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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Os primeiros Frutos do Espírito



John Wesley

'Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Jesus Cristo, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito'.  (Romanos 8:1)


1. Por 'aqueles que estão em Cristo', Paulo evidentemente quis dizer, aqueles que verdadeiramente acreditam nele; os quais 'sendo justificados pela fé, têm paz com Deus, através de nosso Senhor Jesus Cristo'. Aqueles que assim acreditam que não mais 'caminham pela carne'. Aqueles que não mais seguem os movimentos da natureza corrupta, mas 'seguem o Espírito'; tanto seus pensamentos e palavras, quanto em obras, estão debaixo da direção do Espírito abençoado de Deus.

2. 'Existe, entretanto, agora, nenhuma condenação', nesses. Não existe condenação para eles, vinda de Deus; porque ele os tem justificado 'livremente pela sua graça, através da redenção que está em Jesus'. Ele tem esquecido todas as iniqüidades deles, e apagado todos os seus pecados. E não existe condenação para eles disso; porque eles 'têm recebido, não o espírito do mundo, mas o Espírito o qual está em Deus; para que eles saibam as coisas que são dadas livremente, para eles, de Deus' (I.Cor. 2:12); que o Espírito 'testemunha com seus espíritos, que eles são filhos de Deus'. E para isto, é acrescentado o testemunho de suas próprias consciências, 'que, na simplicidade e sinceridade santa, não com a sabedoria da carne, mas pela graça de Deus, eles têm sua conversa no mundo'. (II Cor.1:12)

3. Mas, porque essa Escritura tem sido, tão freqüentemente mal entendida, e de maneira tão perigosa; uma vez que tal quantidade de 'homens ignorantes e inseguros' (homens ignorantes de Deus, e conseqüentemente não estabelecidos na verdade que busca a santidade) têm forjado isto, para sua própria destruição; eu proponho mostrar , tão claramente, quanto eu puder, primeiro, 'aqueles que estão em Jesus Cristo', e 'caminham, não pela carne, mas pelo Espírito'; e, segundo, como 'não existe condenação'  para esses. Eu devo concluir com algumas inferências práticas.  

I

(1) Primeiro, eu vou mostrar, aqueles que 'estão em Jesus Cristo'. E eles não são aqueles que acreditam em seu nome? Aqueles que são 'encontrados nele, não tendo a própria retidão, mas a retidão que é de Deus pela fé?. Esses que 'têm redenção, através de seu sangue', são propriamente ditos que 'estão nele'; já que eles habitam em Cristo, e, Cristo, neles. Eles estão unidos junto a Deus, em um só Espírito. Eles estão enxertados nele, como galhos na videira. Eles estão unidos, como seus membros à própria cabeça, de uma maneira, que as palavras não podem expressar; nem seus corações poderiam conceber anteriormente.

(2) Agora, 'quem quer que habite Nele, não peca'; 'não caminha pela carne'. A carne, é a linguagem usual de Paulo, que significa natureza corrupta. Nesse sentido, ele usa a palavra, escrevendo para os Gálatas: (Gal. 5:19) 'Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia'; e um pouco depois, 'andais no Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne' (ou desejo) 'da carne' (verso 16). Para provar isto, ou seja, que aqueles que 'caminham pelo Espírito', não 'cumprem o desejo da natureza corrupta', ele imediatamente acrescenta: 'Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne (já que eles são antagônicos, um ao outro); e estes se opõem um ao outro; para que não façais o que quereis'.

(3) Eles que são de Cristo, que habitam nele, 'têm crucificado a carne com suas afeições e luxúrias'. Eles se abstêm de todas as obras da carne;  do 'adultério e fornicação'; da 'impureza e lascívia';  da 'idolatria, sedução, ódio, discrepância'; das 'emulações, ira, contenda, sedição, heresias, sentimentos de inveja, assassinatos, bebedeiras, esbanjamentos'; de todo desígnio, e palavra, e obra, para os quais a natureza corrupta conduz. Embora eles sintam a raiz da amargura, em si mesmos, ainda assim, eles sejam dotados do poder do alto, para pisotearem-na continuamente, a fim de que não possa 'florescer para preocupá-los'; de tal maneira, que  toda nova agressão, que eles suportam, traga-lhes oportunidades renovadas de louvarem, clamando, 'Graças seja dada a Deus, que nos deu a vitória, através de Jesus Cristo, nosso Senhor'. 

(4) Eles agora 'caminham pelo Espírito', tanto em seus corações, quanto em suas vidas. Eles aprendem dele a amar a Deus e ao seu próximo, como o amor que é como  'nascente de água, brotando para a vida eterna'.  E, por ele, eles são conduzidos para cada desejo santo, para cada temperamento divino e celestial, até que cada pensamento que surja, em seu coração, seja santidade para o Senhor.

(5) Eles que 'caminham pelo Espírito', são também conduzidos por ele para todas as conversas santas. Seus 'discursos são sempre na graça, temperados com sal';  com o amor e temor de Deus. 'Nenhuma comunicação corrupta surja de sua boca; mas apenas aquela que seja boa'; aquela que seja 'usada para edificar'; que seja 'encontrada para ministrar graça para os ouvintes'. E, nisso, igualmente, eles exercitem a si mesmos, dia e noite, a fazer apenas as coisas que agradam a Deus; em todo o comportamento exterior deles, seguir a ele, 'que nos deixou um exemplo, para que trilhemos seus passos'; em todo o intercurso deles com seu próximo, caminhar na justiça, misericórdia e verdade; e o que quer que façam', em qualquer circunstância da vida, 'façam tudo para a glória de Deus'.

(6) Esses são aqueles que, realmente, 'caminham no Espírito'. Sendo preenchidos com a fé e com o Espírito Santo, eles possuem em seus corações, e mostram adiante em suas vidas, em todo o curso de suas palavras e ações, os frutos genuínos do Espírito de Deus, ou seja, 'amor, alegria, paz, longanimidade, gentileza, bondade, fidelidade, mansidão, temperança', e o que mais seja amoroso ou louvável. 'Eles adornem em todas as coisas o Evangelho de Deus, nosso Salvador';  e dêem provas completas para toda a humanidade, que eles estão realmente atuando pelo mesmo Espírito 'que ergueu Jesus dos mortos'.

II

(1) Eu proponho mostrar, em Segundo lugar, como 'não existe condenação para eles que'  assim 'estão em Jesus Cristo',  e, dessa forma, 'não caminham segundo a carne, mas segundo o Espírito'.

E, primeiro, para os que crêem em Cristo, caminhando assim, 'não existe condenação' sobre o relato de seus pecados passados. Deus não os condena por qualquer um desses; eles são como se nunca tivessem existido; são 'como uma pedra nas profundezas do mar', e ele não se lembra mais deles. Deus, tendo 'enviado seu Filho para ser a expiação deles, através da fé em seu sangue', tem declarado junto a eles, 'sua retidão para a remissão dos pecados já cometidos'. Ele não mais os responsabiliza por qualquer um desses pecados; a memória deles pereceu junto com eles.

(2) E não existe condenação em seu próprio peito; nenhum senso de culpa, ou pavor da ira de Deus. Eles  'têm o testemunho em si mesmos': eles estão conscientes do interesse deles no sangue aspergido. 'Eles não receberam novamente o espírito de escravidão, segundo o medo'; segundo a dúvida e a incerteza torturante; mas eles 'receberam o Espírito de adoção', clamando em seus corações, 'Abba, Pai'. Assim, sendo 'justificados pela fé', eles têm a paz de Deus dominando em seus corações; fluindo do contínuo senso de sua misericórdia redentora, e 'a resposta da boa consciência em direção a Deus'.

(3) Se for dito: "Mas algumas vezes o crente em Cristo pode perder sua vista da misericórdia de Deus; algumas vezes, tal escuridão pode cair sobre ele, de maneira que ele não mais vê a Ele que é invisível; não mais sente o testemunho em si mesmo, da sua parte no sangue reconciliador; e, então, ele está interiormente condenado; ele tem novamente 'a sentença da morte em si mesmo'". Eu respondo que, supondo que seja assim; supondo que ele não veja a misericórdia de Deus. então, ele não é um crente: porque a fé implica luz; a luz de Deus, brilhando sobre a alma. Por conseguinte, assim como qualquer um perde essa vista, ele, naquele momento, perde sua fé. E, sem dúvida, um verdadeiro crente em Cristo pode perder a luz da fé; e, por quanto tempo ela esteja perdida, ele pode, durante um tempo, cair novamente na condenação. Mas isto não é o caso daquele que agora 'está em Cristo'; aquele que agora acredita em seu nome. E, por quanto tempo ele acreditar, e caminhar, segundo o Espírito, nem Deus, nem seu próprio coração o condenam.

(4) Eles não estão condenados, em segundo lugar, por algum pecado presente, por agora transgredirem os mandamentos de Deus. Porque eles não os transgride: eles não mais 'caminham, segundo a carne, mas segundo o Espírito'. Esta é a contínua prova do 'amor deles a Deus; a de que eles mantêm seus mandamentos'; assim como João testemunha: 'Quem quer que seja nascido de Deus, não comete pecado. Já que sua semente permanece nele, e ele não pode pecar, porque é nascido de Deus': ele não pode, por quanto tempo aquela semente de Deus, aquela fé amorosa e santa permanecer nele. Por quanto tempo 'ele se mantiver' nela, o diabo não o tocará'. Agora é evidente que ele não está condenado pelos pecados que ele não cometeu, afinal. Eles, por conseguinte, que são assim 'guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei' (Gal. 5:18): não debaixo da maldição ou condenação dela; já que ela não condena, a não ser aqueles que a rompem. Assim sendo, aquela lei de Deus 'Não furtarás', não condena, a não ser aquele que furta. Assim sendo, 'lembre-se do dia do Senhor, e mantenha-no santo', condena somente aqueles que não mantém o dia do Senhor santo. Mas contra os frutos do Espírito 'não existe lei'(Gal. 5:23); como o apóstolo mais claramente declara, naquelas palavras memoráveis de sua primeira Epístola a (Timóteo 1:8-11) 'Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; sabendo isto' (se, enquanto ele usa a lei de Deus, com o objetivo de tanto convencer, quanto dirigir, ele sabe e se lembra disso): 'que a lei não é feita para o justo': Ela não tem força contra ele, nenhum poder para condená-lo; 'mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina, conforme o evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi confiado'.

(5) Eles não estão condenados, em terceiro lugar, pelo pecado interior, desde que eles não permaneçam. Que a corrupção da natureza não permaneça, mesmo naqueles que são os filhos de Deus pela fé; que eles tenham neles as sementes do orgulho e presunção, da ira, luxúria, e desejos maus; sim, pecado de toda a espécie; é muito claro, para ser negado, sendo motivo de experiência diária. E sobre esse relato é que Paulo, falando para aqueles a quem lê tinha justamente testemunhado estarem 'em Cristo', (I Cor. 1:2,9) 'Aos santificados, em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que, em todo lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo; Senhor deles e nosso... Fiel é Deus, pelo qual vós fostes chamados, para a comunhão de seu filho Jesus Cristo, nosso Senhor'; ainda declara, em (I Cor. 3:1) 'E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo': 'bebês em Cristo';  então nós vemos que eles estavam 'em Cristo'; eles eram crentes em um grau menor. E, ainda assim, quanto pecado permanece neles! Daquele 'mente carnal, que não é sujeita á lei de Deus!'.

(6) E, ainda assim, por tudo isto, eles não são condenados. Embora eles sintam a carne; a natureza do mal neles; embora eles estejam dia a dia mais conscientes de que 'seus corações são enganosos e desesperadamente maus'; ainda assim, por quanto tempo eles não se entregarem a isto; por quanto tempo eles não derem lugar ao diabo; por quanto tempo eles guerrearem continuamente contra todo o pecado, ira, e desejo, a fim de que a carne não tenha domínio sobre eles, mas que eles ainda 'caminhem segundo o Espírito'; 'não existirá condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus'.  Deus está satisfeito com a obediência sincera, embora imperfeita, deles; e eles 'têm confiança em direção a Deus', sabendo que eles são dele, 'pelo Espírito que tem sido dado a eles' (I João 3:24) 'E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós: pelo Espírito que nos tem dado'.

(7) Além disso, em quarto lugar, embora eles estejam continuamente convencidos do pecado, aderindo a tudo que eles fazem; embora eles estejam conscientes de não cumprirem a lei perfeita, tanto em seus pensamentos, palavras ou obras; embora eles saibam que eles não amam ao Senhor seu Deus, com todo seu coração, e mente, e alma, e forças; embora eles sintam mais ou menos o orgulho, ou  obstinação, furtando e misturando-se com suas melhores obrigações; embora até mesmo em seus mais imediatos intercursos com Deus, quando eles se reúnem com a grande congregação, e quando eles derramam suas almas em segredo para ele, que vê todos os pensamentos e intenções do coração, eles estejam continuamente envergonhados de seus pensamentos errantes, ou do entorpecimento e  insensibilidade de suas afeições; ainda assim, não existe condenação para eles, tanto de Deus, quanto de seus corações. A consideração desses múltiplos defeitos apenas dá a eles um senso mais profundo de que eles têm sempre a necessidade daquele sangue aspergindo, que fala por eles, nos ouvidos de Deus, e que Advoga, junto ao Pai, e 'que vive para interceder por eles'. Tão longe, esses estão de conduzi-los para longe daquele, em quem eles têm acreditado, que eles os dirigem, para mais perto de quem eles sentem a necessidade, a todo o momento. E, ao mesmo tempo em que eles têm a sensação mais profunda dessa necessidade, eles sentem o desejo mais sincero, e estão mais diligentes, como se eles 'tivessem recebido o Senhor Jesus, para assim caminhar nele'.

(8) Eles não são condenados, em quinto lugar, por seus pecados de enfermidades, como eles são usualmente chamados. Talvez, fosse mais aconselhável, ao chamá-los de enfermidades: que nós não pareçamos dar a eles alguma semelhança de pecado; ou minorá-los, em qualquer grau; por estarmos assim os acoplando com alguma enfermidade. Mas (se nós devemos reter tal expressão ambígua e perigosa), pelos pecados de enfermidade, eu poderia significar, tais quedas involuntárias, como dizer uma coisa, que acreditamos seja verdadeira, mas que, de fato, é provado tratar-se de uma coisa falsa.; ou magoar nosso próximo, sem saber, ou desejar isto; talvez, quando nós queiramos ter feito bem a ele. Embora esses sejam desvios da santidade, e da aceitável e perfeita vontade de Deus; ainda assim eles não são propriamente pecados; nem tragam quaisquer culpas na consciência 'daqueles que estão em Cristo'. Eles não causam a separação entre Deus e eles; nem intercepta a luz de seu semblante; por não ser, de maneira alguma, inconsistente com seu caráter geral de 'caminhar, não segundo a carne, mas segundo o Espírito'.

(9) Por ultimo. "Não existe condenação para eles, naquilo que não está em poder deles ajudarem; se de natureza interior ou exterior; se, por fazer alguma coisa, ou  por deixá-la sem ser feita. Por exemplo, na Ceia do Senhor a ser administrada; e na qual você não toma parte. Por que não? Porque você está confinado pela doença; por conseguinte, você não pode ajudar, omitindo-se dela; e, pela mesma razão, não pode ser condenado. Não existe culpa, já que não existe escolha. Como 'existe uma mente desejosa', é aceito, de acordo, como aquele quis ajudar; e não, de acordo, com aquele homem que não pretendeu isto". 

(10) Um crente, de fato, pode, algumas vezes, afligir-se, porque ele não pode fazer o que sua alma espera; Ele pode clamar, quando ele fica impedido de adorar a Deus na grande congregação, 'como o veado ofegando, em busca da água do riacho, assim ofega minha alma em busca de Ti, Ó Deus. Minha alma está sedenta por Deus; pelo Deus vivo: Quando deverei aparecer na presença de Deus?'. Ele pode honestamente desejar (apenas dizendo em seu coração, 'Não como eu quero, mas como Tu queres') 'ir novamente com a multidão, e levá-los adiante até a casa de Deus'. Mas ainda, se ele não pode ir, ele não sente condenação; nenhuma culpa; nenhum senso do desagrado de Deus; mas pode alegremente revelar aqueles desejos com, 'Ó, minha alma, põe tua confiança em Deus! porque eu ainda irei dar graças a Ele, que é a graça de meu semblante, e meu Deus'.

(11) É mais difícil determinar com respeito àqueles que são usualmente intitulados pecados da emoção; como quando alguém, que comumente possui uma alma paciência, de repente, numa subida e violenta tentação, fale ou aja, de uma maneira não consistente com a lei real, 'Tu deves amar teu próximo, como a ti mesmo'.  Talvez, não seja fácil fixar uma regra geral, concernente às transgressões dessa natureza. Nós não podemos dizer que estes homens estão ou não estão condenados pelos pecados da emoção em geral; mas parece que, sempre que um crente, é dominado pela emoção, em uma falta, há mais ou menos condenação, tanto quanto exista, mais ou menos, a ocorrência de sua vontade. Em proporção, como um desejo pecaminoso, ou palavra, ou ação são mais ou menos voluntários, então, nós podemos conceber que Deus está mais ou menos insatisfeito, e que existe mais ou menos culpa em nossa alma. 

(12) Mas, se for assim, então devem existir alguns pecados da emoção, que trazem muita culpa e condenação. Porque, em algumas instâncias, nossa emoção é devido a alguns descuidos obstinados e culpáveis; ou, devido ao adormecimento da alma, o que poderia ser sido prevenido, ou lançado fora, antes que a tentação viesse. Um homem pode ser previamente advertido, tanto por Deus, quanto pelo homem, que tentações e perigos estão à mão. Agora, se tal pessoa, mais tarde, cai, embora, sem querer, nas armadilhas que deveriam ter sido evitadas — que ele tenha caído, sem querer, não é desculpa; ele deveria ter previsto e ter evitado o perigo. A queda, mesmo por emoção, em tal caso como este, é, em efeito, um pecado obstinado; e, como tal, deve expor o pecador à condenação, tanto de Deus, assim como de sua própria consciência.

(13) Por outro lado, devem existir algumas emoções repentinas, tanto do mundo, ou do deus desse mundo, e freqüentemente de nossos próprios corações diabólicos, que não podemos, e dificilmente poderemos prever. E por causa desses, mesmo um crente, enquanto fraco na fé, pode ser possivelmente sobrepujado, supõe-se nos degraus da ira, pensando mal de outro, com escassa concorrência de sua vontade. E, em tal caso, o  zeloso Deus poderia, indubitavelmente, mostrar a ele o que ele teria feito tolamente. Ele seria convencido de ter desviado da lei perfeita, da mente que estava em Cristo, e, conseqüentemente, afligido com a tristeza divina, e ser amorosamente envergonhado, diante de Deus. Ainda assim, ele não viria para a condenação. Deus não deitaria insensatez à sua responsabilidade, mas teria compaixão dele, 'assim como um pai se apieda de seus próprios filhos'. E seu coração não o condenaria: no meio desta tristeza e vergonha, ele ainda pode dizer, 'Eu irei confiar, e não temerei, porque o Senhor Jeová é minha força, e minha canção; ele também é minha salvação'.

III

(1) Resta apenas esboçar algumas inferências práticas das considerações precedentes. E, primeiro, se 'não há condenação naqueles que estão em Cristo', e que 'caminham, não segundo a carne, mas segundo o Espírito', em consideração por seus pecados passados; então, por que tu estás temeroso, Ó homem de pouca fé? Embora teus pecados tenham sido em número maior do que as areias, o que é isto para ti, agora que tu estás em Cristo Jesus? 'Quem poderá deitar alguma coisa para a responsabilidade dos eleitos de Deus? É se Deus justificou, quem irá condená-los?'. Todos os pecados que tu tens cometido, desde a tua juventude, até o momento em que tu foste 'aceito no Amado', são arrancados, assim como o joio; terão passado; estarão perdidos; tragados pelas profundezas, e não mais relembrados. Tu és agora 'nascido do Espírito': por acaso estás preocupado ou temeroso daquilo que foi feito antes que tiveste nascido? Fora com o medo! Tu não foste chamado para temer, mas para o 'espírito do amor e de uma mente sã'. Saibas teu chamado! Regozija-te em Deus, teu Salvador, e dá graças ao Deus, teu Pai, através Dele! 
(2) Você irá dizer, 'Mas eu tenho novamente cometido pecado, desde que eu tive a redenção através de Seu sangue. E, portanto, eu abomino a mim mesmo, e me reduzo a cinzas'. É apropriado que você possa abominar a si mesmo; e é Deus quem tem forjado esse mesmo sentimento em você. Mas e agora, você acredita? Tem Ele capacitado você a dizer, 'Eu vivo pela fé, no Filho de Deus?'. Então, aquela fé cancela novamente tudo que é passado, e não existe condenação em você. A qualquer tempo, que você verdadeiramente acreditar, no nome do Filho de Deus, todos os seus pecados, antecedentes àquela hora, desaparecerão, como o orvalho da manhã. Assim sendo, 'esteja de pé, firme, na liberdade, por meio da qual Cristo o tem liberto'.  Ele, mais uma vez, o fez livre do poder do pecado, tanto quanto da culpa e punição dele. Ó, 'não se emaranhe novamente com o jugo da escravidão!' —nem a escravidão vil e diabólica do pecado; dos desejos maus; dos temperamentos maus, ou palavras ou obras; o jugo mais grave deste lado do inferno; nem a escravidão da dependência, e medo torturante, da culpa e autocondenação.

(3) Mas, em segundo lugar,  todos os que habitam 'em Cristo Jesus, não caminham, segundo a carne, mas segundo o Espírito?' Então, nós não podemos inferir que, quem quer que agora cometa pecado, não tenha parte ou porção nesse assunto. Ele está agora mesmo condenado pelo seu próprio coração. Mas 'se mesmo nosso coração nos condena', se nossa própria consciência dá testemunho que nós somos culpados, sem dúvida, Deus também o faz; já que Ele 'é maior do que nosso coração, e sabe todas as coisas';  de modo que, se nós podemos enganar a nós mesmos, certamente não poderemos enganar a Ele. E refletir antes, para não dizer, 'Eu fui justificado uma vez; meus pecados foram perdoados, de vez': Eu desconheço isto; nem irei discutir, se eles foram, ou não. Talvez, neste período de tempo, seja impossível  saber, com algum grau tolerável de certeza, se isto foi uma verdade, uma obra genuína de Deus, ou se você apenas ludibriou a sua própria alma. Mas de uma coisa eu sei, com o mais extremo grau de certeza, 'aquele que comete pecado, é do diabo'. Por conseguinte, você será como teu pai, o diabo. Isto não pode ser negado, já que a obra de seu pai, você faz. Não adule a si mesmo com esperanças vãs! Nem diga à sua alma, 'Paz, paz!', porque não existe paz. Clame alto! Clame junto a Deus, fora da profundeza; se, por acaso, ele pode ouvir sua voz. Venha até ele, como no princípio, como ignóbil e pobre; como pecador, miserável, cego e nu! E tome cuidado para que sua alma não tenha descanso, até que o amor redentor seja novamente revelado; até que ele 'cure sua apostasia',  e preencha você novamente com 'a fé que é operada pelo amor'.

(4) Em terceiro lugar, existe condenação para aqueles que 'caminham, segundo o Espírito', através da consciência do pecado interior que ainda permanece nele, à medida que eles não lugar para isso; nem através da consciência do pecado, penetrando em tudo que eles fazem? Não. Então, não se aflija, por causa da descrença, embora ela ainda permaneça em seu coração. Não lamente, porque você ainda não alcançou a gloriosa imagem de Deus; porque o orgulho, obstinação ou descrença penetram em todas as suas palavras e obras. E não tema saber todas essas maldades de seu coração; de conhecer a si mesmo, como você também é conhecido. Sim. Deseje de Deus, que você possa pensar de si mesmo, não mais excelentemente do que você deva pensar. Que sua oração contínua seja: 'Mostre-me, como minha alma pode suportar a profundidade do pecado inato. Toda incredulidade declare, e o orgulho que espreita nela'. E quando Ele ouvir sua oração, e desvendar seu coração; quando Ele lhe mostrar, totalmente, de que espírito você é feito; então, cuide para que sua fé não seja abalada; que você não sofra ao ver que essa proteção foi  arrancada de si.  Humilhe-se. Veja que você não é coisa alguma; que é menos do que nada. Mas, ainda assim, 'que seu coração não seja abalado, nem tema'. Mantenha-se firme: 'Nós, até mesmo nós, temos um advogado com o Pai —Jesus Cristo, a retidão'. E como os céus são mais altos do que a terra, então seu amor é maior do que até mesmo nossos pecados. Por conseguinte, Deus é misericordioso para com você, pecador! Tal pecador como você é! Deus é amor; e Cristo morreu, por você. Portanto, o Pai o ama! Você é seu filho! Assim sendo, não impeça você mesmo, de maneira alguma, o que é bom.  Não seria bom que todo aquele corpo de pecado, que está agora crucificado em ti, possa ser destruído? Pois, isto já foi feito! Você deve ser 'limpo de toda impureza, tanto da carne, quanto do espírito'. Não seria bom, que nada pudesse permanecer em seu coração, a não ser o amor puro de Deus somente? Ânimo! 'Você pode amar o senhor seu Deus, com todo seu coração, e mente, e alma e forças'. Fiel é Ele que tem prometido, e que também irá cumprir. Cabe-lhe, pacientemente, continuar na obra da fé; no trabalho do amor; na paz alegre; na confiança humilde; com calma e resignação, e, ainda assim, na expectativa sincera, esperando até que o zelo do Senhor dos povos possa executar isto.

(5) Em quinto lugar, se eles que 'estão em Cristo,  e 'caminham, segundo o Espírito', não são condenados pelos pecados de enfermidade; tanto quanto, por quedas involuntárias; nem por alguma coisa, que eles não sejam capazes de ajudar; então, tome cuidado, Ó tu que tens fé em Seu Sangue, para que Satanás, não obtenha vantagem sobre ti, nisto. Tu ainda és tolo e fraco; cego e ignorante. Mais fraco do que as palavras podem expressar; mais tolo do que seu coração pode conceber; sabendo nada do que deverias saber. E não permite que todas as tuas fraquezas e tolices; ou quaisquer frutos nelas, que tu não sejas capaz de evitar, abale tua fé, tua confiança filial em Deus, ou perturbe tua paz, ou alegria no Senhor.  A regra que alguns dão, para os pecados obstinados, e que, naquele caso, podem talvez ser perigosos, é sem dúvida sábia e segura, se ela pode ser aplicada apenas para o caso de fraqueza e enfermidades. Mesmo que tu caias, ó homem de Deus, não se deite lá, inquiete-se e lamente tua fraqueza; mas humildemente diga, 'Senhor, eu posso cair todo momento, a menos que tu me ampares com tua mão'. E, então, se levante, e caminhe! Siga em teu caminho!

(6) Finalmente; desde que um crente não precise vir para a condenação, mesmo assim, ele será surpreendido, naquilo que sua alma abomina; (supondo-se que ele, sendo surpreendido, não o seja devido a alguma omissão descuidada ou maldosa de si mesmo). Se você que acredita que seja assim dominado, na falta; então, afligido junto ao Senhor; este deve ser um bálsamo precioso. Derrame seu coração diante dele, e mostre a Ele as suas preocupações, e ore com toda a sua força para que Ele 'se sinta tocado com o sentimento de suas enfermidades'; para que ele possa equilibrar, fortalecer e estabelecer sua alma, e impedir você de cair de novo. Mas ainda assim, ele não o condenará. Então, por que motivo temer? Tu deves amar a Ele, como Ele ama a ti, e isto é suficiente; mais amor e força te serão dados. E, tão logo tu ames a Ele, com todo teu coração, tu deves ser perfeito e inteiro; não precisando de coisa alguma. 'Espera em paz, pelo momento,, quando o Deus da paz irá santificá-lo todo, de modo que todo teu espírito e alma e corpo possam ser preservados, sem culpa, quando da  vinda de nosso Senhor Jesus Cristo'.


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