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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

OS ATAQUES CONTRA A IGREJA CATOLICA



A quebra da unidade cristã

No inicio dos tempos modernos, a Igreja foi o alvo favorito das críticas sociais. Despeja-vam-se ataques contra o comportamento imo¬ral dos sacerdotes, contra o clima de corrupção do clero, contra as negociatas envolvendo coi¬sas sagradas.
Havia também o descontentamento dos comerciantes, que sentiam a necessidade de urna nova ética religiosa mais de acordo com a ambição material.
Além de tudo isso, havia ainda conflitos políticos entre a Igreja e os governantes das monarquias européias, que representavam a afirmação dos sentimentos nacionais.
Todo esse processo de crítica e desconten¬tamento contra a Igreja católica desembocou num movimento de rompimento religioso: a Reforma Protestante. Foi essa reforma, realizada no século XVI, que promoveu a ruptu¬ra efetiva na unidade do pensamento cristão oficial.

Causas da Reforma Protestante

Diversos fatores levaram ao movimento da Reforma Protestante. Vejamos os principais:

Fatores religiosos

Entre os motivos religiosos que determinaram um descontentamento em relação à Igre¬ja católica, podemos citar:

- Corrupção do clero religioso: para ga¬nhar dinheiro, o alto clero de Roma iludia a boa fé das pessoas através do comércio de relíquias sagradas. Milhares de pessoas eram enganadas comprando espinhos que coroaram a fronte de Cristo, panos embebi¬dos pelo sangue do rosto do Salvador, obje¬tos pessoais dos santos etc. Além desse Co¬mércio fraudulento, a Igreja passou a ven¬der, também, indulgencias, isto é, o per¬dão dos pecados. Mediante um bom paga¬mento, destinado a financiar obras da Igre¬ja, os fiéis poderiam comprar a salvação e a entrada para o céu.

- Ignorância do clero: a maior parte dos sacerdotes desconhecia a própria doutrina católica e demonstrava absoluta falta de pre¬paro para funções religiosas. A ignorância e o mau comportamento do clero representa¬vam sério problema, pois a Igreja dizia que os sacerdotes eram os intermediários en¬tre os homens e Deus. Ora, se esses interme¬diários se mostravam ignorantes e incompe¬tentes, era preciso buscar novos caminhos para o encontro com Deus.

- Aumento dos estudos religiosos: com a utilização da imprensa, aumentou o número de exemplares da Bíblia que podiam che¬gar às mãos dos estudiosos e da população. A divulgação dos textos sagrados e de ou¬tras obras religiosas contribuiu para o surgi¬mento de diferentes interpretações da dou¬trina cristã. Apareceu, por exemplo, tinia corrente religiosa que, buscando apoio na obra de Santo Agostinho, afirmava que a salvação do homem era a1cançada pela fé. Essas idéias contrariavam a posição da Igre¬ja, baseada em Santo Tomás de Aquino, que dizia o seguinte: são a fé e as boas obras que conduzem à salvação.
Fatores socioeconômicos

A Igreja católica, durante o período me¬dieval, condenava o lucro excessivo (a usura) e defendia o preço justo. Essa moral econômica entrava em choque com a ganância da burguesia. Grande número de comerciantes não se sentia à vontade para extrair o lucro máximo. Viviam ameaçados com o inferno.
Os interessados nos lucros do comércio sentiram a necessidade de urna nova ética religiosa, mais adequada á época de expansão comercial e de transição do feudalismo para o capitalismo. Como veremos mais adiante, a ética protestante mostrou-se bem mais identificada com o espirito dos tempos modernos.

Fatores políticos

Com o fortalecimento das monarquias na¬cionais, os reis passaram a encarar a Igreja, que tinha sede no Vaticano e utilizava o latim, como entidade estrangeira que interferia em seus países. A Igreja, por seu lado, insistia em se apresentar como instituição universal que unia o mundo cristão.
Essa noção de universalidade, entretanto, perdia força, pois crescia o sentimento nacionalista. Cada Estado, com sua língua, seu povo e suas tradições, estava mais interessa¬do em afirmar suas diferenças em relação a outros Estados do que suas semelhanças. A Reforma Protestante correspondeu a esses inte¬resses nacionalistas. Exemplo: a doutrina cris¬tã dos reformadores foi divulgada na língua nacional de cada país e não em latim, o idio¬ma oficial da Igreja.

A REFORMA DE MARTINIIO LUTERO
O homem que não aceitou a venda de indulgências

Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em Elsieben, na Alemanha. Era filho de um empreiteiro de minas que atingiu certa prospe¬ridade econômica. Influenciado pelo pai, en¬trou em 1501 na Universidade de Erfurt para estudar Direito, mas seu temperamento inclina¬va-o para a vida religiosa. Em 1505, após qua¬se ter morrido durante uma violenta tempesta¬de, ingressou na Ordem dos Agostinianos, cum¬prindo promessa feita a Santa Ana.
Estudioso, metódico e aplicado, Lutero conquistou prestigio intelectual. Em 1508, já era professor da Universidade de Wittenberg.
Em 1510 viajou a Roma, sede da Igreja católica. Regressou profundamente decepciona-do com o ambiente de corrupção e avareza em que vivia o alto clero. Nos anos de 1511 a 1513, aprofundou-se nos estudos religiosos até que começaram a amadurecer, em seu espiri¬to, novas idéias teológicas. Nas epístolas de São Paulo, encontrou urna frase que lhe pare¬ceu de importância fundamental:

O justo se salvará pela fé.

Concluiu Lutero que o homem, corrompi¬do em razão do pecado original, só poderia sal-var-se pela fé exclusiva em Deus. A fé, e não as obras, seria o único instrumento de salvação, graças à misericórdia divina.




O rompimento de Lutero com a Igreja católica

Em 1517, explodiu o conflito decisivo que provocou o rompimento entre Lutero e a Igre-ja católica.
Com o objetivo de arrecadar dinheiro pa¬ra a reconstrução da basílica de São Pedro, o papa Leão X autorizou a concessão de indul¬gencias (perdão dos pecados) aos fiéis que contribuíssem financeiramente com a Igreja. Es¬candalizado com essa salvação comprada, Lute¬ro afixou na porta da igreja de Wittenberg um manifesto público - as famosas 95 teses - em que protestava contra a atitude do pa¬pa e expunha alguns elementos de sua doutri¬na religiosa.
Iniciava-se, então, urna longa discussão entre Lutero e as autoridades católicas que ter-minou com a decretação de sua excomunhão, em 1520. Para demonstrar firmeza e descaso diante da Igreja católica, Lutero queimou em praça pública a bula papal Exsurge domine, que o condenava.

A expansão do luteranismo

Ao lado dos problemas meramente religio¬sos, houve urna série de fatores sociais e econô¬micos que favoreceu a difusão das idéias de Lutero na Alemanha. Destaca-se, entre eles, o fato de a maioria das terras alemãs perten¬cer à Igreja católica. A nobreza local cobiçava o domínio dessas propriedades.
Nessa época, o que chamamos de Alema¬nha nada mais era do que um conjunto de prin-cipados e cidades independentes. Não existia, portanto, um país unificado, com unidade polí¬tica. A região fazia parte dos domínios do Sa¬cro Império Romano Germânico, controlado pela dinastia dos Habsburg. A sede do império ficava na Espanha, e o imperador, aliado do papa, procurava preservar certa unidade em terras alemãs e a autoridade sobre seus prínci¬pes e nobres.
Com fome de poder e de riqueza, as clas¬ses elevadas (nobreza e alta burguesia) estavam descontentes com a Igreja e o comando do imperador. Por outro lado, as classes sociais ex-ploradas (camponeses e artesa os urbanos) também culpavam a Igreja pela situação de misé¬ria de que eram vítimas. Havia, portanto, en¬tre as diversas classes sociais, certa opinião comum contra a Igreja.
Liderados por Thomas Münzer, os campo¬neses, a partir de 1524, passaram a organizar urna série de revoltas contra sacerdotes ricos e nobres alemães, donos de grandes propriedades (movimento anabatista). Os camponeses lutavam violentamente pela posse de terras, pela igualdade social e pelo fim da exploração.
As classes dominantes, então, uniram-se para acabar com a revolta camponesa. Lutero apoiou os ricos e publicou um manifesto de ódio contra os camponeses revoltados. O tex¬to escrito por ele dizia:
Contra os bandos camponeses assassinos e ladrões. Nada é mais terrível que um homem revoltado. É preciso despedaça-los e degola-los. Mata-los como se faz com um cachorro touco.
Na luta contra os poderosos, os campone¬ses foram esmagados. Morreram mais de cem mil e o líder Thomas Münzer teve a cabeça cortada.
Em troca do apoio dado às classes ricas, Lutero conseguiu aliados entre a nobreza e a alta burguesia. Os poderosos viram nele um homem confiável e o auxiliaram a divulgar sua doutrina religiosa pelo norte da Alemanha, na Suécia, Dinamarca e Noruega. Em 1529, protestaram contra as medidas, tomadas pelo im¬perador contra Lutero, que impediam cada Es-tado de adotar sua própria religião. Foi a par¬tir desse protesto que se espalhou o nome protestante para designar os cristãos não-católicos.
Não sendo atendidos pelo imperador Car¬los V, o grupo de príncipes protestantes for-mou, em 1531, urna liga político-militar (Liga de Schmalkalden) para lutar contra as forças católicas ligadas ao império. Somente em 1555 o imperador aceitou a existência das Igrejas luteranas, assinando com os protes¬tantes a Paz de Augsburgo. Era o reco¬nhecimento oficial da separação religiosa do mundo cristão.

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