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quinta-feira, 30 de abril de 2020

OS ARTIFÍCIOS DE SATANÁS


John Wesley

“Porque não ignoramos as suas maquinações”.  II Corintios 2:11

1. Os artifícios, por meio dos quais o sutil deus do mundo trabalha para destruir os filhos de Deus, – ou, pelo menos, atormentar a quem ele não pode destruir, com o objetivo de causar perplexidade e impedi-los de correr a corrida que se coloca diante deles – são numerosos como as estrelas do céu, ou a areia do mar. Mas é sobre um deles apenas que eu agora me proponho a falar (embora exercitado de várias maneiras), por meio do qual, ele se esforça para dividir o evangelho contra si mesmo, com uma parte dele dominando a outra.

2. O reino do céu interior, estabelecido no coração de todo aquele que se arrepende e crê no evangelho, não é outro, senão a “retidão, e paz, e alegria no Espírito Santo”. Todo bebê em Cristo sabe que nós somos feitos parceiros desses, no momento em que cremos em Jesus. Mas estes são apenas os primeiros frutos de seu Espírito; a colheita ainda não existe. Embora essas bênçãos sejam inconcebivelmente grandes, ainda assim, nós confiamos ver maiores do que essas. Confiamos amar o Senhor nosso Deus, não apenas como fazemos agora, com uma fraca, embora sincera, afeição, mas “com todo nosso coração, com toda nossa mente, com toda nossa alma, e com todas as nossas forças”. Nós buscamos o poder para “nos regozijarmos, sempre mais, para orarmos, sem cessar, e em todas as coisas, darmos graças”, sabendo que “esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus, concernente a nós”.

3. Nós esperamos ser “feitos parceiros no amor”, naquele amor que lança fora todo temor doloroso, e todo desejo; a não ser aquele de glorificá-lo, de amar e servir a ele, mais e mais. Nós buscamos por tal crescimento no conhecimento experimental e amor a Deus, nosso Salvador, de maneira a nos capacitar sempre “a caminhar na luz, como ele está na luz”. Nós acreditamos que toda a mente, “que estava também em Jesus Cristo”, estará em nós; que poderemos amar todo homem, de maneira a darmos a vida por ele; de maneira a, através do amor, estarmos livres da ira, e orgulho, e de todo tipo de afeição indelicada. Nós esperamos sermos “limpos de todos os nossos ídolos”, “de todo a sujidade”, quer “da carne ou do espírito”; sermos “salvos de toda impureza”, interior e exterior; sermos “purificados, assim como Ele é puro”.

4. Nós confiamos nas promessas daquele que não pode mentir, de que certamente virá o tempo, em que nós realizaremos sua abençoada vontade sobre a terra, em toda a palavra e obra,  como ela é feita no céu; quando em todo o nosso modo de vida, seremos temperados com sal, completamente adequados para ministrarmos a graça para os ouvintes; quando, quer comamos ou bebamos, ou o que quer que façamos, será feito para a glória de Deus; quando todas as nossas obras e feitos serão “no nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus, até mesmo o Pai, através dele”.

5. Agora este é o grande conselho de Satanás, destruir a primeira obra de Deus na alma, ou, pelo menos, impedir seu crescimento, através de nossa expectativa daquela obra maior. É, portanto, meu presente objetivo:

I. Primeiro, apontar os diversos caminhos, por meio dos quais, ele empreende isto.

II. Em Segundo Lugar, observar como podemos repelir esses dardos inflamáveis do diabo; como poderemos nos levantar o mais alto do que ele pretende pela ocasião de nossa queda.

I

1. Eu apontarei, em primeiro lugar, os diversos meios, pelos quais, o diabo se esforça para destruir a primeira obra de Deus na alma, ou, pelo menos, impedir seu crescimento, através de nossa expectativa daquela obra maior. Ele se esforça para diminuir nossa alegria no Senhor, pela consideração de nossa própria vileza, pecaminosidade, indignidade; acrescido a isto, que deve existir uma mudança ainda mais do que já existe, ou não poderemos ver o Senhor. Se soubéssemos que deveríamos permanecer como somos, até o dia de nossa morte, nós possivelmente extrairíamos um tipo de conforto, pobre, por assim dizer, desta necessidade. Mas como sabemos que não precisamos permanecer neste estado, já que estamos certos de que existe uma mudança muito maior para vir, e que, exceto se todo o pecado desaparecer nesta vida, não poderemos ver Deus na glória., -- que o adversário sutil sempre diminui a alegria que poderíamos, ao contrário, sentir no que já obtivemos, através de uma representação perversa do que não obtivemos, e da absoluta necessidade de se obter isto. De maneira que não podemos nos regozijar no que temos, porque existe mais daquilo que não temos. Não podemos testar corretamente a bondade de Deus, e que tem feito tão grandes coisas por nós, porque existem muitas coisas maiores que ainda não fizemos. Igualmente, Deus opera em nós a mais profunda convicção de nossa presente iniqüidade, e quanto mais veemente desejo, nós sentimos, em nosso coração, da inteira santidade que ele prometeu, quanto mais somos tentados a pensar superficialmente a respeito dos dons presentes de Deus, e subestimamos o que já recebemos, por causa daquilo que não recebemos.

2. Se ele pode prevalecer até ai; se ele pode diminuir nossa alegria, ele logo atacará nossa paz também. Ele irá sugerir: “Você está adequado para ver a Deus? Ele tem os olhos muito puros para observar a iniqüidade. Como você pode, então, se vangloriar, de maneira a imaginar que ele observa você com aprovação?Deus é santo: Você não. O que de comum tem a luz com a escuridão? Como é possível que você, impuro como você é, esteja em um estado de aceitação com Deus? Você vê, de fato, a marca, o prêmio, de seu alto chamado; mas você não vê que ele está tão distante? Como você se atreve, então, a pensar que todos os seus pecados já estão apagados? Como pode ser isto, até que você seja trazido para mais perto de Deus, até que você tenha mais semelhança com Ele?”. Desta forma, ele se esforça, não apenas para abalar sua paz, mas, até mesmo, para derrubar o próprio alicerce dela; trazer você de volta, através de níveis inconscientes, ao ponto, de onde você partiu primeiro, até mesmo, na busca pela justificação pelas obras, ou por sua própria retidão –para fazer, alguma coisa em você, o alicerce para sua aceitação; ou, pelo menos, necessariamente prévia a ela.

            3. Ou, se segurarmos com firmeza, “nenhum homem poderá colocar outro alicerce, do que o que está colocado, mesmo Jesus Cristo”,  e, “eu sou justificado livremente pela graça de Deus, através da redenção que está em Jesus”; ainda assim, ele não cessará de instigar: “Mas a árvore é conhecida por seus frutos: E você tem os frutos da justificação? A mente que havia em Cristo, está em você? Você está morto para o pecado, e vivo para a retidão? Você se tornou obediente à morte de Cristo, e conhece o poder de sua ressurreição?”. E, então, comparando os pequenos frutos, nós sentimos em nossas almas, com a plenitude das promessas, que estaríamos prontos a concluir: “Certamente, Deus não disse que meus pecados me foram perdoados. Certamente, eu não recebi a remissão de meus pecados; porque, que porção eu tenho em meio àqueles que estão santificados?”.

            4. Mais especialmente, em tempos de enfermidade e dor, ele irá pressionar isto com toda sua força “Não é verdade que a palavra Dele não pode mentir, que ‘sem santidade, nenhum homem verá a Deus?’. Mas você não é santo. Você sabe disto muito bem; você sabe que a santidade é a completa imagem de Deus; e quão longe ela está acima das suas vistas? Você não pode alcançá-la. Portanto, todo seu trabalho tem sido em vão. Todas essas coisas, você tem sofrido em vão. Você gastou sua força por nada. Você ainda está em seus pecados, e deve, portanto, perecer no final”. E, assim, se seus olhos não estiverem prontamente fixos Nele, que carregou todos os nossos pecados, ele o trará novamente debaixo daquele “temor da morte”, por meio do qual você esteve, por tanto tempo, “sujeito à escravidão”, e, por esses meios, prejudicar, se não, destruir totalmente, sua paz, assim como a alegria no Senhor.

            5. Mas sua peça principal de sutileza ainda está por trás. Não contente em golpear sua paz e alegria, ele irá levar seus esforços ainda mais além: Ele irá igualar seu ataque contra sua retidão também. Ele irá se esforçar para abalá-la, sim, se for possível, destruir a santidade que você já recebeu, através da sua própria expectativa de receber mais, alcançar toda a imagem de Deus.

            6. A maneira, como ele empreende isto, pode parcialmente aparecer do que já tem sido observado. Primeiro, golpeando nossa alegria no Senhor, ele golpeia igualmente nossa santidade: Uma vez que a alegria no Espírito Santo é um meio precioso de promover todo temperamento santo; um instrumento escolhido por Deus, por meio do qual, ele realiza muito de sua obra na alma que crê. E é uma ajuda considerável, não apenas para a santidade interior, mas também para a santidade exterior. Ela fortalece nossas mãos a prosseguir na obra da fé, e no trabalho do amor; corajosamente “lutar a boa luta da fé, e aguarmos firme a vida eterna”. É especificamente designado por Deus, para ser o equilíbrio, tanto contra os sofrimentos interiores quanto exteriores; para “erguer as mãos que se abaixam, e confirmar os joelhos fracos”.  Conseqüentemente, o que quer que diminua nossa alegria no Senhor, proporcionalmente obstrui nossa santidade. E, portanto, na medida em que Satanás abala nossa alegria, ele impede nossa santidade também.

            7. O mesmo efeito irá suceder, se ele puder, por quaisquer meios, tanto destruir quanto abalar nossa paz. Porque a paz de Deus é outro meio precioso de promover a imagem de Deus em nós. Dificilmente existe uma ajuda maior para a santidade do que esta, uma tranqüilidade contínua do espírito, a serenidade de uma mente junto a Deus, um descanso calmo no sangue de Jesus. E sem isto, dificilmente é possível “crescer na graça”, e no “conhecimento” vital “de nosso Senhor Jesus Cristo”. Porque todo temor (exceto o temor terno e filial) congela e entorpece a alma. Ele impede toda a fonte da vida espiritual, e interrompe todo o movimento do coração em direção a Deus. E, sem dúvida, por assim dizer, atola a alma, de modo que ela se enterra rapidamente no barro profundo. Portanto, na mesma proporção que qualquer um desses prevalece, nosso crescimento na santidade é obstruído.

            8. Ao mesmo tempo em que nosso sábio adversário se esforça para tornar nossa convicção da necessidade do amor perfeito, uma oportunidade de estremecer nossa paz, através das dúvidas e medos, ele se esforça para enfraquecer, se não, destruir nossa fé. Na verdade, esses estão inseparavelmente ligados, de maneira que eles devem permanecer ou caírem juntos. Por quanto tempo a fé subsiste, nós permanecemos em paz; nossos corações mantêm- se firmes, enquanto acreditam no Senhor. Mas, se nós abandonamos nossa fé, nossa confiança filial, no Deus amoroso e redentor, nossa paz chega ao fim; com o próprio alicerce onde ela permaneceu, sendo destruído. E este é o único alicerce da santidade, assim como da paz; conseqüentemente, o que quer que o golpeie, golpeia a própria raiz de toda a santidade: Porque sem esta fé, sem a consciência interior de que Cristo nos amou, e deu a si mesmo por mim, sem a convicção contínua de que Deus, por causa de Cristo, é misericordioso para comigo, um pecador, seria impossível que eu pudesse amar a Deus: “Nós O amamos, porque ele primeiro nos amou”; e na proporção para a força e evidência de nossa convicção de que ele nos amou, e nos aceitou em seu Filho. E, exceto se amarmos a Deus, é possível que amemos nosso próximo como a nós mesmos; nem, conseqüentemente, que tenhamos quaisquer afeições corretas, quer em direção a Deus, ou em direção ao homem. Evidentemente se segue que, o que quer que enfraqueça nossa fé, deve, no mesmo grau, obstruir nossa santidade: E este não é apenas o mais eficaz, mas também o mais conciso meio de destruir toda a santidade; uma vez que não afeta apenas um temperamento cristão, uma simples graça ou fruto do Espírito, mas, até onde ela tem sucesso, destrói a própria raiz de toda a obra de Deus.

            9. Não é de se admirar, portanto, que o governador da escuridão deste mundo pudesse aqui depositar toda a sua força. E assim, nós nos certificamos pela experiência. Porque é muito mais fácil conceber do que é expressar, a violência inexplicável, como esta tentação é freqüentemente estimulada sobre aqueles que tem fome e sede de retidão. Quando eles vêem, em uma luz mais forte e clara, de um lado, a maldade perigosa de seus próprios corações, -- por outro, a santidade sem mácula para a qual eles são chamados em Jesus Cristo; de um lado, a profundidade da própria corrupção deles, de sua total alienação de Deus, -- do outro, a altura da glória de Deus, aquela imagem do Espírito Santo, no qual eles são renovados; existe, muitas vezes, nenhum espírito restante neles; eles poderiam quase clamar: “Por Deus, isto é impossível!”. Eles estão prontos a desistir, tanto da fé quanto da esperança; lançar fora aquela mesma confiança, por meio da qual eles devem conquistar todas as coisas, e fazer todas as coisas, com Cristo os fortalecendo; em que, “após terem feito a vontade de Deus”,  eles deverão “receber a promessa”.

10. E, se eles “mantiverem firme a confiança imutável deles, do começo até o fim”, indubitavelmente receberão a promessa de Deus, no tempo e na eternidade. Mas aqui existe outra armadilha colocada para nossos pés: enquanto sinceramente desejamos aquela parte da promessa que deve ser cumprida aqui, “pela gloriosa liberdade dos filhos de Deus”, podemos ser levados, de maneira insensata, da consideração da glória que deverá ser revelada dali em diante. Nossos olhos podem ser insensivelmente desviados daquela coroa que o justo Juiz prometeu dar naquele dia “a todos que amam sua vinda”; e podemos nos afastar da visão daquela herança incorruptível que está reservada no céu para nós. Mas isto também seria uma perda para nossas almas, e uma obstrução à nossa santidade. Porque caminhar na visão contínua de nosso objetivo é uma ajuda necessária para corrermos a corrida que se coloca diante de nós. Foi a “consideração pela recompensa do premio”, que, no passado, encorajou Moisés preferivelmente a“sofrer aflição com o povo de Deus, do que desfrutar os prazeres do pecado por uma tempo; considerando a reprovação de Cristo uma riqueza maior do que os tesouros do Egito. Mais do que isto, é dito expressamente de alguém maior do que ele, que “por causa da alegria, colocada diante dele, ele suportou a cruz e desprezou a vergonha”, até que “se sentou à direita do trono de Deus”. De onde podemos facilmente concluir, o quanto é mais necessário para nós a visão daquela alegria diante de nós, para que possamos suportar qualquer que seja a cruz que a sabedoria de Deus coloca sobre nós, e nos pressionarmos, através da santidade para a glória.  

11. Mas, enquanto estamos tentando alcançar isto, e também aquela gloriosa liberdade que é prévia a ela, podemos correr o risco de cair em outra armadilha do diabo, na qual ele trabalha para confundir os filhos de Deus. O nos preocuparmos em demasia com o amanhã, de maneira a negligenciarmos o aprimoramento do hoje. O esperarmos, de tal forma, pelo amor perfeito, de modo a não usarmos o que já temos espalhado em nossos corações. Não existe falta de exemplos daqueles que têm sofrido grandemente por conta disto. Eles se preocuparam tanto pelo que receberiam dali em diante, que negligenciarem extremamente o que eles já receberam. Na expectativa de ter cinco talentos mais, eles enterraram o único talento deles na terra. Pelo menos, não o melhoraram como deveriam ter feito, para a glória de Deus, e o bem de suas próprias almas.

12. Desta forma, o sutil adversário de Deus e do homem se esforça para tornar nulo o conselho de Deus, dividindo o Evangelho contra si mesmo, e fazendo com que uma parte dele destrua a outra; enquanto a primeira obra de Deus na alma é destruída, pela expectativa de sua obra perfeita. Nós temos visto diversas maneiras em que ele tenta isto, removendo, por assim dizer, as fontes de santidade. Mas isto ele igualmente faz mais diretamente, fazendo daquela abençoada esperança, uma oportunidade de temperamentos pecaminosos.

13. Assim, quando quer que nosso coração esteja avidamente sedento por todas as grandes e preciosas promessas; quando ansiamos pela plenitude de Deus, como o cervo em busca do riacho; quando nossa alma irrompe em desejo ardente: “Por que sua carruagem está demorando a vir?” -- ele não negligenciará a oportunidade de nos instigar a murmurar contra Deus. Ele usará de toda sua sabedoria, e toda sua força, se por acaso, em uma hora descuidada, possamos ser influenciados a nos queixarmos de nosso Senhor pela demora de sua vinda. Pelo menos, ele trabalhará para estimular alguns graus de irritação ou impaciência; e, talvez, de inveja daqueles a quem acreditamos já ter alcançado o prêmio de nosso alto chamado. Ele bem sabe que, dando oportunidade a alguns desses temperamentos, nós demolimos a própria coisa que construímos. Seguindo em busca da santidade perfeita, tornamo-nos mais pecaminosos do que antes. Sim, existe um grande perigo de nosso último estado seja pior do que o primeiro; como aqueles dos quais o Apóstolo fala nestas terríveis palavras: “Teria sido melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho da retidão, do que, depois de a conhecerem, voltarem atrás do mandamento santo, entregue a eles”.

14.  E disto, ele espera alcançar outra vantagem, até mesmo produzir um relato prejudicial do bom caminho. Ele está consciente, de quão poucos são capazes de distinguir (e de quantos não estão dispostos a assim fazer), entre o uso impróprio, e a tendência natural de uma doutrina. Esses, portanto, ele continuamente irá misturar, com respeito à doutrina da Perfeição Cristã, com o objetivo de causar danos às mentes dos homens descuidados, contra as gloriosas promessas de Deus. E quão freqüentemente; quão geralmente; eu poderia dizer, quão universalmente, ele tem prevalecido nisto! Porque, quem existe, que ao observar alguns desses efeitos danosos acidentais desta doutrina, não conclui imediatamente que esta é sua tendência natural; e não prontamente clama: “Veja, são esses os frutos (significando os frutos naturais, necessários) de tal doutrina?”. Não exatamente. Eles são frutos que podem acidentalmente brotar do uso impróprio de uma grande e preciosa verdade: Mas o uso impróprio desta ou de alguma outra doutrina bíblica, de modo algum destrói sua utilidade. Nem pode a deslealdade do homem perverter sua maneira correta, tornar a promessa de Deus sem nenhum efeito. Não: Que Deus seja verdadeiro, e todo homem um mentiroso. A palavra do Senhor, deve permanecer. “Fiel é aquele que prometeu: Ele também irá cumprir”. Que nós, então, não sejamos “removidos da esperança do Evangelho”. Antes, vamos observar, qual foi a segunda coisa proposta: Como nós podemos repelir esses dados afiados do diabo: como podemos subir mais e mais alto do que ele pretende para a ocasião de nossa queda.

II

1. Em Primeiro Lugar, satanás não se esforça para diminuir sua alegria no Senhor, através da consideração de sua pecaminosidade; acrescido a isto, que sem a santidade completa e universal, nenhum homem poderá ver ao Senhor? Você pode lançar de volta este dardo sobre a própria cabeça dele, enquanto, através da graça de Deus, quanto mais você sente a sua própria vileza, mais você se regozija na esperança certa de que tudo isto acabará. Enquanto você segura firme esta esperança, todo temperamento pecaminoso que você sente, embora você o odeie com um ódio perfeito, pode ser um meio, não de diminuir sua alegria humilde, mas, antes de aumentá-la. “Isto e isto”, você pode dizer, “deverá igualmente perecer na presença do Senhor. Como cera derretida no fogo, assim, isto deverá derreter-se diante da face Dele”. Desta forma, quanto maior é a mudança daquilo que permanece para ser forjado em sua alma, mais você pode triunfar no Senhor, e regozijar-se no Deus de sua salvação, que já tem feito tão grandes coisas por você, e irá fazer coisas muito maiores do que essas.

2. Em Segundo Lugar. Quanto mais veementemente ele assalta sua paz com esta sugestão: “Deus é santo; você não é; você está imensamente distante daquela santidade, sem a qual você não verá a Deus: Como, então, você pode estar no favor de Deus? Como você pode fantasiar que você está justificado?”. – toma o mais sincero cuidado de se segurar nisto: “Não pelas obras de retidão que eu tiver feito, que eu me encontro Nele; eu sou aceito no Amado; não tendo minha própria retidão (quando o caso, quer no todo, ou em parte, de nossa justificação diante de Deus), a não ser aquela que é pela fé em Cristo, a retidão que é de Deus pela fé”.  Ó,  ata isto em volta de teu pescoço: Escreve isto, na tábua do teu coração. Usa isto como um bracelete em teu braço, como adorno da testa, entre teus olhos: “Eu sou justificado livremente pela sua graça, através da redenção que está em Jesus Cristo”. Valorize e estime, mais e mais, esta preciosa verdade: “pela graça somos salvos, através da fé”. Admire, mais e mais, a livre graça de Deus, no amar o mundo de maneira a dar “seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Assim, a consciência da iniqüidade que você tem, por um lado, e a santidade que você espera, por outro, ambas contribuem para estabelecer sua paz, e fazê-la fluir como um rio. Assim esta paz deverá fluir como uma correnteza, a despeito de todas aquelas montanhas de incredulidade, que deverá se tornar uma planície, quando o Senhor viver para tomar posse completa de seu coração. Nem a doença, dor, ou aproximação da morte, ocasionará qualquer dúvida ou medo. Você sabe que um dia, uma hora, um momento com Deus, significa milhares de anos. Ele não pode ser restringido pelo tempo, em que opera o que quer que permaneça para ser feito em sua alma. E o tempo de Deus é sempre o melhor tempo. Portanto, não te preocupes com coisa alguma: Apenas faze teu pedido conhecido junto a Ele, e isto, não com dúvida e temor, mas com ação de graças; como que previamente seguro, de que Ele não pode reter de ti o que quer que seja bom.

3. Em Terceiro Lugar: Quanto mais você é tentado a desistir de seu escudo, e lançar fora sua fé, sua confiança no amor de Deus, mais cuide de segurar firme o que você já obteve; quanto mais trabalhe para encorajar o dom de Deus que está em você. Nunca diga esta frase, de maneira descuidada: “Eu tenho ‘um Advogado com o Pai, Jesus Cristo, o justo’; e ‘ a vida que eu agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e deu a si mesmo por mim’”.  Seja esta tua glória e coroa de regozijo. E cuida que ninguém tire tua coroa. Segura isto firme: “Eu sei que meu Redentor vive, e deverá estar no último dia sobre a terra”; e “Eu agora ‘tenho redenção em seu sangue, até mesmo o perdão dos pecados’”. Assim, estando preenchido com toda a paz e alegria em crer, prossiga, na paz e alegria da fé para a renovação de toda a tua alma, na imagem Dele que criou a ti! Entretanto, clame continuamente a Deus para que possas ver aquele prêmio de teu alto chamado, não como satanás o representa, de uma forma terrível, mas em sua beleza nativa genuína; não como alguma coisa que deve ser, do contrário, tu deverás ir para o inferno, mas como o que pode ser, para conduzir-te ao céu. Observa isto como o mais desejável dom que está em todos os depósitos das ricas misericórdias de Deus. Contemplando-o neste verdadeiro ponto de luz, mais e mais terás  fome dele; toda tua alma estará sedenta de Deus, e desta gloriosa conformidade com seu semblante; e tendo recebido a boa esperança disto, e a forte consolação, através da graça, não mais estarás fraco e cansado em tua mente, mas seguirás em frente, até que o obtenhas.

4. No mesmo poder da fé, prossiga para a glória. Na verdade, este é o mesmo panorama ainda. Deus reuniu desde o começo, perdão, santidade, céu. E porque o homem os colocaria de lado? Ó, cuidado com isto! Que nenhuma argola da corrente de ouro seja quebrada: “Deus, por causa de Cristo, perdoou-me. Ele está me renovando em sua própria imagem. Brevemente, ele me tornará apropriado para si mesmo, e me levará para estar diante de sua face. Eu, a quem ele justificou, através do sangue de seu Filho, estando totalmente santificado pelo seu Espírito, rapidamente ascendo para a ‘Nova Jerusalém, a cidade do Deus vivo’. Daqui a pouco tempo, e eu ‘virei para a assembléia geral e a  igreja do Unigênito, e de Deus, o Juiz de todos, e para Jesus, o Mediador da Nova Aliança’. Quão logo essas sombras fugirão, e o dia da eternidade amanhecerá sobre mim! Quão breve, eu deverei beber do ‘rio da água da vida, saindo do trono de Deus e do Cordeiro!  Lá todos os servos louvarão a ele, e verão sua face; e seu nome estará sobre suas testas. E nenhuma noite existirá lá; e eles não terão necessidade de iluminação, ou da luz do sol. Porque o Senhor Deus os iluminará, e eles reinarão para todo sempre’”.

5. E, se você assim “testar da boa palavra, e dos poderes do mundo vindouro”; você não murmurará contra Deus, pelo fato de ainda não estar “apropriado para a herança dos santos na luz”. Em vez de lamentar por não estar totalmente livre, você deverá orar a Deus para livrá-lo. Você deverá dar glórias a Deus, pelo que Ele tem feito, e ter isto como uma garantia do que ele irá fazer. Você não deverá se voltar contra ele, porque você ainda não está renovado, mas dar-lhe-á graças, pelo que você deverá ser; e porque “agora a sua salvação,” de todo o pecado, “está mais perto, do que quando você acreditou”, pela primeira vez.  Em vez de atormentar-se desnecessariamente, porque o tempo não chegou completamente, você calmamente e silenciosamente, esperará por ele, sabendo que ele “virá, e sem demora”. Você pode, portanto, mais alegremente suportar, até o momento, o fardo do pecado que ainda permanece em você, porque ele não permanecerá sempre. Mais algum tempo, e ele será retirado. Apenas “espera, tu, no tempo do Senhor”: É forte e coloca tua confiança no Senhor, e “Ele confortará teu coração!”.

6. E se alguém lhe parecer (até onde o homem pode julgar, mas Deus apenas sonda os corações) partícipe da esperança deles, já “feito perfeito no amor”; longe de ter inveja da graça de Deus nele, regozije-se e conforte seu coração. Glorifique a Deus por causa dele! “Se algum membro for honrado, todos os membros não deverão se regozijar com ele?”. Antes de sentir ciúme ou pensar mal a respeito dele, louve a Deus pela consolação! Regozije-se em ter uma prova renovada da fidelidade de Deus, no cumprimento de suas promessas; e encoraje-se mais para “compreender aquilo pelo qual você também é compreendido por Jesus Cristo!”.

7. Com esse objetivo, redima o tempo. Aprimore o presente momento. Aproveite cada oportunidade de crescer na graça, ou fazer o bem. Não permita que o pensamento de receber mais graça amanhã, torne você negligente hoje. Você tem um talento agora: se você esperar cinco mais, tanto melhor é aperfeiçoar o que você tem. E quanto mais você espera receber para o futuro, mais trabalhe para Deus agora. Suficiente para o dia é a graça dele. Deus está agora derramando seus benefícios sobre você. Agora, confirme-se como um fiel mordomo da presente graça de Deus. O que quer que aconteça amanhã, dê toda diligência hoje, para “acrescentar à sua fé, coragem, temperança, paciência, amor fraternal”, e o temor a Deus, até que você obtenha aquele amor puro e perfeito! Que essas coisas estejam agora “em você e abundem!”. Não seja indolente ou infrutífero: “Assim uma entrada será ministrada no reino eterno de nosso Senhor Jesus Cristo!”.

8. Por fim: Se no passado, você usou de maneira imprópria esta abençoada esperança de ser santo, como Ele é santo, ainda assim, não a jogue fora. Que o abuso cesse, e o uso permaneça. Use-a agora para a mais abundante glória de Deus, e proveito de sua própria alma. Na fé constante, na calma tranqüilidade de espírito, na completa  segurança da esperança, regozijando-se, mais e mais, pelo que Deus tem feito, siga em direção à perfeição! Diariamente, crescendo no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, e seguindo em frente, de força em força, em resignação, em paciência, em gratidão humilde pelo que você já obteve, e pelo que você deverá correr a corrida que se coloca diante de você, “olhando para Jesus”, até que, através do perfeito amor, você entre em sua glória!

[Editado por Dave Giles, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]

O MELHOR DIA PARA VÊ-LO! O SÁBADO




Marcelo Augusto de Carvalho


- Ao findar o sexto dia, Deus olhou toda Sua grande obra, e viu que tudo era muito bom.
- Também pudera: o relato bíblico descreve o meio ambiente original do mundo como o mais belo e harmonioso.
- As águas do firmamento parecem Ter sido um vasto manto de água evaporada invisível. Funcionando como estufa, esse dossel teria impedido grandes diferenças de temperatura ou rápidas mudanças desta em toda a face da terra. Também teria impedido violentos vendavais e tempestades.
- O atual ciclo hidrológico, pelo qual as águas evaporadas do oceano são levadas pelo vento para a terra e aí se condensam e caem, teria sido impossível sob aquelas condições.
- As águas dos numerosos mares, evaporadas diariamente, Ter-se-iam movido apenas a curtas distâncias de seu ponto de origem antes de se condensarem de novo, à noite, sobre as áreas adjacentes.
- Além de numerosos mares interligados, havia rios alimentados por mananciais artesianos, provindos de reservatórios subterrâneos em que as águas haviam sido aprisionadas sob pressão na crosta da terra no terceiro dia da criação. Esses depósitos era o grande abismo que mais tarde transbordou no dilúvio. Um dos sistemas fluviais banhava o jardim plantado por Deus no Éden.
* Quando Deus declarou muito boas as obras de Suas mãos, e descansou no sétimo dia, não dá isto suficiente evidência  de que a criação de Deus foi completa e perfeita?

Gên. 2.1-3.

O sétimo dia da criação foi estipulado por Deus como um momento semanal separado para a comunhão do homem com Ele. Deus desejava comunicar-se com Adão como os pais o fazem com seus filhos. Por isto, Ele não pediu, e nem deu alternativa para o desejo de Adão quanto ao assunto. Ele ordenou, e mais, deu Seu exemplo descansando neste dia de todas as obras que fizera.

Para muitos este fato é inquietante; por que Deus demarcaria um dia  especial, marcado por um calendário semanal para tal relacionamento? Será que este texto das Escrituras não apresenta uma heresia? Deus costuma tomar estas atitudes ainda hoje?

Se olharmos à vida dos animais irracionais, veremos claramente como Deus dirige sua existência por períodos de tempo, fielmente estabelecidos, dos quais os animais não podem sair, se querem continuar vivos. E que por esta evidência não há porque estranharmos de Deus ter estabelecido tempos e momentos na vida do homem para sua adoração ao seu Criador.

- Para os bichos, há um momento adequado para tudo: uma hora certa para dar duro e uma hora certa para dormir; uma estação excelente para namorar e uma estação indicada para poupar energia. E respeitar esse calendário próprio costuma ser uma questão de vida ou morte, ou seja, de agir conforme os ciclos do ambiente, como noite- dia, para aumentar as chances de sobrevivência. Na verdade, isto acontece porque o Criador colocou neles uma série de substâncias, que circulando no organismo, funcionam como um verdadeiro relógio biológico.
- Por exemplo: até as espécies hemafroditas, que dispensam parceiros para terem filhos, estão sempre medindo as condições ambientais; assim os filhotes são programados para a época mais favorável à sobrevivência deles. Desta maneira, a hemafrodita minhoca deixa para desovar quando o clima se torna fresco e úmido, pois no calor, é grande a probabilidade de que os sensíveis filhotes não vinguem.
- As drosófilas, conhecidas como moscas-das-frutas, têem o tempo certo para o acasalamento. Sempre no final da tarde se entregam à “paixão”, marcando novos encontros em pontuais intervalos de 24 horas. O mais curioso é que estas mosquinhas nunca perdem a noção do tempo. Mesmo quando criadas em laboratório, sem receber nenhum sinal do ambiente, como diferenças de iluminação, elas continuam se acasalando no cair da tarde, repetindo o encontro diariamente. Possuem portanto, um sofisticado relógio interno, capaz de marcar não só pulsos de segundo- caso contrário, a mosca perderia o compasso na dança da corte que ela faz para o acasalamento- como períodos de cerca de 24 horas, os chamados períodos circadianos.
- Há aqueles que mudam de temperamento de acordo com a estação, como é o caso dos sagüis. Possuindo a mesma capacidade, os pingüins têem hora marcada para se deslocarem, diariamente, da colônia em direção à costa e vice-versa. O curioso é que, no verão polar, as 24 horas do dia parecem não passar, porque jamais anoitece. Mesmo assim, os pingüins distinguem as pequeníssimas alterações no comprimento das ondas luminosas no decorrer do dia. Essa aptidão para notar estas alternações não é própria dos olhos, que apenas funcionam como câmaras de vidro, captando a imagem, e sim o cérebro, que possui um relógio capaz de marcar o tempo graças a indicadores de luz.
- Já a raposa-do-ártico responde à luminosidade do outono trocando a pelagem cinzenta que possuía no verão por uma pelagem branca, tornando-a assim camuflada no meio da neve do inverno, dificultando a ação dos predadores.
- Nem sempre, porém, o relógio biológico trabalha em função de anos. Ele divide o tempo de acordo com as necessidades de cada espécie. Assim, cientistas observaram alterações no organismo do caranguejo-mão-grande a cada 12 horas, ou seja, ele possui um relógio circamaré, regulado pelo vaivém do mar: na metade do dia em que a maré está alta, o crustáceo permanece escondido sob a água; quando a maré baixa, ele imediatamente sobe à superfície.

- Para os cientistas, os ponteiros e engrenagens deste relógio biológico devem ser hormônios, substâncias que agem feito mensageiros químicos. Podem se manter constantes quando desaparecem os sinais do meio, vindo daí a pontualidade das mosquinhas drosófilas. Antes supunha-se que esses ritmos podiam ser ensinados de pai para filho, porém, essa hipótese não é correta, pois a vespa e a aranha, por exemplo, não chegam a conhecer os pais e, apesar disso, reproduzem os ritmos de atividade paternos.
- Mesmo para certos insetos, as estações do ano são sincronizadores importantes. A questão é que os relógios biológicos, em geral, podem se orientar por diversos sincronizadores ao mesmo tempo. Desse modo, os insetos são mais sensíveis à variação do claro para o escuro, no decorrer do dia, até anoitecer. As baratas costumam ficar mais agitadas no início da noite. Mas nem por isto, as células sensoras na superfície de seu corpo deixam de medir a temperatura, para enviar sinais quando o clima esquenta, do jeito que elas gostam.  Daí a proliferação desses insetos nas noites de verão, quando os ponteiros de seu relógio marcam duas condições favoráveis ao mesmo tempo.
- Alguns animais usam sincronizadores bem originais, como o beija-flor, que além de usar a luminosidade, ele grava em seu cérebro os horários em que as flores produzem mais néctar e açúcar para alimentá-lo.

- Relatórios de 1735 mostram outra coisa incrível. O lince do Canadá alcança sua população máxima a cada 9,6 anos. Os pescadores de salmão do Atlântico pescam seus melhores salmões a cada 9,6 anos. Percevejos de Illinois apresentam ciclos de 9,6 anos, e assim acontece com as colheitas de trigo nos Estados Unidos e o mesmo de casos de doenças cardíacas no Estado da Nova Inglaterra.
* Estes exemplos nos mostram claramente que “Há tempo determinado para todo propósito debaixo do céu” Eclesiastes 3.l E para adorarmos a Deus, já foi por meio dEle separadas as sagradas horas do sábado.
É interessante notarmos que por todos os tempos, os patriarcas da fé seguiram fielmente esta ordenança divina. Adão desde o Éden guardou o sábado, ensinando o mesmo a seus filhos, que mesmo já nesta vida de pecado obedeceram tal mandamento.
De Abrão se diz o mesmo, pois Deus o escolheu, pois tinha certeza que ele educaria seus filhos nas diretrizes divinas.
Quando o povo de Israel desceu para morar no Egito, guardavam o sábado; porém, ao se tornarem escravos, foi deles tirado este privilégio, passando a não mais observância do dia santo. Por este motivo, ao saírem do Egito e peregrinarem no deserto, Deus foi tão enfático com eles, ensinando a santificarem o sábado em todas as suas gerações. Ele lhes falou sob o monte Sinai, escreveu com Seu próprio dedo esta ordenança, prometendo bençãos aos fiéis, bem como castigo aos rebeldes.
Os profetas lutaram sempre para que, no longo período de apostasia dos reis, o povo voltasse a guardar as leis divinas, inclusive o sábado que já era esquecido por muitos. Ezequiel apelou a eles em seu tempo dizendo que a observância do sábado era um sinal entre Deus e seu povo, Ezequiel 20.12 e 20.
Isaías também pregou-lhes apresentando as bençãos que Deus lhes oferecia se fossem fiéis ao quarto mandamento da Lei de Deus em Isaías 58.
 Todos os profetas pregaram, mas eles continuaram em franca rebelião. Deus então permitiu que fossem para o cativeiro, em Babilônia. Estes 70 anos longe do “lar” lhes serviu de lição.
Ao voltarem, decidiram jamais serem idólatras, e observar com esmero e zelo as leis divinas. O problema foi que o fizeram pelo medo de um futuro castigo, e não por amor a Deus. Tornaram-se então legalistas, sendo minuciosos na guarda das leis, principalmente no mandamento do sábado. Inventaram 33 leis para sua observância, tornando-o insuportável.
Quando Cristo veio à Terra, combateu tenazmente este modo de se guardar o sábado, porém jamais deixou de fazê-lo. Era seu costume guardá-lo, e até em sua morte o fez, deixando para ressuscitar no primeiro dia da semana. (Lucas 4.16, João 20). Ele mesmo afirmou se o senhor do sábado, e que se quisesse fazer alguma mudança na observância deste, Ele o faria como bem entendesse, Marcos 2.28 e 29. Porém, jamais o fez.
Os apóstolos também observaram o quarto mandamento do decálogo (Êxodo 20.8-11).Vemos isto pelas passagens de Atos 17.2. Os primeiros crentes faziam o mesmo- Atos 13. 42 e 43.
 Interessante notar que, não há nenhuma referência bíblica de qualquer mudança autorizada da observância sagrada do dia de sábado. Sabemos muito bem que isto aconteceu por vontade e ordem humana.
Os primeiro cristãos eram por demais missionários, e levaram o Evangelho a todas as partes do mundo. Como a Igreja foi ficando cada vez mais forte, ela atraiu o ódio tanto das outras religiões, que eram pagãs, bem como do governo estabelecido, que viu-se ameaçado pela força dos cristãos. Sendo assim, unidos, as religiões pagãs usando a força militar do Estado perseguiram por séculos os cristãos, que só cresciam com este tratamento.
Vendo que não poderiam vencê-los, um governador romano chamado Constantino usou uma tremenda estratégia: declarou o cristianismo como a religião de seu império, porém não baniu as religiões pagãs, da qual ele mesmo fazia parte. Como era adorador do sol, fazendo tal adoração no primeiro dia da semana, ele ordenou que fossem observados religiosamente o sábado dos cristãos, bem como o domingo dos pagãos. E prometeu também não mais perseguir os cristãos. Com isto, o mundanismo tomou conta da Igreja Primitiva, depravando-a com as doutrinas espúrias dos que foram obrigados a se tornarem cristãos. Este decreto de Constantino foi promulgado em 321 DC, sendo que a observância restrita do domingo foi proclamada em 528 DC por Justiniano, também imperador romano.
Apesar desta mudança nada escriturística, o cristianismo moderno segue tal determinação, em desaprovação total à vontade de Deus. Até mesmo no céu, os santos observarão o sábado por toda a eternidade- Isaías 66.20.
Bem, já que temos a convicção da observância do sábado, agora o que nos interessa é sabermos da correta observância do mesmo. Como se guarda o sábado? Para tais explicações, uso aqui as citações escritas por Ellen White, a quem acredito ser inspirada por Deus, e de quem não encontramos nenhuma incoerência em seus escritos para com a Palavra de Deus.

Passaremos a abordar os aspectos mais importantes

1) O preparo- “Durante toda a semana nos cumpre ter em mente o sábado e fazer a preparação indispensável, a fim de observá-lo conforme o mandamento...Na sexta-feira deverá ficar terminada a preparação para o sábado...Tende o cuidado de pôr toda roupa em ordem e deixar cozido o que houver para cozer. Escovai os sapatos e tomai vosso banho...O sábado não deve ser empregado em consertar roupa, cozer alimento, em  divertimentos ou quaisquer outras ocupações mundanas... e fazei desaparecer os jornais mundanos...”

2) Quando começa e quando termina- respeitar tais marcos- “Devemos observar os limites do sábado. Lembrai-vos de que cada minuto é tempo sagrado. Sempre que possível, os patrões deverão conceder aos empregados as horas que decorrem entre o meio-dia da sexta-feira e o começo do sábado. Dai-lhes tempo para a preparação, a fim de poderem saudar o dia do Senhor com sossego de espírito. Assim procedendo não sofrerão prejuízo nenhum, nem mesmo quanto às coisas temporais.”

3) Culto- “Antes do pôr do sol , todos os membros da família devem reunir-se para estudar a Palavra de Deus, cantar e orar...”

4) Prontos fisicamente para encontrarmos com o Senhor- “Nenhum serviço atinente aos seis dias de trabalho será deixado para o sábado. Durante a semana, teremos o cuidado de não exaurir as energias com trabalho físico a ponto de, no dia em que o Senhor repousou e Se restaurou, estarmos fatigados demais para tomar parte no Seu culto...”

5) Usar a melhor roupa- “Não devem comparecer à presença divina com roupa usada no serviço durante a semana. Todos devem ter um traje especial para assistir aos cultos de sábado... Devemos vestir-nos com asseio e elegância, posto que sem luxo e sem adornos...”

6) Levantar-se cedo, e fazer um rápido culto- “Não deveis perder as preciosas horas do sábado, levantando-vos tarde. No sábado a família deve levantar-se cedo. Despertando tarde, é fácil atrapalhar-se com a refeição matinal e a preparação para a Escola Sabatina. Disso resulta pressa, impaciência e precipitação, dando lugar a que a família se possua de sentimentos impróprios desse dia.  Destarte profanando, o sábado torna-se um fardo, e sua aproximação será para ela antes motivo de desagrado do que de regozijo”.

7) É nosso dever comparecer aos cultos sabáticos, e faze-lo com prazer- “Cada qual deve sentir que tem uma parte para desempenhar, a fim de tornar interessantes as reuniões de sábado. Não deveis reunir-vos simplesmente para preencher uma formalidade, e sim para trocar idéias, relatar vossa experiência diária, oferecer ações de graça e exprimir vosso sincero desejo de ser iluminados para conhecer a Deus e a Jesus Cristo.... Não imagineis que podereis ser cristãos e viver concentrados em vós mesmos... a experiência de cada um será até certo ponto determinada pela de seus companheiros”.
“Deus ensina que devemos congregar-nos em Sua casa, a fim de cultivar as qualidades do amor perfeito. Com isto os habitantes da Terra serão habilitados para as moradas celestiais que Cristo foi preparar para os que O amam”.
“Ao passo que somos exortados a não deixar as nossas reuniões, estas não se destinam somente ao nosso próprio refrigério. Devemos inspirar-nos num zelo mais ardente para comunicar a outros as bençãos que recebemos. É nosso dever ter zelo da glória de Deus, evitando qualquer mau testemunho, quer pela expressão triste de nosso rosto quer por palavras de desconsideração, como se os reclamos divinos constituíssem restrição à nossa liberdade... Pela fisionomia, temperamento, palavras e caráter, devemos testificar que é bom servir a Deus...”.

8) Devemos nos preparar para o culto divino- “Ao transpor as portas da casa de Deus, pedi ao Senhor que vos afaste do coração tudo o, que é mau. Introduzi em Sua casa somente o que Ele pode abençoar... Orai em favor da pessoa que dirigirá a reunião. Orai para que grande benção advenha à congregação, por meio daquele que deve ministrar a palavra da vida... Deus abençoará todos quantos dessa maneira se prepararem para Seu culto...”.

9) Como deve ser o culto- “A pregação nas reuniões de sábado em geral deve ser breve, dando-se oportunidade aos que amam a Deus, para exprimir gratidão e tributar-lhe culto individual... Ninguém vá à igreja para dormir. O sono é coisa que não deve manifestar-se na casa de Deus...A casa de Deus é profanada e o sábado é violado pelos filhos de observadores do sábado. Eles correm pela casa, brincam, conversam e manifestam seu mau humor nas próprias reuniões em que os santos se reúnem...onde devia reinar sagrado silêncio e onde devia haver perfeita ordem, asseio e humildade, torna-se Babilônia e um lugar em que reina confusão, desordem e desleixo. Isto é suficiente para excluir a Deus de nossas reuniões e fazer com que se acenda Sua ira...cuidai de vossos filhos no sábado. Não permitais que eles o violem, pois vós mesmos o estareis violando se consentirdes que vossos filhos o façam...”.

10) Após o culto, e o restante do sábado- “Não devemos, no sábado, aumentar a quantidade de alimento ou preparar maior variedade do que noutros dias... a refeição do sábado deve ser mais simples, convindo comer menos que o comumente, a fim de ter o espírito claro e em condições de compreender os temas espirituais...”
“Embora deva a gente abster-se de cozinhar aos sábados, não é necessário ingerir comida fria. Em dias frios, convém, aquecer o alimento preparado no dia anterior...”
“A Escola Sabatina e o culto de pregação ocupam apenas uma parte do sábado. O tempo restante poderá ser passado em casa e ser o mais precioso e sagrado que o sábado proporciona. Boa parte desse tempo, deverão os pais passar com os filhos. Em muitas famílias, os filhos menores são abandonados a si próprios, a fim de se entreterem como melhor puderem. Abandonadas a si mesmas, as crianças em breve ficam inquietas e começam a brincar ou ocupar-se de coisas ilícitas. Desse modo o sábado perde para elas sua sagrada importância. Quando faz bom tempo, os pais deverão sair com os filhos a passeio pelos campos e matas. Em meio às belas coisas da Natureza, expliquem-lhes a razão da instituição do sábado. Descrevam-lhes a obra da criação de Deus... Falai-lhes do plano da salvação... Repeti-lhes a doce história de Belém. Apresentai-lhes como Jesus foi filho obediente aos pais, como foi jovem fiel e diligente, ajudando a prover o sustento da família...”.
“Ao pôr do sol, elevai a voz em oração e cânticos de louvor a Deus, celebrando o findar do sábado e pedindo a assistência do Senhor para os cuidados da nova semana...”.
* Uma pergunta pode vir agora à mente de muitos: como guardar o sábado com prazer e satisfação no coração?
- É fato que a maioria das pessoas não observam o quarto mandamento com muito prazer. Mas temos aqui a dica da senhora White que muito nos ajudará se o seguirmos:

“Passando em revista, não os capítulos obscuros de nossa existência e sim as provas da grande misericórdia e amor indizível de Deus, havemos de achar mais motivo para expandir-nos em louvores do que em queixas... A linguagem da alma não se manifestará então, em murmurações egoístas e descontentamentos, mas em expressões de louvor que brotarão dos lábios dos verdadeiros crentes de Deus como correntes de águas cristalinas...”.

Lembre-se: fomos criados para adorarmos a Deus neste santo dia. Já é nato em nós. Se não o fizermos ou o fizermos sem prazer, esta observância destruirá nossa alegria como o fez com os judeus há 2000 anos atrás. Adore a Deus com prazer!

Pr. MARCELO AUGUSTO DE CARVALHO SP ABRIL 1997

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Canção celestialcelestial dream

Pensamentos errantes



John Wesley

'Destruindo os conselhos e toda altivez, que se levantam contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo' (II Cor. 10:5)

1. Mas irá Deus, então, levar 'cativo todo entendimento para a obediência de Cristo', para que nenhum pensamento errante encontre lugar na mente, mesmo enquanto permanecemos no corpo? Então, alguns têm veementemente mantido; sim, têm afirmado que ninguém é perfeito no amor, a menos que seja assim perfeito no entendimento; que todos os pensamentos errantes sejam postos de lado; a menos que não apenas cada afeição e temperamento sejam santos, justos e bons, mas cada pensamento individual, que surja na mente seja sábio e equilibrado. 

2. Está não é uma questão de pequena importância. Tanto quanto aqueles que temem a Deus; sim, e o ama, talvez, com todo seu coração, têm estado grandemente aflito por este assunto! Quantos, por não entenderem corretamente, não têm estado apenas angustiados, mas grandemente machucados em suas almas; — lançados, em compreensões sem proveito e danosas, tais que retardam seus movimentos em direção a Deus, e os enfraquecem diante da corrida que se colocou diante deles!além do que, muitos, através de entendimentos equivocados dessa mesma coisa, têm jogado o dom precioso de Deus. Eles têm sido induzidos, primeiro, a duvidar, e, então, a negar a obra de Deus, forjada em suas almas; e, por esta razão têm afligido o Espírito de Deus, até que ele se retirou e os deixou na mais extrema escuridão.

3. Como é, então, que, no meio de uma abundância de livros, que têm sido ultimamente publicados sobre todos os assuntos, nós não devemos ter algum sobre pensamentos errantes? Pelo menos, nenhum que vá satisfazer uma mente calma e seria? Com o objetivo de colocar isto em alguns degraus, eu proponho inquirir:

I. Quais são as diversas formas de pensamentos errantes?  
II. Quais são as ocasiões gerais para eles? 
III. Quais deles são pecaminosos, e quais, não?
IV. Quais deles nós podemos orar para que sejamos libertos? 

I

(1) Eu proponho inquirir, primeiro, quais são as diferentes formas de pensamentos errantes? As espécies particulares são inumeráveis; mas, no geral, são de duas formas: pensamentos que falam incoerentemente de Deus; e pensamentos que falam de um ponto pessoal que nós temos em mão.

(2) Com respeito ao primeiro, todos os nossos pensamentos são naturalmente desse tipo: porque eles estão continuamente se desviando de Deus: nós pensamos nada com respeito a ele: Deus não está em todos os nossos pensamentos. Nós somos, um e todos, como o Apóstolo observa: 'sem Deus no mundo'. Nós pensamos a respeito do que nós amamos; mas nós não amamos Deus; por conseguinte, nós não pensamos nele. Ou, se nós somos constrangidos a pensar nele, por um tempo, ainda que não tenhamos prazer nisso, mais ainda, como esses pensamentos não apenas são insípidos, mas, também, desagradáveis e aborrecidos para nós, nós os conduzidos para fora, tão logo podemos, e retornamos ao que amamos pensar a respeito. Assim, o mundo, as coisas do mundo, — o que devemos comer, o que devemos ganhar, — como podemos agradar nossos sentidos ou nossa imaginação, — dedicarmo-nos todo nosso tempo, e apoderando-nos de todos os nossos pensamentos. Assim sendo, como amamos o mundo; ou seja, tanto quanto estamos em nosso estado natural; todos os nossos pensamentos, de manhã ao anoitecer, e do anoitecer até a manhã seguinte, não são outra coisa que pensamentos errantes.

(3) Mas, muitas vezes, nós não estamos apenas 'sem Deus no mundo',  mas também, lutando contra ele; já que há, em cada homem, através da natureza, uma mente 'carnal que tem inimizade contra Deus'. Não me admira, por conseguinte, que os homens abundem com pensamentos incrédulos; tanto dizendo aos seus corações, 'que não existe Deus', ou questionando; se não, negando, seu poder e sabedoria; sua misericórdia, ou justiça, ou santidade. Não me admira que eles, tão freqüentemente, duvidem de sua providência, pelo menos, de estender-se a todos os eventos; ou que, mesmo embora eles aceitem isto, eles ainda hospedem pensamentos murmurantes e queixosos. Proximamente relatados a esses, e freqüentemente conectados com eles, estão o orgulho e as imaginações vãs. Novamente: Algumas vezes, eles são tomados com raiva, malícia, ou pensamentos de vingança; em outras vezes, com graciosos cenários de prazer, se de sentido ou imaginação; por meio do qual, a mente mundana e sensual torna-se mais mundana, e sensual ainda. Através de todos esses eles guerreiam claramente com Deus: Esses são os pensamentos errantes do mais alto nível.

(4) Largamente, as diferenças, entre esses, são de outra sorte de pensamentos errantes; no qual o coração não se desvia de Deus, mas o entendimento se desvia de um ponto particular, que ele teve, então, em vista. Por exemplo: Eu considero as palavras, no verso, antecedente ao texto: 'as defesas de nossa luta não são carnais, mas poderosamente são de Deus'.  Eu penso que isto deveria ser o caso de todos os que são chamados cristãos. Mas é exatamente o contrário. Olhe, em redor, em quase toda parte do que é conhecido como mundo cristão. De que maneira são essas defesas usadas? Em que tipo de luta elas são engajadas; enquanto homens, assim como demônios, dilaceram uns aos outros, em todo tipo de disputa infernal? Veja como esses cristãos amam uns aos outros! Em que eles são preferíveis aos ateus e os pagãos? Que abominação pode ser encontrada entre os maometanos ou ateus, que não seja encontrada também entre os cristãos? E, assim, antes que eu tenha consciência, minha mente foge de uma circunstância a outra. Tudo isto é, de alguma forma, pensamentos errantes: já que, embora eles não se desviam de Deus, muito menos, lutam contra ele, ainda assim, eles se desviam de algum ponto particular, que eu tive em vista.

II

            Tal é a natureza; tais são as formas (falando mais especificamente do que filosoficamente) dos pensamentos errantes Mas quais são as ocasiões gerais deles? Isto, nós vamos, em segundo lugar, considerar:

(1) E é fácil observar, que a ocasião das primeiras formas de pensamentos, que se opõem e se desviam de Deus, é, em geral, dos temperamentos pecaminosos. Por exemplo: por que Deus não está em todos os pensamentos; em qualquer pensamento do homem natural? Por uma razão clara: seja ele rico ou pobre, culto ou não, ele é um ateu; (embora não seja vulgarmente assim chamado); ele nem conhece e nem ama a Deus. Por que esses pensamentos estão continuamente  vagueando, em busca do mundo? Porque ele é um idólatra. Ele até não adora uma imagem, ou se curva ao tronco de uma árvore; ainda assim, ele está mergulhado, em igualmente execrável idolatria: ele ama o que ele adora, o mundo.Ele busca felicidade nas coisas que são vistas, nos prazeres que perecem ao uso. Por que é que seus pensamentos estão perpetuamente se opondo a finalidade de sua existência, o conhecimento de Deus, em Cristo? Porque ele é um descrente; porque ele não tem fé; ou, pelo menos, não mais do que o diabo. Então, todos esses pensamentos errantes facilmente e naturalmente  brotam dessa raiz diabólica da descrença.  

(2) O caso é o mesmo em outros exemplos: orgulho, ira, vingança, vaidade, luxúria, cobiça; cada um deles ocasiona pensamentos adequados à sua própria natureza. Assim como cada temperamento pecaminoso que a mente humana seja capaz. Não é necessário entrar em detalhes. É suficiente observar que assim como muitos temperamentos maus encontram um lugar em qualquer alma, então, por muitos meios essa alma irá se apartar de Deus, através da pior forma de pensamentos errantes.

(3) As oportunidades do ultimo tipo de pensamentos errantes, os que lutam contra Deus, são diversas. Abundância deles é ocasionada pela união natural entre a alma e o corpo. Quão imediatamente e quão profundamente é o entendimento afetado por um corpo doente! O sangue move-se irregularmente no cérebro, e todo pensamento regular está no fim. Segue-se a loucura feroz; e, então, adeus a toda uniformidade de pensamento. Sim, deixe apenas que espírito esteja apressado e seja agitado, até um certo grau, e a loucura temporária, o delírio, impede todo pensamento equilibrado. E não é a mesma irregularidade de entendimento, em certa medida, ocasionada pela enfermidade nervosa? Então, o 'corpo corruptível deprime a alma, e ela cisma a respeito de muitas coisas'.

(4) Mas isto só é causado, quando de uma doença ou enfermidade anormal? Não exatamente. Mesmo em um estado de saúde perfeita, pode acontecer. Um homem que seja sempre sadio, pode, nas vinte e quatro horas, ter seus momentos de delírio. Enquanto dorme, esse homem não está sujeito a sonhar? E quem, então, é o mestre de seus próprios pensamentos, ou capaz de preservar a ordem e consistência deles? Quem pode manter os pensamentos fixos, em algum ponto; ou impedi-los de vaguearem de um pólo a outro?

(5) Mas suponha que estejamos acordados. Nós estamos sempre tão acordados, para sermos capazes de firmemente governar nossos pensamentos? Nós não estamos inevitavelmente expostos, aos extremos contrários, pela mesma natureza dessa máquina, o corpo? Algumas vezes, nós estamos tão abatidos; tão entorpecidos e desanimados, para buscar alguma série de pensamentos. Algumas vezes, por outro lado, nós estamos muito ativos. A imaginação, sem permissão, vai, de um lado para outro, e nos conduz de cá para lá, queiramos ou não; e tudo isto meramente pelo movimento natural do espírito, ou vibração dos nervos.

(6) Mais além: Quantos pensamentos errantes podem surgir dessas várias associações de nossas idéias, e que são feitas inteiramente, sem nosso conhecimento, e independes de nossa escolha? Quantas dessas conexões são formadas, nós não sabemos; a não ser que elas são formadas de milhares de maneiras diferentes. Nem é do poder dos homens mais sábios e santos interromperem essas associações, ou impedirem as conseqüências necessárias deles, e motivo de observação diária.

(7) Uma vez mais: Vamos fixar nossa atenção, tão cuidadosamente quanto nós sejamos capazes em algum assunto; ainda que algum prazer ou dor surjam, especialmente, se for intenso, e isto exigirá nossa atenção imediata, e fixará nosso pensamento em si mesmo. Isto irá interromper a contemplação mais firme, e distrair a mente de seu assunto favorito.

(8) As ocasiões dos pensamentos errantes encontram-se nisto; são forjados dentro da nossa própria natureza. Mas eles irão, do mesmo modo, naturalmente e necessariamente, se erguerem dos vários impulsos dos objetos exteriores. O que quer que atinja os órgãos dos sentidos, os olhos ou ouvidos, irá fazer surgir uma percepção na mente. E, concordantemente, o que quer que vejamos ou ouvimos irá interromper nossa primeira série de pensamentos. Cada homem, por conseguinte, que faz alguma coisa a nossa vista, ou fale alguma coisa em nossos ouvidos, faz com que nossa mente vagueie, mais ou menos, de um ponto que ele estava pensando anteriormente.

(9) E não existe dúvida, a não ser que esses espíritos diabólicos que estão continuamente buscando a quem eles possam devorar, façam uso de toda ocasião precedente para agitar e distrair nossas mentes. Algumas vezes, por um; algumas vezes, através de outros desses meios, eles irão atormentar e nos desorientar, e, assim sendo, até onde Deus permitir, interromper nossos pensamentos, particularmente, quando eles estão engajados em nossos melhores objetivos. Nem isto é, afinal, estranho: Eles irão entender as próprias fontes de pensamento; e conhecer de quais órgãos corpóreos, a imaginação, o entendimento, e cada outra faculdade da mente, mais imediatamente dependem. Acrescente a isto, que eles possam injetar milhares de pensamentos, sem qualquer dos meios precedentes; sendo tão natural ao espírito agir sobre o espírito, quanto a matéria agir sobre a matéria.  Come essas coisas sendo consideradas, nós não podemos nos admirar que nossos pensamentos tão freqüentemente vagueiam de um ponto que temos em vista. 

III

(1) Quais tipos de pensamentos errantes são pecaminosos, e quais não são, é a terceira coisa a ser inquirida. Primeiro, todos esses pensamentos que se desviam de Deus, que não deixam a ele lugar em nossas mentes, são indubitavelmente pecaminosos. Já que todos eles implicam ateísmo prático; e, através desses, nós estamos sem Deus no mundo. E muito mais estão todos aqueles que são contrários a Deus, que implicam oposição ou inimizade para com ele. Tais estão todos os pensamentos murmurantes e descontentes, que dizem, em efeito: 'Nós não queremos teu controle sobre nós'; — todos os pensamentos descrentes, se com respeito à existência de Deus; aos seus atributos, ou à sua providência. Quero dizer, sua providência particular sobre todas as coisas, assim como sobre todas as pessoas, no universo; sem a qual 'nem um pardal cai ao chão';  pela qual 'os cabelos de nossas cabeças são numerados';  assim como a providência geral (vulgarmente assim chamada), distinguindo-se de uma particular, é apenas uma palavra decente e profunda, que significa justamente nada.
(2) Novamente: Todos os pensamentos que brotam dos temperamentos pecaminosos são, sem dúvida, pecaminosos. Tais, por exemplo, aqueles que brotam do temperamento vingativo, do orgulho, da luxúria, ou vaidade. 'uma árvore má não pode dar bons frutos': Assim sendo, se uma árvore é má, o fruto deverá ser igualmente mau.

(3) E assim devem ser aqueles que tanto produzem, como alimentam qualquer temperamento pecaminoso; que tanto originam o orgulho ou vaidade, a ira ou amor do mundo; assim como confirmam e aumentam estes; ou qualquer outro temperamento maldoso, paixão ou afeição ímpia. Já que não apenas o que flui do mal é pecaminoso; mas também o que conduz a ele; o que quer que tenda a alienar a alma de Deus, e fazer com que permaneça mundana, sensual e diabólica.

(4) Por isso, mesmo aqueles pensamentos que são ocasionados pela fraqueza ou enfermidade, por um mecanismo natural do corpo, ou por leis da união vital, por mais inocentes que eles possam ser, em si mesmos, eles podem, todavia, se tornar pecaminosos, quando, tanto produzem, apreciam, ou estimulam, em nós, tais temperamentos pecaminosos; presumindo-se os desejos da carne, os desejos dos olhos, ou o orgulho da vida. De igual modo, os pensamentos errantes que são ocasionados pelas palavras ou ações de outros homens, se eles causam ou alimentam qualquer disposição errada, então, eles principiam o pecado. E o mesmo nós podemos observar daqueles que são sugeridos ou injetados pelo diabo. Quando eles contribuem para qualquer temperamento mundano ou diabólico, (o que eles fazem, quando se dá lugar a eles; e, por esse meio, os tornam seus); então, eles são igualmente pecaminosos com os temperamentos para os quais eles colaboram.

(5) Mas, desviando-se destes casos, pensamentos errantes, num sentido posterior da palavra, ou seja, pensamentos nos quais nosso entendimento vagueia de um ponto que têm em vista, não são mais pecaminosos do que o movimento do sangue em nossas veias, ou o espírito em nosso cérebro. Se eles surgem de uma constituição frágil, ou de alguma fraqueza acidental, ou indisposição, eles são tão inocentes, como se eles tivessem uma constituição fraca, ou um corpo desordenado. E, certamente, ninguém irá duvidar que um estado de nervos debilitados, uma febre de alguma espécie, e mesmo um delírio, transitório ou duradouro, podem consistir com uma perfeita inocência. E se eles podem surgir, na alma que está unida a um corpo saudável, mesmo de uma união natural entre o corpo e alma, ou de algumas das dez mil mudanças que podem ocorrer naqueles órgãos do corpo que servem ao pensamento; — em alguns desses casos, eles são perfeitamente inocentes, assim como as causas, que os ocasionaram. O mesmo acontecendo, quando eles brotam de associações casuais e involuntárias de nossas idéias. 

(6) Se nossos pensamentos vagueiam de um ponto que tivemos em vista, e diferentemente afetam nossos sentidos, através de outros homens, eles são ainda igualmente inocentes: Já que não mais constitui um pecado o entendimento do que vejo e ouço. Ter olhos e ouvidos não pode ajudar muito na compreensão do que se vê e ouve. 'Mas, se o diabo injeta pensamentos errantes, não são esses pensamentos diabólicos?'. Eles são problemáticos, e naquele sentido, maus; mas não são pecaminosos. Eu não sei o que ele falou para nosso Senhor com uma voz audível; talvez ele tenha falado apenas para seu coração, quando ele disse: 'Todas essas coisas eu darei a ti, se tu te humilhares e adorares a mim'. Mas, quer ele tenha falado, interiormente ou exteriormente, nosso Senhor, sem dúvida, entendeu o que ele disse. Ele tinha entretanto um pensamento correspondente para aquelas palavras. Mas este foi um pensamento pecaminoso? Nós sabemos que não foi. Nele não havia pecado, tanto de ação, palavra ou pensamento. Nem havia qualquer pecado, em milhares de pensamentos da mesma espécie, com que Satanás possa ter injetado em qualquer um dos seguidores de nosso Senhor.  

(7) Segue-se que nenhum desses pensamentos errantes (o que quer que seja o que as pessoas imprudentes tenham afirmado, e, por meio disto, afligindo a quem o Senhor não tinha afligido) é inconsistente com o amor perfeito. De fato, se eles fossem, então, não apenas uma dor aguda, mas o próprio sono seria inconsistente com ele: — a dor aguda; no que quer que ela intervenha, naquilo que pensávamos anteriormente, irá interromper nosso pensamento, e, é evidente, arrastá-lo para uma outra condição: — o próprio sono, como se trata de um estado de insensibilidade e estupidez; e como tal, geralmente misturado com pensamentos errantes sobre a terra, é incorreto, desarranjado, e incoerente. Contudo, certamente, esses são consistentes com o amor perfeito: assim como todos os pensamentos errantes dessa espécie.

IV

(1) Do que tem sido observado, é fácil dar uma resposta clara para a última questão: Que tipo de pensamentos errantes nós podemos esperar e orar para que nos livremos.

Da primeira sorte de pensamentos errantes: aqueles nos quais o coração desvia-se de Deus; de todos que são contrários à sua vontade, ou que nos deixam sem Deus no mundo; cada um que é perfeito no amor está inquestionavelmente liberto. Esse livramento, no entanto, nós podemos esperar; nós podemos, e nós devemos orar por ele. Os pensamentos errantes dessa espécie implicam descrença, se não inimizade contra Deus; mas ambos, ele irá destruir; irá trazer completamente ao fim. De certo, de todos os pensamentos errantes pecaminosos nós seremos absolutamente libertos. Todo aquele que é perfeito no amor serão libertos desses; mesmo que eles não tenham sido salvos do pecado. Homens e demônios irão tentá-los, de todas as maneiras; mas eles não prevalecerão sobre eles. 

(2) Com respeito à última sorte de pensamentos errantes, o caso é amplamente diferente. Até que a causa seja removida, nós não podemos, de modo algum, esperar que cesse o efeito. Mas as causas e ocasiões desses irão permanecer, por quanto tempo permanecermos vivos. Assim sendo, nós temos todos os motivos para acreditar que eles irão permanecer também.

(3) Para ser mais especifico: suponha a alma, mesmo que santa. Habitando em um corpo desajustado; suponha que o cérebro seja tão totalmente desordenado, como os que se seguem à loucura; os pensamentos não serão desajustados e desconexos, por quanto tempo persistir a enfermidade? Suponha que a febre ocasione essa loucura temporária, o que nós denominamos de delírio. Pode existir alguma conexão justa de pensamento, até que o delírio seja removido? Suponha o que seja chamado de desordem nervosa, surgindo em tão alto grau que ocasione, pelo menos, uma loucura parcial; não existirão ali milhares de pensamentos errantes? E esses pensamentos irregulares não irão continuar, por quanto tempo a enfermidade que os ocasiona persistir?

(4) Não será o mesmo caso, com respeito àqueles pensamentos que necessariamente surgem de uma dor violenta? Eles não irão, mais ou menos, continuar, enquanto a dor continuar, através da ordem inviolável da natureza? Essa ordem, igualmente, irá acontecer, quando os pensamentos são perturbados, quebrados, interrompidos, por alguma deficiência de apreensão, julgamento ou imaginação, fluindo da constituição natural do corpo. E quantas interrupções podem surgir das associações incontáveis e involuntárias de nossas idéias! Agora, todos esses são direta e indiretamente causados pelo corpo corruptível, deprimindo a mente. Nem, entretanto, podemos esperar que eles sejam removidos, até que 'essa corrupção possa ser trocada por idoneidade'.

(5) E, então, apenas quando nós nos reduzimos a pó, podemos ser libertos desses pensamentos errantes que são ocasionados pelo que vemos e ouvimos; em meio a esses, pelos quais estamos agora cercados. Para evitá-los, nós devemos sair do mundo: porque, por quanto tempo permanecermos nele; por quanto tempo existam homens e mulheres à nossa volta, e nós tivermos olhos para ver, e ouvidos para ouvir, as coisas que diariamente vemos e ouvimos, certamente, irão afetar nossa mente, e irão, mais ou menos, perturbar, e interromper nossos pensamentos anteriores.

(6) E, tanto tempo quanto os espíritos diabólicos perambulem, de um lado para outro, num mundo miserável e desordenado; por quanto tempo eles irão assaltar (possam ser impedidos ou não), cada habitante de carne e sangue. Eles irão perturbar, mesmo aqueles a quem eles não podem destruir. Eles irão atacar, mesmo que não possam dominar. E desses ataques de nossos inimigos indóceis e incansáveis, nós não podemos buscar um livramento completo, até que nós habitemos 'onde o perverso cesse de perturbar, e onde o cansado esteja livre de aborrecimentos.

(7) Para concluir: Esperar livramento desses pensamentos errantes que são causados por espíritos diabólicos, é esperar que o diabo possa morrer ou cair no sono, ou, pelo menos, não possa ir, de lá para cá, como um leão rugindo. Esperar livramento desses que são ocasionados por outros homens, é esperar que tanto esses homens não mais existam na terra; que nós possamos estar completamente isolados deles, e termos nenhum intercurso com eles; quanto, tendo olhos, nós não possamos ver; e tendo ouvidos, não possamos ouvir, mas sermos insensíveis como objetos ou pedras. E orar para nos livrarmos desses que são ocasionados pelo corpo é, em efeito, orar para que nós possamos deixar o corpo: Do contrário, é orar por impossibilidades e absurdos; orando para que Deus possa reconciliar contradições, através da continuidade de nossa união com o corpo corruptível, sem as conseqüências naturais e necessárias dessa união. É como se nós pudéssemos orar para sermos anjos e homens, mortais e imortais, ao mesmo tempo. Mais ainda: quando aquele que é imortal vier, a mortalidade irá desaparecer.

(8) Melhor que nós oremos, tanto com o espírito, quanto com o entendimento, para que todas essas coisas possam operar juntas para o nosso bem; para que possamos sofrer todas as enfermidades de nossa natureza, todas as interrupções de homens, todos os assaltos e sugestões de espíritos diabólicos, e, em tudo. sermos 'mais que vencedores'.  Que nós oremos para nos livrarmos de todos os pecados; que tanto aqueles da raiz quanto dos ramos possam ser destruídos; que nós possamos ser 'limpos de toda poluição da carne e espírito', de cada temperamento mau, palavra e obra; para que possamos 'amar o Senhor, nosso Deus, com todo nosso coração; com toda nossa mente; com toda nossa alma; e com todas as nossas forças'; para que todos os frutos do Espírito sejam encontrados em nós: não apenas amor, alegria e paz, mas também, 'longanimidade, gentileza, bondade, fidelidade, mansidão, temperança'. Orar para que todas essas coisas possam florescer e abundar; possam aumentar em você mais e mais, até que lhe seja dada uma larga permissão para entrar no reino eterno de nosso Senhor Jesus Cristo!