John Wesley
'Portanto,
agora nenhuma condenação há para os que estão em Jesus Cristo, que não andam
segundo a carne, mas segundo o Espírito'. (Romanos 8:1)
1.
Por 'aqueles que estão em Cristo', Paulo evidentemente quis dizer,
aqueles que verdadeiramente acreditam nele; os quais 'sendo justificados
pela fé, têm paz com Deus, através de nosso Senhor Jesus Cristo'. Aqueles
que assim acreditam que não mais 'caminham pela carne'. Aqueles que não
mais seguem os movimentos da natureza corrupta, mas 'seguem o Espírito';
tanto seus pensamentos e palavras, quanto em obras, estão debaixo da direção do
Espírito abençoado de Deus.
2.
'Existe, entretanto, agora, nenhuma condenação', nesses. Não existe
condenação para eles, vinda de Deus; porque ele os tem justificado 'livremente
pela sua graça, através da redenção que está em Jesus'. Ele tem esquecido
todas as iniqüidades deles, e apagado todos os seus pecados. E não existe
condenação para eles disso; porque eles 'têm recebido, não o espírito do
mundo, mas o Espírito o qual está em Deus; para que eles saibam as coisas que
são dadas livremente, para eles, de Deus' (I.Cor. 2:12); que o
Espírito 'testemunha com seus espíritos, que eles são filhos de Deus'. E
para isto, é acrescentado o testemunho de suas próprias consciências, 'que,
na simplicidade e sinceridade santa, não com a sabedoria da carne, mas pela
graça de Deus, eles têm sua conversa no mundo'. (II Cor.1:12)
3.
Mas, porque essa Escritura tem sido, tão freqüentemente mal entendida, e de
maneira tão perigosa; uma vez que tal quantidade de 'homens ignorantes e
inseguros' (homens ignorantes de Deus, e conseqüentemente não estabelecidos
na verdade que busca a santidade) têm forjado isto, para sua própria
destruição; eu proponho mostrar , tão claramente, quanto eu puder, primeiro, 'aqueles
que estão em Jesus Cristo', e 'caminham, não pela carne, mas pelo
Espírito'; e, segundo, como 'não existe condenação' para esses. Eu devo concluir com algumas
inferências práticas.
I
(1)
Primeiro, eu vou mostrar, aqueles que 'estão em Jesus Cristo'. E eles
não são aqueles que acreditam em seu nome? Aqueles que são 'encontrados
nele, não tendo a própria retidão, mas a retidão que é de Deus pela fé?.
Esses que 'têm redenção, através de seu sangue', são propriamente ditos
que 'estão nele'; já que eles habitam em Cristo, e, Cristo, neles. Eles
estão unidos junto a Deus, em um só Espírito. Eles estão enxertados nele, como
galhos na videira. Eles estão unidos, como seus membros à própria cabeça, de
uma maneira, que as palavras não podem expressar; nem seus corações poderiam
conceber anteriormente.
(2) Agora, 'quem quer
que habite Nele, não peca'; 'não caminha pela carne'. A carne, é a
linguagem usual de Paulo, que significa natureza corrupta. Nesse sentido, ele
usa a palavra, escrevendo para os Gálatas: (Gal. 5:19) 'Porque as
obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia';
e um pouco depois, 'andais no Espírito e não cumprireis a concupiscência da
carne' (ou desejo) 'da carne' (verso 16). Para provar isto,
ou seja, que aqueles que 'caminham pelo Espírito', não 'cumprem o
desejo da natureza corrupta', ele imediatamente acrescenta: 'Porque a
carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne (já que eles são
antagônicos, um ao outro); e estes se opõem um ao outro; para que não façais o
que quereis'.
(3) Eles que são de Cristo, que habitam
nele, 'têm crucificado a carne com suas afeições e luxúrias'. Eles se
abstêm de todas as obras da carne; do 'adultério
e fornicação'; da 'impureza e lascívia'; da 'idolatria, sedução, ódio,
discrepância'; das 'emulações, ira, contenda, sedição, heresias,
sentimentos de inveja, assassinatos, bebedeiras, esbanjamentos'; de todo
desígnio, e palavra, e obra, para os quais a natureza corrupta conduz. Embora
eles sintam a raiz da amargura, em si mesmos, ainda assim, eles sejam dotados
do poder do alto, para pisotearem-na continuamente, a fim de que não possa 'florescer
para preocupá-los'; de tal maneira, que
toda nova agressão, que eles suportam, traga-lhes oportunidades
renovadas de louvarem, clamando, 'Graças seja dada a Deus, que nos deu a
vitória, através de Jesus Cristo, nosso Senhor'.
(4)
Eles agora 'caminham pelo Espírito', tanto em seus corações, quanto em
suas vidas. Eles aprendem dele a amar a Deus e ao seu próximo, como o amor que
é como 'nascente de água, brotando
para a vida eterna'. E, por ele,
eles são conduzidos para cada desejo santo, para cada temperamento divino e
celestial, até que cada pensamento que surja, em seu coração, seja santidade
para o Senhor.
(5) Eles que
'caminham pelo Espírito', são também conduzidos por ele para todas as
conversas santas. Seus 'discursos são sempre na graça, temperados com sal'; com o amor e temor de Deus. 'Nenhuma
comunicação corrupta surja de sua boca; mas apenas aquela que seja boa';
aquela que seja 'usada para edificar'; que seja 'encontrada para
ministrar graça para os ouvintes'. E, nisso, igualmente, eles exercitem a
si mesmos, dia e noite, a fazer apenas as coisas que agradam a Deus; em todo o
comportamento exterior deles, seguir a ele, 'que nos deixou um exemplo, para
que trilhemos seus passos'; em todo o intercurso deles com seu próximo,
caminhar na justiça, misericórdia e verdade; e o que quer que façam', em
qualquer circunstância da vida, 'façam tudo para a glória de Deus'.
(6) Esses são
aqueles que, realmente, 'caminham no Espírito'. Sendo preenchidos com a
fé e com o Espírito Santo, eles possuem em seus corações, e mostram adiante em
suas vidas, em todo o curso de suas palavras e ações, os frutos genuínos do
Espírito de Deus, ou seja, 'amor, alegria, paz, longanimidade, gentileza,
bondade, fidelidade, mansidão, temperança', e o que mais seja amoroso ou
louvável. 'Eles adornem em todas as coisas o Evangelho de Deus, nosso Salvador';
e dêem provas completas para toda a
humanidade, que eles estão realmente atuando pelo mesmo Espírito 'que ergueu
Jesus dos mortos'.
II
(1) Eu proponho
mostrar, em Segundo lugar, como 'não existe condenação para eles que' assim 'estão em Jesus Cristo', e, dessa forma, 'não caminham segundo a
carne, mas segundo o Espírito'.
E, primeiro,
para os que crêem em Cristo, caminhando assim, 'não existe condenação' sobre
o relato de seus pecados passados. Deus não os condena por qualquer um desses; eles
são como se nunca tivessem existido; são 'como uma pedra nas profundezas do mar',
e ele não se lembra mais deles. Deus, tendo 'enviado seu Filho para ser a
expiação deles, através da fé em seu sangue', tem declarado junto a eles, 'sua
retidão para a remissão dos pecados já cometidos'. Ele não mais os
responsabiliza por qualquer um desses pecados; a memória deles pereceu junto
com eles.
(2) E não existe
condenação em seu próprio peito; nenhum senso de culpa, ou pavor da ira de
Deus. Eles 'têm o testemunho em si
mesmos': eles estão conscientes do interesse deles no sangue aspergido. 'Eles
não receberam novamente o espírito de escravidão, segundo o medo'; segundo
a dúvida e a incerteza torturante; mas eles 'receberam o Espírito de adoção',
clamando em seus corações, 'Abba, Pai'. Assim, sendo 'justificados
pela fé', eles têm a paz de Deus dominando em seus corações; fluindo do
contínuo senso de sua misericórdia redentora, e 'a resposta da boa
consciência em direção a Deus'.
(3) Se for dito: "Mas
algumas vezes o crente em Cristo pode perder sua vista da misericórdia de Deus;
algumas vezes, tal escuridão pode cair sobre ele, de maneira que ele não mais
vê a Ele que é invisível; não mais sente o testemunho em si mesmo, da sua parte
no sangue reconciliador; e, então, ele está interiormente condenado; ele tem
novamente 'a sentença da morte em si mesmo'". Eu respondo que, supondo
que seja assim; supondo que ele não veja a misericórdia de Deus. então, ele não
é um crente: porque a fé implica luz; a luz de Deus, brilhando sobre a alma.
Por conseguinte, assim como qualquer um perde essa vista, ele, naquele momento,
perde sua fé. E, sem dúvida, um verdadeiro crente em Cristo pode perder a luz
da fé; e, por quanto tempo ela esteja perdida, ele pode, durante um tempo, cair
novamente na condenação. Mas isto não é o caso daquele que agora 'está em
Cristo'; aquele que agora acredita em seu nome. E, por quanto tempo ele
acreditar, e caminhar, segundo o Espírito, nem Deus, nem seu próprio coração o
condenam.
(4) Eles não estão
condenados, em segundo lugar, por algum pecado presente, por agora
transgredirem os mandamentos de Deus. Porque eles não os transgride: eles não
mais 'caminham, segundo a carne, mas segundo o Espírito'. Esta é a
contínua prova do 'amor deles a Deus; a de que eles mantêm seus mandamentos';
assim como João testemunha: 'Quem quer que seja nascido de Deus, não comete
pecado. Já que sua semente permanece nele, e ele não pode pecar, porque é
nascido de Deus': ele não pode, por quanto tempo aquela semente de Deus,
aquela fé amorosa e santa permanecer nele. Por quanto tempo 'ele se
mantiver' nela, o diabo não o tocará'. Agora é evidente que ele não
está condenado pelos pecados que ele não cometeu, afinal. Eles, por
conseguinte, que são assim 'guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei'
(Gal. 5:18): não debaixo da maldição ou condenação dela; já que ela não
condena, a não ser aqueles que a rompem. Assim sendo, aquela lei de Deus 'Não
furtarás', não condena, a não ser aquele que furta. Assim sendo, 'lembre-se
do dia do Senhor, e mantenha-no santo', condena somente aqueles que não
mantém o dia do Senhor santo. Mas contra os frutos do Espírito 'não existe
lei'(Gal. 5:23); como o apóstolo mais claramente declara,
naquelas palavras memoráveis de sua primeira Epístola a (Timóteo 1:8-11)
'Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; sabendo
isto' (se, enquanto ele usa a lei de Deus, com o objetivo de tanto
convencer, quanto dirigir, ele sabe e se lembra disso): 'que a lei não é
feita para o justo': Ela não tem força contra ele, nenhum poder para
condená-lo; 'mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores,
para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os
homicidas, para os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de
homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã
doutrina, conforme o evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi
confiado'.
(5) Eles não estão
condenados, em terceiro lugar, pelo pecado interior, desde que eles não
permaneçam. Que a corrupção da natureza não permaneça, mesmo naqueles que são
os filhos de Deus pela fé; que eles tenham neles as sementes do orgulho e
presunção, da ira, luxúria, e desejos maus; sim, pecado de toda a espécie; é muito
claro, para ser negado, sendo motivo de experiência diária. E sobre esse relato
é que Paulo, falando para aqueles a quem lê tinha justamente testemunhado
estarem 'em Cristo', (I Cor. 1:2,9) 'Aos santificados, em
Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que, em todo lugar, invocam o nome
de nosso Senhor Jesus Cristo; Senhor deles e nosso... Fiel é Deus, pelo qual
vós fostes chamados, para a comunhão de seu filho Jesus Cristo, nosso Senhor';
ainda declara, em (I Cor. 3:1) 'E eu, irmãos, não vos pude falar como
a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo': 'bebês em
Cristo'; então nós vemos que eles
estavam 'em Cristo'; eles eram crentes em um grau menor. E, ainda assim,
quanto pecado permanece neles! Daquele 'mente carnal, que não é sujeita á
lei de Deus!'.
(6) E, ainda assim,
por tudo isto, eles não são condenados. Embora eles sintam a carne; a natureza
do mal neles; embora eles estejam dia a dia mais conscientes de que 'seus
corações são enganosos e desesperadamente maus'; ainda assim, por quanto
tempo eles não se entregarem a isto; por quanto tempo eles não derem lugar ao
diabo; por quanto tempo eles guerrearem continuamente contra todo o pecado,
ira, e desejo, a fim de que a carne não tenha domínio sobre eles, mas que eles
ainda 'caminhem segundo o Espírito'; 'não existirá condenação para aqueles
que estão em Cristo Jesus'. Deus
está satisfeito com a obediência sincera, embora imperfeita, deles; e eles 'têm
confiança em direção a Deus', sabendo que eles são dele, 'pelo Espírito
que tem sido dado a eles' (I João 3:24) 'E aquele que guarda os
seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós:
pelo Espírito que nos tem dado'.
(7) Além disso, em
quarto lugar, embora eles estejam continuamente convencidos do pecado, aderindo
a tudo que eles fazem; embora eles estejam conscientes de não cumprirem a lei
perfeita, tanto em seus pensamentos, palavras ou obras; embora eles saibam que
eles não amam ao Senhor seu Deus, com todo seu coração, e mente, e alma, e
forças; embora eles sintam mais ou menos o orgulho, ou obstinação, furtando e misturando-se com suas
melhores obrigações; embora até mesmo em seus mais imediatos intercursos com
Deus, quando eles se reúnem com a grande congregação, e quando eles derramam
suas almas em segredo para ele, que vê todos os pensamentos e intenções do
coração, eles estejam continuamente envergonhados de seus pensamentos errantes,
ou do entorpecimento e insensibilidade
de suas afeições; ainda assim, não existe condenação para eles, tanto de Deus,
quanto de seus corações. A consideração desses múltiplos defeitos apenas dá a
eles um senso mais profundo de que eles têm sempre a necessidade daquele sangue
aspergindo, que fala por eles, nos ouvidos de Deus, e que Advoga, junto ao Pai,
e 'que vive para interceder por eles'. Tão longe, esses estão de
conduzi-los para longe daquele, em quem eles têm acreditado, que eles os
dirigem, para mais perto de quem eles sentem a necessidade, a todo o momento.
E, ao mesmo tempo em que eles têm a sensação mais profunda dessa necessidade,
eles sentem o desejo mais sincero, e estão mais diligentes, como se eles 'tivessem
recebido o Senhor Jesus, para assim caminhar nele'.
(8)
Eles não são condenados, em quinto lugar, por seus pecados de enfermidades,
como eles são usualmente chamados. Talvez, fosse mais aconselhável, ao
chamá-los de enfermidades: que nós não pareçamos dar a eles alguma semelhança
de pecado; ou minorá-los, em qualquer grau; por estarmos assim os acoplando com
alguma enfermidade. Mas (se nós devemos reter tal expressão ambígua e
perigosa), pelos pecados de enfermidade, eu poderia significar, tais quedas
involuntárias, como dizer uma coisa, que acreditamos seja verdadeira, mas
que, de fato, é provado tratar-se de uma coisa falsa.; ou magoar nosso próximo,
sem saber, ou desejar isto; talvez, quando nós queiramos ter feito bem a ele.
Embora esses sejam desvios da santidade, e da aceitável e perfeita vontade de
Deus; ainda assim eles não são propriamente pecados; nem tragam quaisquer
culpas na consciência 'daqueles que estão em Cristo'. Eles não causam a
separação entre Deus e eles; nem intercepta a luz de seu semblante; por não
ser, de maneira alguma, inconsistente com seu caráter geral de 'caminhar,
não segundo a carne, mas segundo o Espírito'.
(9)
Por ultimo. "Não existe condenação para eles, naquilo que não está em
poder deles ajudarem; se de natureza interior ou exterior; se, por fazer alguma
coisa, ou por deixá-la sem ser feita.
Por exemplo, na Ceia do Senhor a ser administrada; e na qual você não toma
parte. Por que não? Porque você está confinado pela doença; por conseguinte,
você não pode ajudar, omitindo-se dela; e, pela mesma razão, não pode ser
condenado. Não existe culpa, já que não existe escolha. Como 'existe uma mente
desejosa', é aceito, de acordo, como aquele quis ajudar; e não, de acordo, com
aquele homem que não pretendeu isto".
(10) Um
crente, de fato, pode, algumas vezes, afligir-se, porque ele não pode fazer o
que sua alma espera; Ele pode clamar, quando ele fica impedido de adorar a Deus
na grande congregação, 'como o veado ofegando, em busca da água do riacho,
assim ofega minha alma em busca de Ti, Ó Deus. Minha alma está sedenta por
Deus; pelo Deus vivo: Quando deverei aparecer na presença de Deus?'. Ele
pode honestamente desejar (apenas dizendo em seu coração, 'Não como eu
quero, mas como Tu queres') 'ir novamente com a multidão, e levá-los
adiante até a casa de Deus'. Mas ainda, se ele não pode ir, ele não sente
condenação; nenhuma culpa; nenhum senso do desagrado de Deus; mas pode
alegremente revelar aqueles desejos com, 'Ó, minha alma, põe tua confiança
em Deus! porque eu ainda irei dar graças a Ele, que é a graça de meu semblante,
e meu Deus'.
(11) É
mais difícil determinar com respeito àqueles que são usualmente intitulados
pecados da emoção; como quando alguém, que comumente possui uma alma paciência,
de repente, numa subida e violenta tentação, fale ou aja, de uma maneira não
consistente com a lei real, 'Tu deves amar teu próximo, como a ti mesmo'. Talvez, não seja fácil fixar uma regra geral,
concernente às transgressões dessa natureza. Nós não podemos dizer que estes
homens estão ou não estão condenados pelos pecados da emoção em geral; mas
parece que, sempre que um crente, é dominado pela emoção, em uma falta, há mais
ou menos condenação, tanto quanto exista, mais ou menos, a ocorrência de sua
vontade. Em proporção, como um desejo pecaminoso, ou palavra, ou ação são mais
ou menos voluntários, então, nós podemos conceber que Deus está mais ou menos
insatisfeito, e que existe mais ou menos culpa em nossa alma.
(12) Mas,
se for assim, então devem existir alguns pecados da emoção, que trazem muita
culpa e condenação. Porque, em algumas instâncias, nossa emoção é devido a
alguns descuidos obstinados e culpáveis; ou, devido ao adormecimento da alma, o
que poderia ser sido prevenido, ou lançado fora, antes que a tentação viesse.
Um homem pode ser previamente advertido, tanto por Deus, quanto pelo homem, que
tentações e perigos estão à mão. Agora, se tal pessoa, mais tarde, cai,
embora, sem querer, nas armadilhas que deveriam ter sido evitadas — que ele
tenha caído, sem querer, não é desculpa; ele deveria ter previsto e ter evitado
o perigo. A queda, mesmo por emoção, em tal caso como este, é, em efeito, um
pecado obstinado; e, como tal, deve expor o pecador à condenação, tanto de
Deus, assim como de sua própria consciência.
(13) Por outro lado,
devem existir algumas emoções repentinas, tanto do mundo, ou do deus desse
mundo, e freqüentemente de nossos próprios corações diabólicos, que não
podemos, e dificilmente poderemos prever. E por causa desses, mesmo um crente,
enquanto fraco na fé, pode ser possivelmente sobrepujado, supõe-se nos degraus
da ira, pensando mal de outro, com escassa concorrência de sua vontade. E, em
tal caso, o zeloso Deus poderia,
indubitavelmente, mostrar a ele o que ele teria feito tolamente. Ele seria
convencido de ter desviado da lei perfeita, da mente que estava em Cristo, e,
conseqüentemente, afligido com a tristeza divina, e ser amorosamente envergonhado,
diante de Deus. Ainda assim, ele não viria para a condenação. Deus não deitaria
insensatez à sua responsabilidade, mas teria compaixão dele, 'assim como um
pai se apieda de seus próprios filhos'. E seu coração não o condenaria: no
meio desta tristeza e vergonha, ele ainda pode dizer, 'Eu irei confiar, e
não temerei, porque o Senhor Jeová é minha força, e minha canção; ele também é
minha salvação'.
III
(1) Resta apenas
esboçar algumas inferências práticas das considerações precedentes. E,
primeiro, se 'não há condenação naqueles que estão em Cristo', e que 'caminham,
não segundo a carne, mas segundo o Espírito', em consideração por seus
pecados passados; então, por que tu estás temeroso, Ó homem de pouca fé? Embora
teus pecados tenham sido em número maior do que as areias, o que é isto para
ti, agora que tu estás em Cristo Jesus? 'Quem poderá deitar alguma coisa
para a responsabilidade dos eleitos de Deus? É se Deus justificou, quem irá
condená-los?'. Todos os pecados que tu tens cometido, desde a tua
juventude, até o momento em que tu foste 'aceito no Amado', são
arrancados, assim como o joio; terão passado; estarão perdidos; tragados pelas
profundezas, e não mais relembrados. Tu és agora 'nascido do Espírito': por
acaso estás preocupado ou temeroso daquilo que foi feito antes que tiveste
nascido? Fora com o medo! Tu não foste chamado para temer, mas para o 'espírito
do amor e de uma mente sã'. Saibas teu chamado! Regozija-te em Deus, teu
Salvador, e dá graças ao Deus, teu Pai, através Dele!
(2) Você
irá dizer, 'Mas eu tenho novamente cometido pecado, desde que eu tive a
redenção através de Seu sangue. E, portanto, eu abomino a mim mesmo, e me
reduzo a cinzas'. É apropriado que você possa abominar a si mesmo; e é Deus
quem tem forjado esse mesmo sentimento em você. Mas e agora, você acredita? Tem
Ele capacitado você a dizer, 'Eu vivo pela fé, no Filho de Deus?'. Então,
aquela fé cancela novamente tudo que é passado, e não existe condenação em
você. A qualquer tempo, que você verdadeiramente acreditar, no nome do Filho de
Deus, todos os seus pecados, antecedentes àquela hora, desaparecerão, como o
orvalho da manhã. Assim sendo, 'esteja de pé, firme, na liberdade, por meio da
qual Cristo o tem liberto'. Ele, mais uma
vez, o fez livre do poder do pecado, tanto quanto da culpa e punição dele. Ó,
'não se emaranhe novamente com o jugo da escravidão!' —nem a escravidão vil e
diabólica do pecado; dos desejos maus; dos temperamentos maus, ou palavras ou
obras; o jugo mais grave deste lado do inferno; nem a escravidão da
dependência, e medo torturante, da culpa e autocondenação.
(3) Mas, em segundo
lugar, todos os que habitam 'em
Cristo Jesus, não caminham, segundo a carne, mas segundo o Espírito?'
Então, nós não podemos inferir que, quem quer que agora cometa pecado, não
tenha parte ou porção nesse assunto. Ele está agora mesmo condenado pelo seu
próprio coração. Mas 'se mesmo nosso coração nos condena', se nossa
própria consciência dá testemunho que nós somos culpados, sem dúvida, Deus
também o faz; já que Ele 'é maior do que nosso coração, e sabe todas as
coisas'; de modo que, se nós podemos
enganar a nós mesmos, certamente não poderemos enganar a Ele. E refletir antes,
para não dizer, 'Eu fui justificado uma vez; meus pecados foram perdoados,
de vez': Eu desconheço isto; nem irei discutir, se eles foram, ou não.
Talvez, neste período de tempo, seja impossível
saber, com algum grau tolerável de certeza, se isto foi uma verdade, uma
obra genuína de Deus, ou se você apenas ludibriou a sua própria alma. Mas de uma
coisa eu sei, com o mais extremo grau de certeza, 'aquele que comete pecado,
é do diabo'. Por conseguinte, você será como teu pai, o diabo. Isto não
pode ser negado, já que a obra de seu pai, você faz. Não adule a si mesmo com
esperanças vãs! Nem diga à sua alma, 'Paz, paz!', porque não existe paz.
Clame alto! Clame junto a Deus, fora da profundeza; se, por acaso, ele pode
ouvir sua voz. Venha até ele, como no princípio, como ignóbil e pobre; como
pecador, miserável, cego e nu! E tome cuidado para que sua alma não tenha
descanso, até que o amor redentor seja novamente revelado; até que ele 'cure
sua apostasia', e preencha você
novamente com 'a fé que é operada pelo amor'.
(4) Em terceiro
lugar, existe condenação para aqueles que 'caminham, segundo o Espírito',
através da consciência do pecado interior que ainda permanece nele, à medida
que eles não lugar para isso; nem através da consciência do pecado, penetrando
em tudo que eles fazem? Não. Então, não se aflija, por causa da descrença,
embora ela ainda permaneça em seu coração. Não lamente, porque você ainda não
alcançou a gloriosa imagem de Deus; porque o orgulho, obstinação ou descrença
penetram em todas as suas palavras e obras. E não tema saber todas essas
maldades de seu coração; de conhecer a si mesmo, como você também é conhecido.
Sim. Deseje de Deus, que você possa pensar de si mesmo, não mais excelentemente
do que você deva pensar. Que sua oração contínua seja: 'Mostre-me, como
minha alma pode suportar a profundidade do pecado inato. Toda incredulidade
declare, e o orgulho que espreita nela'. E quando Ele ouvir sua oração, e
desvendar seu coração; quando Ele lhe mostrar, totalmente, de que espírito você
é feito; então, cuide para que sua fé não seja abalada; que você não sofra ao
ver que essa proteção foi arrancada de
si. Humilhe-se. Veja que você não é
coisa alguma; que é menos do que nada. Mas, ainda assim, 'que seu coração
não seja abalado, nem tema'. Mantenha-se firme: 'Nós, até mesmo nós,
temos um advogado com o Pai —Jesus Cristo, a retidão'. E como os céus são
mais altos do que a terra, então seu amor é maior do que até mesmo nossos
pecados. Por conseguinte, Deus é misericordioso para com você, pecador! Tal
pecador como você é! Deus é amor; e Cristo morreu, por você. Portanto, o Pai o
ama! Você é seu filho! Assim sendo, não impeça você mesmo, de maneira alguma, o
que é bom. Não seria bom que todo aquele
corpo de pecado, que está agora crucificado em ti, possa ser destruído? Pois,
isto já foi feito! Você deve ser 'limpo de toda impureza, tanto da carne,
quanto do espírito'. Não seria bom, que nada pudesse permanecer em seu
coração, a não ser o amor puro de Deus somente? Ânimo! 'Você pode amar o
senhor seu Deus, com todo seu coração, e mente, e alma e forças'. Fiel é
Ele que tem prometido, e que também irá cumprir. Cabe-lhe, pacientemente,
continuar na obra da fé; no trabalho do amor; na paz alegre; na confiança
humilde; com calma e resignação, e, ainda assim, na expectativa sincera,
esperando até que o zelo do Senhor dos povos possa executar isto.
(5) Em quinto lugar,
se eles que 'estão em Cristo, e 'caminham,
segundo o Espírito', não são condenados pelos pecados de enfermidade; tanto
quanto, por quedas involuntárias; nem por alguma coisa, que eles não sejam
capazes de ajudar; então, tome cuidado, Ó tu que tens fé em Seu Sangue, para
que Satanás, não obtenha vantagem sobre ti, nisto. Tu ainda és tolo e fraco;
cego e ignorante. Mais fraco do que as palavras podem expressar; mais tolo do
que seu coração pode conceber; sabendo nada do que deverias saber. E não
permite que todas as tuas fraquezas e tolices; ou quaisquer frutos nelas, que
tu não sejas capaz de evitar, abale tua fé, tua confiança filial em Deus, ou
perturbe tua paz, ou alegria no Senhor. A regra que alguns dão, para os pecados obstinados,
e que, naquele caso, podem talvez ser perigosos, é sem dúvida sábia e segura,
se ela pode ser aplicada apenas para o caso de fraqueza e enfermidades. Mesmo
que tu caias, ó homem de Deus, não se deite lá, inquiete-se e lamente tua
fraqueza; mas humildemente diga, 'Senhor, eu posso cair todo momento, a menos
que tu me ampares com tua mão'. E, então, se levante, e caminhe! Siga em teu
caminho!
(6) Finalmente;
desde que um crente não precise vir para a condenação, mesmo assim, ele será
surpreendido, naquilo que sua alma abomina; (supondo-se que ele, sendo
surpreendido, não o seja devido a alguma omissão descuidada ou maldosa de si
mesmo). Se você que acredita que seja assim dominado, na falta; então, afligido
junto ao Senhor; este deve ser um bálsamo precioso. Derrame seu coração diante
dele, e mostre a Ele as suas preocupações, e ore com toda a sua força para que
Ele 'se sinta tocado com o sentimento de suas enfermidades'; para
que ele possa equilibrar, fortalecer e estabelecer sua alma, e impedir você de
cair de novo. Mas ainda assim, ele não o condenará. Então, por que motivo
temer? Tu deves amar a Ele, como Ele ama a ti, e isto é suficiente; mais
amor e força te serão dados. E, tão logo tu ames a Ele, com todo teu coração,
tu deves ser perfeito e inteiro; não precisando de coisa alguma. 'Espera em
paz, pelo momento,, quando o Deus da paz irá santificá-lo todo, de modo que
todo teu espírito e alma e corpo possam ser preservados, sem culpa, quando
da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo'.
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