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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sobre o Sermão do Monte – Parte XIII


John Wesley

'Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, nós não profetizamos em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, eu compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda'. (Mateus 7:21-27)


1. Nosso Mestre Divino, tendo declarado todo o conselho de Deus, com respeito ao caminho da salvação, e observado os principais obstáculos daqueles que desejam caminhar nele, encerra agora o conjunto, com essas palavras poderosas; por meio das quais, assim como foi, Ele coloca seu selo para sua profecia, imprimindo toda a sua autoridade sobre o que Ele entregou, para que possa permanecer firme para todas as gerações.

            2. Para que assim, diz o Senhor, ninguém possa alguma vez conceber que existe algum outro caminho do que este, 'Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, nós não profetizamos em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, eu compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda'.

3. Eu pretendo, no discurso seguinte:

I.              Primeiro, considerar o caso daquele que construir sua casa sobre a areia:
II.           Segundo, mostrar a sabedoria daquele que construiu sobre a rocha:
III.        Terceiro, concluir com uma aplicação prática.

I

1. Primeiro, eu vou considerar o caso daquele que constrói sua casa sobre a areia. 'Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus'. E este é um decreto que não pode passar; que permanece firme para todo sempre. Ele, por conseguinte, nos importa, no mais alto grau, para que possamos entender completamente a força dessas palavras. Mas, o que nós entendemos por aquela expressão, 'Aquele que diz a mim, Senhor, Senhor?'. Ela indubitavelmente significa supor ir para o céu, por algum outro caminho do que aquele que eu tenho agora descrito. Ela implica, portanto, (para começar do ponto mais baixo) todas as boas obras, toda a religião verbal. Ela inclui quaisquer que sejam os credos que possamos exercitar; quaisquer que sejam as profissões de fé que façamos; qualquer que seja o número de orações que possamos repetir; quaisquer que sejam as ações de graças que leiamos ou façamos para Deus. Nós podemos falar bem do Seu nome, e declarar a Sua bondade para com os filhos dos homens. Nós podemos falar de todos os seus atos poderosos, e dizer de sua salvação dia a dia. Confrontando as coisas espirituais com o intelecto, nós podemos mostrar o significado dos oráculos de Deus. Nós podemos explicar os mistérios do Seu reúno, que tem estado oculto, desde o começo do mundo. Nós podemos falar com a língua dos anjos, preferivelmente, à língua dos homens, no que se refere às coisas profundas de Deus. Nós podemos proclamar os pecadores, 'a observarem o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo!'.

Sim, nós podemos fazer isto, com tal medida do poder de Deus, e tal demonstração de seu Espírito, como para salvar muitas almas da morte, e ocultar uma grande quantidade de pecados. Mas, ainda assim, é muito provável, que tudo isto possa ser não mais do que dizer, 'Senhor, Senhor'. Que, depois de eu ter pregado com êxito para outros, eu mesmo possa ser um réprobo. Eu posso, pelas mãos de Deus, arrebatar muitas almas do inferno, mas, ainda assim, cair nele, quando eu terminar. Eu posso trazer os muitos outros para o reino dos céus, e eu mesmo não entrar lá. Leitor, se, alguma vez, Deus abençoou minhas palavras para sua alma, ore para que Ele possa ser misericordioso para comigo, um pecador!

            2. O dizer, 'Senhor, Senhor', pode, em Segundo Lugar, implicar, em não causar dano. Nós podemos nos abster de todo pecado insolente, de todo tipo de maldade exterior. Nós podemos nos refrear de todos aqueles caminhos de ação ou falar, que são proibidos nos santos escritos. Nós podemos ser capazes de dizer para todos aqueles, em meio dos quais vivemos, 'qual de vocês convenceu me do pecado?'. Nós podemos ter uma consciência que evite qualquer ofensa externa, em direção a Deus e ao homem. Nós podemos ser limpos de toda sujidade, descrença, e  iniqüidade; assim como de toda ação exterior; ou, (como o Apóstolo testifica, concernente a si mesmo), 'tocar na retidão da lei', que é a retidão exterior, 'sem culpa'. Mas, ainda assim, nós não seremos, por meio disto, justificados. Ainda isto não é mais do que dizer, 'Senhor, Senhor'; e, se nós não formos além disso, nós nunca 'entraremos no reino dos céus'.  

            3. O dizer, 'Senhor, Senhor', pode, em Terceiro Lugar, implicar muito daquilo  que denominamos boas obras. Um homem pode atender a Ceia do Senhor; pode ouvir abundância de excelentes sermões; e não omitir uma oportunidade de tomar parte em todas as outras ordenanças de Deus. Eu posso fazer o bem ao meu próximo; repartir meu pão com o faminto, e vestir o desnudo. Eu posso ser zeloso das boas obras, até mesmo, 'dar todos os meus bens para alimentar o pobre'. Sim, e eu posso fazer tudo isso, com um desejo de agradar a Deus, e uma crença real de que eu o agrado por isso; (o que, inegavelmente, é o caso daqueles que nosso Senhor apresenta, dizendo a Ele, 'Senhor, Senhor'); e mesmo assim, não tomar parte na glória que deverá ser revelada.

4. Se algum homem ficar chocado com isso, que ele reconheça que é um estranho para toda a religião de Jesus Cristo; e, em particular, para aquela imagem, a qual Ele coloca diante de nós, nesse discurso. Porque quão resumido é tudo isto, diante daquela retidão e santidade verdadeira que Ele tem descrito nisto! Quão extensamente distante daquele reino dos céus interior que está agora aberto na alma do crente, -- que é a primeira semente no coração, como um grão de mostrada, e que, mais tarde, estenderá grandes ramos, nos quais crescerão todos os frutos da retidão; todo bom temperamento, e palavra e obra.

5. Mesmo assim, tão claramente quanto Ele tem afirmado isto; tão freqüentemente quanto Ele tem repetido que ninguém que não tenha esse reino de Deus nele, entrará no reino dos céus; nosso Senhor bem soube que muitos não receberiam essa palavra, e, até por isso, confirma novamente: 'Muitos', (diz Ele: não uma pessoa; não algumas apenas: este não é um caso raro ou incomum) 'deverão dizer a mim, naquele dia, não somente, nós temos feito muitas orações; nós temos louvado a Ti; nós temos reprimido o mal; nós temos exercitado a nós mesmos em fazer o bem -- mas, o que é abundantemente maior do que isto, 'nós temos profetizado em Teu nome; em Teu nome nós expulsamos demônios; em Teu nome fizemos muitas obras maravilhosas. 'Nós temos profetizado'; -- nós temos declarado Tua vontade à humanidade; nós temos mostrado aos pecadores o caminho da paz e glória. E nós temos feito isto, 'em Teu nome'; de acordo com a verdade do Teu Evangelho; sim, e através de Tua autoridade, que confirmou a palavra com o Espírito Santo enviado dos céus. Porque em Teu nome, ou através do Teu nome; pelo poder do Teu Espírito, 'nós temos expulsado demônios'; das almas que eles, há muito, têm pretendido como sendo deles próprios, e das quais eles têm posse completa e tranqüila. 'E em Teu nome', pelo Teu poder, não o nosso, 'nós temos feito muitas obras maravilhosas'; de tal maneira que, 'mesmo o morto ouviu a voz do Filho de Deus', falando através de nós, e viveu. 'E eu irei afirmar', até mesmo, 'junto a eles, que eu nunca conheci vocês'; não, nem mesmo, quando vocês estavam 'expulsando demônios, em meu nome': Eu não conheço vocês como meus; porque os corações de vocês não foram corretos em direção a Deus. Vocês não foram submissos e humildes; vocês não foram amantes de Deus, e de toda humanidade; vocês não foram renovados na imagem de Deus; vocês não foram santos como eu sou santo. 'Afastem-se de mim, vocês', que, não obstante, tudo isso, são 'trabalhadores da iniqüidade' -- anarquistas -- Vocês são transgressores de minha lei, e minha lei do amor santo e perfeito.

6. É com o objetivo de colocar isto, além de toda possibilidade de contradição, que nosso Senhor confirma, através daquela comparação oposta: 'Todo aquele', diz Ele, 'que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, eu compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia'; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa'; -- como eles irão certamente fazer, cedo ou tarde, com a alma do homem; mesmo com a inundação da aflição exterior, ou da tentação interior; as tempestades de orgulho, ira, temor, ou desejo; -- 'e ela caiu, e foi grande a sua queda'. De maneira que pereceu para todo o sempre. Tal deve ser a porção de todo aquele que descansa em algum tipo daquela religião que está acima descrita. E maior será a queda, porque eles 'ouviram aquelas palavras, e', ainda assim, não as praticaram'.


II
           
1. Eu vou, em Segundo Lugar, mostrar a sabedoria daquele que as praticou; daquele que construiu sua casa sobre a rocha. De fato, é sábio 'aquele que faz a vontade de meu Pai que está no céu'. É verdadeiramente sábio, aquele cuja 'retidão excede a retidão dos escribas e fariseus'. Ele é pobre em espírito; conhecendo a  si mesmo, assim como ele também é conhecido. Ele vê e sente todo seu pecado, e toda a sua culpa, até que ela é varrida, pelo sangue redentor. Ele está consciente de seu estado perdido, da ira de Deus habitando nele, e de sua mais extrema inabilidade de ajudar a si mesmo, até que ele é preenchido com a paz e alegria no Espírito Santo. Ele é humilde e gentil; paciente em direção a todos os homens; nunca 'pagando o mal com o mal, ou insultos com insultos, mas, ao contrário, com bênçãos', até que ele domina o mal com o bem. Sua alma não é sedenta por coisa alguma na terra, a não ser apenas pelas coisas de Deus, do Deus vivo. Ele tem muito amor para com toda humanidade, e está sempre pronto a dar sua vida por seus inimigos. Ele ama o Senhor, com todo seu coração, e com toda a sua mente, e alma, e forças. Apenas aquele que, neste espírito, faz o bem a todos os homens, deverá entrar no reino dos céus; e aquele que sendo por esse motivo menosprezado e rejeitado pelos homens; sendo odiado, reprovado, e perseguido, regozija-se e está 'excessivamente feliz', sabendo em quem ele tem acreditado; e estando assegurado por essa luz, que as aflições momentâneas irão 'trazer para ele o ônus da glória eterna'. 

2. Quão verdadeiramente sábio é esse homem! Ele conhece a si mesmo; -- um espírito eterno, que veio de Deus, e foi enviado para a sua casa de argila, não para fazer a sua própria vontade, mas para fazer a vontade Dele que o enviou. Ele conhece o mundo -- o lugar no qual ele passará os poucos dias e anos, não como um habitante, mas como um hóspede estranho, em seu caminho para as habitações eternas; e conseqüentemente, ele usa o mundo, de modo a não abusar dele, e sabendo que a sua  forma dele passa. Ele conhece a Deus; -- seu Pai e seu Amigo, a origem de todo bem, o centro dos espíritos de toda carne, a única felicidade de todos os seres inteligentes. Ele vê, mais claro que a luz do sol do meio-dia, que este é o objetivo do homem, glorificar a Ele que o fez para si mesmo, amar e deleitar-se Nele para sempre. E com igual clareza, ele vê os meios para aquela finalidade, para o prazer de Deus na glória; mesmo agora, para conhecer, amar, imitar a Deus, e crer em Jesus Cristo a quem ele tem enviado.

3. Ele é um homem sábio, mesmo na consideração de Deus; uma vez que 'ele construiu sua casa sobre a rocha'; sobre a Rocha dos Tempos, a rocha eterna, o Senhor Jesus Cristo. Ele é assim, adequadamente chamado; porque Ele não muda: Ele é 'o mesmo ontem, hoje, e para sempre'. A Ele, ambos o homem de Deus do passado e o Apóstolo, mencionando suas palavras, testemunham: 'Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, E os céus são obra de tuas mãos:Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto, os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão' (Hebreus 1:10-12). Sábio, portanto, é o homem que é construído sobre Ele; aquele que tem a Ele como seu único alicerce; que se edifica apenas sobre seu sangue e retidão; sobre o que Ele tem feito e sofrido por nós. Nessa pedra angular, ele fixa sua fé, e descansa todo o peso de sua alma. Ele é ensinado por Deus a dizer: 'Senhor, eu tenho pecado; eu mereço o mais baixo inferno; mas eu estou justificado livremente, pela Tua graça, através da redenção que está em Jesus Cristo; e a vida que eu agora vivo; isto é, uma vida divina, sagrada;é a vida que está oculta com Cristo em Deus. Eu agora vivo, mesmo na carne; a vida do amor; do amor puro a Deus e ao homem; a vida de santidade e felicidade; louvando a Deus, e fazendo todas as coisas para sua glória'.


4. Ainda assim, que alguém não pense que ele não mais verá a guerra; que ele está agora fora do alcance da tentação. Ela ainda permanece, para que Deus prove a graça que Ele tem dado: Ele deverá ser tentado como ouro no fogo. Ele deverá ser tentado, não menos do que eles que não conhecem a Deus: Talvez, abundantemente mais; porque satanás não irá falhar ao tentar, ao extremo, aqueles a quem ele não será capaz de destruir. Assim sendo, 'a chuva' irá cair, impetuosamente; apenas que, em tais momentos, e de tal maneira, como se parecesse bom, não ao príncipe do poder do ar, mas a Ele 'cujo reino reina sobre tudo'. 'As correntezas', ou torrentes, virão; elas erguerão suas ondas e rugirão horrivelmente. Mas a elas também, o Senhor que se situa acima das correntezas das águas, que permanece Rei para sempre irá dizer. 'Até aqui, vocês deverão vir, e não mais longe. Aqui suas ondas de orgulho deverão estar situadas'. 'Os ventos irão soprar, e bater contra a casa', como se eles pudessem fazê-la em pedaços, desde o alicerce: Mas eles não prevalecerão: Ela não cairá; porque está alicerçada sobre a rocha. Ele habita em Cristo, pela fé e amor; por conseguinte, não deverá se abater. 'Não deverá temer, mesmo que a terra se mova, e mesmo que as colinas sejam levadas para o alto mar'. 'Embora as águas do mar se enfureçam e aumentem de volume, e as montanhas estremeçam com seu movimento; ainda assim, 'habitará debaixo da defesa do Altíssimo, e estará a salvo debaixo da sombra do Onipotente'.

III

1. Quão proximamente, então, concerne a cada filho do homem, aplicar praticamente essas coisas em si mesmos! Diligentemente, examinar sobre que alicerce ele constrói; se sobre a rocha, ou sobre a areia! Quão profundamente você está preocupado para inquirir: 'Qual é o alicerce da minha esperança?'. Sobre qual eu construí minha expectativa de entrar no reino do céu? Será que ela está construída na areia? Sobre minhas opiniões ortodoxas ou corretas, que, pelo abuso grosseiro das palavras, eu tenho chamado de fé? Sobre um conjunto de noções que eu suponho sejam mais racionais ou bíblicas do que a que os outros têm? Ai de mim! Que loucura é isto! Certamente, ela está construída na areia, ou, antes, nas espumas do mar! Diga, 'Eu estou convencido disso: Eu não estarei construindo novamente minha esperança no que é igualmente incapaz de suportá-la? Talvez, por eu pertencer 'a tão excelente igreja; reformada segundo o modelo bíblico verdadeiro; abençoada com a mais pura doutrina, a mais primitiva liturgia, a forma mais apostólica de governo?'. Essas são, sem dúvida, as tantas muitas razões para louvar a Deus,  já que elas podem ser as muitas esperanças para a santidade; mas se elas estão separadas dela, elas não irão ser de proveito alguma para mim; mais ainda, elas irão me deixar, no mais, sem justificativa, e exposto a uma condenação maior. Portanto, se eu construo minha esperança sobre esse alicerce, eu ainda estou construindo sobre a areia.

2. Você não pode, você não se atreveria, descansar aqui. Sobre o que mais você irá construir sua esperança de salvação? – sobre a sua inocência? Sobre o seu não causar dano? Sobre o fato de não cometer injustiça ou causar prejuízo a alguém? Bem; permitindo que esse argumento seja verdadeiro. Você é justo em toda as suas condutas; você é evidentemente um homem honesto; você paga todo homem o que lhe pertence; você nunca trapaceia, nem extorque; você age fielmente com toda a humanidade; e você tem uma consciência em direção a Deus; você não vive em pecado algum conhecido. Assim tão longe está tudo bem: Mas ainda assim, não é isso. Você pode chegar assim, tão distante, mas nunca vir para o céu. Quando toda essa inocência flui de um princípio correto, ela é a menor parte da religião de Cristo. Mas, em você, ela não flui de um princípio correto, e, portanto, não faz parte, afinal, da religião. De modo que, em alicerçar sua esperança de salvação nisto, você estará ainda construindo sobre areia. 

            3. Você chega assim tão longe? Você acrescenta o não causar dano, o atender a todas as ordenanças de Deus? Você, em todas as oportunidades, toma parte da Ceia do Senhor? Usa das orações públicas e privadas? Jejua freqüentemente? Ouve e busca as Escrituras, e medita nela? Essas coisas, igualmente, você deve ter feito, desde os primeiros momentos em que você fixou seu rosto em direção aos céus. Ainda assim, essas coisas também não são nada, estando sozinhas. Elas são nada, sem 'o peso as questões mais relevantes da lei'. E essas questões você tem esquecido: Pelo menos, não as tem experimentado: -- Fé, misericórdia, e amor a Deus; santidade de coração; e o céu escancarado, na alma. Portanto, ainda assim, você constrói sobre a areia.

4. Além disso tudo, você é zeloso das boas obras? Você, quando tem tempo, faz o bem a todos os homens? Você alimenta o faminto, veste o desnudo, e visita o órfão e a viúva, nos momentos de aflição deles? Você visita aqueles que estão doentes? Conforta os que estão na prisão? Se alguém é estranho, você o acolhe? Amigo, vá para mais alto! Você 'profetiza' em 'nome' de Cristo? Você prega a verdade como ela está em Jesus? E a influência do Espírito Dele atende sua palavra, e a transforma no poder de Deus para a salvação? Ele o capacita para trazer os pecadores, das trevas para a luz; do poder de satanás, para o poder de Deus? Então, vá e aprenda o que você tem ensinado freqüentemente: 'Através da graça, você será salvo pela fé': 'Não pelas obras da retidão que nós temos feito, mas da própria misericórdia Dele, Ele nos salva'. Aprenda a se pendurar, despido, na cruz de Cristo, considerando tudo o que tem feito como esterco e coisa inútil. Recorra a Ele, como no espírito do ladrão moribundo; da prostituta com seus sete demônios! Do contrário, você ainda estará na areia; e mesmo depois de salvar outras almas, você irá perder sua alma!

            5. Senhor, aumente minha fé, se eu agora creio! Caso contrário, dê-me a fé, mesmo que como um grão de mostarda! – Mas 'que proveito terá um homem que tem fé, e não tem as obras? Pode aquela 'fé salvá-lo?'. Ó não! Aquela fé, sem obras; a fé  que não produz a santidade interior e exterior, que não estampa a imagem total de Deus no coração, e nos purifica como Ele é puro; aquela fé que não produz a totalidade da religião descrita nos capítulos precedentes, não é a fé do Evangelho, não é a fé cristã, não é a fé que conduz à glória.Ó, tome cuidado, acima de tudo, com as outras armadilhas do diabo – o descansar na fé não santa, que não salva! Se você não dá a devida consideração a isto, você estará perdido para sempre. Você ainda estará construindo sua casa sobre a areia. Quando 'a chuva cair, e a inundação vier, ela irá certamente cair, e grande será sua queda!'.

6. Agora, portanto, construa sobre uma rocha. Pela graça de Deus, conheça a si mesmo. Saiba e sinta que você foi moldado na maldade; e, no pecado, sua mãe o concebeu; e, desde que não pôde discernir o bem do mal, você tem empilhado pecado sobre pecado. Reconheça-se culpado da morte eterna; e renuncie toda a esperança de ser capaz de salvar a si mesmo. Seja esta toda a sua esperança: ser lavado no sangue de Jesus Cristo, e purificado pelo Seu Espírito, 'que apagou' todos 'os seus pecados, em seu próprio corpo sobre o madeiro'. E, se você sabe que Ele levou embora todos os seus pecados, tanto mais humilhe a si mesmo, diante Dele, em um contínuo senso de sua dependência total Nele, para  todo bom pensamento, e palavra, e obra; e de sua extrema incapacidade para todo bem, a menos que Ele 'o preencha a todo o momento'.  

7. Agora, lamente por seus pecados, e murmure em busca de Deus, até que ele transforme a sua aflição em alegria. E, mesmo então, lamente com aqueles que lamentam; e por aqueles que lamentam, não por si mesmos. Murmure pelos pecados e misérias da humanidade; e veja, bem diante de seus olhos, o oceano imenso da eternidade, sem fundo e sem margem, que já tem tragado milhões e milhões de homens, e está abrindo uma brecha para devorar aqueles que ainda permanecem! Veja aqui, a casa de Deus, eterna nos céus! E lá, o inferno e a destruição, sem uma cobertura – e,  por esta razão, aprenda a importância de todo momento, que apenas surge, e se vai para sempre!

8. Agora acrescente à sua seriedade, mansidão de sabedoria. Mantenha até mesmo uma gradação em todas as suas paixões, mas em particular, na ira, tristeza e medo. Calmamente, consinta, no que quer que seja a vontade de Deus. Aprenda, em todo o estado em que você se encontra, com o que estar satisfeito. Seja meigo com o bom: Seja gentil, em direção a todos os homens; mas, especialmente, em direção ao maldoso e ingrato. Cuide, não apenas das expressões exteriores de raiva, como chamar seu irmão, raca, ou tolo; mas de toda emoção interior contrária ao amor, embora ela não vá mais além do que o coração. Fique indignado, diante do pecado, como uma afronta oferecida à Majestade do céu; mas, ainda assim, ame o pecador: Como nosso Senhor, que 'olhou indignado para os fariseus a sua volta, estando aflito, por causa da dureza de seus corações'. Ele estava aflito pelos pecadores, e irado diante do pecado. Portanto, esteja 'indignado, e não peque!'.

9. Agora, estejam famintos e sedentos, não pela 'carne que perece, mas pelo que dura a vida eterna'. Pisoteie o mundo, e as coisas do mundo; todas essas riquezas, honras, e prazeres. O que é o mundo para você? Deixe que os mortos enterrem seus mortos; mas siga em busca da imagem de Deus. Abstenha-se de extinguir aquela sede abençoada, se ela já excitou a sua alma, pelo que é vulgarmente chamado religião; um pobre e estúpido disfarce; a religião da forma, da mostra exterior, que deixa o coração ainda apegado ao pó; tão mundano e sensual, como nunca. Que nada satisfaça a você, a não ser o poder da santidade; a não ser a religião, que é espírito e vida; o habitar em Deus, e Deus em você; o ser um habitante da eternidade; o entrar, através do sangue do aspergido 'sem máscara', e 'sentando-se em lugares celestiais com Jesus Cristo!'.

            10. Agora, vendo que você tudo pode, porque Cristo o fortalece, seja misericordioso como seu Pai que está no céu é misericordioso! Ame ao seu próximo como a si mesmo! Ame seus amigos e inimigos como a sua própria alma! E permita que o seu amor seja longânime e paciente em direção a todos os homens. Que ele seja gentil, delicado, benigno; inspirando você com a doçura mais amável, e a mais fervorosa e terna afeição. Que ele se regozije na verdade, onde quer que ela seja encontrada; a verdade que está em busca da santidade. Desfrute do que quer que traga a glória para  Deus, e promova a paz e a boa-vontade entre os homens. No amor, cubra todas as coisas, -- do morto e do ausente não fale coisa alguma, a não ser o que é bom; creia em todas as coisas que, de alguma forma, possa limpar o caráter de seu próximo; espere todas as coisas em seu favor; e suporte todas as coisas, triunfando sobre toda oposição: porque o amor verdadeiro nunca falha, no tempo, ou na eternidade.

            11. Agora, seja puro de coração; purificado, através da fé, de toda afeição não santa; 'limpando a si mesmo de toda sujidade da carne e espírito; e aperfeiçoando a santidade no temor de Deus'. Sendo, através do poder de sua graça, purificado do orgulho, pela profunda pobreza de espírito; da ira, de toda paixão indelicada e turbulenta, pela humildade e misericórdia; de todo desejo, a não ser o de agradar e satisfazer a Deus, pela fome e sede de justiça; agora, ame ao Senhor seu Deus, com todo o seu coração, e com todas as suas forças!. 

12. Em uma palavra: Que sua religião seja a religião do coração. Que ela se estenda profundamente, no mais íntimo de sua alma. Seja pequeno, comum, insignificante e vil (além do que as palavras possam expressar) aos seus próprios olhos; maravilhado e humilhado ao pó, pelo amor de Deus que está em Jesus Cristo. Seja sério. Permita que todo o fluxo de seus pensamentos, palavras e ações fluam da mais profunda convicção de que você se situa na beira do grande abismo – você, e todos os filhos dos homens, prontos para caírem, tanto na glória eterna, quanto no fogo eterno! Permita que sua alma seja preenchida com mansidão, gentileza, paciência, longanimidade, em direção a todos os homens; -- ao mesmo tempo, tudo que esteja em você seja sedento de Deus, do Deus vivo; desejando acordar em busca de sua semelhança, e estar satisfeito com ela! Seja um amante de Deus e de toda a humanidade! Em seu espírito faça e sofra todas as coisas. Assim, mostre a sua fé, através de suas obras; assim, 'faça a vontade de seu Pai que está nos céus!'. E, assim, como é certo que agora você caminha com Deus na terra, você também reinará com Ele na glória!



[Editado por Debi Carter, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]


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