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terça-feira, 17 de abril de 2018

JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ



John Wesley


"Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça". (Romanos 4:5)

1. Como um pecador pode ser justificado diante de Deus, o Senhor e Juiz de todos, não é uma questão de importância comum a todo filho do homem. Ela contém o alicerce de toda nossa esperança, visto que, enquanto estamos em inimizade com Deus, não pode haver paz verdadeira, nem alegria sólida, quer no tempo ou na eternidade. Que paz pode existir lá, enquanto nosso próprio coração nos condena; e muito mais, Ele que é "maior do que nosso coração, e sabe todas as coisas?".  Que alegria sólida, seja neste mundo ou no vindouro, enquanto "a ira de Deus habita sobre nós?".

2. E, ainda assim, quão pouco esta importante questão tem sido entendida! Que noções confusas muitos têm com respeito a ela! Na verdade, não apenas confusas, mas freqüentemente extremamente falsas; contrárias à verdade, como a luz da escuridão; noções absolutamente inconsistentes com os oráculos de Deus, e com toda a analogia da fé. E desta forma, errando, concernente ao próprio alicerce, eles não podem possivelmente construir nelas; pelo menos, não "ouro, prata, ou pedras preciosas", que resistiriam, quando testados, através do fogo; mas apenas "feno e restolho", que nem são aceitáveis para Deus, nem de proveito para o homem.

3. Com o objetivo à justiça, tanto quanto me cabe, à vasta importância do assunto, salvar, aqueles que buscam a verdade na sinceridade, das "vãs disputas e rivalidades de palavras"; clarear a confusão de pensamento, por meio das quais, muitos têm sido conduzidos, e dar a eles as concepções verdadeiras e justas deste grande mistério da santidade, eu me esforçarei para mostrar:

I.                   Qual o alicerce geral de toda a doutrina da Justificação.
II.                O que é a justificação.
III.             Quem são aqueles que são justificados.
IV.             Em que condições eles são justificados.

I

            Em Primeiro Lugar, eu vou mostrar qual o alicerce geral de toda esta doutrina da justificação.

            1. Na imagem de Deus o homem foi feito, santo como ele que o criou é santo; misericordioso, como o Autor de tudo é misericordioso; perfeito, como seu Pai no céu é perfeito. Como Deus é amor, então o homem, habitando no amor, habita em Deus, e Deus no homem. Deus o fez para ser uma "imagem de sua própria eternidade"; um retrato incorruptível do Deus da glória. Ele era, portanto, puro, como Deus é puro, de toda mancha de pecado. Ele não conhecia o mal, de nenhum tipo ou grau, mas era interior e exteriormente desprovido de pecado e imaculado. Ele "amou o Senhor seu Deus com todo seu coração, e com toda sua mente, e alma e força".

            2. Ao homem correto e perfeito, Deus deu a lei perfeita, para a qual ele requereu completa e perfeita obediência. Ele requereu completa obediência em todos os pontos, e isto para ser executado, sem qualquer interrupção, do momento em que o homem se tornou uma alma vivente, até o momento que seu julgamento terminasse. Nenhuma redução fora feita para quem não atingiu o objetivo, e proveu totalmente para toda boa palavra e obra. 

            3. Para a completa lei do amor que estava escrita em seu coração (contra a qual, talvez, ele não poderia pecar diretamente), pareceu bom à soberana sabedoria de Deus, adicionar uma lei concreta: "Tu não deverás comer do fruto da árvore que cresce no meio do jardim"; anexando esta penalidade nela: "No dia em que comeres dela, tu certamente morrerás".

            4. Tal, então, era o estado do homem no Paraíso. Através do amor gratuito, e imerecido de Deus, ele era santo e feliz: Ele conhecia, amava, e desfrutava de Deus, que é, em essência, vida eterna. E nesta vida de amor, ele continuaria para sempre, se ele continuasse a obedecer a Deus em todas as coisas; mas, se ele O desobedecesse, de algum modo, ele perderia todo o direito. "Neste dia", diz Deus, "tu certamente morrerás".

            5. O homem desobedeceu a Deus. Ele "comeu da árvore, da qual Deus ordenou, dizendo: não deverás comer dela". E neste dia, ele foi condenado pelo julgamento reto de Deus. Então, também a sentença a respeito do que ele foi advertido antes, começou a tomar lugar sobre ele. Do momento em que ele testou daquele fruto, ele morreu. Sua alma morreu; foi separada de Deus; separada de Deus, a alma não teria mais vida do que o corpo tem, quando separado da alma. Seu corpo, igualmente tornou-se corruptível e mortal; de modo que a morte, então, tomou lugar nisto também. E já sendo morto no espírito, morto para Deus, morto no pecado, ele apressou-se para a morte eterna; para a destruição tanto de seu corpo, quanto de sua alma, no fogo que nunca deverá se extinguir.

            6. Assim, "através de um homem o pecado entrou no mundo, e a morte, através do pecado. E então, a morte passou para todos os homens"; estando contida nele que foi o pai comum e representante de todos nós. Assim, "através da ofensa de um", todos estão mortos; mortos para Deus; mortos no pecado; habitando no corpo corruptível e mortal, brevemente a ser dissolvido, e sob a sentença da morte eterna. Assim como, "através da desobediência de um homem", todos "foram feitos pecadores", então, pela ofensa de um, "o julgamento veio sobre todos os homens para a condenação".  (Romanos 5:12 &c).

7. Neste estado estivemos, mesmo toda a humanidade, quando "Deus assim salvou o mundo; no que deu seu Unigênito Filho, para que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna". Na plenitude do tempo, Ele foi feito Homem; um outro Líder comum da humanidade; um segundo Pai geral e Representativo de toda a raça humana. E como tal, foi que Ele "carregou nossas aflições". "O Senhor colocando sobre Ele as iniqüidades de nós todos". Então, ele foi "ferido por nossas transgressões, e machucado por nossas iniqüidades"."Ele fez de Sua alma uma oferta pelo pecado": Ele derramou seu sangue pelos transgressores: Ele "carregou nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro", para que, através de suas chicotadas, pudéssemos ser curados: E, através desta oblação de si mesmo, uma vez oferecida, ele redimiu a mim e toda a humanidade; tendo, por meio disto, "feito um sacrifício e penitência completos, perfeitos e suficientes pelos pecados de todo o mundo".

8. Em consideração disto, de que o Filho de Deus "experimentou a morte por todo homem", Deus agora "reconciliou o mundo para si mesmo", não imputando a eles suas "transgressões" anteriores. E, assim, "como pela ofensa de um, o julgamento veio sobre todos, para condenar; do mesmo modo, através da retidão de um, o dom livre veio sobre os homens para a justificação". De maneira que, por causa de seu bem-amado Filho; do que fez e sofreu por nós, Deus agora concedeu, sob uma condição apenas (que Ele mesmo nos capacita também a executar), tanto o desistir da punição devida por nossos pecados; nos restabelecer em seu favor, e restaurar nossas almas mortas para a vida espiritual, quanto a garantia da vida eterna.

9. Isto, portanto, é o alicerce de toda a doutrina da justificação. Através do pecado do primeiro Adão, que não foi apenas o pai, mas igualmente o representante de todos nós; não alcançamos o favor de Deus; tornamo-nos filhos da ira; ou, como o Apóstolo expressa isto, "o julgamento veio sobre todos os homens para a condenação". Da mesma forma, através do sacrifício pelo pecado, feito pelo Segundo Adão, como o Representante de todos nós, Deus é, deste modo, reconciliado para o mundo; fazendo com ele uma nova aliança; a condição clara disto, sendo uma vez cumprida, "não existe mais condenação" para nós, mas "somos justificados livremente pela Sua graça, através da redenção que está em Jesus Cristo".  

II

1. Mas o que é ser "justificado?". O que é a "justificação?". Esta é a Segunda coisa que eu proponho mostrar. E é evidente do que já foi observado, que não é o verdadeiramente justo e reto. Esta é a "santificação"; que é, de fato, em algum grau, o fruto imediato da justificação; mas, não obstante, é um dom distinto de Deus, e de uma natureza totalmente diferente. Uma implica o que Deus faz por nós, através de seu Filho; a outra, o que ele opera em nós, através de seu Espírito. De maneira que, apesar de que algumas raras instâncias possam ser encontradas, em que o termo "justificado", ou "justificação" é usado em um sentido tão amplo, de maneira a incluir a "santificação" também; ainda assim, em uso geral, eles são suficientemente distinguidos um do outro, ambos através de Paulo e de outros escritores inspirados.

2. Nem este conceito forçado, de que a justificação é nos limpar da acusação, particularmente aquela de satanás, é facilmente demonstrável de algum texto claro dos santos escritos. Em todo o relato bíblico sobre este assunto, como colocado acima, nem aquele acusador, nem sua acusação parecer ser tomada, afinal. Na verdade, não se pode negar que ele seja o "acusador" dos homens, enfaticamente assim chamado. Mas, de modo algum, parece que o grande Apóstolo faz alguma referência a isto, mais ou menos, em tudo que ele escreveu no tocante à justificação, quer para os Romanos ou os Gálatas.

3. É também muito mais fácil tomar por certo, do que provar de algum testemunho bíblico claro, que a justificação é nos limpar da acusação trazida contra nós pela lei: De qualquer forma, se esta maneira de falar, forçada e artificial, significar nem mais, nem menos do que isto, que nós transgredimos a lei de Deus, e por meio disto merecemos a condenação do inferno, Deus não impõe naqueles que são justificados a punição que eles mereceriam.

4. Menos do que tudo, a justificação implica que Deus seja enganado com respeito àqueles aos quais Ele justifica; que Ele pense que eles sejam, o que de fato eles não são; que Ele os considera de uma maneira diferente do que são. De modo algum isto implica que Deus julga concernente a nós, contrário à natureza real das coisas; que Ele nos considera mais do que realmente somos, ou nos acredita mais retos, quando somos pecaminosos. Certamente que não. O julgamento do todo sábio Deus é sempre de acordo com a verdade. Nem pode isto consistir sempre com sua sabedoria infalível, pensar que eu sou inocente; julgar que eu sou reto ou santo, porque outro é assim. Ele não pode mais, deste modo, confundir-me com Cristo, do que com Davi ou Abraão. Que algum homem a quem Deus deu entendimento, pese isto, sem preconceito; e que ele não possa deixar de perceber que tal noção de justificação nem é reconciliável com a razão, nem com as Escrituras.

5. A noção bíblica clara da justificação é a absolvição, o perdão dos pecados. Por meio deste ato de Deus, o Pai; por causa do sacrifício expiatório feito, através do sangue de seu Filho, é que ele "demonstrou sua retidão (ou misericórdia) pela remissão dos pecados que são passados". Este é relato fácil, natural dela, dado por Paulo, através de toda esta Epístola. Assim, ele mesmo a explica, mais especificamente neste e no capítulo seguinte. Desta forma, nos versos seguintes, mas em um lugar, para o texto: "Abençoado são aqueles", diz ele, "cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são ocultos: Abençoado é o homem a quem o Senhor não imputará pecado". A ele que é justificado ou perdoado, Deus "não imputará pecado" à sua condenação. Ele não o condenará naquele relato, quer neste mundo ou no vindouro. Seus pecados, todos os seus pecados passados, em pensamento, palavra e feito, estão ocultos, estão apagados, e não deverão ser lembrados ou mencionados contra ele, não mais do que se eles não tivessem existido. Deus não infligirá naquele pecador o que ele mereceu sofrer, porque o Filho do seu amor sofreu por ele. E do momento em que somos "aceitos, através do Amado", "reconciliados para Deus, através de seu sangue", ele ama, e abençoa, e zela por nós para o bem, como se nós nunca tivéssemos pecado.

De fato, o Apóstolo, em um lugar parece estender o significado da palavra, muito mais além, onde ele diz: "não os ouvintes da lei, mas os fazedores da lei, deverão ser justificados". Aqui ele parece se referir à nossa justificação, para a sentença do grande dia. E assim, o próprio nosso Senhor, inquestionavelmente faz, quando ele diz: "Através de tuas palavras, tu deverás ser justificado"; provando por meio disto, que "para cada palavra inútil que os homens possam falar, eles deverão dar um relato naquele dia do julgamento". Mas, talvez, possamos dificilmente produzir uma outra instância do uso, por Paulo, da palavra naquele sentido remoto. No teor geral dos seus escritos, é evidente que não; e menos do que tudo, no texto diante de nós, que inegavelmente fala, não daqueles que já "terminaram seu curso", mas daqueles que estão exatamente agora "partindo", apenas começando "a corrida que se coloca diante deles".

III

1. Mas esta é a terceira coisa a ser considerada, ou seja: Quem são aqueles que são justificados? E o Apóstolo nos diz expressamente, os ímpios: "Ele (ou seja, Deus) justifica o ímpio"; o ímpio de todo o tipo e grau; e ninguém mais, a não ser o ímpio. Como "aqueles que são retos não necessitam de arrependimento", então, eles não necessitam de perdão. Apenas os pecadores têm alguma oportunidade para o perdão: O pecado apenas é que admita ser perdoado. Perdão, portanto, tem uma referência imediata com o pecado, e, neste aspecto, com nada mais. É para com nossa "iniqüidade", que o Deus perdoador é "misericordioso": É da nossa "iniqüidade", que Ele "não se lembra mais".

2. Isto parece não ser, afinal, considerado por aqueles que tão veementemente afirmam que um homem deva ser santificado, ou seja, santo, antes que ele possa ser justificado; especialmente, através de tais que afirmam que a santidade ou obediência universal deva preceder a justificação. (A menos que eles queiram dizer aquela justificação, do ultimo dia, que está totalmente fora da presente questão). Muito longe disto, que a própria suposição não é apenas completamente impossível (porque onde não existe amor a Deus, não existe santidade; e não existe amor a Deus, a não ser da consciência de seu amor por nós), mas também grosseiramente, e intrinsecamente absurda, e contraditória em si mesma. Porque não é um santo, mas um pecador que é perdoado, e sob a noção de um pecador. Deus não justifica o devoto; não aqueles que já são santos, mas o ímpio. Em que condição ele faz isto, será considerado rapidamente: mas o que quer que seja, ela não pode ser santidade. Afirmar isto é dizer que o Cordeiro de Deus tira apenas aqueles pecados que já foram tirados antes.

3. Então, o bom Pastor busca e salva apenas aqueles que já foram encontrados? Não: Ele busca e salva aqueles que estão perdidos. Ele perdoa aqueles que necessitam de sua misericórdia redentora. Ele salva da culpa do pecado (e, ao mesmo tempo, do poder); pecadores de todos os tipos, de todos os graus: homens que, até então, eram totalmente pecaminosos; nos quais o amor do Pai não estava: e, conseqüentemente, nos quais não habitava coisa boa; nada bom ou verdadeiramente de temperamento cristão, -- mas todos os tais que eram maus e abomináveis: o orgulho, ira, amor ao mundo – os frutos genuínos daquela "mente carnal" que é "inimiga contra Deus".

4. Esses que estão doentes, cujo peso dos pecados é intolerável, são aqueles que necessitam de Médico; esses que são culpados, e que gemem, sob a ira de Deus, são os que precisam de perdão. Esses que "já" estão "condenados", não apenas por Deus, mas também, através de suas próprias consciências, como por meio de milhares de testemunhas, de todas as suas iniqüidades, tanto em pensamento, palavra e obra, clamam por Aquele que "justifica o ímpio", através da redenção que está em Jesus; -- o incrédulo, e "aquele que não pratica as boas obras"; que não pratica coisa alguma que seja boa, que seja verdadeiramente virtuosa ou santa, mas apenas o que é mal continuamente, antes de ser justificado. Porque seu coração é necessariamente, essencialmente mal, até que o amor a Deus seja espalhado nele. E enquanto a árvore é corrupta, assim serão os frutos. "porque uma árvore má não produz frutos bons".

5. Se for objetado: "Mas um homem antes que seja justificado, pode alimentar o faminto, ou vestir o nu; e essas são boas obras"; a resposta é fácil: Ele pode realizar essas, até mesmo antes que seja justificado; e essas são, de certa forma, "boas obras"; elas são, estritamente falando, boas em si mesmas, ou boas aos olhos de Deus. Todas verdadeiramente "boas obras" (para usar as palavras de nossa igreja) "sucedendo a justificação"; e elas são, portanto, boas e "aceitáveis a Deus em Cristo", porque elas "brotam de uma fé viva verdadeira". Por uma paridade de motivo, todas as "obras feitas antes da justificação não são boas"; no sentido cristão; "visto que elas não brotam da fé em Jesus Cristo"; (embora elas possam brotar do mesmo tipo de fé em Deus); "sim, antes, porque aquelas que não são feitas como Deus tem desejado e ordenado que sejam feitas, não duvidamos" (por mais estranho que possa parecer a alguns) "que elas tenham a natureza do pecado".

6. Talvez, aqueles que duvidam disto não tenham considerado devidamente o peso do motivo que é aqui afirmado; porque nenhuma obra feita antes da justificação poderá ser verdadeira e propriamente boa. O argumento transcorre plenamente assim: --

·         Nenhuma obra que não seja feita, como Deus deseja e ordena que seja feita, é boa.
·         Mas nenhuma obra feita antes da justificação é feita, como Deus deseja e ordena a eles que seja feita.
·         Portanto, nenhuma obra feita antes da justificação é boa.

            A primeira proposição é auto-evidente; e a segunda, que nenhuma obra feita antes da justificação é feita como Deus deseja e comanda que seja feita, parecerá igualmente clara e inegável, se considerarmos apenas que Deus quer e ordena que "todas as nossas obras" possam "ser feitas na caridade"; (em ágape) no amor, naquele amor a Deus que produz amor a toda a humanidade. Mas nenhuma de nossas obras pode ser feita neste amor, enquanto o amor do Pai (de Deus como nosso Pai) não está em nós; e este amor não pode estar em nós, até que recebamos o "Espírito de Adoção, clamando em nossos corações, Aba, Pai". Se, portanto, Deus não 'justifica o ímpio', e ele que (neste sentido) "não faz boas obras",  então, cristo morreu em vão; então, não obstante sua morte, nenhuma carne viva poderá ser justificada.

IV

1. Mas em que termos, então, é justificado aquele que é completamente "pecaminoso", e até aquele momento, "não praticou as boas obras?". Em um único apenas: que é a fé: "Crer naquele que justifica o ímpio". E "ele que crê, não é condenado"; mas, "passa da morte para a vida". "Porque a retidão (ou misericórdia) de Deus é pela fé em Jesus Cristo, junto a todos e sobre todos aqueles que crêem: -- A quem Deus enviou para a expiação, através da fé em seu sangue; para que ele pudesse ser justo, e" (consistentemente com Sua justiça) "Justificador daquele que crê em Jesus": "Portanto, concluímos que um homem é justificado pela fé, sem as ações da lei"; sem a obediência prévia à lei moral, que, na verdade, ele não teria, até agora, como executar. Que a lei moral, e esta somente, que aqui está pretendida, aparece evidentemente das palavras que se seguem: "Nós tornamos a lei nula, através da fé? Deus proíbe: Sim. Nós estabelecemos a lei. Que lei estabelecemos pela fé? Não a lei ritual: Não a lei ceremonial de Moisés. De modo algum; mas a grande, e imutável lei do amor; do amor santo a Deus e ao nosso próximo".

2. A fé, em geral é a "elegchos", "evidência" ou "convicção" divina, sobrenatural, "das coisas que não são vistas"; não são reveladas, através de nossos sentidos corpóreos, como sendo tanto passado, futuro ou espiritual. A fé justificadora implica, não apenas a evidência ou convicção divina de que "Deus esteve em Cristo, reconciliando o mundo junto a Si mesmo"; mas a confiança e segurança certa de que Cristo morreu por "meus" pecados; de que Ele "me" amou, e deu a Si mesmo por "mim". E naquele momento, por mais que um pecador que assim crê, esteja na tenra infância, na força dos anos, ou quando ele está idoso e de cabelos grisalhos, Deus justifica aquele ímpio. Deus, por amor de seu Filho, perdoa e absolve aquele que tinha em si mesmo, até então, nenhuma coisa boa. Arrependimento, na verdade, Deus deu a ele antes; mas este arrependimento foi, nem mais nem menos, uma profunda consciência da falta de todo o bem, e da presença de todo o mal em si mesmo. E qualquer bem que ele tenha, ou faça, do momento em que ele crê em Deus, através de Cristo, a fé não é "descoberta", mas "produzida". Este é o fruto da fé. Primeiro, a árvore é boa, e, então, o fruto é também bom.

3. Eu não posso descrever a natureza desta fé, melhor do que nas palavras de nossa própria igreja: "O único instrumento da salvação" (do qual a justificação é um ramo) "é a fé; ou seja, a confiança e convicção verdadeiras de que Deus, tanto perdoou nossos pecados, quanto nos aceitou novamente em Seu favor, pelos méritos da morte e paixão de Cristo". -- Mas aqui nós devemos prestar atenção, que nós não hesitamos com Deus, através de uma fé inconstante e indecisa: Porque Pedro fraquejou na fé, quando veio até Jesus, por sobre as águas, ele correu o risco de afogar-se; assim nós, se ficarmos indecisos ou em dúvida, é de se temer que possamos afundar como Pedro o fez; não na água, mas no abismo sem fim do fogo do inferno". (Sermão sobre a Paixão)

"Portanto, tem uma fé segura e constante, não apenas aquela da morte de Cristo que é acessível a todo o mundo, mas a de que Ele fez um completo e suficiente sacrifício por 'ti'; uma perfeita limpeza de 'teus' pecados. De modo que tu possas dizer com o Apóstolo, que Ele amou a 'ti', e deu a si mesmo por 'ti'. Porque isto é fazer Cristo 'teu', e aplicar Seus méritos em 'ti mesmo'".  (sermão sobre o Sacramento, Primeira Parte)

4. Por afirmar que esta fé é o termo ou "condição da justificação", eu quero dizer, Primeiro, que não existe justificação sem ela."Ele que não crê já está condenado"; e por quanto tempo ele não crê, aquela condenação não pode ser removida, mas "a ira de Deus habita nele". Como "não existe outro nome debaixo do céu", do que o de Jesus de Nazaré; nenhum outro mérito, por meio do qual, um pecador condenado possa sempre ser salvo da culpa do pecado; então não existe outro caminho de obter a porção em seus méritos, do que "pela fé em seu nome". De maneira que, por quanto tempo estamos sem esta fé, somos "estranhos para a aliança da promessa"; somos "forasteiros da comunidade de Israel, e sem Deus no mundo". Quaisquer que sejam as virtudes (assim chamadas) que um homem possa ter, -- eu falo daqueles junto aos quais o Evangelho é pregado: porque "o que devo fazer para julgar aqueles que estão sem?" – quaisquer boas obras (então computadas), que ele possa fazer, serão de nenhum proveito; ele ainda é um "filho da ira", ainda está sob a maldição, até que creia em Jesus.

5. Fé, portanto, é a condição "necessária" da justificação; sim, e a "única" condição "necessária". Este é o Segundo ponto, cuidadosamente a ser observado; o de que, no mesmo momento, Deus dá à fé (uma vez que "ela é um dom de Deus"), ao "ímpio" que "não pratica as obras"; a "fé é conferida a ele como retidão". Ele não tem retidão, afinal, antecedente a isto, não tanto quanto retidão nula, ou inocência. Mas a "fé é imputada a ele, como retidão"; no mesmo momento em que ele crê. Não que Deus (como foi observado antes) pense que ele será o que ele não é. Mas como "ele fez Cristo ser pecado por nós", ou seja, tratado como um pecador; punido por nossos pecados; então, Ele reputou a nós retidão, do momento em que cremos nele: Ou seja, Ele não nos pune por nossos pecados; sim, nos trata como se fôssemos inocentes e retos.

6. Certamente, a dificuldade de reconhecer esta proposição, de que a "fé é a única condição da justificação", deve se erguer do não entendimento dela. Nós queremos dizer com isto, que ninguém é justificado; a única coisa que é imediatamente, indispensavelmente, e absolutamente requerida com o objetivo do perdão. Como, por um lado, embora um homem possa ter todas as coisas mais, sem a fé, ainda assim, ele não pode ser justificado; de maneira que, por outro, embora se suponha que ele necessite de tudo, ainda assim, ele tem fé, e ele não deixa de ser justificado. Suponha um pecador, de algum tipo ou grau, consciente de sua total iniqüidade, de sua completa inabilidade de pensar, falar, ou fazer algum bem, e na iminência do fogo do inferno; suponha que este pecador, desamparado, e desesperançado, atire-se totalmente na misericórdia de Deus em Cristo (o que, de fato, ele não pode fazer, a não ser pela graça de Deus); quem pode duvidar de que ele é perdoado naquele momento? Quem afirmará que algo mais é "indispensavelmente requerido", antes que aquele pecador possa ser justificado?

            Agora, se sempre existiram tais instâncias, desde o começo do mundo (e não tem sido milhares e milhares de vezes?), segue-se plenamente que a fé é, no sentido acima, a única condição da justificação.

7. Não se tornam vermes, medíocres, culpados, pecadores, os que recebem quaisquer bênçãos que eles desfrutam (da menor gota de água que refresca nossa língua, à imensidão de riquezas da glória na eternidade), da graça, do mero favor, e não do débito, perguntar a Deus as razões de sua conduta? Não é adequado para nós questionarmos "Aquele que não dá relato algum de seus caminhos"; exigir "por que Tu fazes da fé a condição; a única condição da justificação? Por que tu decretas que 'Aquele que crê', e ele apenas, 'deverá ser salvo?'". Este é o mesmo ponto no qual Paulo tão fortemente insiste, no novo Capítulo desta Epístola, a saber – Que os termos do perdão e aceitação devem depender, não de nós, mas "Dele que nos chamou"; que não existe "falta de retidão em Deus", em fixar Seus próprios termos, não de acordo com os nossos, mas de acordo com seu bom prazer; Aquele que pode merecidamente dizer: "Eu terei misericórdia para com aqueles com quem tenho misericórdia"; ou seja, aquele que crê em Jesus."De maneira, que não cabe a ele que deseja, ou que vai ao encalço, escolher a condição na qual ele encontrará aceitação; mas a Deus que mostra misericórdia"; que aceita nada, afinal, a não ser do seu próprio dom do amor gratuito; de sua bondade que o homem não merece."Portanto, ele terá misericórdia em quem ele terá misericórdia", ou seja: daqueles que acreditarem no Filho do seu amor; mas quanto aos que não crerem, "Ele endurecerá", deixados, por fim, para a dureza dos seus corações.

8. Um motivo, portanto, podemos humildemente conceber, de Deus fixar esta condição para a justificação -- "Se tu creres no Senhor Jesus Cristo, tu serás salvo" -- foi com o objetivo de "impedir o orgulho do homem". O orgulho já destruiu os próprios anjos de Deus, lançou abaixo "a terça parte das estrelas do céu". Foi igualmente, em grande medida, devido a isto, quando o tentador disse: "Vocês devem ser deuses", que Adão caiu de sua própria firmeza, e trouxe o pecado e a morte para o mundo. Foi, portanto, um exemplo da sabedoria notável de Deus, apontar tal condição de reconciliação para Ele e todas as suas posteridades, quando efetivamente os humilharia, e os rebaixaria ao pó. E tal é a fé. Ela é peculiarmente adequada para esta finalidade: Uma vez que ele veio a Deus, através desta fé, deve fixar seus olhos, sozinho em sua própria iniqüidade, em sua culpa e impotência, sem ter o mínimo cuidado com algum bem suposto em si mesmo; para qualquer virtude ou retidão que seja. Ele deve vir como um "mero pecador", interior e exteriormente autodestruído, e autocondenado, trazendo nada para Deus, a não ser incredulidade apenas, não advogando coisa alguma de si mesmo, a não ser o pecado e miséria. Assim é, e somente assim, quando sua "boca é fechada", e ele se coloca completamente "culpado diante" de Deus, que ele poderá "olhar junto a Jesus", como toda e única "expiação para seus pecados".  Assim somente, ele pode "ser encontrado Nele", e receber a "retidão que é de Deus, através da fé".

9. Tu, ímpio que ouves e lês estas palavras! Tu, pecador vil, desamparado, miserável! Eu te comprometo, perante Deus, o Juiz de todos, a ires até Ele, com toda a tua iniqüidade. Presta atenção, tu destróis tua própria alma, declarando, mais ou menos, tua retidão. Vá, tão completamente pecaminoso, culpado, destruído, merecendo e caindo no inferno; e tu, então, deverás encontrar favor aos olhos Dele, e saber que Ele justifica o pecador. Como tal, tu serás trazido junto ao "sangue que borrifa", como um pecador perdido, desamparado, e condenado. Assim, "olha para Jesus". Lá está "o Cordeiro de Deus", que "tira teus pecados!". Não advoga obra alguma, retidão alguma que sejam tuas! Nenhuma humildade, arrependimento, sinceridade! De modo algum. Isto seria, de fato, negar o Senhor que te comprou. Não: Declara simplesmente, o sangue da promessa, da redenção paga por tua alma orgulhosa, obstinada, pecadora. Quem és tu, que agora vês e sentes tanto tua iniqüidade interior quanto exterior? Tu és o homem! Eu quero a ti para meu Senhor! Eu "te" desafio a seres um filho de Deus, pela fé! O Senhor necessita de ti. Tu que sentes que és exatamente adequado para o inferno, és exatamente adequado para promover a glória Dele; a glória de Sua graça livre, justificando o pecaminoso, e aquele que não praticou as boas obras. Ó vem rapidamente! Crê no Senhor Jesus; e tu, até mesmo tu, serás reconciliado para Deus.

[Editado anonimamente no Memorial University of Newfoundland, com correções de George Lyons do Northwest Nazarene College (Nampa, Idaho) para Wesley Center for Applied Theology.]









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