'Porque
a nossa glória é esta: o testemunho de nossa consciência, de que, com
simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de
Deus, temos vivido no mundo e maiormente convosco'. (II Cor. 1:12)
1. Tal
é a voz de cada crente verdadeiro em Cristo; por quanto tempo ele habite na fé
e amor. 'Aquele que me segue', diz nosso Senhor, 'não caminha na
escuridão': E, enquanto ele tem a luz, ele se regozija nela. Como ele tem 'recebido
o Senhor Jesus', então, ele caminha nele; e, enquanto ele caminha nele, a
exortação do Apóstolo toma lugar em sua alma, dia a dia, 'Regozije-se no
Senhor, sempre e, novamente, eu digo: Regozije-se'.
2.
Mas, para que não construamos nossa casa na areia, (a fim de que, quando a
chuva vier, e os ventos soprarem, e a correnteza se levantar e bater nela, ela
não caia, e grande seja sua queda nisto), eu pretendo mostrar, no discurso a
seguir, qual é a natureza e alicerce da alegria cristã. Nós sabemos, em geral,
que é aquela paz feliz; aquela satisfação calma do espírito, que se levanta de
tal testemunho de sua consciência. Como é aqui descrito pelo Apóstolo. Mas, com
o objetivo de compreender isto mais completamente, será necessário pesar todas
as suas palavras; de onde irá facilmente aparecer o que nós entendemos por
consciência, e o que compreendemos por testemunho dela; e, também, como ele,
que tem esse testemunho, se regozija, mais e mais.
3. Primeiro,
o que nós entendemos por consciência? Qual é o significado dessa palavra, que
está em todas as bocas? Alguém poderia imaginar que seja uma coisa
excessivamente difícil de descobrir, quando nós consideramos quão largo número
de volumes tem sido escrito, de tempos em tempos, sobre esse assunto; e como
todos os tesouros do conhecimento antigo e moderno têm sido esquadrinhados, a
fim de explicá-la. Ainda assim, é para se temer, que ela não tenha recebido
muita luz de todas essas investigações elaboradas. Será que, em vez disso, a
maioria desses autores não tem complicado a causa; 'obscurecendo as idéias,
através de palavras sem sabedoria'; trazendo confusão ao objeto, claro em
si mesmo, e fácil de ser entendido? Mesmo porque, todo homem que tiver um
coração honesto, logo irá entender do que se trata, deixando de lado apenas as
palavras mais difíceis.
4. Deus nos fez criaturas
pensantes; capazes de perceber o que é presente, e de refletir ou olhar para
trás no que já é passado. Em particular, nós somos capazes de perceber o que se
passa em nossos próprios corações ou vidas; de saber o que nós sentimos ou
fazemos; mesmo enquanto acontece; ou quando já se passou. É isto, o que
queremos dizer, quando afirmamos que o homem é um ser consciente. Ele tem uma
consciência; uma percepção interior; das coisas presentes e passadas, relativas
a si mesmo; ao seu próprio temperamento e comportamento exterior. Mas o que nós
usualmente denominamos consciência implica em alguma coisa mais
do que isto. Ela não é meramente o conhecimento de nosso presente, e a
lembrança de nossa vida precedente. Lembrar; dar testemunho, tanto do passado,
quanto das coisas presentes, é apenas uma, e a menor das tarefas da
consciência: Sua principal ocupação é desculpar ou acusar; aprovar ou
desaprovar; absolver ou condenar.
5.
Alguns dos recentes escritores, de fato, têm dado um novo nome para isto, e têm
escolhido compreendê-la em um sentido moral. Mas a antiga palavra parece
preferível à nova, por ser mais comum e familiar entre os homens, e, por
conseguinte, mais fácil de ser entendida. Para os cristãos é inegavelmente
preferível, por outro razão também, ou seja, porque é bíblica; porque é a
palavra, que a sabedoria de Deus tem escolhido usar nas escritos
inspirados.
E,
de acordo com o significado, em que geralmente ela é usada na Bíblia,
particularmente nas Epístolas de Paulo, nós podemos entender por consciência,
a faculdade ou poder, implantados por Deus, em toda a alma que vem ao mundo,
para perceber o que é certo ou errado em seu próprio coração ou vida; em seus
próprios temperamentos, pensamentos, palavras e ações.
6. Mas qual é a regra, por
meio da qual, os homens julgam o que é certo ou errado? Por meio do que suas
consciências são direcionadas? A regra dos pagãos, como o Apóstolo ensina em
outra parte, é 'a lei escrita em seus corações'; através do dedo de
Deus; 'suas consciências também testemunhando', quer caminhem por essa
regra ou não; 'e seus pensamentos o meio, enquanto acusando ou mesmo
desculpando'; absolvendo, defendendo a eles. Em (Romanos 2:14-15) 'Porque,
quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da
lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei
escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus
pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os'. Mas a regra cristã - de
certo e errado - é a palavra de Deus; os escritos do Velho e Novo Testamento;
todos os que os Profetas e 'homens santos do passado' escreveram, 'uma
vez que eles eram movidos pelo Espírito Santo'; todas aquelas Escrituras
que foram dadas, por inspiração de Deus, e que são, de fato, proveitosas para a
doutrina, ou ensinando toda a vontade de Deus; por reprovar o que é contrário a
isto; por correção ou erro; e por instrução; ou nos exercitando, na retidão. (II
Tim. 3:16) 'Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para
ensinar; para redargüir; para corrigir; para instruir em justiça'.
Esta
é uma lanterna nos pés de um cristão; e uma luz em todos os seus caminhos. Isto
somente ele recebe como sua regra de certo ou errado; do que quer que seja bom
ou mau. Ele nada considera bom, a não ser o que está aqui reunido, se
diretamente, ou através de conseqüência clara; ele nada considera como sendo
mau, a não ser o que aqui é proibido, se em termos, ou através de inferência
inegável. O que quer que as Escrituras, nem proíbem, nem ordenam, se
diretamente ou por conseqüência clara, ele acredita ser de natureza
indiferente; ser, em si mesma, nem bom, nem mau; isto sendo a totalidade ou a
regra exterior única, por meio da qual sua consciência deverá ser dirigida em
todas as coisas.
7.
E se ela
for dirigida, por meio disso, então, realmente ele tem 'a resposta da boa
consciência em direção a Deus'. A boa consciência é o que em outros lugares
é denominada pelo Apostolo de 'uma consciência, sem ofensa'. Assim, o
que ele, num determinado tempo expressa como, 'Eu tenho vivido, diante de
Deus, com toda a boa consciência, até esse dia' (Atos 23:1), ele
denota em outra, através daquela expressão, 'E, por isso, procuro sempre ter
uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus, como para com os homens' (Atos
24:16). Agora, com esse objetivo, é absolutamente requerido:
1o. Um correto entendimento da palavra de Deus, ou sua 'vontade
santa, aceitável, e perfeita', com respeito a nós, como é revelada nela. Já
que é impossível que caminhemos por uma regra, se nós não conhecemos os meios
para isto.
2o. Um conhecimento verdadeiro de nós mesmos (o que bem
poucos compreenderam!); um conhecimento de nossos corações e nossas vidas; ou
nossos temperamentos interiores, e conversas exteriores: Vendo que, se nós não
os conhecemos, não é possível que possamos compará-los com nossa regra.
3o. É requerida uma concordância de nossos corações e
vidas; ou de nossos temperamentos e conversas; nossos pensamentos; e palavras;
e obras, com aquela regra; com a palavra escrita de Deus. Já que, sem isto, se
nós tivermos alguma consciência afinal, ela poderá ser apenas uma má
consciência.
4o. Uma percepção
interior dessa concordância com nossa regra: E essa percepção habitual; essa
percepção interior, por si mesma, é necessariamente a boa consciência; ou, em
outra frase do Apóstolo, 'a consciência sem ofensa, para com Deus, e para
com os homens'.
8. Mas, quem quer que deseje ter uma consciência
assim, sem ofensa, que ele procure dispor do alicerce correto. E que se lembre
que, 'outro alicerce', como esse, 'homem algum pode estabelecer, além
do que já está disposto, equiparando-se a Jesus Cristo'. E que ele também
esteja atento, que nenhum homem construa nele, a não ser, através da fé; que
nenhum homem seja parceiro de Cristo, até que ele possa claramente testificar, 'A
vida que eu agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus'; nele que agora é
revelado no meu coração; aquele que 'me amou, e que se deu por mim'. Tão
somente a fé é aquela evidência; aquela convicção; aquela demonstração das
coisas invisíveis; por meio das quais os olhos de nosso entendimento são
abertos, e a luz divina é derramada sobre eles, e nós 'vemos as coisas
maravilhosas da lei de Deus'; sua excelência e pureza; sua altura,
profundidade, comprimento e largura, e todo o mandamento contido nela.
É
por meio da fé que, observando 'a luz da glória de Deus, na face de Jesus
Cristo', nós percebemos, como em um vidro, tudo o que existe em nós mesmos;
sim, os movimentos mais íntimos de nossas almas. E é somente através dela que
aquele amor abençoado de Deus pode ser 'espalhado em nossos corações';
capacitando-nos a, assim, amarmos uns aos outros, como Cristo nos amou. Através
dela, está aquela graciosa promessa cumprida a todo o Israel de Deus, (Hebreus
8:10) 'Porque este é o concerto que, depois daqueles dias, farei com a
casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no se entendimento, e em seu
coração as escreverei (ou imprimirei); e eu lhes serei por Deus, e eles
me serão por povo', produzindo em suas almas, por meio disto, uma completa
concordância com sua lei santa e perfeita, e 'trazendo para o cativeiro todo
pensamento para a a obediência de Cristo'.
E, como uma árvore má não pode
produzir bons frutos; então, uma árvore boa não pode produzir frutos maus. Como
o coração de um crente, por conseguinte, assim como sua vida, é completamente
amoldada à regra dos mandamentos de Deus; pela consciência disto, ele pode dar
glória a Deus, e dizer com o Apóstolo, 'Este é nosso regozijo,o testemunho
de nossa consciência, que na simplicidade e sinceridade divina; não com a
sabedoria da carne, mas através da graça de Deus, nós temos nossa conversa no
mundo'.
9.
'Nós temos nossa conversa': O Apóstolo, no original expressa isto
por uma simples palavra, cujo significa é excessivamente amplo, falando em toda
nossa conduta; sim, todas as circunstâncias interiores e exteriores; se
relativas à nossa alma ou nosso corpo. Ela inclui todo movimento de nosso
coração, de nossa língua, nossas mãos e membros corpóreos. Ela se estende a
todas as nossas ações e palavras; ao
emprego de todos os nosso poderes e faculdades; à maneira de usar cada talento
que temos recebido, com respeito tanto a Deus, como a homem.
10. 'Nós temos nossa conversa no
mundo'; mesmo
no mundo do descrente: Não apenas entre os filhos de Deus; (que são
comparativamente um número menor); mas em meio aos filhos do diabo; em meio
daqueles que jazem na maldade; em meio ao pecaminoso. Que mundo é este! Quão completamente
impregnado com o espírito, o mundo respira continuamente. Como nosso Deus é
bom, e faz o bem, então o deus do mundo e seus filhos são maus, e praticam o
mau (tanto quanto podem) a todos os filhos de Deus. Como o pai deles, eles
estão sempre esperando em emboscada; ou 'caminhando ao redor, buscando a
quem possam devorar'; usando de fraude ou força; astúcias secretas, ou
violência aberta, para destruírem aqueles que não são do mundo; continuamente
opondo-se à nossas almas, e através de armas novas e antigas; e conselhos de
todos os tipos; esforçando-se para trazê-las de volta para a armadilha do
diabo, para a estrada larga que conduz à destruição.
11.
'Nós temos tido nossa' completa 'conversação', em tal mundo, 'na
simplicidade e sinceridade santa'. Primeiro, na simplicidade: Isto é o
que nosso Senhor ordena, sob o nome de 'olho único'. 'A luz do
corpo', diz ele, 'é o olho. Se, por conseguinte, teu olho for um só,
todo seu corpo deverá estar cheio de luz'. O significado disto é que: O que
o olho é para o corpo, a intenção é para com todas as palavras e ações: Se,
portanto, esse olho de tua alma for único, todas as tuas ações e conversa
deverão estar 'cheias de luz', da luz dos céus, do amor, paz e alegria
no Espírito Santo.
Nós somos, então, simples de
coração, quando o olho de nossa mente está singularmente fixado em Deus; quando
em todas as coisas, nós direcionamos a Deus somente, nossa porção, nossa força,
nossa felicidade, nossa grande e excedente gratificação, tudo que é nosso, no
tempo e na eternidade. Esta é a simplicidade; quando o olho firme, uma intenção
singular de promover sua glória, de fazer, e suportar a sua abençoada vontade,
corre através de toda nossa alma, preenche nosso coração, e é a fonte constante
de todos os nossos pensamentos, desejos e propósitos.
12. 'Nós temos nossa conversa no mundo', Em Segundo Lugar, 'em
sinceridade santa'. A diferença entre simplicidade e sinceridade parece ser
principalmente esta: A simplicidade cuida a intenção, em si mesma; a
sinceridade, da execução dela; e essa sinceridade não diz respeito apenas às
nossas palavras, mas a toda nossa conversação, como descrito acima. Não deve
ser entendida aqui em seu sentido restrito, no qual o próprio Paulo a usa,
algumas vezes, falando a verdade, ou abstendo-se da fraude, da astúcia, e
dissimulação; mas, em um significado mais amplo, atingindo o objetivo que
almejamos, por meio da simplicidade. Concordantemente, aqui ela implica que
nós, de fato, façamos, e falemos tudo para a glória de Deus; que todas as nossas
palavras não estão apenas apontadas para isto, mas presentemente conduzem a
isto; que todas as nossas ações fluem dessa mesma correnteza, uniformemente
subserviente a essa grande finalidade; e que, em toda nossa vida, nós estamos
nos movendo direto em direção a Deus; e isto, continuamente; caminhando
firmemente na estrada da santidade; nos passos da justiça, misericórdia e
verdade.
13. Essa
sinceridade é denominada pelo Apóstolo, sinceridade santa, ou sinceridade
de Deus, para prevenir nosso engano, ou para não confundi-la com a
sinceridade dos pagãos (já que eles têm também uma espécie de sinceridade entre
eles, pela qual eles professam uma veneração nada pequena); igualmente para
denotar o objeto e a finalidade dela; como de toda virtude cristã, vendo que o
que quer que não se incline, enfim, para Deus; submerge em meio 'aos
elementos desprezíveis do mundo'. Por produzi-la de acordo com a
sinceridade de Deus, ele também aponta para o Autor dela, o 'Pai da luz, de
quem todo dom bom e perfeito provém'; o que é ainda mais claramente
declarado nas palavras que se segue, 'Não com a sabedoria da carne, mas
através da graça de Deus'.
14. 'Não
com a sabedoria da carne'. Como se ele tivesse dito: 'Nós não
podemos conversar, no mundo, através de alguma força natural de entendimento;
nem por meio de algum conhecimento e sabedoria naturalmente conseguidos. Nós
não podemos obter essa simplicidade, ou praticar essa sinceridade, tanto pela
força do bom senso, boa natureza, quanto boas maneiras. Elas excedem toda nossa
coragem e resolução natural; assim como todos nossos preceitos de filosofia. O
poder do comportamento não é capaz de nos preparar para isto; nem as regras
humanas mais extraordinárias. Nem poderia eu, Paulo, alguma vez alcançar isto,
não obstante todas as vantagens que eu desfrutei, por quanto tempo eu estive na
carne, em meu estado natural, e a procurava apenas através da sabedoria mundana
e natural'.
Ainda assim, se algum homem pudesse,
certamente, o próprio Paulo teria alcançado isto, através daquela sabedoria:
Uma vez que nós dificilmente poderemos conceber alguém, que tivesse sido mais
altamente favorecido, com todos os dons naturais e de educação. Além dessas
habilidades naturais, provavelmente não inferiores àquelas de qualquer pessoa,
então, na terra, ele tinha todos os benefícios do aprendizado, estudando na
Universidade de Tarsus; e mais tarde, sendo trazido, até os pés de Gamaliel,
uma pessoa da mais alta consideração, pelo conhecimento e integridade, que
havia, então, em toda a nação judaica. E ele tinha todas as vantagens possíveis
da educação religiosa, sendo fariseu; o filho de um fariseu, preparado na mais
estreita seita ou profissão, distinguida de todas as outras, por uma mais
eminente severidade.[Os fariseus eram membros de uma antiga seita judaica que
se distinguia pela observância estrita e formal dos ritos da lei mosaica]. E,
por isso, ele tinha 'vantagem acima de muitos' outros, 'que eram seus
iguais', em anos, 'sendo mais abundantemente zeloso', com o que quer
que ele pense fosse agradar a Deus; 'como no tocante à retidão da lei,
irrepreensível'. Mas não seria, por meio disto, que ele alcançaria essa
simplicidade e sinceridade santa.Tudo fora trabalho perdido, em sentido
profundo e penetrante, pelo qual ele se viu, por fim, constrangido a clamar, 'Mas
o que para mim era ganho, eu o reputei perda por Cristo. E, na verdade, tenho
também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas essas coisas, e as considero
como esterco, para que possa ganhar a Cristo; e seja achado nele; não tendo a
minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a
justiça que vem de Deus, pela fé '. (Filipenses 3:7-9).
15. Não
poderia ser que ele, alguma vez, ele tivesse alcançado isto, a não ser pelo 'conhecimento
excelente de Jesus Cristo', nosso Senhor; ou 'pela graça de Deus',
-- uma outra expressão quase da mesma importância. Algumas vezes é entendido, por 'graça de
Deus', aquele amor gratuito, aquela misericórdia imerecida, pelos quais eu,
um pecador, através dos méritos de Cristo, sou agora reconciliado para Deus.
Mas, neste lugar, é preferível que signifique aquele poder de Deus, o Espírito
Santo, que 'opera em nós, tanto o
desejar, como o fazer o que é do agrado Dele'. Assim como, no
primeiro sentido da graça de Deus, seu amor redentor é manifestado para nossas
almas; a graça de Deus, no segundo sentido, é o poder de seu Espírito que toma
lugar dessa forma. Agora, nós podemos realizar, através de Deus, o que para o
homem era impossível. Agora nós podemos ordenar nossa conversa corretamente.
Nos podemos fazer todas as coisas, na luz e poder daquele amor, através do qual
Cristo nos fortalece. Nós agora temos 'o testemunho de nossa consciência',
o que nunca pudemos ter pela
sabedoria da carne; 'para que na simplicidade e sinceridade santa, nós
possamos ter nossa conversa no mundo'.
16. Este
é propriamente o alicerce da alegria cristã. Nós podemos agora, por
conseguinte, rapidamente conceber, como ele que tem esse testemunho, em si
mesmo, regozija-se sempre mais. 'Minha alma', ele pode dizer, 'magnifica
o Senhor, e meu espírito regozija-se em Deus meu Salvador'. Eu me regozijo
nele, que, através de seu amor, que eu não merecia; de sua misericórdia livre e
terna, 'conduziu-me a este estado de salvação', onde, através de seu
poder, eu agora permaneço. Eu me regozijo, porque seu Espírito testemunha com
meu espírito que eu sou comprado com o sangue do Cordeiro; e que, crendo nele, 'eu
sou um membro de Cristo, um filho de Deus, e um herdeiro do reino dos céus'.
Eu
me regozijo, porque o senso do amor de Deus por mim tem, através do mesmo
Espírito, forjado-me a amar a Ele; e, por amor a Ele, amar todos os filhos dos
homens; toda alma que Ele criou. Eu me regozijo, porque Ele me permite sentir 'a
mente que estava em Cristo': -- Simplicidade: um único olho, em
direção a Ele; em cada movimento de meu coração; poder sempre fixar o olho
amoroso de minha alma Nele que 'me amou, e se deu por mim'; para almejar
a ele somente, em sua vontade gloriosa, naquilo que eu pensar, falar ou fazer:
-- Pureza: desejando nada mais do que Deus; 'crucificando a carne com
suas afeições e luxúrias'; 'colocando minhas afeições em todas as coisas
que estão acima, não nas coisas da terra': -- Santidade: a
recuperação da imagem de Deus: uma renovação da alma 'em busca de seu
semblante': -- E Sinceridade
Santa: direcionando todas as minhas palavras e obras, de modo a conduzir-me
para sua glória. Nisto, eu igualmente me regozijo; sim, e irei me regozijar,
porque minha consciência testemunha, no Espírito Santo, por meio da luz que ele
continuamente derrama sobre ela, que 'caminha digna da vocação, por meio da
qual, eu sou chamado'; para que eu me 'abstenha de toda a aparência do
mal'; fugindo do pecado, como da face de uma serpente; para que eu possa
fazer, na medida de minhas possibilidades, todo bem, de toda a espécie, a todos
os homens; para que eu siga meu Senhor, em todos os meus passos, e faça o que é
aceitável aos seus olhos. Eu me regozijo, porque eu vejo e sinto, através da
inspiração do Espírito Santo de Deus, que todas as minhas obras são forjadas
nele, e que é ele que opera todas as minhas obras em mim. Eu me regozijo, em
ver, por meio da luz de Deus, que brilha, em meu coração, para que eu tenho o
poder de caminhar, em seus caminhos; e que, através de sua graça, eu não vire
de um lado para outro; andando a esmo.
17. Tal
é o alicerce e a natureza daquela alegria, por meio da qual um cristão adulto
se regozija sempre mais. E, de tudo isto, nós podemos facilmente inferir
que:
1o. Esta não é uma
alegria natural:
Ela
não nasce de uma causa natural: Não de alguma disposição animada. Isto pode dar
um começo passageiro de alegria; mas o cristão regozija-se sempre. Ela não pode
ser devida à saúde do corpo, ou bem-estar; à fortaleza e integridade física: já
que ela é igualmente forte na doença e na dor; sim, talvez, mais forte do que
antes. Muitos cristãos nunca antes tinham experimentado alguma alegria que
pudesse ser comparada com aquela que, então, preencheu suas almas, quando o
corpo esteve quase desgastado pela dor, ou consumido com doença degenerativa.
Menos do que tudo, ela pode ser atribuída à prosperidade exterior, ao favor dos
homens, ou abundância de bens materiais; uma vez que, então, principalmente
quando a fé deles tem sido testada, como com fogo, por meio de todas as
aflições exteriores, é que os filhos de Deus regozijam-se Nele - a quem eles
amam sem ver, com alegria inexprimível. E certamente homem algum se
regozijaria, como aqueles que foram usados como 'vileza e escória do mundo';
que vaguearam de um lado para outro, necessitando de todas coisas; famintos,
com frio, nus; aqueles que tinham provado, não apenas da 'cruel zombaria',
mas, 'muito mais dos cativeiros e aprisionamentos'; sim, que, por fim, 'não
consideraram suas vidas, prezadas, a si mesmos, de modo que eles poderiam
terminar o curso de suas vidas com alegria'.
18. Das
considerações precedentes, podemos inferir:
2o. Que aquela alegria de um cristão não surge de qualquer
consciência ignorante; de sua condição de não discernir o bem do mal:
Muito
longe disto, ele era um completo estranho para essa alegria, até que os olhos
de seu entendimento foram abertos; não conhecia, até que teve os sentidos
espirituais adequados para discernirem o bem do mal. E, agora, o olho de sua
alma não se tornou obscurecido: ele nunca foi tão perspicaz anteriormente: ele
tem uma percepção tão rápida das menores coisas, que é completamente
surpreendente para um homem natural. Assim como uma partícula de pó é visível
aos raios de sol; assim para aquele que caminha na luz, nos feixes de luz de
seu sol não criado, toda partícula de pecado é visível. Nem ele consegue
fechar os olhos da consciência mais: aquele sono está fora dele. Sua alma está
sempre amplamente acordada: não mais cochilos ou mãos flexíveis para descansar!
Ele está sempre desperto, e ouvindo o que o seu Senhor diz com respeito a ele:
e sempre se regozijando 'em buscar a Ele que é invisível'.
19.
Também
que:
3o. A alegria do
cristão não surge de algum embotamento ou insensibilidade da consciência.
É verdade que uma espécie de alegria
pode surgir disto, naqueles cujos corações insensatos estão enegrecidos';
cujos corações são empedernidos, insensíveis, estúpidos, e, conseqüentemente,
sem entendimento espiritual. Por causa de seus corações insensatos,
insensíveis, eles podem regozijar-se, até mesmo, quando cometem pecados; e isto
eles podem provavelmente chamar de liberdade! – o que é, de fato, mera
embriaguez da alma; uma dormência fatal do espírito; uma insensibilidade
estúpida de uma consciência sagrada. Pelo contrário, um cristão tem a mais
extraordinária sensibilidade; tal que ele nunca pôde conceber anteriormente.
Ele nunca teve tal ternura de consciência, como a que teve, desde que o amor de
Deus tem reinado em seu coração. E isto também é sua glória e alegria – aquela
que Deus tem ouvido em suas orações diariamente:
'Ó que minha terna alma possa
voar, à primeira aproximação odiosa do mal; rápido, como a menina dos olhos, o
toque mais leve do pecado sinta'.
20. Para concluir: A alegria cristã é a
alegria na obediência; alegria em amar a Deus e manter seus mandamentos: e,
ainda assim, não os mantendo, como se nós estivéssemos, por meio disto,
cumprindo os termos das obras da aliança; como se, por algumas obras ou retidão
nossas, estivéssemos à procura do perdão e aceitação com Deus. Não, desta
forma: Nós já estamos perdoados e aceitos, através da misericórdia de Deus, em
Jesus Cristo. Não, como se nós estivéssemos, através de nossa própria
obediência, procurando ter vida; a vida da morte do pecado: Isto também nós já
temos, através da graça de Deus. 'Ele vivificou, aquele que estava morto no
pecado'; e agora nós estamos 'vivos para Deus, por meio de Jesus Cristo,
nosso Senhor'.
Mas
nós nos regozijamos, em caminhar de acordo com a aliança da graça, no amor
santo e obediência feliz. Nós nos regozijamos em saber que, 'sendo
justificados pela sua graça', nós não 'recebemos a graça de Deus em vão':
que Deus, tendo livremente (não por causa de nosso desejo e realizações, mas
através do sangue do Cordeiro) nos reconciliado para si mesmo, nós cumprimos,
nas forças que ele nos tem dado, o desejo de seus mandamentos. 'Ele nos tem
dado coragem na guerra', e estamos felizes de 'lutar a boa luta da fé'. Nós
nos regozijamos, através dele, que vive em nossos corações pela fé, para que 'nos
agarremos à vida eterna'. Este é o nosso regozijo, o que nosso 'Pai
opera até aqui', de modo que (não pela nossa força e sabedoria, mas através
do poder de seu Espírito, livremente dado em Jesus Cristo,) nós também operamos
as obras de Deus. E ele pode operar em nós o que quer que seja agradável a seus
olhos! E a quem seja dado todo louvor para sempre e sempre!
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