de Moraes. Acusam o Supremo de restringir o direito de falar, de se expressar livremente, e até de interferir nas redes sociais.
Mas tem um detalhe curioso (e, por que não dizer, incoerente) nessa história toda:
As mesmas pessoas que condenam a censura do Estado aceitam, sem muito questionamento, a censura das grandes plataformas digitais.
É só observar: evitar palavras como “suicídio”, “estupro” ou “morte” virou uma prática comum para não perder alcance, monetização ou visibilidade nas redes. Termos como “desviver”, “unalive” ou abreviações esquisitas viraram o novo normal. Tudo isso para driblar os algoritmos e as regras que as próprias plataformas impõem.
Então fica a pergunta:
Por que a censura vinda de um ministro é vista como um atentado à liberdade, mas a censura vinda de empresas privadas é aceita como “parte do jogo”?
A resposta pode estar no seguinte: quando se trata de Estado, a crítica é política; quando se trata de empresas, o interesse é financeiro. E nesse meio, o discurso é moldado por medo, conveniência e até hipocrisia.
No fim das contas, estamos todos dançando conforme a música. O problema talvez não seja só quem impõe os limites, mas o fato de aceitarmos esses limites calados — desde que nos tragam curtidas, engajamento e aprovação.
E talvez — só talvez — o verdadeiro vilão dessa história não seja o ministro, mas a incoerência de quem vende seus princípios por um lugar no feed.