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domingo, 15 de abril de 2018

Cristianismo Bíblico



John Wesley

Pregado na Igreja de St. Mary, Oxford
Diante da Universidade
24 de Agosto de 1744
[Início do Trabalho de John Wesley aos 41 anos]

[Este sermão foi originalmente publicado em um panfleto separado, acompanhado do seguinte endereçamento: 'ao leitor', para o qual foi afixada uma indicação do autor: 'Não foi meu desejo, quando eu escrevi, alguma vez, imprimir a última parte do sermão seguinte: Mas os relatos falsos e grosseiros dele, que têm sido publicados, quase em cada canto da nação, constrangeram-se a publicá-lo completo, exatamente como foi pregado; para que os homens de razão possam julgar por eles mesmos' EDIT]

"Se aquele que ouvir o som da trombeta, não se der por avisado, e vier a espada, e o alcançar, o seu sangue será sobre a sua cabeça". (Ezequiel 33:4)

'E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus'. (Atos 4:31)


1. A mesma expressão ocorre no Segundo capítulo, onde lemos: 'Quando o dia de Pentecostes chegou completamente, eles todos estavam' (os Apóstolos, com as mulheres, e a mãe de Jesus e seus irmãos) 'em concordância, no mesmo lugar. E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo': um efeito imediato disto foi que eles 'começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem'; de tal maneira, que ambos os Partos, Medos, Elamitas, e os outros estrangeiros 'se reuniram, quando o som se espalhou, pelos arredores, ouviram-nos falarem, em suas diversas línguas, as maravilhosas obras de Deus' (Atos-2:1-9).

2. Neste capítulo, nós lemos que, quando os Apóstolos e irmãos oraram e louvaram a Deus, 'o lugar onde eles estavam reunidos foi abalado, e eles foram preenchidos com o Espírito Santo'. Não que encontremos alguma aparição visível aqui, tal como tinha sido na instância anterior; nem fomos informados que os dons extraordinários do Espírito Santo foram, então, dados a todos ou alguns deles; tal como os dons de 'curar, de operar' outros 'milagres, de profecia, de discernir espíritos, de falar outras variedades e interpretações de línguas' (I Cor. 12:9-10).

3. Se esses dons do Espírito Santo foram designados a permanecerem na igreja, através de todas as épocas; e quer serão ou não restaurados, quando da aproximação da 'restituição de todas as coisas', são questões que não há necessidade de decidir.  Mas é necessário observar isto: que, mesmo nos primórdios da igreja, Deus os dividiu com reserva. Eles todos foram, então, profetas? Eles todos foram operadores de milagres? Tinham todos os dons da cura? Todos falavam em línguas? Não, de maneira alguma. Talvez, um, em um mil. Provavelmente, ninguém, a não ser os professores na igreja, e apenas alguns deles.

(I Corintios 12:28-30) 'E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?'. 

Portanto, foi para um propósito mais excelente do que este que 'eles foram preenchidos com o Espírito Santo'.

4. Foi para dar a eles (o que ninguém pode negar que seja essencial para todos os cristãos, em todos os tempos) a mente que estava em Cristo; aqueles frutos do Espírito, que quem não os tivesse, não estaria Nele; para preenchê-los com 'o amor, alegria, paz, longanimidade, gentileza, bondade'. (Gálatas 5:22-24); para capacitá-los com a fé (talvez, ela pudesse ser restituída em fidelidade), com a mansidão e temperança; para capacitá-los a crucificar a carne, com suas afeições e concupiscências; suas paixões e desejos; e, em conseqüência daquela mudança interior, preencher toda a retidão exterior; 'caminhar como Cristo tem caminhado', na 'obra da fé, na paciência da esperança, no trabalho do amor'.

(I Tessalonicenses 1:3) 'Lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai'

5. Sem que nos ocupemos, então, com inquisições curiosas, desnecessárias, no tocante àqueles dons do Espírito, vamos buscar uma visão mais aproximada daqueles seus dons comuns, que nós estamos seguros irão permanecer através dos tempos; -- da grande obra de Deus, em meio aos filhos dos homens, que nós usamos expressar com uma palavra 'Cristianismo'; não quando ele implica um grupo de opiniões, um sistema de doutrinas, mas quando ele se refere aos corações e vidas dos homens. Pode ser útil considerar este Cristianismo, sob três panoramas distintos:

I.              Quando começa a existir nos indivíduos:
II.           Quando se espalha de um para outro?
III.        Quando cobre a terra. .

I

Eu pretendo encerrar essas considerações, com uma aplicação clara e prática.

1. Em Primeiro Lugar, vamos considerar o Cristianismo em sua origem, quando começou a existir nos indivíduos.

Suponha, então, que um desses que ouviram o Apóstolo Pedro pregando o arrependimento e remissão dos pecados, fosse afligido no coração; fosse convencido do pecado; se arrependesse, e, então, cresse em Jesus. Através dessa fé da operação de Deus, que era a mesma substância, ou subsistência das coisas esperadas, para a evidência demonstrativa das coisas invisíveis, ele instantaneamente recebesse o Espírito de adoção, por meio do qual ele agora clamava, 'Aba, Pai'.

(Hebreus 11:1) 'Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem'.

 (Romanos 8:15) 'Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai'.

'Assim foi que ele pôde, a principio, chamar Jesus de Senhor, através do Espírito Santo   . (I Corintios 12:3) 'Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo'; o próprio Espírito testemunhando com seu espírito que ele era um filho de Deus. (Romanos 8:16) -- Assim foi que ele pôde verdadeiramente dizer: 'Eu não vivo, mas Cristo vive em mim; e a vida que eu agora vivo na carne, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou, e deu a si mesmo por mim'.

(Gálatas 2:20) 'Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida, que agora eu vivo na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim'.

2. Esta, então, foi a mesma essência da sua fé, a evidência divina (ou convicção) do amor de Deus, o Pai, através do Filho de seu amor, para ele, um pecador, agora aceito no Amado. E, 'sendo justificado pela fé, ele teve paz com Deus'. (Romanos 5:1); sim, 'a paz de Deus, governando em seu coração'; a paz, que excede todo o entendimento (toda mera concepção racional); preservou seu coração e mente de toda dúvida e temor, através do conhecimento Dele, em que ele creu. Assim sendo, ele não poderia 'estar temeroso de quaisquer boas novas diabólicas', porque seu 'coração permaneceu firme, crendo no Senhor'. Ele não temeu o que o homem poderia fazer junto a ele, sabendo que mesmo os cabelos de sua cabeça foram todos contados. Ele não temeu todos os poderes das trevas, que Deus diariamente esmagava debaixo de Seus pés. Mais do que isto, ele não estava temeroso de morrer; não; ele desejou 'partir, e estar com Cristo' -- (Filipenses 1:23) 'Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor'; quem, 'através da morte, destruiu aquele que tinha o poder da morte, mesmo o diabo; e livrou aqueles que, por causa do temor da morte, estiveram durante toda a sua vida', até aquele momento', 'objeto da escravidão' -- (Hebreus 2:15) 'E livrasse a todos os que, com medo da morte, estavam, por toda a vida, sujeitos à servidão'.

3. Sua alma, portanto, exaltou o Senhor, e seu espírito regozijou-se em Deus, seu Salvador. 'Ele se regozijou Nele, com alegria inexprimível'; quem o tinha reconciliado com Deus; até mesmo o Pai, 'em quem ele teve redenção, através do seu sangue, o perdão dos pecados'. Ele se regozijou no testemunho do Espírito de Deus, para com seu espírito, de que ele era um filho de Deus; e mais abundantemente, 'na esperança da glória de Deus'; na esperança da imagem gloriosa de Deus, e na completa renovação de sua alma, na retidão e santidade verdadeira; e na esperança da coroa da glória; naquela 'herança, incorruptível, inviolável, e que não desaparece'.

4. 'O amor de Deus foi também espalhado em seu coração, pelo Espírito Santo que foi dado a ele'. (Romanos 5:5) -- 'E, porque vós sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai' (Gálatas 4:6) -- E aquele amor filial de Deus estava continuamente aumentando, através do testemunho que ele deu em si mesmo do amor redentor de Deus por ele -- 'Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu' (I João 5:10); -- por 'observar que tipo de amor foi que o Pai concedeu a ele, para que ele pudesse ser chamado de filho de Deus'. (I João 3:1) 'Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a ele'. De modo que Deus era o desejo de seus olhos, e a alegria de seu coração; sua porção no tempo e na eternidade.

5. Ele que assim amou a Deus não pôde deixar de amar seu irmão também; e, 'não em palavras apenas, mas em ação e verdade'. 'Se Deus', disse ele, 'assim nos amou, nós devemos também amar uns aos outros' (I João 4:11) --; sim; cada alma do homem, assim como, 'a misericórdia de Deus está sobre todas as suas obras'. -- (Salmos 145:9) 'O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras'. Concordante com isto, a afeição deste amante de Deus abraçou toda a humanidade por amor a Ele; não excetuando aqueles que ele nunca vira na carne; ou aqueles que ele não sabia coisa alguma mais do que eles eram 'os frutos de Deus'; por cujas almas o Filho de Deus morreu; não excetuando o 'mau' e o 'ingrato', e menos de tudo, os seus inimigos, aqueles que o odiaram, ou o perseguiram, ou acintosamente o usaram por causa do seu Mestre. Estes tiveram um lugar peculiar, em seu coração e em suas orações. Ele os amou 'como Cristo amou a nós'.

6. 'E o amor não se ensoberbece' (I Corintios 13:4) 'O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece'. Ele torna humilde toda alma em que ele habita. Assim sendo, ele se tornou humilde de coração, e vil aos seus próprios olhos. Ele nunca buscou ou recebeu o louvor de homens, mas aquele que veio de Deus apenas. Ele foi manso e longânime, gentil com todos, e fácil de ser solicitado. A fidelidade e a verdade nunca o deserdaram: elas foram 'presas ao seu pescoço, e escritas nas tábuas de seu coração'. Pelo mesmo espírito, ele foi capacitado a ser equilibrado em todas as coisas, refreando sua alma, assim como uma criança desmamada. Ele foi 'crucificado para o mundo, e o mundo crucificado para ele'; superior 'ao desejo da carne; ao desejo dos olhos; ao orgulho da vida'. Através do mesmo amor onipotente, ele foi salvo, da paixão e do orgulho; da luxúria e vaidade; da ambição e cobiça; e de todo temperamento que não estava em Jesus.

7. É fácil crer que aquele que teve esse amor em seu coração não faria mal ao seu próximo. Era impossível para ele, conscientemente, e objetivamente, causar mal a algum homem. Ele estava a uma grande distância da crueldade e do erro, de alguma ação injusta ou indelicada. Com o mesmo cuidado, ele 'colocou um vigia diante de sua boca, e refreou as portas de seus lábios', a fim de que não pudesse, através da língua ser ofensivo contra a justiça, ou contra a misericórdia ou verdade. Ele colocou para fora toda mentira, falsidade, e fraude; nem vileza foi encontrada em sua boca. Ele não falou mal de homem algum; nem uma palavra indelicada saiu de seus lábios.

8. E como ele estava profundamente consciente da verdade daquela palavra: 'sem a mim, você não é capaz de fazer coisa alguma'; conseqüentemente, da necessidade que ele tinha de ser desejoso de Deus todo o momento; então, ele continuou diariamente em todas as ordenanças Dele, nos canais especificados de sua graça para o homem: 'nas doutrinas dos Apóstolos', ou ensinando, e recebendo aquele alimento da alma, com toda prontidão do coração; 'em repartir o pão', o que ele se certificou ser a comunhão do corpo de Cristo; e 'nas orações', e louvores oferecidos ao alto, pela grande congregação. E, assim, ele cresceu diariamente na graça, aumentando no fortalecimento, no conhecimento e amor de Deus.

9. Mas não o satisfez meramente abster-se de praticar o mal. Sua alma estava sedenta de fazer o bem. A linguagem de seu coração continuamente era: "'Meu Pai opera até agora, e eu também'. Meu Senhor empreendeu fazer o bem; eu não devo trilhar seus passos?". Assim sendo, quando ele tinha oportunidade, se ele não pudesse fazer o bem de um tipo mais sublime, ele alimentava o faminto, vestia o nu, socorria o órfão ou estranho, visitaria e assistiria àqueles que estavam doentes ou na prisão. Ele daria todos os seus bens para alimentar o pobre. Ele se regozijaria em trabalhar ou sofrer por eles; e, onde ele pudesse ser proveitoso a outros, ele especialmente 'negaria a si mesmo'. Ele não considerava coisa alguma tão valiosa, para que não repartisse com eles; assim como, lembrar-se-ia da palavra de seu Senhor em (Mateus 25:40) 'Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes'.

10. Tal foi o Cristianismo em seu surgimento. Tal foi um cristão nos tempos passados. Tal foi cada um daqueles que, quando ouviam as ameaças dos sumos sacerdotes e presbíteros, 'erguiam suas vozes para Deus, em um só acorde, e eram todos preenchidos com o Espírito Santo. Multidões deles que acreditaram que tinham um só coração e uma só alma': Assim, o amor Dele, em quem eles criam, os constrangia a amarem uns aos outros! 'Nem qualquer um deles disse que a menor das coisas que possuía era sai, mas eles tinham todas as coisas em comum': Tão completamente eles estavam crucificados para o mundo, e o mundo crucificado neles! 'E eles continuaram firmemente com um só acorde com' a doutrina 'dos Apóstolos, e no partir o pão, e nas orações' (Atos 2:42).

'E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus. E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles, algum necessitado; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se, a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha'. (Atos 4:31-35)

II

1. Em Segundo Lugar, vamos dar uma olhada neste Cristianismo, quando se propaga de um para outro, e, tão gradualmente, faz seu caminho no mundo: Porque tal foi a vontade de Deus, concernente a ele, e que 'não acende a candeia e a coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa' (Mateus 5:15). E isto nosso Senhor declarou aos seus primeiros discípulos: 'Vocês são o sal da terra'; 'a luz do mundo'; ao mesmo tempo em que deu a ordem geral: 'Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus' (Mateus 5:16).

2. Supondo-se que alguns poucos desses amantes da humanidade vejam que 'o mundo todo jaz na malignidade', nós podemos crer que eles estariam despreocupados, diante da miséria daqueles por quem seu Senhor morreu? Eles não se apiedariam deles, e seus corações não se derreteriam pela muita preocupação? Eles poderiam, então, permanecer negligentes o dia todo, como se não houvesse ordem Dele, a quem eles amaram? Ao contrário, eles não iriam trabalhar, por todos os meios possíveis, para tirar alguns desses tições do fogo? Sem dúvida que iriam: eles não poupariam dores para trazerem de volta quem eles pudessem, dessas pobres 'ovelhas desgarradas, para o grande Pastor e Bispo de suas almas?' (I Pedro 2:25).

3. Assim fizeram os cristãos do passado. Eles trabalharam, e tendo oportunidade, 'fizeram o bem a todos os homens' (Gálatas 6:10); aconselhando-os a fugirem da irá vindoura; e a escaparem da condenação do inferno. Eles declararam que em (Atos 17:30) 'Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam'. Eles clamaram para que tornassem e se convertessem de todos as transgressões: 'assim sendo, a iniqüidade não lhes serviria de tropeço' (Ezequiel 18:30). Eles 'se conscientizaram' com eles 'a respeito da temperança, e retidão', ou justiça – das virtudes opostas aos seus pecados reinantes, ' do julgamento vindouro' – da ira de Deus que certamente seria executada nos que praticam o mal, no dia em que Ele julgará o mundo (Atos 24:25).

4. Assim sendo, eles se esforçaram para falar a todo homem severamente, conforme a sua necessidade. Aos desamparados; àqueles que estavam despreocupados nas trevas, e na sombra da morte, eles fizeram ecoar: 'Acorda, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá' (Efésios 5:14). Mas àqueles que já estavam acordados, e gemendo conscientes da ira de Deus, a linguagem deles era: 'Vocês têm um Advogado com o Pai, ele é a conciliação para nossos pecados'. -- (I João 2:1) 'Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo'. Neste meio tempo, aqueles que tinham crido, eles foram incentivados a amar e a realizar as boas obras; a persistirem pacientemente na benevolência; e a abundarem, mais e mais, naquela santidade, sem o que nenhum homem verá o Senhor. -- (Hebreus 12:14) 'Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor'.

5. E o trabalho deles, no Senhor, não foi em vão. Sua palavra prosseguiu e foi glorificada. Ela cresceu poderosamente e prevaleceu. Mas tanto quanto as ofensas prevaleceram também. O mundo em geral foi ofendido, 'porque eles testificaram que as obras dele eram más' (João 7:7). Os homens de prazer foram ofendidos; não apenas esses homens foram levados, por assim dizer, a reprovarem seus pensamentos ('Ele professou', eles disseram, 'ter o conhecimento de Deus; ele chamou a si mesmo de filho do Senhor; sua vida não é como os outros homens, seus caminhos são de um outro tipo; ele se privou de nossos caminhos, como da imundície; ele jactou-se de que Deus é seu Pai'Prov. 2:13-16); muito mais, porque tantos de seus companheiros saíram, e não mais correram com eles 'no mesmo desenfreamento de dissolução' (I Pedro 4:4). Os homens de reputação foram ofendidos, porque como o Evangelho se espalhou, eles declinaram na estima do povo; e porque muitos não mais se atreveram a dar a eles títulos lisonjeiros, ou a prestar ao homem a homenagem devida a Deus somente. Os homens de comércio se reuniram e disseram: 'Senhores, nós sabemos que, por meio desta habilidade, nós temos nossa riqueza: mas vocês vejam e ouçam que esses homens têm persuadido e desviado, muitas pessoas; de modo que esta nossa prosperidade está em perigo de fracassar'.

(Atos 19:25-27) 'Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram'.

Acima de tudo, os homens de religião, assim chamados; os homens da religião exterior, 'os santos do mundo', foram ofendidos, e estavam prontos, em cada oportunidade a gritar: 'Homens de Israel, socorro! Nós temos achado que este homem é uma peste, e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo' (Atos 24:5). 'Esses são os homens que ensinam a todos os homens, em todas as partes, contra o povo, e contra a lei, e contra este lugar; e, demais disto, introduziram também no templo os gregos e profanaram este santo lugar' (Atos 21:28).

6. Assim foi que os céus se tornaram negros com nuvens, e uma tempestade concentrou-se novamente. Quanto mais o Cristianismo se propagava, mais dano era causado, por causa daqueles que não o receberam; e o número crescia daqueles que estavam mais e mais enfurecidos com esses 'homens que, assim, viravam o mundo do avesso'. -- (Atos 17:6) 'E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui'. De tal maneira, que mais e mais gritavam: 'Fora com tais camaradas da terra; não é adequado que eles possam viver'. Sim; e sinceramente acreditaram que quem os matasse estaria prestando um serviço a Deus.   

7. Entretanto, eles não falharam em banir o nome deles como sendo mau; de modo que 'falou-se contra esta seita, em todos os lugares' -- (Lucas 6:22) 'Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem'. Os homens disseram todo tipo de coisas ruins sobre eles, assim como havia sido feito aos profetas que estiveram antes deles. -- (Mateus 5:12) 'Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós'. E o que alguns afirmassem, outros acreditariam; de modo que as ofensas cresceram como as estrelas do céu. E, disto, surgiu, no tempo destinado pelo Pai, perseguição em todas as suas formas. Alguns, por um período, sofreram apenas vergonha e reprovação; outros, 'o saque de seus bens'; alguns 'tiveram um julgamento zombateiro e açoite; alguns 'grilhões e aprisionamento'; e outros 'resistiram com sangue'.

(Hebreus 10:34) 'Porque também vos compadecestes das minhas prisões, e com alegria permitistes o roubo dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente'.

(Hebreus 11:36-38) 'E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra'.

8. Foi quando os pilares do inferno foram abalados, e o reino de Deus se espalhou mais e mais. Em todos os lugares, os pecadores foram 'trazidos das trevas para a luz; e do poder de satanás para o poder de Deus'. Ele deu aos seus filhos 'tal poder da palavra, e tal sabedoria, de modo que todos os seus adversários não poderiam resistir'; e suas vidas tinham a mesma força que suas palavras. Acima de tudo, o sofrimento deles falou para todo o mundo. Eles 'se confirmaram servos de Deus, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nos aprisionamentos, nos tumultos, nas labutas, nos perigos no mar, nos perigos da selva, no cansaço e tormentos, na fome e sede, no frio e desamparo'.

(II Corintios 6:4-5) 'Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns'.
           
E, quando depois de ter lutado a boa luta, eles foram conduzidos como ovelhas ao matadouro, e oferecidos como sacrifício e serviço de sua fé; então, o sangue de cada um encontrou a voz, e o pagão reconheceu, 'Ele estando morto, ainda assim fala'.

9. Assim, o Cristianismo se espalhou na terra. Mas quão logo a praga apareceu em meio ao trigo, e o mistério da iniqüidade operou, tanto quanto o mistério da religiosidade! Quão logo, satanás encontrou um lugar, até mesmo no templo de Deus, 'até que a mulher fugiu para o deserto', e 'o fiel foi novamente misturou-se aos filhos dos homens!'. Aqui, nós trilhamos um caminho muito usado: as ainda incessantes corrupções das gerações precedentes foram largamente descritas, de tempos em tempos, por aquelas testemunhas que Deus ergueu, para mostrar que Ele 'construiu sua igreja sobre a rocha, e os portões do inferno não' completamente 'prevaleceriam contra ela'. -- (Mateus 16:18) 'Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela'.

III

1. Mas nós não podemos ver coisas maiores do que essas? Sim; maiores do que já tem existido, desde o começo do mundo. Satanás pode fazer com que a verdade de Deus fracasse, ou suas promessas não tenham efeito? Se não, o tempo chegou quando o Cristianismo irá prevalecer sobre tudo, e cobrirá a terra.

Vamos parar um pouco, e examinar (a terceira coisa que foi proposta) esta estranha visão, um mundo cristão. Deste, os profetas do passado inquiriam e buscaram diligentemente, 'indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir' (I Pedro 1:10).

Disto, o Espírito que estava neles testemunhou: 'E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear' (Isaías 2:1-4).

'E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso. E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar. E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra' (Isaias 11:10-12).

'E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da serpente, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar' (Isaias 11:6-9).

2. Para o mesmo efeito são as palavras do grande Apóstolo, que é evidente nunca foram cumpridas. 'Porventura rejeitou Deus seu povo? De modo nenhum'. Mas através da queda deles veio a salvação para os gentios'. 'E se a diminuição deles for a riqueza dos gentios, quanto mais sua plenitude!'. 'Porque eu não que vocês, irmãos, sejam ignorantes deste segredo; que a cegueira aconteceu, em parte, a Israel, até que a abundância de gentios venha: E assim Israel será salva'. (Romanos 11:1, 12, 25, 26)

3. Suponha agora que a plenitude do tempo virá e as profecias serão consumadas. Que panorama é este! Tudo é paz, 'quietude e segurança para sempre'. Aqui nenhum estrondo de armas; nenhum 'barulho confuso'; nenhuma vestimenta manchada de sangue'. 'As destruições chegaram ao fim perpétuo'. As guerras cessaram na terra. Nenhuma disputa interna restante; nenhum irmão erguendo-se contra irmão; nenhuma região ou cidade dividida contra si mesma, e rasgando suas próprias entranhas. A discórdia civil chegou ao fim para sempre, e ninguém restou para destruir ou causar dano ao seu próximo. Aqui não existe opressão que 'torne', até mesmo, 'o homem sábio, em louco1; nenhuma exortação para 'oprimir a face do pobre'; nenhum roubo, ou agravo; nenhum saque ou injustiça; porque todos estão 'satisfeitos com as tais coisas que possuem'. Assim, 'a retidão e a paz se beijam -- (Salmos 85:10) 'A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram'; elas 'criaram raízes e preencheram a terra'; 'a retidão floresceu da terra'; e 'a paz veio dos céus'.

4. E com retidão ou justiça, a misericórdia é também encontrada. A terra não mais está cheia de habitações cruéis. O Senhor destruiu o sedento de sangue e o malicioso; o invejoso e o vingativo. Onde havia alguma provocação, não existe quem pague agora o mal com o mal; de fato, ninguém pratica o mal, porque todos são inofensivos como pombas. Tendo sido preenchidos com a paz e alegria em crer, e unido-se em um só corpo, através de um só Espírito, eles todos se amam como irmãos; todos têm um só coração, e uma só alma. 'Nem algum deles diz que as coisas que ele possui são suas'. Não existe necessitado em meio a eles: porque todo homem ama seu próximo como a si mesmo. E todos caminham por uma só regra: 'O que quer que você queira que os homens façam a você, faça o mesmo a eles'.

5. Segue-se que nenhuma palavra indelicada é ouvida mais entre eles; nenhuma discussão; nenhuma contenda de qualquer tipo; nenhum insulto ou maledicência. Mas todos 'abrem suas bocas com sabedoria, e nas suas línguas existe a lei da delicadeza'.  Igualmente incapazes são eles da fraude ou logro: o amor deles é sem dissimulação: Suas palavras são sempre a justa expressão de seus pensamentos, abrindo uma janela no peito, para que, quem deseje, possa olhar dentro de seus corações, e ver que apenas amor e Deus estão lá.

6. Assim, onde o Senhor Onipotente toma para si mesmo seu poder imenso e reina, Ele conquista todas as coisas para si mesmo'; faz com que cada coração superabunde com amor, e preencha toda boca com louvor. 'Bem-aventurado o povo ao qual assim acontece; bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor'. (Salmos 144:15) -- 'Levanta-te, resplandece'; (diz o Senhor) 'porque vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti; Tu sabes que eu sou o Senhor, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Poderoso de Jacó. Eu farei teus oficiais pacíficos, e justos teus exatores. Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra, desolação nem destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás Salvação, e às tuas portas Louvor. Nunca mais te servirá o sol para luz do dia nem com o seu resplendor a lua te iluminará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória'. (Isaías 60:1, 16-19).

IV

            Tendo assim considerado brevemente o Cristianismo, quando do início, quando avançou, e cobriu a terra, resta apenas que eu encerre tudo com uma aplicação clara e prática.

1. Primeiro, eu pergunto: Onde este Cristianismo existe agora? Onde, eu imploro, os cristão vivem? Qual é a região, em que os habitantes todos são assim preenchidos com o Espírito Santo? – são todos de um só coração e uma só alma? Onde ninguém suporta que alguém necessite de coisa alguma, mas continuamente dá a cada um o que ele necessita; em que um e todos têm o amor de Deus preenchendo seus corações, e os constrangendo a amar a seu próximo como a si mesmos; em que todos estão 'cheios de misericórdia, humildade de mente, gentileza, longanimidade?'. Onde ninguém causa qualquer ofensa, quer por palavra ou ação, contra a justiça, misericórdia, ou verdade; mas em todos os pontos faz a todos os homens, o que eles gostariam que fosse feito a eles? Com que propriedade nós podemos denominar alguma região, cristã, se ela não corresponde a esta descrição? Uma vez que, permita-nos confessar, nunca encontramos uma região cristã sobre a terra.

2. Eu rogo a vocês, irmão, pelas misericórdias de Deus, se vocês me consideram um homem louco, ou tolo; ainda assim, como um tolo, que vocês me suportem. É extremamente necessário que alguém possa usar de toda franqueza de discurso em direção a vocês. É mais especialmente necessário, neste momento, porque, quem sabe, não é o último? Quem sabe, quão logo, o justo Juiz poderá dizer: 'Eu não mais serei solicitado por esse povo?'. Ainda que Noé, Daniel, e Jo estivessem nesta terra, eles não deixariam de livrar suas próprias almas'. E quem irá usar isto com franqueza, se eu não usar? Portanto eu, mesmo eu, falarei. E eu imploro a vocês, pelo Deus vivo, que vocês não endureçam seus peitos contra a bênção que recebem de minhas mãos. Não digam em seus corações: Non persuadebis, etiamsi persuaseris [Suas persuasões não poderiam prevalecer conosco, mesmo que elas pudessem realmente nos convencer – EDIT]; ou, em outras palavras: 'Senhor, tu não deves enviar, através daquele que tu irás enviar; deixa-me antes perecer em meu sangue, do que eu ser salvo por este homem!'.

3. Irmãos, 'Eu estou persuadido das melhores coisas sobre vocês, embora eu fale assim'. Então, me permitam perguntar-lhes, com amor terno, e no espírito de mansidão: Está é uma cidade cristã? O Cristianismo; o Cristianismo bíblico é encontrado aqui? Nós somos considerados como uma comunidade de homens, então, 'preenchidos com o Espírito Santo', de modo a nos alegrarmos em nossos corações, e mostrarmos os frutos em nossas vidas; os frutos genuínos daquele Espírito? Todos os magistrados, os líderes e diretores dos Colégios, e suas respectivas sociedades (para não falar dos habitantes da cidade), são 'de um só coração e uma só alma?'. Os nossos temperamentos são os mesmos que estavam Nele? E nossas vidas estão também de acordo? Nós somos 'santos como Ele que nos chamou é santo, em toda a maneira de nossa conversação?'.

4. Eu suplico a vocês que observem que aqui não existem noções peculiares, agora sob consideração; que a questão apresentada não é concernente às opiniões duvidosas de um tipo ou de outro, mas concernente às ramificações indubitáveis e fundamentais (se existe alguma assim) de nosso Cristianismo comum. E para a decisão disto, eu apelo à própria consciência de vocês, guiada pela Palavra de Deus. Ele, portanto, que não está condenado, por seu próprio coração, que o permita seguir livre.

5. No temor, então, e na presença do grande Deus, diante de quem, tanto vocês quanto eu brevemente apareceremos, eu suplico que vocês que têm autoridade sobre nós, a quem eu reverencio, por causa de seus ofícios, a considerarem (e não segundo a maneira dos dissimuladores com Deus): vocês estão 'preenchidos com o Espírito Santo?'. Vocês são as imagens vivas Dele, a quem vocês foram designados representar em meio aos homens? 'Eu tenho dito, vocês são deuses'; vocês magistrados e dirigentes; vocês, pelo ofício, estão tão proximamente aliados ao Deus do céu! Nas suas diversas posições e graus, vocês devem nos anunciar 'o Senhor, nosso Governador'. Todos os seus pensamentos provêm de seus corações; todos os seus temperamentos e desejos são adequados ao seu alto chamado? Todas as suas palavras são como aquelas que vieram da boca de Deus? Existem em todas as suas ações dignidade e amor? Existe a grandeza que as palavras não podem expressar; que pode fluir apenas do coração 'cheio de Deus'; e, ainda assim, consistente com o caráter do 'homem que é um verme, e do filho do homem que é um verme?'.

6. Vocês homens veneráveis, que são mais especialmente chamados para formarem as mentes ternas da juventude; para dispersarem deles as sombras da ignorância e erro, e treiná-los para serem sábios para a salvação, vocês estão 'preenchidos com o Espírito Santo?'. Com todos esses 'frutos do Espírito', que seu importante ofício tão indispensavelmente requer: Todo seus corações estão com Deus? Cheios de amor e zelo, para estabeleceram o reino Dele na terra? Vocês continuamente lembram estes, sob seus cuidados, que a única finalidade racional de todos os nossos estudos é conhecer, amar e servir 'ao único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem Ele enviou?'. Vocês inculcam neles, dia a dia, que somente o amor nunca falha (enquanto que, quer existam línguas, elas deverão falhar, ou conhecimento filosófico, ele deverá desaparecer); e que, sem amor, todo aprendizado não passa de ignorância esplêndida, tolice pomposa, vexação de espírito? Tudo que vocês ensinam tem a tendência real de amar a Deus, e a toda a humanidade por amor a Ele?
Vocês têm um olho para esta finalidade, no que quer que vocês ordenem, no tocante ao tipo, a maneira, e à medida dos estudos deles; desejando e trabalhando para que, onde quer que uma grande quantidade desses jovens soldados de Cristo seja lançada, eles possam ser muitas luzes ardentes e brilhantes, adornando o Evangelho de Cristo em todas as coisas?

Que vocês me permitam perguntar: Vocês empregam toda sua força no trabalho vasto que empreenderam? Vocês trabalham nisto, mostrando cada faculdade de sua alma; usando de todo talento que Deus emprestou a vocês, e isto com o máximo de suas forças?

7. Que não se diga que eu falei aqui, como se todos que estão debaixo do cuidado de vocês pretendessem ser clérigos. Não é assim: Eu apenas falei como se eles todos pretendessem ser cristãos. Mas que exemplo nós, que desfrutamos da beneficência de nossos antepassados, damos a eles? – através dos Membros do Conselho, Estudantes, Escolares; mais especialmente, aqueles que estão em alguma posição e eminência? Vocês, meus irmãos, abundam nos frutos do Espírito; na humildade de mente; em negarem a si mesmos e mortificarem-se; na seriedade e compostura de espírito; na paciência; mansidão; sobriedade; temperança; e esforços incansáveis, para fazerem o bem de todo tipo a todos os homens; para aliviarem suas necessidades exteriores, e trazerem suas almas para o conhecimento e amor verdadeiros de Deus? É este o caráter geral dos Membros do Conselho das Universidades? Eu temo que não. Antes, eles não têm orgulho, e arrogância de espírito; impaciência e impertinência; preguiça e indolência; glutonaria e sensualidade; e até mesmo, uma inutilidade notória, sendo objetado para nós; talvez, nem sempre por nossos inimigos, não totalmente sem fundamento? Ó, que Deus tire fora esta reprovação de nós, para que a própria memória dela possa perecer para sempre.

8. Muitos de nós somos mais imediatamente consagrados a Deus; chamados para ministrarmos em coisas santas. Nós somos, então, padrões para o restante, 'na palavra, na conversação, na caridade, no espírito, na fé, na pureza? (I Timóteo 4:12). Está escrito em nossas testas e em nossos corações, 'Santidade para o Senhor?'. Por quais motivos, nós entramos para este oficio? Foi com o olhar único 'para servir a Deus, confiando que fomos interiormente movidos pelo Espírito Santo, para assumirmos este sacerdócio; para a promoção de sua glória, e edificação de seu povo?'. E nós 'claramente decidimos, pela graça de Deus, a nos entregarmos totalmente a este ofício?'. Nós renunciamos, e colocamos aparte, tanto quanto cabe a nós, todo o cuidado e estudo mundano? Nós nos aplicamos totalmente para esse mesmo objetivo, e usamos de todas as nossas diligências e estudos neste caminho? Nós estamos aptos a ensinar? Nós somos ensinados por Deus, de modo a sermos capazes de ensinar a outros também? Nós conhecemos a Deus? Nós conhecemos Jesus Cristo? Deus tem 'revelado seu Filho em nós?'. E Ele nos tem 'feito ministros capazes da nova aliança?'. Onde, então, estão os 'selos de nosso apostolado?'. Quem, que esteve morto nas transgressões e pecados, tem sido vivificado, através de nossa palavra? Nós temos um zelo ardoroso para salvar as almas da morte, de modo que, por causa delas, nós nos esquecemos, até mesmo, de comer nosso pão? Nós falamos claramente, 'pela manifestação da verdade, recomendando a nós mesmos a toda consciência dos homens, aos olhos de Deus?'.(II Cor. 4:2). Nós estamos mortos para o mundo, e as coisas do mundo, 'juntando todos nossos tesouros nos céus?'. Nós agimos como senhores sobre a herança de Deus? Ou nós somos os menores de todos os servos? Quando suportamos a reprovação de Cristo, ela repousa pesada sobre nós? Ou nós nos regozijamos nela? Quando somos atingidos duramente, nós guardamos rancor disto? Nós somos impacientes nas afrontas: Ou damos o outro lado também; não resistimos ao mal, mas sobrepujamos o mal com o bem? Nós temos um zelo amargo, que nos incita a contendermos rispidamente e veementemente com eles que estão fora do nosso caminho? Ou o nosso zelo é a chama do amor, de maneira a direcionar todas as nossas palavras com doçura, humildade, e mansidão de sabedoria?

9. Uma vez mais: o que podemos dizer, concernente à juventude deste lugar? Vocês têm a forma ou o poder da santidade cristã? Vocês são humildes, receptivos ao ensino, aconselháveis; ou obstinados, teimosos, impetuosos, e não generosos? Vocês são obedientes aos seus superiores, como aos seus pais? Ou vocês menosprezam aqueles a quem vocês devem a mais terna reverência? Vocês são diligentes, em suas ocupações fáceis, buscando seus estudos com toda a sua força? Vocês poupam tempo, abarrotando-se de tanto trabalho, todos os dias, quanto ele pode conter? Antes, vocês não estão conscientes de que perdem tempo, dia após dia, tanto em ler o que não se inclina ao Cristianismo, quanto no jogo, ou em --- você não sabe o que? Vocês são melhores gerentes de suas fortunas do que de seu tempo? Vocês cuidam de não dever coisa alguma a homem algum? Vocês se 'lembram do dia do Sabbath, para mantê-lo santo', para passá-lo, na adoração mais imediata de Deus? Quando vocês estão na casa Dele, vocês ponderam que Deus está lá? Vocês se comportam, 'como se estivessem vendo a Ele que é invisível?'.Vocês sabem como instruírem seus corpos na santificação e honra? Não são encontrados bêbados e impuros em meio a vocês? Sim, não existe algum de vocês que se 'gloria na vergonha deles?'. Muitos de vocês 'não tomam o nome Dele em vão'; talvez, habitualmente, sem remorso ou temor? Sim, não existem muitos de vocês que são perjuros? Eu temo, uma multidão crescente rapidamente.

Não se surpreendam, irmãos. Diante de Deus e desta congregação, eu mesmo tenho feito parte deste número, solenemente jurando observar a todos esses costumes, dos quais eu, então, nunca soube respeito; e aqueles estatutos, que eu não mais li do princípio ao fim; mesmo agora, ou alguns anos atrás. O que é perjuro, então, se isto não é? Mas, se for... Ó que carga de pecado; sim, um pecado de nuança incomum repousa sobre nós! E o Altíssimo não dá atenção a ele?

10. Não pode ser esta uma das conseqüências disto; de que tantos de vocês são uma geração de levianos; levianos com Deus, uns com os outros, e com suas próprias almas? Porque, quão poucos de vocês gastam, de uma semana a outra, uma simples hora em oração privada! Quão poucos têm algum pensamento em Deus, no teor geral de sua conversação! Quem de vocês tem algum grau de familiaridade com a obra de seu Espírito, sua obra sobrenatural nas almas dos homens? Vocês podem testemunhar, exceto ocasionalmente, em uma igreja, alguma manifestação do Espírito Santo? Vocês não tomam por garantido, se alguém começa tal conversa, que se trata de hipocrisia ou entusiasmo? No nome do Senhor Deus Poderoso, eu pergunto, de que religião vocês são? Até mesmo a manifestação do Cristianismo, vocês não podem testemunhar. Ó, meus irmãos, que cidade cristã é esta! 'É chegada a hora, Senhor, de deitares a Tua mão!'.

11. Porque, na verdade, que probabilidade; que possibilidade, antes (falando, segundo a maneira dos homens), existe de que o Cristianismo, o Cristianismo bíblico, possa ser novamente a religião deste lugar? Que todas as classes de homens, em meio a nós, possam falar e viver como homens 'preenchidos com o Espírito Santo?'. Através de quem esse Cristianismo será restaurado? Por aqueles de vocês que estão na autoridade? Vocês estão convencidos, então, de que este é o Cristianismo bíblico? Vocês estão desejosos de que ele possa ser restaurado? E vocês não empregam sua fortuna, liberdade, vida, preciosos a vocês, de modo que possam ser o instrumental na restauração dele?

Suponham que vocês têm este desejo; quem tem algum poder proporcionado para o efeito? Talvez, alguns de vocês tenham feito algumas tentativas tímidas, mas com que pequeno sucesso! O Cristianismo, então, pode ser restaurado pelos jovens, sem importância, e desconhecidos? Eu não sei se vocês mesmos poderiam suportar isto. Alguns de vocês não clamariam: 'Jovens, ao fazerem isto, vocês reprovam a nós?'. Mas não existe perigo de suas existências serem colocadas à prova; de modo que a iniqüidade nos cobre como uma correnteza. Quem, então, Deus irá enviar? – a escassez, a peste (os últimos mensageiros de Deus para uma terra culpada); ou a espada; 'os exércitos dos estrangeiros' papistas, para nos reformarem, para o primeiro amor? Não, antes disto, nos permite cair em Tuas mãos, Ó Senhor. Não permita que caiamos nas mãos do homem. Senhor, salva nos, ou pereceremos! Tira-nos da frente do alvo, para que não sucumbamos! Oh! Ajuda-nos contra esses inimigos! Porque vão, é o socorro do homem.  Junto a Ti, todas as coisas são possíveis. De acordo com a grandeza de Teu poder, preserva aqueles que estão designados a morrer, e nos poupa, da maneira que pareça bom a Ti; não como queremos, mas como Tu queres!

[Editado anonimamente na Memorial University of Newfoundland, com correções de George Lyons of Northwest Nazarene College para a Wesley Center for Applied Theology.]


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