'E dizendo: O tempo está
cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no
evangelho'. (Marcos
1:15)
Essas palavras naturalmente nos
conduzem a considerar:
I.
Primeiro,
a natureza da religião verdadeira, aqui denominada por nosso Senhor de 'o
Reino de Deus', e que, Ele diz, 'está próximo';
II.
Em
Segundo Lugar, o caminho para ele, e que Jesus indica nestas palavras: 'Arrependam—se
e creiam no Evangelho'.
I
1.
Em Primeiro Lugar, vamos considerar a natureza da religião verdadeira,
aqui denominada por nosso Senhor de 'o Reino de Deus'. A mesma expressão que o grande Apóstolo usa,
em sua Epístola para os Romanos, onde ele igualmente explica as palavras de seu
Senhor, dizendo: (Romanos 14:17) 'Porque não é o reino de Deus
comida, nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo'.
2.
'O reino de Deus', ou a religião verdadeira, 'não é comida, nem
bebida'. Sabe-se que não apenas os judeus não convertidos, mas um grande
número daqueles que receberam a fé de Cristo, era, não obstante, 'zeloso da
lei': (Atos 21:20) 'E, ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor, e
disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos
são zeladores da lei'; até mesmo, da lei cerimonial de Moisés. O que quer,
portanto, que eles encontraram escrito nela, quer concernente às ofertas de
carne e bebida, ou à distinção, entre o que eram carnes puras e impuras, eles
não apenas observaram, entre eles, mas veementemente pressionaram, até mesmo, 'em
maio aos gentios', (ou ateus), 'que se voltaram para Deus'; sim, de
tal maneira, que alguns deles ensinaram, onde quer que eles estiveram com eles:
(Atos 15:1,24) 'Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés' (o
ritual completo da lei), não podeis salvar-vos. (...) 'Porquanto
ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras, e
transtornaram as vossas almas, dizendo que deveis circuncidar-vos'.
3. Em
oposição a estes, o Apóstolo declara, aqui, e em muitos outros lugares, que a
religião verdadeira não consiste em carne e bebida; ou em algumas observâncias
rituais; nem, na verdade, em qualquer coisa exterior; em alguma coisa exterior
ao coração; toda a essência dela situando-se na 'retidão, paz, e alegria no
Espírito Santo'.
4.
Nem qualquer coisa exterior; tais como formas, ou cerimoniais; mesmo do tipo
mais excelente. Supondo-se que estas sejam sempre tão decentes e significantes;
sempre tão expressivas das coisas interiores; sempre tão úteis, não apenas aos
homens comuns, cujo discernimento alcançam um pouco mais além do que seus
olhos; mas, mesmo, aos homens de entendimento; homens de grandes capacidades,
como, sem dúvida, eles, algumas vezes, foram: Sim, supondo-se que eles, como no
caso de judeus, foram apontados pelo próprio Deus; mesmo durante o período de
tempo em que essa indicação permaneceu em vigor, a religião verdadeira não
consistiu nela; não, falando precisamente; não, no sentido restrito, afinal.
Quanto mais deve esta forte influência, concernente a tais rituais e formas,
quando são unicamente desígnios humanos! A religião de Cristo ergue-se,
infinitamente mais alto, e se coloca imensamente mais profundo, do que todos
esses. Esses são bons em seus lugares; exatamente tão distante quanto eles
sejam, de fato, subservientes da religião verdadeira. E foi superstição objetar
contra eles, enquanto eles foram aplicados, tão somente, como socorro ocasional
às fraquezas humanas. Mas que nenhum homem os conduzam mais além. Que nenhum
homem sonhe que eles têm algum valor intrínseco; ou que a religião não possa
consistir, sem eles. Isto é fazer deles uma abominação ao Senhor.
5.
A natureza da religião está tão longe de consistir nestas formas de adoração,
rituais ou cerimoniais, que ela não consiste propriamente em quaisquer ações
exteriores, de qualquer tipo, afinal. É verdade, que, um homem que esteja
culpado de algumas ações deploráveis e imorais, ou que faça aos outros o que
ele não gostaria que fosse feito a ele, se estivesse na mesma circunstância,
não tem qualquer religião. E é também verdade que não pode ter religião
verdadeira, aquele que 'sabe fazer o bem, e não o faz'. Ainda assim, um
homem, tanto pode se abster do mal exterior, quanto fazer o bem, e não ter
religião. Sim, duas pessoas podem fazer as mesmas obras exteriores; o que se
supõe, alimentar o faminto, vestir o nu, e, neste meio tempo, um desses pode
ser um religioso verdadeiro, e outros não terem religião, afinal: Já que um
pode agir do amor de Deus, e o outro, do amor ao reconhecimento próprio. Então,
é evidente que embora a religião verdadeira naturalmente conduza a cada boa
palavra e boa obra, ainda assim, a natureza real dela situa-se ainda mais
profundo, sempre no 'oculto do coração'.
6.
Eu digo do coração. Porque a religião não consiste em ortodoxia, ou opiniões
certas; que, embora não sejam propriamente coisas exteriores, não estão no
coração, mas no entendimento. Um homem pode ser ortodoxo, em todo ponto; ele
pode, não apenas, expor as opiniões certas, mas zelosamente defendê-las contra
todos os opositores; ele pode pensar razoavelmente, concernente à encarnação de
nosso Senhor; concernente à sempre abençoada Trindade, e cada outra doutrina
contida nos oráculos de Deus; ele pode admitir, a todos, os três credos, --
aqueles chamados de Apóstolos, o Nicene e o Atanasiano [Relativo
ao símbolo de fé, atribuído a Atanásio, e que outrora era usado durante a
Prima, no ofício dominical];
e, ainda assim, é possível que ele possa ter nenhuma religião, afinal; não
mais, do que os judeus, turcos, ou pagãos. Ele pode ser quase ortodoxo – como o
diabo, (embora, de fato, não completamente; uma vez que todo homem erra em
alguma coisa, considerando que nós não podemos imaginá-lo admitindo alguma
opinião errônea), e pode, todo o tempo, ser tão grandemente um estranho, quanto
ele à religião do coração.
7.
Esta, tão somente, é a religião, verdadeiramente chamada. Esta somente tem, aos
olhos de Deus, um grande valor. O Apóstolo sumariza toda ela em três
particulares, 'retidão, paz e alegria no Espírito santo'. Primeiro, a retidão. Nós não podemos estar
perdidos no que concerne a isto, se nós nos lembrarmos das palavras de nosso
Senhor, ao descrever os dois grandes ramos em que 'se dependuravam todas as
leis dos profetas': (Marcos 12:30) 'Amarás, pois, ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento'; o
primeiro e o grande ramo da retidão cristã. Tu deverás te deleitar no Senhor,
teu Deus; tu deverás buscar e encontrar toda a felicidade nele. Ele deverá ser 'teu
abrigo, e tua excessivamente grande recompensa', no tempo e na eternidade.
Todos os teus ossos deverão dizer, 'A quem mais eu tenho nos céus, se não a
ti? E não existe quem eu deseje na terra, além de ti!'. Tu deverás ouvir e
cumprir a palavra Daquele que diz, 'Meu filho, dá-me teu coração!'. E,
tendo dado a Ele teu coração; o mais íntimo de tua alma, para que Ele reine lá,
sem um rival, tu poderás bem clamar, com todo o teu coração, 'Eu amarei a
Ti, ó Senhor, minha força. O Senhor é minha rocha forte, e minha fortaleza; meu
Salvador, meu Deus, e minha força, em quem eu irei confiar; meu escudo, a força
também de minha salvação, e meu refúgio'. (Salmos 18:2) 'O
Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a
minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o
meu alto refúgio'.
8. E o segundo mandamento é como este;
o segundo grande ramo da retidão cristã está intimamente e inseparavelmente
conectada a isto; sempre 'Tu deverás amar teu próximo como a ti mesmo'. Tu
deverás amar, -- tu deverás abraçar, com a mais terna boa vontade, a mais
sincera e cordial afeição, os mais ardorosos desejos de prevenir e extinguir
todo o mal; e, conseguir todo bem possível, a ele -- ao teu próximo, -- ou
seja, não apenas a teu amigo, teu parente, ou teu conhecido; não apenas ao
virtuoso, ao cordial; àquele que ama a ti, que se antecipa ou retorna tua
bondade; mas a todo filho do homem, cada ser humano, cada alma que Deus fez;
não excluindo aquele a quem tu nunca viste na carne, a quem tu não conheces,
quer pessoalmente ou por nome; não excetuando aquele que tu sabes, seja mau e
ingrato; aquele que ainda usa e persegue a ti maliciosamente: A este tu deves
amar como a ti mesmo; com a mesma sede invariável em busca de sua felicidade de
toda espécie; o mesmo cuidado incansável de protegê-lo do que quer que possa
afligi-lo ou machucá-lo, quer sua alma ou corpo.
9.
Agora, este amor é 'o cumprimento da lei?'. A somatória de toda retidão
cristã? – de toda retidão interior; porque ela necessariamente implica em 'entranhas
de misericórdia, humildade de mente' (vendo que 'o amor não se ufana'),
'gentileza, mansidão, longanimidade': (porque o amor 'não se
enfurece'; mas 'crê, espera, e suporta todas as coisas'): E de toda
retidão exterior; porque 'o amor não pratica o mal ao seu próximo', que
por palavra ou ação. Ele não pode, de boa-vontade, causar dano, ou afligir
alguém. E é zeloso das boas obras. Todo amante da humanidade, quando ele tem
oportunidade, 'faz o bem a todos os homens', (sem parcialidade, e sem
hipocrisia) 'cheio de misericórdia e bons frutos'.
10.
Mas a religião verdadeira, ou um coração justo, em direção a Deus e ao homem,
implica felicidade, assim como santidade. Porque não é apenas 'retidão',
também, 'paz e alegria no Espírito Santo'. Que paz? 'A paz de Deus';
que Deus apenas pode dar, e que o mundo não pode tirar; é a paz que 'ultrapassa
todo entendimento', toda concepção meramente racional; sendo uma sensação
sobrenatural, um sentido de paladar divino dos 'poderes do mundo que virá';
tal como o homem natural não conhece, por mais sábio que ele seja nas coisas
deste mundo; nem, na verdade, ele pode saber isto, em seu presente estado, 'porque
ela é discernida espiritualmente'. É
a paz que extingue toda a dúvida, toda incerteza dolorosa; o Espírito de Deus
testemunhando com o espírito de um cristão que ele é 'filho de Deus'. E
ela bane o medo, todo tal temor que causa tormento; o medo da ira de Deus; o
medo do inferno; o temor do diabo; e, em particular, o temor da morte: ele que
tem a paz de Deus deseja, se for da vontade de Deus, 'partir e estar com
Cristo'.
11. Com esta paz de Deus, onde quer que ela seja
fixada na alma, existe também 'alegria no Espírito Santo'; alegria
forjada no coração pelo Espírito Santo, através do sempre abençoado Espírito de
Deus. É Ele que opera em nós aquela calma, o humilde regozijar-se em Deus,
através de Jesus Cristo, 'por quem nós recebemos a redenção', a
reconciliação com Deus; e que nos capacita corajosamente a confirmar a verdade
da declaração preciosa do salmista, 'Abençoado é o homem' (ou,
preferivelmente, feliz) 'cuja iniqüidade é perdoada, e cujos pecados são
vencidos'. É Ele que inspira a alma cristã, até mesmo, com aquela alegria
sólida que nasce do testemunho do Espírito de que ele é um filho de Deus; e que
faz com que ele 'se regozije, com alegria inexprimível, na esperança da
glória de Deus'; esperança da gloriosa imagem de Deus, que está em parte,
mas que será totalmente 'revelada nele'; e daquela coroa de glória que
não desaparece, reservada para ele nos céus.
12.
Esta santidade e felicidade, juntas, são, algumas vezes, denominadas, nos
escritos inspirados, 'o reino de Deus' (como através de nosso Senhor no
texto); e, algumas vezes, 'o reino do céu'. Elas são denominadas 'o
reino de Deus', porque são os frutos imediatos do reino de Deus na alma.
Tão logo, Ele toma junto a si mesmo seu imenso poder, e fixa seu trono em
nossos corações, eles são instantaneamente preenchidos com essa 'retidão,
paz e alegria no Espírito Santo'. São chamadas de 'o reino do céu',
porque elas são (de certa forma) o céu revelado na alma. Porque, quem que
experimente isto, pode afirmar diante de anjos e homens:
A
vida eterna é alcançada, e a glória na terra começou, de acordo com o constante
teor das Escrituras, que, em todo lugar, testemunha em: (I João 5:11-12)
'E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em
seu Filho. Quem tem o Filho' (reinando em seu coração) 'tem a vida
eterna; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida'. Porque (João 17:3)
'esta é a vida eterna: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro,
e a Jesus Cristo, a quem enviaste'.
E
eles, a quem isto é dado, podem confiantemente dirigir-se a Deus, embora
estejam em meio a uma fornalha: A Ti, Senhor, protegido pelo teu poder. A Ti,
Filho de Deus, Jeová, nós adoramos. Na forma humana do alto surgiu: A Ti sejam
dadas aleluias sem cessar; louvor, assim como em seu trono no céu, nós
oferecemos aqui; porque onde quer que estejas, lá, o céu é manifesto.
13.
E este 'reino de Deus', ou do céu 'está ao alcance da mão'.
Quando essas palavras foram originalmente faladas, elas implicaram que 'o
tempo' estaria, então, cumprido, com Deus sendo 'manifestado na carne';
quando Ele fixaria seu reino entre os homens, e reinaria nos corações de seu
povo. E o tempo já não está cumprido? Porque Ele disse: 'Veja, eu estarei
sempre com vocês', vocês que pregam remissão dos pecados em meu nome, até
o fim do mundo'. (Mateus 28:20) 'Ensinando-os a guardar todas as
coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até
a consumação dos séculos'. Portanto, onde quer que o Evangelho de Cristo
seja pregado, este Seu 'reino está ao alcance da mão'. Não está longe de
nenhum de vocês. Vocês podem, nesta mesma hora, entrar, se vocês ouvirem
atentamente a Sua voz: 'Arrependam-se, e creiam no Evangelho'.
II
1. Este é o caminho: caminhem nele.
Primeiro, 'arrependam-se'; ou seja, conheçam a si mesmos. Este é o
primeiro arrependimento, prévio para a fé; até mesmo a convicção, ou
autoconhecimento. Acorda, então, tu que dormes. Reconhece que tu és um pecador,
e o tipo de pecador que tu és. Reconhece aquela corrupção de tua natureza mais
intima, por meio da qual, tu estás muito longe da retidão original; por meio da
qual, 'a carne deseja ardentemente', sempre, 'contrária ao Espírito',
através daquela 'mente carnal', que 'é inimiga de Deus', que 'não
está sujeita à lei de Deus, nem, de fato, pode estar'. Reconhece que tu és
corrupto, em todo poder, em toda faculdade de tua alma; que tu és totalmente
corrupto, em cada um desses; todos os alicerces, estando fora do curso. Os
olhos de teu entendimento estão obscurecidos, de modo que eles não podem
discernir Deus, ou as coisas de Deus. As nuvens da ignorância e erro descansam
sobre ti, e cobrem a ti com a sombra da morte. Tu sabes nada de Deus, nem do
mundo, nem de ti mesmo, como tu deverias saber. Tua vontade não é mais a
vontade de Deus, mas é totalmente perversa e distorcida; avessa a todo bem, a
tudo que Deus ama, e propensa a todo mal, à toda abominação que Deus odeia.
Todas as tuas afeições estão alienadas de Deus, e dispersas por sobre toda a
terra. Todas as tuas paixões, ambos teus desejos e aversões; tuas alegrias e
tristezas; tuas esperanças e temores estão desequilibrados; são tanto
inadequados, em seus níveis, quanto estão colocados em objetos inadequados. De
maneira que não existe sanidade em tua alma; mas 'dos pés à cabeça' (para
usar a forte expressão do Profeta) existe apenas 'machucaduras, feridas, e
chagas podres'.
2.
Tal é a corrupção nata do teu coração, de tua natureza interior. E que tipo de
ramificações podes tu esperar que cresça de tais raízes pecaminosas? Disto,
brota descrença; sempre separada do Deus vivo; dizendo, 'Quem é o Senhor que
eu devo servir? Ora! Tu, Deus, não te preocupas com isto!'. Disto, a
independência, simulando parecer como o Altíssimo. Disto, o orgulho, em todas
as suas formas; ensinando-te a dizer 'Eu sou rico, tenho muitos bens, e não
preciso de coisa alguma'. Desta fonte diabólica, fluem as correntezas
amargas da vaidade, a sede do elogio, ambição, cobiça, a luxúria da carne, a
luxúria dos olhos, e o orgulho da vida. Disto, erguem-se a ira, o ódio, a
malícia, a revanche, a inveja, o ciúme, e as suposições diabólicas. Disto,
todos os entusiasmos tolos e prejudiciais que agora 'perfuram a ti, através
de muitas tristezas', e se não prevenidas a tempo, irão, por fim, mergulhar
tua alma na perdição eterna.
3. E
que frutos podem crescer em tais ramos como esses? Do orgulho, vem a contenda,
o elogio vão de si próprio, o buscar e receber o louvor dos homens, e assim,
roubar de Deus aquela glória que Ele não pode dar a outro. Da luxúria da carne,
vem a glutonaria ou bebedeira, lascívia ou sensualidade, fornicação, impureza;
diferentemente corrompendo aquele corpo que foi designado para o templo do
Espírito Santo: Da descrença, toda palavra e obra diabólica. Mas, o tempo seria
insuficiente, tu deverias somá-los todos; todas as palavras inúteis que tu disseste,
desafiando o Altíssimo, afligindo o Espírito Santo de Israel; todas as obras
diabólicas que tu fizeste, tanto completamente pecaminosas, em si mesmas, ou,
pelo menos, não feitas para a glória de Deus. Porque teus pecados presentes são
mais do que tu és capaz de expressar; mais do que os cabelos de tua cabeça.
Quem poderá contar as areias do mar, ou as gotas da chuva, ou tuas
iniqüidades?
4.
E tu não sabes que 'o salário do pecado é a morte?' – Morte, não apenas
temporal, mas eterna. 'A alma que pecar, deverá morrer'; porque o Senhor
disse isto. Ela deverá morrer a segunda morte. Esta é a sentença: 'ser
punido', com a morte sem fim, 'com a destruição eterna da presença do
Senhor, e da glória de Seu poder'. Tu não sabes que todo pecador não 'está'
propriamente 'às portas do fogo do inferno', está demasiado
vulnerável; mas, antes, 'está debaixo da sentença do fogo do inferno';
já está condenado; e exatamente sendo levado para a execução. Tu és culpado da
morte eterna. Ela é a recompensa justa de tua maldade interior e exterior. É
justo que aquela sentença agora tome lugar. Tu consegues ver e sentir isto? Tu
estás totalmente convencido de que tu mereces a ira de Deus, e a condenação
eterna? Deus faria algum mal a ti, se ele agora ordenasse que a terra se abrisse
e te tragasse? Se tu fosses agora rapidamente para o abismo, para o fogo que
nunca se extingue? Se Deus tem determinado que tu verdadeiramente te
arrependas, tu tens profunda consciência de que estas coisas são assim; e que é
pela mera misericórdia que tu não estás consumido, que tu não foste varrido da
face da terra.
5.
E o que tu irás fazer para apaziguar a ira de Deus, para expiar todos os teus
pecados, e escapar da punição que tu tens tão justamente merecido? Ai de mim!
Tu não podes fazer coisa alguma; nada que irá, de alguma forma, reparar para
Deus alguma obra, palavra ou pensamento pecaminoso. Se tu pudesses agora fazer
todas as coisas boas; se, deste momento em diante, até que tu alma retorne para
Deus, tu pudesses executar a obediência perfeita e ininterrupta, mesmo isto não
iria reparar o que passou. O não aumentar teu débito não iria saldá-lo. Ele
ainda permaneceria tão grande como sempre. Sim, a obediência presente e futura
de todos os homens sobre a terra, e de todos os anjos no céu, não traria
satisfação à justiça de Deus, por um único pecado. Quão inútil, então, foi o
pensamento de reparar por teus próprios pecados, através de alguma coisa que tu
possas fazer! Custa muito mais redimir uma alma, do que toda a humanidade é
capaz de pagar. De modo que não existe outra ajuda para o pecador culpado, sem
dúvida, ele deve perecer eternamente.
6.
Mas suponha que a obediência perfeita, no futuro, pudesse reparar os pecados
passados, isto seria de nenhum proveito para ti; porque tu não és capaz de
executar isto; não; de maneira alguma. Comece agora: Faça uma tentativa.
Livre-se daquele pecado exterior que tão facilmente assola a ti. Tu não podes.
Como, então, tu irás mudar tua vida, de todo o mal para todo o bem? De fato, é
impossível de ser feito, a menos que, primeiro, teu coração mude. Porque, por
quanto uma árvore permanece má, ela não poderá produzir bons frutos. Mas será
que tu és capaz de mudar teu próprio coração; do pecado total, para a total
santidade? Vivificar a alma que está morta no pecado, -- morta para Deus, e
viva apenas para o mundo? Não mais do que tu és capaz de vivificar um corpo
morto; trazer de volta à vida aquele que está na sepultura. Sim, tu não és
capaz de vivificar tua alma, em algum grau; não mais do que dar vida, em algum
grau, a um corpo morto. Tu não podes fazer coisa alguma, mais ou menos, a este
respeito; tu estás totalmente sem força. Estar profundamente consciente disto,
do quão impotente tu és, assim como, do quão culpado e quão pecador, -- este é
aquele 'arrependimento', que é o precursor do reino de Deus.
7. Se
à esta convicção viva de teus pecados interiores e exteriores; de tua mais
extrema culpa e impotência, forem acrescentadas afeições adequadas, -- tristeza
do coração, por tu teres menosprezado tuas próprias misericórdias, -- remorso,
e autocondenação; tendo fechado tua boca, -- vergonha, por ergueres teus olhos
aos céus, -- temor da ira de Deus, habitando em ti, da maldição de Deus,
dependurada sobre tua cabeça, e da flamejante indignação pronta a devorar esses
que se esqueceram de Deus, e não obedeceram nosso Senhor Jesus Cristo, --
desejo sincero de escapares daquela indignação, cessares o mal, e aprenderes a
fazer o bem; -- então, eu digo a ti, em nome do Senhor, 'Tu não estás longe
do reino de Deus'. Um passo mais, e tu entrarás nele. 'Arrepende-te'.
Agora, 'creias no Evangelho'.
8.
O evangelho (ou seja, as boas novas; as boas notícias para os pecadores
culpados e impotentes), em um sentido mais amplo, significa toda a revelação
feita por Jesus Cristo, aos homens; e, algumas vezes, todo o relato do que
nosso Senhor fez e sofreu, durante seu tabernáculo entre os homens. A
substância de tudo é que 'Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os
pecadores'; ou 'Deus amou de tal modo o mundo que deu seu Unigênito para
que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna'; ou 'Ele foi ferido
por nossas transgressões; Ele foi machucado por nossas iniqüidades; o castigo
de nossa paz estava sobre ele; e com suas chicotadas fomos curados'.
9.
Creias nisto, e o reino de Deus é teu. Pela fé, tu obténs a promessa. 'Ele
perdoa e absolve todo que verdadeiramente se arrependem, e sinceramente
acreditam em seu santo Evangelho'. Tão logo Deus fale ao teu coração, 'Ânimo,
teus pecados foram perdoados', seu reino virá: Tu terás 'a retidão, paz
e alegria no Espírito Santo'.
10.
Apenas cuida, tu, de não enganares a tua própria alma, com respeito à natureza
desta fé. Ela não se trata, como alguns têm afirmado apaixonadamente, de uma
mera aquiescência da Bíblia, dos artigos de nosso credo, ou de tudo que está
contido no Velho e Novo Testamento. Os
demônios acreditam nisto, tanto quanto eu ou tu! E, ainda assim, eles ainda são
demônios. Mas ela é, acima de tudo isto, a confiança verdadeira na misericórdia
de Deus, através de Jesus Cristo. É a confiança no Deus clemente. É a evidência
ou convicção divina de que 'Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo
para si mesmo, não imputando a ele suas' primeiras 'transgressões';
e, em particular, que o Filho de Deus amou a mim, e deu a Si mesmo por mim; e
que eu, até mesmo eu, estou agora reconciliado para Deus, através do sangue da
cruz.
11.
Tu crês desta forma? Então, a paz de Deus está em teu coração, e a tristeza e
lamentação fugiram. Tu não mais duvidas do amor de Deus; ele está claro como o
sol do meio-dia. Tu clamas: 'Minha canção deverá ser sempre sobre a bondade
do Senhor: Com minha boca eu irei sempre falar de tua verdade, de geração em
geração'. Tu não mais temerás o inferno, ou a morte, ou aquele que, uma
vez, teve o poder da morte, o diabo; não; não temerás dolorosamente o próprio
Deus; tu terás apenas o temor terno e filial de afligir a Ele. Tu crês? Então,
tua 'alma magnífica o Senhor', e teu 'espírito se regozija em Deus,
teu Salvador'. Tu te regozijas Naquele em quem tu tens 'redenção,
através de Seu sangue, até mesmo, o perdão dos pecados'. Tu te regozijas
naquele 'Espírito de adoção', que clama em teu coração, 'Aba, Pai!'.
Tu te regozijas na 'esperança completa da imortalidade'; no alcançar a 'marca
do prêmio por teu alto chamado'; na sincera expectativa de todas as boas
coisas que Deus tem preparado para aqueles que O amam.
12. Tu
agora crês? Então, 'o amor de Deus está' agora 'espalhado em teu
coração'. Tu amas a Ele, porque Ele primeiro amou a nós. E porque tu amas a
Deus, tu amas a teu irmão também. E sendo preenchido com 'o amor, a paz, e a
alegria', tu estás também preenchido com a 'longanimidade, gentileza,
fidelidade, bondade, humildade, temperança', e todos os outros frutos do
mesmo Espírito; em uma palavra, com quaisquer disposições que sejam santas, que
sejam celestiais ou divinas. Porque, enquanto tu 'olhares com a face
aberta', descoberta (o véu, estando agora retirado) 'a glória do
Senhor', seu amor glorioso, e a imagem gloriosa, em que tu foste criado, tu
estarás 'mudado para a mesma imagem, de glória em glória, através do
Espírito do Senhor'.
13. Este
arrependimento, esta fé, esta paz, esta alegria, este amor, esta mudança de
glória em glória, é o que a sabedoria do mundo tem sugerido ser loucura, mero
entusiasmo, e completa abstração. Mas tu, ó homem de Deus, com te preocupes com
eles; não te abales por quaisquer dessas coisas. Tu sabes em que tu tens crido.
Vê que nenhum homem tire tua coroa. O que tu obtiveste, segura firme, e segue,
até que obtenhas as grandes e preciosas promessas. E tu que ainda não conheces
a Ele, não permitas que homens presunçosos façam com que te envergonhes do
Evangelho de Cristo. Não te impressiones com coisa alguma, através desses que
falam mal das coisas que eles não conhecem. Deus logo irá transformar tua
opressão em alegria. Que tuas mãos se abaixem! Ainda que demore um pouco, Ele
fará desaparecer teus medos, e dará a ti o espírito de uma mente sã. Ele que
está perto de ser 'justificado: Quem poderá condena-lo? É Cristo, que
morreu; sim, antes, que ressuscitou, e que está, desde então, à direita de
Deus, fazendo intercessão', por ti.
'Coloca-te, agora, nas mãos do Cordeiro de Deus, com
todos os teus pecados, por muitos que eles sejam; e uma entrada será ministrada
junto a ti, no reino de nosso Senhor, e Salvador Jesus Cristo!'.
[Editado
anonimamente na Memorial University of Newfoundland, com correções de
George Lyons da Northwest Nazarene College para a Wesley Center for Applied
Theology.]
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