John Wesley
'O mesmo Espírito testifica com
nosso espírito de que somos filhos de Deus'. (Romanos 8:16)
1. Quantos
homens inúteis, não entendendo o que eles falaram, nem a respeito do que eles
afirmaram, têm combatido essas Escrituras para a grande perda, se não a
destruição de suas almas! Quantos têm enganado a voz de sua própria imaginação,
por causa desse testemunho do Espírito de Deus, e, por esta razão,
impulsivamente presumiram que eles são filhos de Deus, enquanto eles estavam
fazendo as obras do diabo! Estes são, verdadeiramente e apropriadamente,
entusiastas; e, de fato, no pior sentido da palavra. Mas com que dificuldade,
eles são convencidos disso, especialmente, se eles estão mergulhados
profundamente no espírito do erro! Todos os esforços para trazê-los ao
conhecimento de si mesmos, eles irão, então, considerar luta contra Deus; e
esta veemência e impetuosidade de espírito, que eles chamam 'contender
sinceramente pela fé', os colocam, tão abaixo de todo método usual de
convicção, que nós podemos dizer:'Com homens é impossível'.
2. Quem
pode, então, surpreender-se, de que muitos homens razoáveis, vendo os efeitos
terríveis dessa ilusão, e trabalhando para manterem-se o mais distante dela,
possam, algumas vezes, inclinar-se em direção ao extremo oposto? Que eles não
estejam dispostos a acreditar, em quem quer que fale de ter esse testemunho,
concernente ao que outros têm caído, tão gravemente, no erro? Que eles estejam
quase prontos a colocar tudo abaixo pelos entusiastas que usam as expressões,
que têm sido tão terrivelmente corrompidas? Sim. Que eles possam questionar, se
a testemunha ou testemunho, de que se fala aqui, é privilégio dos cristãos
comuns, e não, de preferência, algum desses dons extraordinários, que eles
supõe pertencerem apenas à era apostólica?
3.
Mas existe alguma necessidade sobre nós, por irmos, tanto para um extremo,
quanto para o outro? Nós podemos nos dirigir para o meio termo? Mantendo
suficiente distância daquele espírito do erro e entusiasmo, sem negar os dons
de Deus, e entregando o grande privilégio de seus filhos? Certamente nós
podemos. E, com este objetivo, permita-nos considerar, na presença e temor de
Deus:
1o. O que é esse testemunho de nosso espírito: o que é o
testemunho do Espírito de Deus; e, como 'ele testemunha com nosso espírito
que nós somos filhos de Deus?'
2o. Como essa junção do testemunho do Espírito de Deus e
de nosso próprio é distinguido da presunção da mente natural e da ilusão do
diabo?
I
(1)
Vamos considerar, primeiro, o que é o testemunho de nosso espírito. Mas aqui eu
não posso, a não ser desejar que todos aqueles que estão para serem consumidos
pelo testemunho do Espírito de Deus, no testemunho racional de nosso próprio
espírito, observem que, no texto do Apóstolo está tão longe de falar do
testemunho de nosso próprio espírito apenas, que se pode questionar, se ele
fala dele, afinal; se ele não fala apenas do testemunho do Espírito de Deus.
Ele não aparece, mas o texto original pode fielmente ser entendido assim. O
apóstolo tem justamente dito, no verso precedente: 'Nós recebemos o Espírito
de Adoção, por meio do qual nós clamamos, Abba, Pai', e imediatamente
acrescenta: 'O mesmo Espírito testemunha com nosso espírito que somos filhos
de Deus'. (a preposição 'syn', do texto original, apenas denotando
que ele testemunha isto, no momento em que nos capacita a clamar Abba, Pai).
Mas eu não crio conflito, vendo que tantos outros textos, com a experiência dos
cristãos reais, suficientemente revelam que existe, em cada crente, tanto o
testemunho do Espírito de Deus, quanto o testemunho de seu próprio espírito, de
que ele é filho de Deus.
(2)
Com respeito ao segundo, o fundamento disto está colocado, naqueles numerosos
textos das Escrituras, e que descrevem as marcas dos filhos de Deus; e são tão
claros, que ele, que procura, pode
lê-los. Estes estão também coletados juntos, e colocados, sob a mais forte luz,
através de muitos escritores antigos e modernos. E, se alguém precisar de
esclarecimentos posteriores, ele pode recebê-los, através do ministério da
Palavra de Deus; meditando nisto, em segredo, diante Dele; e conversando com
aqueles que têm o conhecimento de seus caminhos. E, através da razão ou
entendimento que Deus tem dado a ele, o que a religião não objetivou extinguir,
mas aperfeiçoar; de acordo com o que disse o Apóstolo, em (I Cor. 14:20) "Irmãos,
não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento" — cada homem
aplicando aquelas marcas espirituais, em si mesmo, pode saber se ele é um filho
de Deus. Assim, se ele sabe, primeiro, 'tanto quanto seja conduzido pelo
Espírito de Deus', a todo temperamento e ações santos, 'ele será filho
de Deus'; (para isto, é que ele tem a segurança infalível das Escrituras
Sagradas). Em segundo lugar, se eu sou assim 'conduzido pelo Espírito de
Deus', ele facilmente poderá concluir que, 'por conseguinte, eu sou um
filho de Deus'.
(3)
Em concordância com isto estão todos aquelas declarações claras de João, em sua
Primeira Epístola:
(I João 2:3)
'Por meio disto, nós sabemos que o conhecemos, se nós mantemos seus
mandamentos'.
(I João 2:5) 'Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de
Deus, está nele, verdadeiramente, aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos
nele''; que nós
somos realmente filhos de Deus.
(I João 2:29) 'Se sabeis que ele é justo; sabeis que todo aquele que
pratica a justiça é nascido dele'.
(I João 3:14) 'Por meio
disto, nós sabemos que estamos na verdade e podemos assegurar nossos corações
diante dele'; ou
seja, porque 'nós amamos o próximo, não em palavra, nem pela língua, mas de
fato, na verdade'. Por isto nós
sabemos que habitamos nele, porque ele nos deu seu 'Espírito Amoroso'. 'Nós
sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os Irmãos; quem não
ama seu irmão, permanece na morte'.
(I João 4:13) 'Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois
que nos deu do seu Espírito'.
E
em (I João 3:24) 'E aquele que guarda os seus mandamentos nele está,
e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós: pelo Espírito obediente que
nos tem dado'.
(4) É
altamente provável que nunca tenha havido um filho de Deus, desde o início do
mundo, até este dia, que tenha sido mais completamente adiantado na graça de
Deus e conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, do que o Apóstolo João, nos tempos em que ele escreveu essas
palavras, e os antepassados em Cristo
para os quais ele escreveu. Não obstante isto, é evidente que tanto o próprio
Apóstolo, quanto todos aqueles pilares no templo de Deus, estavam muito longe
de desdenharem dessas marcas de serem os filhos de Deus; e isto eles aplicaram
em suas próprias almas para a confirmação da própria fé. Ainda assim, tudo isto ainda não é outra
coisa do que evidência racional, o testemunho de nosso espírito, nossa razão,
ou entendimento. Isto tudo se resolve nisso: aqueles que têm essas marcas são
filhos de Deus; e se nós temos essas marcas, por conseguinte, somos filhos de
Deus.
(5)
Mas como saberemos que nós temos essas marcas? Esta é uma questão que ainda
permanece. Como saberemos que nós amamos a Deus e ao nosso próximo, e que nós
mantemos seus mandamentos? Observe que o significado da questão é, como
saberemos disso em nós mesmos, e não nos outros? Eu perguntaria a este, então,
que propõe essa questão 'Como você sabe que está vivo, e que você agora está
bem, e não com dores? Você não está imediatamente consciente disso? Pela
mesma consciência imediata, você saberá se sua alma está viva para Deus; se
você está salvo da dor da fúria do orgulho, e tem a tranqüilidade do espírito
manso e quieto. Pelo mesmo significado, você não pode deixar de perceber, se
você ama, regozija-se e se deleita em Deus. Pelo mesmo motivo, você deve estar
diretamente assegurado, se você ama seu vizinho tanto quanto a si mesmo;se você
está afeiçoado carinhosamente a toda a humanidade, e cheio de amabilidade e
longanimidade. E, com respeito a essas marcas exteriores dos filhos de Deus,
que é, de acordo com João, o de manter seus mandamentos, você indubitavelmente
sabe, em seu próprio peito, se, pela graça de Deus, isto pertence a você; sua
consciência o informa, dia a dia, se você não toma o nome de Deus em seus
próprios lábios, a menos com seriedade e devoção, com reverência e temor santo;
se você se lembra do dia do Senhor, e o mantém santo; se você honra seu pai e
mãe; se você faz tudo como você gostaria que lhe fosse feito; se você possui
seu corpo em santificação e honra; e se, caso você, no comer e beber, é
equilibrado nisto, e tudo faz para a glória de Deus.
(6) Agora
este é corretamente o testemunho de nosso próprio espírito: exatamente o
testemunho de nossa consciência, a que Deus nos tem dado, para que sejamos
santos de coração, e santos em nossas conversas exteriores. É a consciência que
recebemos, no Espírito de adoção, e através dele; os temperamentos mencionados
na Palavra de Deus, como pertencentes aos seus filhos adotados; mesmo um
coração amoroso, em direção a Deus, e em direção a toda humanidade;
dependurando-nos, em Deus, nosso Pai, com uma confiança inocente, e desejando
nada, a não ser ele; colocando todas as nossas preocupações nele, e abraçando
cada filho do homem com afeição sincera e terna: A consciência de que nós
estamos, intimamente de acordo, pelo Espírito de Deus, com a imagem de seu
Filho, e que nós caminhamos, segundo ele, na justiça, misericórdia, e verdade,
fazendo as coisas que são prazerosas aos seus olhos.
(7)
Mas o que é este testemunho do Espírito de Deus, que está adicionado, e unido a
isto? Como ele 'testemunha com nosso espírito que nós somos filhos de Deus?'.
É difícil encontrar palavras, na linguagem dos homens para explicar 'a
profundidade das coisas de Deus'. De fato, ninguém irá expressar
adequadamente o que os filhos de Deus experimentam. Mas, talvez, alguém possa
dizer (desejando que seja alguém, ensinado por Deus, para corrigir, suavizar ou
fortalecer a expressão):'O testemunho do Espírito é uma impressão interior
da alma, por meio da qual o Espírito de Deus testemunha diretamente ao meu
espírito, que eu sou um filho de Deus; que Jesus Cristo tem amado a mim, e dada
a si mesmo por mim; e que todos os meus pecados estão apagados, e eu, até mesmo
eu, estou reconciliado para Deus.
(8)
De que este testemunho do Espírito de Deus deve necessitar, na mesma natureza
das coisas, ser antecedido do testemunho de nosso próprio espírito, pode
aparecer desta simples consideração? Nós devemos ser santos de coração, e
santos na vida, antes que nós possamos estar conscientes de que somos assim;
antes que possamos ter o testemunho de nosso espírito, que nós somos interiormente
e exteriormente santos. Mas nós devemos amar a Deus, antes que possamos ser
santos, afinal. Esta sendo a raiz de toda a santidade. Agora nós não podemos
amar a Deus, até que nós saibamos que ele nos ama. 'Nós o amamos, porque ele
primeiro nos amou'. E nós não podemos conhecer seu amor redentor para
conosco, até que seu Espírito testemunhe isto com nosso espírito. Desde que,
por conseguinte, este testemunho do seu Espírito deva preceder o amor de Deus e
toda a santidade, como conseqüência disto, deve proceder nossa consciência
interior dele, ou o testemunho de nosso espírito, concernente a ele.
(9) Então,
e não, até então, quando o Espírito de Deus testemunha com nosso espírito que: 'Deus
tem amado a ti, e tem dado seu próprio filho, como expiação de teus pecados; o
Filho de Deus tem amado a ti, e fez desaparecer de ti teus pecados, no sangue
Dele', — 'nós amamos Deus, porque ele primeiro nos amou'; e, por este motivo, nos amamos nosso irmão
também. E disso, nós não podemos deixar de estar conscientes conosco mesmos de
que: Nós 'sabemos as coisas que são livremente dadas a nós por Deus'.
Nós sabemos que amamos a Deus e mantemos seus mandamentos; e 'por isso
também, nós sabemos que somos de Deus'. Este é aquele testemunho de nosso próprio
espírito, e que, tanto quanto continuemos a amar a Deus e manter seus
mandamentos, continuará unido com o testemunho do Espírito de Deus 'de que
somos os filhos de Deus'.
(10) Não
que eu poderia ser entendido, por qualquer meio; por alguma coisa que tem sido
falada, concernente a ele, e que exclua a operação do Espírito de Deus, mesmo
do testemunho de nosso próprio espírito. De maneira alguma. É Ele que, não
apenas opera em nós, todo tipo de coisa que seja boa, mas também faz ressaltar
sua própria obra, e claramente mostra o que ele tem forjado. Concordantemente,
isto é falado por Paulo, como sendo o grande objetivo de recebermos o Espírito,
'que nós possamos saber as coisas que nos são livremente dadas por Deus'.
Que ele possa fortalecer o testemunho de nossa consciência, tocando nossa 'simplicidade
e sinceridade santa', oferecendo-nos a oportunidade de discernir,
plenamente e fortemente, que nós agora fazemos as coisas que agrada a ele.
(11) Pode
ainda ser inquirido: 'Como o Espírito de Deus testemunha com nosso espírito,
de que somos os filhos de Deus, de maneira a excluir todas as dúvidas, e
evidenciar a realidade de nossa filiação?'. A resposta é clara, pelo que tem sido
observado acima. E, primeiro, como para o testemunho de nosso espírito: A alma
percebe, quando ela ama, deleita-se e regozija-se em Deus, intimamente e
evidentemente; quando ela ama e se deleita com alguma coisa na face da terra. E
poderá não haver mais dúvida, se ela ama, deleita-se, regozija-se, ou não, do
que se ela existe ou não. Por conseguinte, é razoável que aquele que ama,
deleita-se e se regozija Nele, com uma alegria humilde, prazer santo e amor
obediente, seja um filho de Deus. De maneira que, se eu amo, me deleito e me
regozijo em Deus, por conseguinte, eu sou um filho de Deus. Assim, um cristão
pode, de maneira alguma, duvidar que ele seja um filho de Deus. Da primeira
proposição, ele tem tão completa segurança, quanto ele tem de que as Escrituras
sejam de Deus; e se ele ama a Deus dessa forma, ele tem uma prova interna, que é
nenhuma falta de auto-evidência. Assim, o testemunho de nosso próprio espírito
é manifestado, com a convicção mais íntima, aos nossos corações; de tal
maneira, acima de toda dúvida razoável, para evidenciar a realidade de nossa
filiação.
(12)
A maneira como o testemunho divino é manifestado no coração, eu não me atrevo
explicar. Tal conhecimento é muito maravilhoso e excelente para mim, e eu não
tenho capacidade de detê-lo. O vento sopra, e eu ouço o som dele, mas eu não
posso dizer como ele vem, ou para onde ele vai. Como ninguém conhece as coisas
de um homem, exceto o espírito de um homem que está nele; assim, as maneiras
das coisas de Deus não são conhecidas de ninguém, exceto o Espírito de
Deus. Mas o fato nós sabemos, ou seja,
que o Espírito de Deus dá ao crente um tal testemunho de sua adoção que,
enquanto estiver presente na alma, ele não mais poderá duvidar da realidade de
sua filiação, tanto quanto ele não duvida do brilho do sol, enquanto ele
permanecer, no total esplendor de seus raios.
II
(1)
Como esta união do testemunho do Espírito de Deus e do nosso espírito pode ser,
claramente e solidamente, distinguido da presunção da mente natural, e da
ilusão do diabo, é a próxima etapa a ser considerada. E isto atinge altamente
todos os que desejam a salvação de Deus, a considerar isto, com a atenção mais
profunda, para que não possam enganar suas próprias almas. Um erro nisto é
geralmente observado ter as mais fatais conseqüências; até porque, ele que
erra, raramente descobre seu erro, até que seja tarde demais para remediá-lo.
(2)
E, primeiro, como esse testemunho pode ser distinguido da presunção da mente
natural? É certo que alguém que nunca tenha sido convencido do pecado esteja
sempre pronto a lisonjear a si mesmo, e pensar sobre si mesmo, especialmente
nas coisas espirituais, mais altamente do que ele deveria pensar. E, por isso,
não é, de forma alguma, estranho, se alguém que se ensoberbece vaidosamente de
sua mente humana, quando ele ouve falar desses privilégios dos verdadeiros
cristãos, entre os quais ele, sem dúvida, se coloca, possa logo se persuadir de
que ele já é possuidor disto. Tais instâncias agora abundam no mundo, e têm
afluído em todas as épocas. Como, então,
pode o testemunho real do Espírito com
o nosso espírito, ser
distinguido dessas presunções condenatórias?
(3)
Eu respondo. As Escrituras Sagradas afluem com marcas, por meio das quais, um
pode ser distinguido do outro. Elas descrevem, da maneira mais clara, as
circunstâncias as quais vem antes, acompanham e seguem o verdadeiro e genuíno
testemunho do Espírito de Deus com o espírito daquele que crê. Quem quer que
pese cuidadosamente e preste atenção a estes não precisará trocar a escuridão
pela luz. Ele irá perceber tão amplamente a diferença com respeito a todos
esses; entre o real e o pretenso testemunho do Espírito, que não haverá perigo
algum, eu diria, possibilidade alguma de confundir um com o outro.
(4)
Através dessas, alguém que vaidosamente presuma a respeito do dom de Deus
deveria certamente saber, se realmente desejou isto, se ele tem estado, até
aqui, 'entregue a tão forte ilusão', e sujeito a acreditar numa mentira.
Já que as Escrituras salientam aquelas marcas claras e óbvias, que precedem,
acompanham e seguem aquele dom, de maneira que uma pequena reflexão poderia
convencê-lo, sem sombra de dúvida, de que elas nunca foram encontradas em sua
alma. Por exemplo: As Escrituras descrevem o arrependimento, ou convicção do
pecado, como constantemente vindo antes do testemunho redentor: (Mateus 3:2) 'Arrependei-vos, porque
é chegado o reino dos céus'. (Marcos 1:15) 'O tempo está cumprido
e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho'. (Atos
2:38) 'E disse-lhe Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado, em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados, e recebereis o dom
do Espírito Santo'. (Atos 3:19) 'Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim, os
tempos do refrigério, pela presença do Senhor'.
Em
conformidade ao que nossa Igreja tem continuamente colocado o arrependimento,
antes do perdão; ou o testemunho dele. 'Ele perdoa e absolve os que
verdadeiramente se arrependem, e sinceramente acreditam em seu santo
Evangelho. O Deus poderoso tem prometido
o perdão dos pecados a todos que, com arrependimento sincero e fé verdadeira,
voltam para Ele'. Mas ele é sempre um estranho para esse arrependimento:
aquele que não conhece o coração quebrantado e contrito: 'A lembrança de
seus pecados' nunca 'o afligiu', nem 'foi um fardo intolerável'. Ao
repetir essas palavras, ele nunca pretendeu dizer o que disse: ele meramente
fez um elogio a Deus. E fosse isto apenas da vontade prévia da obra de Deus,
ele teria grande razão para acreditar que ele tem agarrado uma mera sombra, e
não conhece ainda o real privilégio dos filhos de Deus.
(5) Novamente, as Escrituras descrevem
o nascer de Deus, que deve preceder o
testemunho de que nós somos seus filhos, como uma mudança ampla e
poderosa: Uma mudança 'das trevas para a luz'; tanto quanto 'do poder
do diabo para o poder de Deus'; como 'passar da morte para a vida';
a ressurreição de entre os mortos. Assim, o apóstolo aos Efésios: (Efésios
2:1) 'E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados'. E, novamente, em (Efésios 2:5,6) 'Quando
nós estávamos mortos no pecado, ele rapidamente nos uniu a Cristo; e tem nos
erguido, juntos, e feito nos assentarmos, juntos, nos lugares celestiais, em
Jesus Cristo. Mas o que ele sabe, concernente àquele de quem nós agora
falamos, de alguma mudança como esta? Ele é um completo estranho a esse assunto.
Esta é uma linguagem que ele não compreende. Ele diz a você que ele sempre foi
um cristão. Ele não se lembra de ter, alguma vez, necessitado de tal mudança.
Por esse meio também, se ele se permitir pensar, ele pode saber, que ele não é
nascido do Espírito; que ele nunca conheceu a Deus; mas tem confundido a voz da
natureza humana com a voz de Deus.
(6)
Mas, acenando à consideração do que quer que ele tenha ou não tenha
experimentado no passado; pelas marcas presentes nós podemos facilmente
distinguir um filho de Deus, de um auto-enganador presunçoso. As Escrituras
descrevem aquela alegria no Senhor, que acompanha o testemunho de seu Espírito,
como uma alegria humilde; uma alegria que se degrada ao pó; e que faz um
pecador clamar:'Eu sou vil! O que eu sou, ou a casa de meu pai? Agora meus
olhos vêem a ti, e eu abomino a mim mesmo, e me reduzo a cinzas!'. E onde
quer que a humildade esteja, há
brandura, paciência, gentileza, longanimidade. Existe um espírito gentil
e submisso: há suavidade, doçura e ternura da alma, cujas palavras não podem
expressar. Mas esses frutos atendem este suposto testemunho do Espírito em um
homem presunçoso? Exatamente o contrário. Quanto mais confiante ele está do
favor de Deus, mais ele se ensoberbece; mais ele se exalta, mais arrogante e
pretensioso em todo seu comportamento. Ele imagina ter, em si mesmo, o mais
forte testemunho; e, quanto mais arrogante ele é para com todos à sua volta;
mais incapaz de receber qualquer reprovação; mais intolerante à contradição. Em
vez de ficar mais humilde, gentil e receptivo ao ensino; mais 'pronto para
ouvir, e devagar para falar', ele está mais devagar para ouvir e rápido
para falar; menos disposto a aprender de alguém; mais firme e veemente em seu temperamento,
e impulsivo em sua conversa. Sim. Talvez, possa aparecer, algumas vezes, uma
espécie de ferocidade em seu semblante, sua maneira de falar, e toda sua
conduta, como se ele fosse justamente tirar a decisão das mãos de Deus, e ele
mesmo fosse 'devorar os adversários'.
(7)
Uma vez mais: as Escrituras ensinam, 'Este é o amor de Deus', a marca
indubitável de que 'nós guardamos seus mandamentos'. (I João 5:3) 'Porque esta é a
caridade de Deus; que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não
são pesados'. E o próprio nosso
Senhor diz, em (João 14:21) 'Aquele que tem os meus mandamentos, e os
guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai; e eu o
amarei e me manifestarei nele'. O amor regozija-se em obedecer; fazer, em
todas as coisas, o que é aceitável para o amado. Aquele que verdadeiramente ama
a Deus apressa-se em fazer sua vontade na terra, como ela é feita nos céus. Mas
é este o caráter do presunçoso que finge
o amor a Deus? Não, mas seu amor dá a ele liberdade para desobedecer, quebrar,
não manter os mandamentos de Deus. Talvez, quando ele estiver no temos da ira
de Deus, ele trabalhe para fazer a vontade dele. Mas, agora, sendo mero
expectador de si mesmo como alguém que 'não está debaixo da lei', ele pensa que ele não será por muito tempo
obrigado a observar isto. Ele é, por conseguinte, menos zeloso das boas obras;
menos cuidadoso de se privar do diabo; menos vigilante sobre seu próprio
coração; menos aflito com respeito à sua língua. Ele é menos sincero para negar
a si mesmo, e carregar sua cruz diariamente. Em uma palavra. Toda a sua vida
mudou, desde que ele ludibriou a si mesmo, por se acreditar em liberdade. Ele não está mais 'exercitando em si
mesmo, na santidade'; lutando, não
apenas com a carne e sangue, mas com principados e potestades; suportando
privações; 'agonizando para entrar pela porta estreita'. Não; ele tem
encontrado um caminho fácil para os céus; um caminho amplo, macio e florido, no
qual ele pode dizer para sua alma: 'Alma, tome teu bem-estar; coma, beba e
divirta-se'. Isto segue, com
evidência inegável, de que ele não tem o testemunho verdadeiro de seu próprio
espírito. Ele não pode estar consciente de ter essas marcas que ele não tem;
aquela humildade, brandura e obediência: Nem o Espírito de Deus pode de verdade
testemunhar para um mentiroso; ou testificar que ele é um filho de Deus, quando
ele é manifestadamente um filho do diabo.
(8)
Revele-se, pobre ludibriador de si mesmo! Você está confiante de ser um filho
de Deus; é você quem diz: 'Eu tenho o testemunho em mim mesmo', e, por conseguinte, desafia todos os seus
inimigos. A palavra do Senhor tem tentado sua alma, e provado que você é um
réprobo convincente. Você não tem o coração humilde; assim sendo, até esse dia,
você não pode receber o Espírito de Jesus. Você não é gentil e humilde; por
esta razão, sua alegria não vale nada: não é alegria no Senhor. Você não guarda
seus mandamentos; portanto, você não o ama; nem é participante do Espírito
Santo. Conseqüentemente, é certo e evidente que o Espírito de Deus não
testemunha com o seu espírito que você é filho de Deus. Ó, clame junto a Ele,
para que a balança possa recuar de seus olhos; para que você possa conhecer a
si mesmo, como você é conhecido; para que você possa receber a sentença de
morte em si mesmo, até que você possa ouvir a voz que se ergue dos mortos,
dizendo: 'Alegre-se: seus pecados são perdoados; sua fé o fez por inteiro'.
(9)
'Mas como alguém que tem o testemunho real em si mesmo pode distinguir isto
da presunção?'. Como, eu imploro, você distingue o dia da noite? Como você
distingue luz da escuridão; ou a luz das estrelas, ou brilho da vela, da luz do
sol do meio-dia? Não existe uma diferença inerente, óbvia, essencial, entre uma
e outra? E você não percebe imediatamente e diretamente esta diferença,
assegurando que seus sentidos estão corretamente dispostos? De igual maneira,
existe uma diferente inerente e essencial, entre a luz espiritual e a luz da
escuridão; e entre a luz, por meio da qual, o Sol da retidão brilha sobre
nossos corações, e aquela luz brilhante que se ergue apenas da 'faísca de
nossos próprios gravetos'. E essa diferença também é imediatamente e
diretamente percebida, se nossos sentidos espirituais estão corretamente
dispostos.
(10)
Inquirir com respeito a um relato preciso, e filosófico da maneira, por meio da
qual, nós distinguimos isto, e do critério, ou marcas extrínsecas, como nós
conhecemos a voz de Deus, é fazer uma exigência que nunca poderá ser
respondida. Não. Nem por alguém que tenha o mais profundo conhecimento de
Deus. Suponha quando Paulo respondeu
diante de Agrippa, o romano sábio, dizendo: 'Tu falas como se ouvisses a voz
de Deus. Como tu sabes que se trata da voz de Deus? Por qual critério; quais
marcas intrínsecas, tu conheces a voz de Deus? Explica-me a maneira de
distinguir essa, da voz humana ou angelical'. Você acredita que o próprio Apóstolo teria uma
vez tentado responder a tão inútil reivindicação? Ainda assim,
indubitavelmente, no momento em que ele ouviu aquela voz, ele soube que era a
voz de Deus. Mas como ele soube isso, quem é capaz de explicar? Talvez, nenhum
homem, ou anjo.
(11)
Buscando uma maior aproximação, suponha que Deus esteja agora falando para
alguma alma: 'Teus pecados foram perdoados' — ele deve estar desejoso de que aquela alma
conheça sua voz; do contrário, ele não falaria em vão. E ele é capaz de
executar isso; já que, quando quer que ele queira, fazer está presente com ele.
E ele executa isso: aquela alma está absolutamente segura 'de que se trata da
voz de Deus'. Mas, ainda assim, ele
que tem esse testemunho em si mesmo não pode explicar para alguém que não tem.
Nem, de fato, espera-se que ele deva. Existisse algum meio natural de provar,
ou método natural para explicar as coisas de Deus ao homem inexperiente, então,
o homem natural deveria discernir e saber as coisas do Espírito de Deus. Mas
isto é extremamente ao contrário da assertiva do Apóstolo, em (I Cor. 2:14) 'Ora,
o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente'; mesmo através dos sentidos espirituais, que o
homem natural não tem.
(12) 'Mas como eu posso saber, se
meus sentidos espirituais estão dispostos corretamente?'. Isto também é uma
questão de vasta importância; já que, se um homem se engana nisto, ele pode
cair no erro e ilusão sem fim. 'E como eu posso estar seguro de que não seja
esse o meu caso; e que eu não me enganei com a voz do Espírito?'. Mesmo através do testemunho do Espírito,
através de (Atos 23:1) 'E pondo Paulo os olhos, no conselho, disse:
Varões irmãos, até ao dia de hoje,tenho andado diante de Deus, com toda boa
consciência'. Através dos frutos que
ele tem forjado em seu espírito, você deve saber o testemunho do Espírito de
Deus. Por meio disto, você deve saber, se você está iludido; se você não tem
enganado a sua própria alma. Os frutos imediatos do Espírito existentes no
coração são, como em (Gálatas 5:22,23) 'Mas o fruto do Espírito e:
amor, alegria, paz, longanimidade, humildade de mente, benignidade, bondade,
fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei'. E os frutos exteriores são, como em (I João
1:7) 'Mas se andarmos na luz, como ele está na luz, termos comunhão uns
com os outros, e o sangue de Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado'.
Uma obediência zelosa e uniforme de todos os mandamentos de Deus.
(13)
Pelos mesmos frutos, nós podemos distinguir essa voz de Deus, de alguma ilusão
do diabo. Aquele espírito do orgulho não pode humilhá-lo diante de Deus. Ele
nem pode, nem poderia suavizar seu coração e fazê-lo derreter-se num murmúrio
sincero em busca de Deus, e, então, para o seu amor filial. Não é o adversário
de Deus e homem que o capacita a amar seu próximo; ou a colocar humildade,
gentileza, paciência, temperança, e toda a proteção de Deus. Veja, em (Col.
3:12-14) 'Revesti,vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de
entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade;
suportando-vos, uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outros; assim
como Cristo vos perdoou, assim fazeis vós também. E, sobre tudo isto:
revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição'. (Efésios 6:11) 'Revesti-vos
de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes, contra as astutas
ciladas do diabo'. Ele não está dividido contra si mesmo, ou um assolador
do pecado, sua própria obra. Não. 'Quem comete o pecado é o diabo, porque o
diabo peca, desde o princípio. Para isto, o Filho de Deus se manifestou: para
desfazer as obras do diabo' (I João 3:8). Como certamente, por
conseguinte, assim como a santidade é de Deus, e o pecado é obra do diabo,
então, certamente, o testemunho que você tem, em si mesmo, não é do diabo, mas é de Deus.
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Assim, então, você pode dizer: (2 Cor. 9:15) 'Graças a Deus, pois,
pelo seu dom inefável'. (2 Tim.
1:12) 'Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque
eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu
depósito até aquele dia'.(Gal. 4:6) 'E, porque vós sois filhos,
Deus enviou, aos vossos corações, o Espírito de seu Filho, que clama: Aba,
Pai'. E mesmo agora, (Rom. 8:16) O mesmo Espírito testifica com o
nosso espírito de que somos filhos de Deus'. E veja, em (I Cor. 6:20) 'Porque
fostes comprados, por bom preço;glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no
vosso espírito, os quais pertencem a Deus. (I João 3:1) 'Vede
quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus.
Por isso, o mundo não nos conhece, porque não conhece a ele'.(2 Cor.
7:1) 'Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de
toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de
Deus'. (Rom. 12:1,2) 'Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de
Deus, que apresentei o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus
, que é vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que vós
experimentais qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus'.