Mais um amigo internauta questionou a validade do mandamento do Sábado, tão claro na Bíblia (Êxodo 20:8-11; Apocalipse 14:7). A seguir, veremos que (1) Jesus não era contra a Lei, mas sim contra a forma como era ensinada pelos líderes da época e que (2) Cristo e Paulo não observaram o sétimo dia “porque eram judeus” (como as pessoas tentam justificar o pecado usando 1 Coríntios 9:20-22 de forma ilícita!).
Ótimo estudo!
O Senhor não guardou o Sábado “porque era judeu” ou para “agradar judeus”. Ao estudarmos detidamente sobre o tema, veremos que o objetivo de Cristo ao guardar esse dia era o fato deste “ser um mandamento de Deus”, dado no princípio, antes de haver o pecado (ver João 15:10; Gênesis 2:1-3). Ele O fazia motivado pelo amor a Deus. O mesmo devemos fazer: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos.” João 14:15.
Outro fator que leva-nos a crer que Jesus não guardou o Sábado para agradar aos judeus é o fato do mandamento existir antes dos judeus. Quando Deus estabeleceu o dia de repouso (Jesus esteva presente na criação – ver João 1:1-3), não havia judeus na face da terra, mas apenas Adão e Eva (ver Gênesis 2:1-3. Não podemos supor de forma alguma que enquanto Deus “descansava”, ou seja, “cessava suas atividades” no Sábado, Adão e Eva trabalhavam…). Isto indica que o sábado é “do Senhor” (Êxodo 20:10) e não “dos judeus”.
Jesus guardou o Sábado a fim de obedecer ao mandamento divino; o fez para celebrar a criação de Deus, pois, sabia que o Sábado é um memorial do Criador. Ele ensinou enquanto esteve na terra a forma correta de guardá-lo (é dessa maneira que se devem entender textos como Mateus 12:1-14; Marcos 2:23-28; Lucas 6:1-11. O próprio fato de Jesus ser contra a maneira como o Sábado era guardado e intitular-se como Senhor do Sábado prova que Ele jamais teve a intenção de abolir a Lei. Basta analisar Mateus 5:17-19) e não da maneira fanática e extremista dos fariseus.
Com isto, não podemos dizer que Jesus guardava o mandamento para agradar judeus (Seus embates com os fariseus mostram o contrário…), sendo que muitas de suas discussões com os fariseus giravam em torno da forma como este dia deveria ser santificado.
Se Cristo tivesse o intuito de agradar os líderes da época, teria cedido às pressões farisaicas para que observasse o Sábado a seu modo. Como escreveu Christianini:
“Não foi com objetivo de agradar judeus, porque os desagradou bastante, a ponto de ser expulso da sinagoga e da cidade. Queriam atirá-lo ao precipício” – A.B. Christianini, Sutilezas do Erro (2º Edição Revista e Ampliada), p. 187.
Outra forte evidência a favor do mandamento encontra-se em Lucas 4:16 (confira o verso 31): “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.” Lucas 4:16. Ele ensinava neste dia “no poder do Espírito” (verso 14).
Evidências que não deixam dúvidas…
Quero analisar com você três palavras no texto, levando-se em conta a língua original em que foram escritas (grego): “segundo”, “seu” e “costume”. As informações a seguir extraí do Léxico Grego de Strong (Sociedade Bíblica do Brasil. CD ROM Bíblia Online. Versão 3.0):
“Segundo” – grego “kata”. Significados: 1) abaixo de, por toda parte; 2) de acordo com, com respeito a, ao longo de.
“Seu” – grego “autos”. Significados: 1) ele próprio, ela mesma, eles mesmos, de si mesmo. 2) ele, ela, isto; 3) o mesmo.
“Costume” – grego “etho”. Significados: 1) estar acostumado, habituado; 2) aquilo que é hábito; 3) uso, costume.
Veja que é impossível, de acordo com o original, apoiarmos a ideia de que Cristo “guardava o Sábado por ser judeu” ou por querer “agradar” tal povo. O termo “seu” no grego indica que tal “costume” (hábito) era de si mesmo. Lucas 4:16 poderia perfeitamente ser traduzido da seguinte forma: “… Jesus, de acordo com o seu próprio hábito, entrou num Sábado na sinagoga…”.
O apóstolo Paulo também guardou o Sábado. E você?
Interessante é que as mesmas expressões aparecem também em Atos 17:2. Isto indica, sem margem para dúvidas, que também o apóstolo Paulo guardava o sábado por sua própria convicção! Para comprovar isso, em Atos 16:13 temos um episódio em que Paulo guardou o sábado ao ar livre, em um lugar tranqüilo, longe das sinagogas e em um país estranho. Ora, se ele quisesse santificar o Sábado apenas para agradar os judeus, então por que o fez em uma província Romana? Isso se constitui numa prova fortíssima de que Paulo não guardou o sábado nesta cidade só porque ali havia mulheres judias; o fez também porque é um dos mandamentos de Deus.
Destaco também o fato de grandes comentaristas afirmarem que o mais provável era que Lídia não era de origem judaica, mas uma gentia convertida ao judaísmo (o termo “temia a Deus” [original] em Atos é usado para referir-se aos gentios que, como Cornélio, haviam aceito o judaísmo e adoravam a Deus [prosélitos]). Billy Graham, grande pregador, é sincero em afirmar que este texto (Atos 16:13) é um dos “pontos fortes dos Adventistas em favor do sábado”.
O evento registrado em Atos 13:42-44, ocorrido (aproximadamente) 45 anos após a cruz, indica que, mesmo após a morte o Salvador, o Sábado vigorou. Lembremos que naquela reunião “não estavam apenas judeus”, mas também gentios e prosélitos. Seria uma “ótima oportunidade para ensinar” (ou pelo menos introduzir o assunto) que o dia de repouso não mais vigorava… Mas, isso não aconteceu.
Atos 18:3-4 e 11 também é muito esclarecedor. Paulo, “segundo seu costume” (Atos 17:2 – já vimos o significado do termo “seu”, no grego), após uma semana de trabalho, discorria com seus ouvintes, judeus e gregos, acerca das Escrituras. Ele ficou nesta cidade (Corinto) um ano e seis meses, o que indica que ele teve tempo suficiente para ensinar ao povo que o dia de repouso “havia mudado”. Entretanto, ele não fez isto. Muito pelo contrário: durante este período, guardou nada menos que 78 Sábados. Isso não lhe diz algo?
Após essas evidências, a única conclusão a que podemos chegar é a de que, muito mais do que apenas manter contato com os judeus na sinagoga, o apóstolo Paulo observava o preceito porque “tinha prazer na lei de Deus” (Romanos 7:22) por considerá-la “santa, justa e boa” (Romanos 7:12) e porque amava seguir o exemplo de seu salvador (1 João 2:6; Gálatas 2:20; Lucas 4:16, etc.).
O apóstolo guardou o Sábado por toda a sua vida (Atos 25:8). Nunca foi contra a lei de Deus, mas sim oponente a um sistema religioso que considerava a lei um meio de salvação ([Ler 1 Timóteo 1:8.] Vemos isso especialmente em Gálatas e Romanos. Lendo os capítulos 7 e 8 deste último livro podemos ver que nós estamos livres é do pecado e não da lei. Quando o apóstolo afirma que “morremos para a lei” [Romanos 7:4] o faz no sentido de que não dependemos dela para ser salvos, pois, não somos mais condenados por ela. Compare com Romanos 6:14, 7:25, 3:31, 6:15).
E, para finalizar: o apóstolo não considerou a lei de Deus como sendo “ministério da morte…” (2 Coríntios 3:7) e muito menos “transitória” (2 Coríntios 3:13), pois lei não é sinônimo de ministério. “Ministério da morte” refere-se à antiga ministração da lei, ou seja, aos meios como era ensinada e aplicada. O que foi “abolido” no verso 14 é o “antigo concerto”. A forma como era ensinado o evangelho (por meio de sacrifícios de cordeiros que simbolizavam a Cristo – João 1:29) não era mais necessária.
A palavra grega que aparece no verso é diatheke (concerto, acordo) e não nomos (lei). Conquanto o decálogo fizesse parte do antigo concerto [em algumas ocasiões a Bíblia chama a lei de Aliança (ver, por exemplo, Deuteronômio 4:13). Isso ocorre não porque a lei em si seja o antigo concerto, mas porque ela possuía uma íntima relação com ele. [A fim de entender melhor esta forma bíblica de expressão, compare Deuteronômio 4:13 com o cap. 9:21]. A lei possuía existência independente e, portanto, não cessou juntamente com a antiga aliança (mesmo sendo salvos pela graça não deixamos de guardar os mandamentos, entre eles: “não roubarás’, “não dirás falso testemunho”… ). Prova disto encontramos no fato de, sob o Novo Concerto, a lei ser “escrita no coração” daquele que segue a Cristo (Leia Jeremias 31:33, Hebreus 8:10).
O Sábado é uma das únicas instituições (a outra é o casamento) que ainda possuímos de um mundo sem pecado. Não o tiremos de nossa experiência cristã.
Deus lhe ilumine,
Leandro Quadros.
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