John Wesley
'Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira
nenhuma, antes estabelecemos a lei'. (Romanos 3:31)
I. Quais os meios mais
usuais de 'tornar a lei, sem efeito, através da fé?
II. Como podemos seguir
o Apóstolo, e pela fé 'estabelecer a lei'.
III. Nós podemos tornar
a lei sem efeito, na prática, vivendo como se a fé fosse designada para nos
isentar da santidade.
1. No início da
Epístola de Paulo, ele escreveu sua proposição geral, ou seja, a de que 'o
Evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê';
– os meios poderosos, por meio dos quais, Deus torna cada um que crê um
parceiro da salvação eterna e presente; -- mostrando que não existe outro
caminho debaixo do céu, pelo que os homens possam ser salvos. Ele fala,
particularmente da salvação da culpa do pecado, que ele comumente denomina
justificação. Ele prova com vários argumentos, endereçados aos judeus, assim
como aos pagãos, que todos os homens têm necessidade disto; que ninguém pode
advogar a sua própria inocência. Disto, ele infere (no 19o verso
deste capítulo) que 'toda boca',
quer de judeus ou ateus, deve ser 'fechada', de desculpar-se ou justificar a si mesma; 'e que todo o mundo tornou-se culpado,
diante de Deus'. 'Portanto', ele diz, pela sua própria obediência, 'pelas palavras da lei, nenhuma carne será justificada, diante Dele'. 'Mas,
agora, a retidão de Deus, sem a lei',
-- sem nossa obediência prévia a esta, -- 'é manifestada'; 'até mesmo a retidão de Deus, que, pela fé em Jesus
Cristo, junto a todos, e para todos os que crêem': 'Porque não existe
diferença', -- já que a
necessidade deles da justificação, ou da maneira, como eles a obtêm; -- 'a imagem gloriosa de Deus, por meio da qual
eles foram criados; e todos' (que
a obtiveram) 'são justificados
livremente, pela sua graça, através da redenção que está em Jesus Cristo, a
quem Deus enviou para a expiação, através da fé em seu sangue; para que Ele
possa ser justo, e também o justificador daquele que acredita em Jesus; -- 'sem
qualquer impedimento para sua justiça; já que Ele mostraria misericórdia por
causa da conciliação. 'Portanto, nós concluímos', (o que foi a grande posição que ele empreendeu estabelecer), 'que um homem é justificado pela fé, sem as
obras da lei'. (Verso: 20-28).
2. Foi fácil, prever a
objeção que poderia ser feita, e que existiu de fato, em todas as épocas; ou
seja, dizer que somos justificados, sem as obras da lei, é abolir a lei. O
Apóstolo, sem entrar em uma disputa formal, simplesmente nega a instrução. 'Nós,
então', pergunta ele 'tornamos sem efeito a lei através da fé? Deus
proíbe! Sim, nós estabelecemos a lei!'.
3. A estranha
imaginação de alguns, de que Paulo, quando disse, 'um homem é justificado
sem as obra da lei', significa apenas a lei cerimonial, é abundantemente
confundida por essas mesmas palavras. Afinal, Paulo estabeleceu a lei
cerimonial? É evidente, que não. Ele tornou a lei nula, através da fé, e,
abertamente, declarou estar fazendo isso. Tratou-se apenas da lei moral, da
qual ele poderia verdadeiramente dizer: nós não tornamos a lei nula, mas a
estabelecemos, através da fé.
4. Mas nem todos os
homens concordam com o que ele pensa. Muitos não aceitam. Muitos em todas as
épocas da Igreja, até mesmo, aqueles que carregam o nome de cristãos têm
defendido que 'a fé uma vez entregue aos santos' teve como objetivo
tornar toda a lei nula. Eles não
tomariam em consideração a lei moral mais do que a lei cerimonial, mas foi para
'rachar', por assim dizer, 'ambas em pedaços diante do Senhor';
veementemente afirmando que, 'se você estabelecer qualquer lei, Cristo não o
favorecerá em coisa alguma; Cristo se torna sem efeito para você; você caiu da
graça'.
5. Mas o zelo desses
homens está de acordo com o conhecimento? Eles observaram a conexão entre a lei
e a fé? E que, estabelecendo essa conexão entre eles, destruir uma, na verdade,
significa destruir a ambas? – que abolir a lei moral, é, portanto, abolir a fé
e a lei? Não nos deixando um meio apropriado, quer para nos levar até a fé, ou
para encorajar aquele dom de Deus em nossa alma?
6. Portanto, convém a
todos que desejam vir para Cristo, a quem eles receberam, assim como caminhar
Nele, prestar atenção em como eles 'tornaram a lei nula, através da fé. Para
nos proteger efetivamente, contra ela, nos permita inquirir, Em Primeiro
Lugar, quais são os caminhos mais usuais para tornar 'a lei nula,
através da fé?' E, Em Segundo Lugar, como nós podemos seguir o
Apóstolo, e pela fé, 'estabelecer a lei'.
I
1. Em Primeiro Lugar,
vamos inquirir: Quais são os caminhos mais usuais de tornar a lei nula, através
da fé? Porque a maneira de um pregador tornar tudo nulo, de um só golpe, é não
pregar nada a respeito, afinal. Isto será justamente a mesma coisa que apagar
os oráculos de Deus. Mais especialmente, quando isto é feito com um objetivo;
quando é feito como uma regra, não pregue a lei, e a mesma frase, 'Um
pregador da Lei', é usada como um termo de reprovação, como se significasse
pouco menos do que um inimigo do Evangelho.
2. Tudo isto procede da
mais profunda ignorância da natureza, propriedades e uso da lei; e prova que
aqueles que agem assim, não conhecem Cristo, -- são totalmente estranhos à fé
viva, -- ou, pelo menos, eles são bebês em Cristo, e, como tais, 'inexperiente
na palavra da retidão'.
3. O argumento deles é
este: Que pregando o Evangelho, ou seja, de acordo com o julgamento deles,
falar em nada mais que dos méritos de Cristo, responde à todas as finalidades
da lei. Mas isto nós negamos completamente, ou seja, convencer os homens do
pecado; o despertar aqueles que ainda estão dormindo à margem do inferno. Pode
haver aqui e ali algum caso isento. Um em mil, pode ter sido acordado pelo
Evangelho: Mas isto não é regra geral: O método comum de Deus é convencer os
pecadores, através da lei, e apenas por meio desta. O Evangelho não é o meio
pelo qual Deus tem ordenado, ou que o próprio Senhor usou, para esta
finalidade. Nós não temos autoridade nas Escrituras para aplicar isto assim;
nem qualquer alicerce para pensar que isto irá se provar efetivo. Nem temos
algum alicerce a mais para esperar isto, da natureza da coisa. 'Aqueles que
estão sadios', como observa o próprio nosso Senhor, 'não precisam de um
medido, mas aqueles que estão doentes'. É um absurdo, portanto, se oferecer
um medico àqueles que estão sadios, ou que, pelo menos, imaginam-se assim. Você
deverá, primeiro, convencê-los de que estão doentes; do contrário, eles não
irão agradecer pelo seu empenho. Igualmente absurdo é oferecer Cristo àqueles
cujo coração está sadio, e ainda não está enfraquecido. Neste mesmo sentido, é
como 'atirar pérolas aos porcos'. Sem dúvida, 'eles irão
pisoteá-las', e isto é nada mais do que você ter motivos para esperar que
eles também 'possam se voltar contra você e despedaça-lo'.
4. 'Mas, embora não
exista uma ordem nas Escrituras, oferecendo Cristo para o pecador desamparado,
ainda assim, não existem precedentes bíblicos para isto?'. Eu penso que
não: Eu não conheço coisa alguma a respeito. Eu acredito que você não pode
conseguir algum, quer dos Evangelhos, ou dos Atos dos Apóstolos. Nem você
poderá provar que esta tem sido a prática de alguns dos Apóstolos, em qualquer
uma das passagens em todos os seus escritos.
5. Mais do que isto, o
Apóstolo Paulo não diz em suas primeiras Epístolas aos Coríntios, 'Nós
pregamos Cristo crucificado?' (1:23), e em sua última, 'Nós não
pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor?' (4:5).
Nós admitimos ao restante a causa dessa discussão; trilhar seus passos,
seguir seu exemplo. Mas apenas pregue, exatamente como Paulo pregou, e o debate
chega ao fim.
Porque, embora estejamos certos de
que ele pregou Cristo de maneira tão perfeita, como cabe ao principal chefe dos
Apóstolos, ainda assim, quem pregou a lei mais do que Paulo? Portanto, ele não
pensava que o Evangelho respondia à mesma finalidade.
6. Mesmo o primeiro
sermão de Paulo conclui nestas palavras: "Através dele todos os que
crêem são justificados em todas as coisas, de maneira que não podemos ser
justificados pela lei de Moisés. Cuidem, portanto, a fim de que não venha sobre
vocês o que foi falado dos Profetas: 'Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e
desaparecei; porque opero uma obra em vossos dias; obra tal que não crereis, se
alguém vo-la contar'". (Atos 13:39-40) Agora, é declarado que tudo
isto é pregar a lei, no sentido em que vocês entendem o termo; mesmo que grande
parte dele, se não toda, seus ouvintes, fossem tanto judeus, ou prosélitos
religiosos e, portanto, provavelmente muitos deles, em algum grau, pelo menos,
já condenados pelo pecado. Ele primeiro lembra a eles que eles não serão
justificados pela Lei de Moisés, mas apenas pela fé em Cristo; e, então,
severamente intimidá-los com os julgamentos de Deus, que está no sentido mais
forte, pregando a lei.
7. Em seu discurso
seguinte, aquele para os ateus em Listra (Atos 14:15 em diante), nós não
encontramos tanto mais que o nome de Cristo: Todo o teor dele é que eles
pudessem 'abandonar aqueles ídolos vãos, e voltassem para o Deus vivo'.
Agora, confessem a verdade: vocês acreditam que se vocês estivessem lá, vocês
teriam pregado muito melhor do que ele? Eu não me surpreenderia, se vocês
pensassem também que a pregação dele, de tão imprópria, justificou ele ter sido
tão maltratado; e que o fato de ter sido apedrejado, foi um julgamento justo
que ele recebeu por não pregar a Cristo!
8. Para o carcereiro,
de fato, quando ele "entrou na sela onde Paulo e Silas estavam, e
tremendo, caiu diante deles, dizendo: 'senhores, o que mais preciso fazer para
ser salvo?'", eles imediatamente disseram: 'Creia no Senhor Jesus
Cristo' (Atos 16:29-30); mas, no caso de alguém tão profundamente
convencido do pecado, quem não teria dito o mesmo? Não obstante, aos homens de
Atenas, vocês o encontram falando de uma maneira completamente diferente –
reprovando a superstição, ignorância, e idolatria; e firmemente levando-os para
o arrependimento, por conta do julgamento futuro e da ressurreição dos mortos. (Atos
17:24-31) "Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há
de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos,
ressuscitando-o dentre os mortos". Igualmente, quando Felix foi
mandado a Paulo, com o propósito de que ele pudesse 'ouvi-lo, concernente à
fé em Cristo'; em vez de pregar Cristo em seu sentido (o que provavelmente
teria feito o Governador tanto zombar, quanto contradizer, ou blasfemar), 'ele
falou da justiça, temperança, e julgamento que viria', até que Felix
(insensível como era), 'tremeu' (24:24-25). Vão. Trilhem os
passos de Jesus. Preguem Cristo para o pecador desamparado, raciocinando sobre
a 'justiça, temperança, e o julgamento que virá!'.
9. Se você disser: 'Mas
ele pregou Cristo de diferentes maneiras em suas Epístolas': Eu respondo:
(1)
Ele
não pregou lá, afinal; não no sentido em que falamos: porque, pregar, em nossa
presente questão, significa falar diante de uma congregação. Mas acenando a
isto, eu respondo:
(2)
Suas
Epístolas são dirigidas, não para os não-crentes, tais como aqueles dos quais
estamos falando, mas 'para os santos de Deus', em Roma, Corinto, Felipe,
e outros lugares. Agora, sem dúvida, ele falaria mais de Cristo a esses do que
àqueles que estavam sem Deus no mundo.
(3)
E,
ainda assim, cada uma dessas, está cheia da lei, até mesmo, as Epístolas aos
Romanos e aos Gálatas; nas quais ele faz o que ele denomina 'pregar a lei',
e isto para os crentes, assim como para os não-crentes.
10. Disto tudo, fica
claro que vocês não sabem o que é pregar Cristo, no sentido do Apóstolo.
Porque, indubitavelmente, Paulo julgou que pregava Cristo, tanto para Felix,
quanto em Antioquia, Listra e Atenas: de quais exemplos, todo homem de
discernimento deve inferir, que não apenas declarando o amor de Cristo aos
pecadores, mas também, declarando que ele virá dos céus em fogo, é, no sentido
do Apóstolo, pregar a Cristo; e no sentido bíblico completo da palavra. Pregar
a Cristo é pregar o que ele tem revelado no Velho ou no Novo Testamento, de
modo que você está realmente pregando a Cristo, quando você está dizendo: 'o
ímpio deverá ir para o inferno, e todo o povo que se esquecer de Deus'; da
mesma forma, quando você diz: 'observem o Cordeiro de Deus, que tira os
pecados do mundo!'.
11. Considere isto bem:
-- que pregar Cristo, é pregar todas as coisas que Cristo tem falado; todas as
suas promessas; todas as suas advertências, e comandos; tudo que está escrito
em seu livro; e, então, você irá saber como pregar Cristo, sem tornar a lei
nula.
12. 'Mas bênçãos
maiores não atendem os discursos em que nós particularmente pregamos os méritos
e sofrimento de Cristo?'.
Provavelmente, quando nós pregamos
para a congregação de murmuradores, ou de crentes, esses serão atendidos com
bênçãos maiores; porque tais discursos são peculiarmente adequados ao seu
estado. Pelo menos, esses irão transmitir usualmente maior conforto. Mas esta
não será sempre a bênção maior. Eu poderei, algumas vezes, receber uma muito
maior, através de um discurso que me dilacere o coração e me reduza ao pó. Eu
não receberia este conforto, nem mesmo, se eu pregasse ou ouvisse algum
discurso, a não ser sobre os sofrimentos de Cristo. Esses, através de
constantes repetições, perderiam sua força, e se tornariam mais e mais vazios e
mortos, até que, por fim, eles se tornariam inertes ao redor das palavras, sem
qualquer espírito, vida, ou virtude. De modo que pregar a Cristo deve, no
processo de tempo, tornar o Evangelho nulo, assim como a lei.
II
1. Uma outra maneira de
tornar a lei nula, através da fé, é ensinar a fé, que substitui a necessidade
de santidade. Isto a divide, em milhares de caminhos menores, e muitos são os
que caminham nele. Na verdade, existem poucos que escapam totalmente dele;
poucos que são convencidos de que somos salvos pela fé, a não ser que, mais
cedo ou mais tarde, mais ou menos, deixemos de lado este caminho secundário.
2. Se todos esses que
são levados para este caminho secundário não se conscientizarem de que a fé em
Cristo coloca inteiramente de lado a necessidade de manter a lei; ainda assim,
suporem a necessidade de manter a fé deles de lado; ainda assim, suporem: (1)
que a santidade é menos necessária agora do que ela foi antes da vinda de
Cristo; (2) que um grau menor dela é necessário; (3) que ela é
menos necessária aos crentes do que aos outros. Porque assim são todos aqueles
que, embora o julgamento deles esteja, em geral, correto, ainda assim, pensam
que eles podem ter mais liberdade, em casos específicos, do que eles poderiam
ter tido antes que cressem; de fato, usarem o termo liberdade, de tal maneira,
como estando livres da obediência ou santidade mostra, imediatamente, que o
julgamento deles está pervertido, e que eles são culpados do que eles
imaginaram estar muito longe deles; ou seja, de tornarem a lei nula, através da
fé, por suporem que a fé substitui a santidade.
3. O primeiro argumento
daqueles que ensinam isto, expressivamente é que nós estamos debaixo da
promessa da graça, não das obras; e, portanto, nós não mais precisamos estar
debaixo da necessidade de executar as obras da lei.
E quem, alguma vez, esteve debaixo da promessa
das obras? Ninguém, a não ser Adão, antes da queda. Ele esteve completamente e
apropriadamente debaixo da aliança que requereu perfeição, obediência
universal, como a única condição de aceitação; e não deixava lugar para o
perdão, quando da menor transgressão. Mas nenhum homem, alguma vez, esteve
debaixo disto, nem os judeus ou gentios; nem antes de Cristo, nem desde então.
Todos os seus filhos estavam e estão debaixo da aliança da graça. A maneira da
aceitação deles é esta: A livre graça de Deus, através dos méritos de Cristo,
perdoa a todos que crêem; que crêem com tal fé, que, operada pelo amor, produz
toda obediência e santidade.
4. O caso não é,
portanto, como vocês supõem, que os homens foram, alguma vez, mais obrigados a
obedecer a Deus, ou a executar as obras da Sua lei, do que eles são agora. Mas
nós poderíamos ter sido obrigados, se nós estivéssemos debaixo da aliança das
obras; se tivéssemos realizado essas obras antes da nossa aceitação. Considerando que agora todas as boas obras,
embora tão necessárias como sempre, não são anteriores à nossa aceitação, mas
conseqüentes a ela. Portanto, a natureza da aliança da graça não dá a vocês
fundamento; nenhum encorajamento, afinal, para colocarem de lado qualquer
insistência ou grau de obediência; nenhuma parte ou medida de santidade.
5. 'Mas nós não
somos justificados pela fé, sem as obras da lei?'. Sem dúvida, que somos;
sem as obras, quer da lei cerimonial ou moral. E, por Deus, todos os homens
estivessem convencidos disto! Com certeza, iria impedir inumeráveis males; o
Antinomianismo [Doutrina de que, pela fé e a graça de Deus anunciadas no
Evangelho, os cristãos são libertados não só da lei de Moisés, mas de todo o
legalismo e padrões morais de qualquer cultura], em particular. Porque, falando
de uma maneira geral, foram os fariseus que se transformaram nos antinomianos.
Seguindo a um extremo tão palpavelmente contrário às Escrituras, eles fizeram
com que outros seguissem para o lado oposto. Estes, buscando serem justificados
pelas obras, aterrorizaram aqueles por permitirem algum espaço para eles.
6. Mas a verdade se
coloca entre ambos. Nós somos, sem dúvida, justificados pela fé. Este é a pedra
angular de toda construção cristã. Nós somos justificados, sem as obras
da lei, como uma condição prévia da justificação; mas elas são os frutos
imediatos daquela fé, por meio da qual somos justificados. De modo que, se as
boas obras não vêm em seguida à nossa fé, até mesmo toda santidade interior e
exterior, é claro que nossa não vale nada; nós ainda estamos em nossos pecados.
Portanto, já que somos justificados pela fé, até mesmo por nossa fé, sem as
obras, não existe fundamento para tornar a lei nula através da fé; ou para
imaginar que a fé é uma dispensação de algum tipo ou grau de santidade.
7. "Mais do que
isto, Paulo não disse expressamente, 'Aquele que não realiza, mas crê Nele, que
justifica o impuro, sua fé é contada como retidão?'. E não se conclui disto que
a fé está, para o crente, no lugar da retidão? Mas, se a fé está no lugar da
retidão ou da santidade, qual a necessidade que existe desta também?"
Isto - se deve reconhecer - chega ao
ponto, e é, de fato, o principal pilar do Antinomianismo. E ainda assim, não
precisa de uma resposta longa e elaborada. Nós admitimos (1) que Deus
justifica o impuro; aquele que, até aquele momento, está totalmente impuro; --
cheio de toda maldade, nulo de todo bem; (2) que Ele justifica o impuro
que não realiza as boas obras; que, até aquele momento, não as praticou; -- nem
poderia, porque de uma árvore má não se colhe bons frutos; (3) que Ele justifica
a ele, pela fé somente, sem qualquer santidade ou retidão precedente; e (4) que
a fé e, então, considerada como retidão, ou seja, por preceder a retidão; quer
dizer, Deus, através dos méritos de Cristo, aceita aquele que crê, como se ele
já tivesse cumprido toda retidão. Mas o que é tudo isto para o seu ponto? O
Apóstolo não disse, quer aqui, ou em qualquer outro lugar, que esta fé é
contada para ele, por retidão subseqüente. Ele ensina que não existe retidão
antes da fé; mas onde ele ensina que existe nenhuma depois dela? Ele afirma que
a santidade não produz santificação; mas não que ela não precisa segui-la.
Paulo, portanto, dá a vocês, nenhuma razão para tornar a lei nula, por ensinar
que a fé substitui a necessidade da santidade.
III
1. Existe um outro modo
de tornar a lei nula, através da fé que é mais comum do que, até mesmo, a
anterior. E que é fazê-lo na prática; torná-la nula de fato, embora que não em
princípio; vivendo como se a fé fosse designada para isentar-nos da santidade.
Quão honestamente o Apóstolo nos
alerta contra isto, naquelas renomadas palavras: 'Pois que? Pecaremos,
porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo algum'. (Romanos
6:15) Uma advertência, que é necessário considerar totalmente, porque é de
extrema importância.
2. O estar 'debaixo
da lei', pode aqui significar: (1) estar obrigado a observar o
cerimonial da lei; (2) estar obrigado a aceitar toda a instituição
mosaica; (3) estar obrigado a manter toda a lei moral, como a condição
de nossa aceitação por parte de Deus; e (4) estar debaixo da ira e
maldição de Deus; debaixo da sentença da morte eterna; debaixo do sentido de
culpa e condenação; cheio de horror e temor escravizante.
3. Agora, embora um
crente 'não esteja sem lei para Deus, mas esteja debaixo da lei de Cristo', ainda assim, do momento em que ele crê,
ele 'não está debaixo da lei', em qualquer um dos sentidos precedentes.
Do contrário, ele está 'debaixo da
graça'; debaixo de uma dispensação
mais benigna e graciosa. Uma vez que ele não mais está debaixo da lei
cerimonial; nem debaixo da instituição mosaica; uma vez que ele não é obrigado
a manter, nem mesmo a lei moral, como uma condição de sua aceitação; então, ele
está livre da ira e da maldição de Deus; de todos os sentidos de culpa e
condenação; e de todo aquele horror e temor da morte e inferno, por meio dos
quais ele esteve toda sua vida, quando da escravidão. Agora ele pode executar
(o que, 'debaixo da lei' ele não podia) a obediência desejada e
universal. Ele não obedece mais por causa do temor escravo, mas por um
princípio mais nobre, ou seja, a graça de Deus, dominando seu coração e fazendo
com que suas obras sejam forjadas no amor.
4. Será que esse
princípio evangélico é menos poderoso do que o legal? Será que nós somos menos
obedientes a Deus, através do amor filial, do que quando tínhamos medo
servil?
Seria bom, se este não fosse um caso comum; se este Antinomianismo
prático; este caminho desapercebido de tornar a lei nula, não tivesse infectado
milhares de crentes.
Ele ainda não infectou vocês?
Examinem-se honesta e minuciosamente. Vocês não fazem agora o que vocês não
ousariam ter feito, quando vocês estavam 'debaixo da lei'; ou (como nós
comumente denominamos) debaixo da convicção? Por exemplo: Vocês não se
atreveram viciar-se em alimento: Vocês fizeram uso apenas do que era
necessário, e de um tipo menos dispendioso? Vocês não se permitem mais
liberdade agora? Vocês não favorecem a si mesmo um pouco mais do que antes? Oh!
Cuidem, a fim de que vocês 'não pequem, porque não estão debaixo da lei, mas
porque estão debaixo da graça!'.
5. Quando vocês estavam
debaixo da convicção, vocês não se atreveram a favorecer a luxúria dos olhos em
qualquer que fosse o grau. Vocês não fariam coisa alguma, grande ou pequena,
meramente para gratificar a curiosidade. Vocês cuidariam apenas da limpeza e
necessidade, ou, no máximo, de uma conveniência moderada, tanto no mobiliário,
quanto na vestimenta; superficialidade e ornamentos de qualquer tipo, assim
como andarem na moda, tudo isto era um terror e uma abominação para vocês.
Vocês são assim ainda? A consciência
de vocês é tão cuidadosa agora com essas coisas, como ela era até então? Vocês
ainda seguem a mesma regra no mobiliário, e no vestuário, desprezando toda
ostentação, toda superficialidade, todas as coisas inúteis, todas as coisas
meramente ornamentais, por mais que estejam na moda? Antes, vocês não têm
recuperado o que vocês, uma vez, deixaram de lado; e o que vocês não poderiam,
até então, fazer uso, sem perturbar suas consciências? E vocês não aprenderam a
dizer: 'Ó, eu não sou tão escrupuloso agora?'. Em Deus que assim fosse!
Porque então, vocês não pecariam; 'não porque vocês não estão debaixo da
lei, mas porque estão debaixo da graça!'.
6. Uma vez, vocês foram
escrupulosos também de enaltecerem alguém na presença dele; e ainda mais, de
permitirem que alguém elogiasse vocês. Isto era como um golpe no coração de
vocês; vocês não podiam suportar; porque vocês buscavam a honra que vem de Deus
apenas. Vocês não podiam tolerar tal conversa; nem qualquer conversa que não
fosse boa para o uso da edificação. Toda conversa inútil, todo discurso
leviano, vocês abominavam; vocês odiavam, assim como temiam isto; estando
profundamente conscientes do valor do tempo, de cada momento precioso e
passageiro. De igual maneira, vocês temiam e abominavam os gastos
desnecessários; valorizando seu dinheiro apenas menos do que seu tempo, e
preocupados a fim de que vocês não fossem considerados mordomos infiéis, até
mesmo, da riqueza maléfica da iniqüidade.
Vocês agora menosprezam o louvor como veneno mortal, o qual vocês nem
pode dar, nem podem receber, a não ser na pureza de suas almas? Vocês ainda
temem e abominam toda conversa que não tenda ao uso da edificação; e trabalham
para melhorar cada momento, para que ele não possa passar sem torná-los
melhores do que ele encontrou vocês? Vocês estão menos cuidadosos quanto ao
gasto ambos do dinheiro e do tempo? Vocês agora não podem dispor de ambos, como
vocês não poderiam fazer outrora? Ai de mim! Como aquilo que poderia ter sido
para a saúde, provou ser para vocês uma chance de queda! Como vocês puderam 'pecar,
não porque vocês não estavam sob a lei, mas porque vocês estavam sob a graça?'.
7. Deus proíbe que
vocês possam continuar desse jeito, e 'transformar a graça de Deus em
lascívia!'. Lembrem-se quão clara e forte convicção vocês tiveram, no que
diz respeito a todas essas coisas! E, ao mesmo tempo, vocês estavam
completamente satisfeitos com aquele de onde procedeu aquela convicção. A
Palavra disse a vocês que vocês estavam iludidos; mas vocês sabiam que se
tratava da voz de Deus. Nessas coisas vocês não eram tão escrupulosos, então;
mas agora vocês não são escrupulosos o suficiente. Deus manteve vocês mais
tempo naquela escola dolorosa; para que vocês pudessem aprender aquelas grandes
lições mais perfeitamente. E vocês já se esqueceram delas? Oh! Reúna-as antes
que seja muito tarde! Vocês já não sofreram muitas coisas em vão? Eu confio que
ainda não foi em vão. Agora usem a convicção, sem a dor! Pratiquem a lição, sem
o castigo! Não deixem que a misericórdia de Deus pese menos para vocês agora,
do que sua indignação veemente fez anteriormente. O amor é uma razão menos
poderosa do que o medo? Se não, que seja uma regra imutável, "Eu nada
farei agora que estou 'debaixo da graça', que eu não me atrevi fazer, quando
estava 'debaixo da lei'".
8. Eu não posso
concluir este assunto, sem exortá-los a examinarem a si mesmos, igualmente, no
tocante aos pecados da omissão. Vocês estão tão certos destes, agora que vocês 'estão
debaixo da graça', quanto quando estavam 'debaixo da lei?'. Quão
diligentes vocês foram, então, ao ouvirem a Palavra de Deus! Vocês
negligenciaram alguma oportunidade? Vocês não atenderam [à Igreja] depois disto
dia e noite? Um pequeno obstáculo teria mantido vocês de fora? Uma pequena
ocupação? Um visitante? Uma indisposição passageira? Uma cama macia? Uma manhã
escura e fria? – Vocês, então, não jejuaram, freqüentemente; ou usaram de
abstinência ao extremo do poder de vocês? Vocês não oraram muito (frios e
pesados como vocês estavam), enquanto vocês estavam dependurados na boca do
inferno? Vocês não falaram e não trataram com indulgência, até mesmo, por causa
de um Deus desconhecido? Vocês não defenderam a causa Dele corajosamente? — vocês
não reprovaram os pecadores? – e declararam francamente a verdade diante da
geração adúltera? E agora vocês são crentes em Cristo? Vocês têm a fé que
ultrapassa todo entendimento? O que? E são menos zelosos pela causa de seu
Mestre agora, do que foram quando vocês não o conheciam? Menos diligentes no
jejuarem, no orarem, no ouvirem Sua Palavra, no chamarem os pecadores para
Deus? Oh! Arrependam-se! Vejam e sintam sua perda grave! Lembrem-se de onde
vocês caíram! Lamentem a infidelidade de vocês! Agora sejam zelosos, e façam as
primeiras obras; caso contrário, se vocês continuarem a 'tornar a lei nula,
através da fé', Deus os expulsará, e designará vocês para sua porção com os
descrentes!
[Editado por Josh Williams, estudante da Northwest
Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley
Center for Applied Theology.]
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