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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Sobre o Sermão do Monte – Parte VII


John Wesley

'Além do mais, quando jejuares, não sede como os hipócritas de semblante triste. Porque eles desfiguram seus rostos, para que pareçam aos homens que jejuam, Verdadeiramente eu digo que eles já receberam as suas recompensas. Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava seu rosto; para que não pareças aos homens que jejuam, mas junto ao teu Pai que está em secreto: E teu Pai, que está em secreto, os recompensará. (Mateus 6:16-18)


1. Tem sido empenho de satanás, desde o começo do mundo, separar o que Deus tem juntado; separar a religião interior da exterior; colocar uma dessas, em contradição com a outra. E, nisto, ele tem encontrado não pouco sucesso, em meio àqueles que eram 'ignorantes de seus conselhos'.

            Muitos, em todas as épocas, têm um zelo para com Deus, mas não de acordo com o conhecimento; têm estado rigorosamente atados à 'retidão da lei'; na execução das obrigações exteriores; mas, nesse meio tempo, completamente descuidados da retidão interior; a 'retidão que é de Deus, pela fé'. E muitos têm corrido para o extremo oposto, descuidando das obrigações exteriores; talvez, até mesmo, falando mal da lei, e criticando a lei', na medida em que ela ordena o desempenho deles.

            2. É, através desse mesmo conselho de satanás, que a fé e as obras têm sido, tão freqüentemente, colocadas em conflito, uma com a outra. E muitos que tinham um zelo por Deus, têm, por um tempo, caído na armadilha, contrária. Alguns têm exaltado a fé, até a completa exclusão das boas obras; não apenas de ser a causa de nossa justificação, (porque nós sabemos que o homem é justificado livremente pela redenção que está em Jesus), mas de ser o fruto necessário dela; sim, por ter algum lugar na religião de Jesus Cristo. Outros, ansiosos para evitar esse engano perigoso, têm corrido para o caminho extremamente oposto; tanto sustentando que as boas obras foram a causa, ou pelo menos a condição prévia, da justificação, -- quanto falado delas, como se elas fossem tudo em tudo, a completa religião de Jesus Cristo.

            3. Da mesma maneira, a finalidade e os meios da religião têm sido colocados em contradição, um com o outro. Alguns homens bem-intencionados parecem ter colocado toda a religião, no atendimento às orações da Igreja; no receber a Ceia do Senhor; no ouvir sermões; em ler os livros de devoção; negligenciando, nesse meio tempo, a finalidade disso tudo: o amor a Deus e ao próximo. E esta mesma coisa tem confirmado outros, na negligência, se não, menosprezando as ordenanças de Deus, --  insultando, de maneira tão infame, para corroer e  destruir a mesma finalidade que eles designaram estabelecer.

            4. Mas, de todos os meios da graça, dificilmente existe algum concernente aos homens que vão para os grandes extremos, do que aquele do qual nosso Senhor fala, nas palavras acima mencionadas: o jejum religioso. Como alguns o têm exaltado, além de toda Escritura e razão; -- e outros têm descuidado disto extremamente. Como que se desforrando, através da depreciação, tanto quanto os primeiros, da supervalorização! Aqueles que têm falado dele, como se ele fosse tudo em tudo; se não, a finalidade em si mesmo, ainda assim infalivelmente unido a ele: Estes, como se ele fosse exatamente nada; como se ele fosse um trabalho infrutífero, que não tem relação, afinal, com isso. Visto que é certo que a verdade se situa entre ambos. Ele não é tudo; nem, ainda assim, é nada. Ele não é a finalidade, mas é um meio preciso; o meio que o próprio Deus tem ordenado, e no qual, entretanto, quando é propriamente usado, ele irá certamente nos dar sua bênção.

            Com o objetivo de colocar isto tudo de uma maneira mais clara, eu me esforçarei para mostrar:

I.              Qual a natureza do jejum, e quais os tipos e graus dele.
II.           Quais as razões, os alicerces, e as finalidades dele:
III.        Como nós podemos responder à maioria das objeções plausíveis:
IV.        De que maneira ele pode ser executado.

I.

1. Eu vou me esforçar para mostrar, Primeiro, qual é a natureza do jejum, e quais os diversos tipos e graus dele. Quanto à natureza dele, todos os escritores inspirados, ambos no Velho e no Novo Testamento, tomaram a palavra jejuar, em um sentido simples: não comer; abster-se do alimento. Isto está tão claro, que seria trabalho perdido  citar as palavras de Davi, Neemias, Isaias, e os Profetas que se seguiram, ou nosso Senhor e seus Apóstolos; todos concordando nisto, que jejuar é não comer, por um tempo determinado.  

            2. A isto, outras circunstâncias foram usualmente anexadas, pelos antigos, que não tinham conexão necessária com ele. Tais coisas eram o negligenciar de suas vestimentas; deixar de lado aqueles ornamentos, que eles estavam acostumados a usar; o colocar-se em murmuração; o espalhar cinza sobre suas cabeças; ou de colocar aniagem próxima à pele. Mas nós encontramos pouca menção feita no Novo Testamento de alguma dessas circunstâncias indiferentes. Nem parece que alguma pressão tenha sido colocada sobre elas, pelos cristãos das épocas mais puras; contudo, alguns penitentes poderiam voluntariamente usá-las, como sinais exteriores da humilhação interior. Muito menos, os Apóstolos ou os cristãos contemporâneos a eles, batiam ou rasgavam suas próprias carnes: Tal disciplina como esta não era inconveniente aos sacerdotes ou adoradores de Baal. Os deuses dos pagãos, eram demônios; e isto era, sem dúvida, aceitável ao ser deus demoníaco, quando seus sacerdotes (I Reis 18:28) 'E eles clamavam a grandes vozes, e se retalhavam com facas e lancetas, conforme o seu costume, até derramarem sangue sobre si'.  Mas isto não pode ser agradável a Ele, nem eles se tornam Seus seguidores; daquele que 'não vem para destruir a vida dos homens, mas para salvá-las'.

            3. Quanto aos graus ou medidas do jejum, nós podemos ter exemplos de alguns que têm jejuado diversos dias seguidos. Assim, Moisés, Elias, e nosso abençoado Senhor, estando dotados de força supernatural, para aquele propósito, registraram ter jejuado, sem intermissão, 'quarenta dias e quarenta noites'. Mas o tempo do jejum, mais freqüentemente mencionado nas Escrituras, é um dia, de manhã, até a noite. E este foi o jejum comumente observado em meio aos cristãos antigos. Mas além desse, eles tinham também os seus meio-jejuns (semijejum, como Tertuliano os denomina), no quarto e sexto dia da semana (quarta e sexta-feira), durante o ano, no qual eles não tomam substância alguma, até as três horas da tarde; o tempo em que eles retornam do serviço público.
           
            4. Proximamente relatado a isto, é o que nossa igreja parece peculiarmente significa pelo termo abstinência; que pode ser usado, quando não jejuamos inteiramente, por motivos de enfermidade ou fraqueza corpórea. Isto é comer pouco; a abstinência em parte; o tomar a menor quantidade de alimento do que usual. E não me lembro da algum exemplo bíblico disto. Mas nem posso eu condená-lo; já que a Escritura não o faz. Pode ter seu uso, e receber a bênção de Deus.

            5. O menor tipo de jejum, se pode ser chamado por este nome, é o abster-se de alguma comida agradável. Disto, nós temos diversos exemplos nas Escrituras., além daquele de Daniel e seus irmãos, quem de uma consideração pessoal, ou seja, a que eles 'não poderiam se corromper com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar', (uma provisão diária a qual o Rei tinha designado para eles), requerida e obtida, do príncipe dos eunucos, grãos de leguminosas para comer e água para beber. (Daniel 1:8-12). Talvez, de uma imitação enganosa disto poderia brotar o mesmo costume antigo de abster-se de carne e vinho, durante tais épocas, como era reservar-se para o para jejum e abstinência; -- se, antes, esse costume não se erguesse da supertição de que esses eram os alimentos mais preferidos, e uma crença de que era próprio usar o que era menos agradável naquele tempo de solene aproximação a Deus.

            6. Nas igrejas judias, havia alguns jejuns determinados. Tais eram o jejum do sétimo mês, apontado pelo próprio Deus, para ser observado por toda Israel, debaixo de mais severa penalidade. E o Senhor falou a Moisés dizendo: No décimo dia desse sétimo mês, será o Dia da Expiação: tereis santa convocação, e afligireis a vossa alma, e oferecereis oferta queimada ao Senhor. E, naquele mesmo dia, nenhuma obra, vós fareis, porque é o Dia da Expiação, para fazer expiação por vós, perante o Senhor vosso Deus. Porque, toda alma que naquele mesmo dia, se não afligir, será extirpada do seu povo' (Levítico 23:26-30). Diversos outros jejuns determinados foram acrescidos a esse, no tempo subseqüente. Assim, menção é feita, pelo Profeta Zacarias, do jejum, não apenas 'do sétimo, mas também do quarto, do quinto e do décimo mês'. (Zacarias 8:19) 'Assim diz o Senhor dos exércitos : O jejum do quarto mês , e o jejum do quinto, e o jejum do sétimo, e o jejum do décimo mês, serão para a casa de Judá, gozo, e alegria, e festividade solene; amai pois, a verdade e a paz'.

Nas igrejas cristãs antigas, havia igualmente jejuns determinados, e esses, ambos anual e semanalmente. Do primeiro tipo, era aquela antes da Páscoa, observada por alguns, durante vinte e quatro horas; por outros, por uma semana inteira; por muitos, por duas semanas; não fazendo uso de alimento até o entardecer de cada dia: Do último, aqueles do quarto e sexto dias da semana, (como Epifanius escreve, comentando como um fato inegável), -- que eram observados, em toda terra habitável; pelo menos, em cada parte onde alguns cristãos construíram sua morada.

Os jejuns anuais em nossa Igreja são os 'quarenta dias da Quaresma; o Têmpora [Os três dias de jejum prescritos pela Igreja Católica na primeira semana da quaresma, na primeira de pentecostes, nas terceiras semanas de setembro e dezembro], nas quatro estações; o Rogação [segunda, terça e quarta-feira antes da Ascensão do Senhor], e o Vigília ou Véspera, com diversas festivais solenes; -- o Semanal, todas as sextas-feiras do ano; com exceção do Natal'.

            Mas, além desses que foram fixados, em cada nação temente a Deus, havia sempre jejuns ocasionais, apontados, de tempos em tempos, como as circunstâncias e ocasiões particulares de cada necessidade. Então, quando 'os filhos de Moabe, e os filhos de Amon, e com eles alguns outros doa amonitas vieram à peleja contra Josafá. Então, vieram alguns que deram aviso a Josafá, dizendo: vem contra ti uma grande multidão de além mar e da Síria; e eis que já estão  em Hazazom-Tamar, que é Em-Gedi. Então, Josafá temeu e pôs-se a buscar o Senhor; e apregoou jejum em todo Judá' (2 Cron. 20:1-3). E, assim, 'E aconteceu, no ano quinto de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, no mês nono', quando eles estavam temerosos do Rei da Babilônia, os Príncipes de 'Judá apregoaram jejum diante do Senhor a todo o povo em Jerusalém'. (Jeremias 36:9).

            E, de igual maneira, pessoas comuns, que prestam atenção aos seus caminhos, e desejam caminhar humildemente e intimamente com Deus, irão encontrar freqüentes oportunidades para, em determinadas épocas, afligirem assim suas almas diante de seu Pai que está em secreto. E é para este tipo de jejum que as direções, dadas aqui, principalmente e primeiramente se referem.

II

1. Eu prossigo mostrando, em Segundo lugar, quais são os fundamentos, as razões, e as finalidades do jejum.

            Primeiro, os homens que estão debaixo de fortes emoções da mente, que foram afetados com alguma paixão veemente, tais como tristeza e medo, são freqüentemente tragados por elas, e, até mesmo, se esquecem de comer do seu pão. Em tais ocasiões eles têm pouco cuidado com o alimento, nem mesmo com o que é necessário para sustentar a natureza; muito menos, por alguma iguaria ou variedade; sendo tomado por pensamentos completamente diferentes. Assim, quando Saul disse: 'Mui angustiado estou, porque os filisteus guerrearam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelos ministérios dos profetas; nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer'. É registrado que 'Ele  não tinha comido ´pão todo o dia, nem toda a noite' (I Samuel 28:15-20). Assim, aqueles que estavam no navio com Paulo, quando nenhuma pequena tempestade caiu sobre eles,  e toda a esperança de que pudessem ser salvos tinha ido embora... É já hoje o décimo-quarto dia que esperais e permaneceis sem comer, não havendo provado nada'; nenhum alimento regular, por quatorze dias seguidos (Atos 27:33). E, assim, Davi, e todos os homens que estavam com ele, quando eles ouviram que as pessoas fugiram da batalha, e que muitas das pessoas tinham caído mortas, e Saul e Jônatas, seu filho, estavam  também mortos. 'E prantearam, e choraram, e jejuaram, até à tarde por Saul, e por Jônatas, seu filho, e pelo povo do Senhor, e pela casa de Israel, porque tinham caído à espada'. (2 Samuel 1:12).

Mais ainda: Muitas vezes, eles, cujas mentes estavam tão profundamente comprometidas, são impacientes de alguma interrupção, e, até mesmo repugnam de seu alimento necessário, como que, desviando seus pensamentos do que eles desejam, fosse ocupar toda sua atenção: Até mesmo Saul, quando, na ocasião mencionada anteriormente, tinha 'caído, durante todo o tempo, sobre a terra, e não havia forças nele', ainda assim, disse: 'Eu não irei comer', até 'que seus servos, juntos com a mulher, o obrigaram'.

            2. Aqui, então, está o alicerce natural do jejum. Alguém que está debaixo de profunda aflição, oprimido com a tristeza, por causa do pecado, e uma forte compreensão da ira de Deus, ele poderia, sem qualquer regra, sem saber ou considerar se seria um comando de Deus ou não, 'esquecer-se de comer seu pão'; abster-se, não apenas do que lhe é agradável, mas, até mesmo do alimento necessário; -- como Paulo, que, depois de ser conduzido a Damasco, 'ficou três dias sem ver, e não comeu, nem bebeu' (Atos 9:9).

            Sim, quando a tempestade se levantou alta; 'quando um pavor horrível subjugou' alguém que tinha estado sem Deus no mundo, sua alma poderia ter 'repugnado toda forma de alimento'; teria sido desagradável e  cansativo para ele; ele poderia ficar impaciente por nada que pudesse interromper seu clamor incessante: 'Senhor, salve-me, ou perecerei'. 

            Quão fortemente, isto é expresso por nossa igreja, na primeira parte da Homilia sobre o Jejum! – 'Quando os homens sentem em si mesmos o pesado fardo do pecado, vêem a condenação ser a recompensa deles, e observam, com os olhos de suas mentes, o horror do inferno, eles tremem, e são intimamente tocados pela tristeza do coração, e não podem deixar de acusar a si mesmos, e declarar sua aflição ao Deus Todo-Poderoso, e clamar junto a ele por misericórdia. Isto, sendo feito seriamente, suas mentes ficam tão ocupadas, [tomadas], parcialmente com a tristeza e pesar; parcialmente com um sincero desejo de serem libertos, desse perigo do inferno e condenação, que todo o desejo de alimento e bebida é colocado aparte, e a repugnância [ou aversão] de todas as coisas e prazeres mundanos tomam o lugar. De modo que nada, então, eles preferem a prantear, lamentar, murmurar, e ambos com palavras e comportamento do corpo, para mostrarem a si mesmos cansados da vida'.
           
3. Uma outra razão ou fundamento do jejum é este: Muitos dos que temem a Deus estão profundamente sensíveis pelo quão freqüentemente eles pecaram contra Ele, pelo mau uso dessas coisas legítimas. Eles sabem o quanto eles têm pecado pelo excesso de comida; por quanto tempo eles têm transgredido as santas leis de Deus, com respeito ao equilíbrio, se não, a sobriedade também; como eles têm se cedido aos seus apetites sexuais, talvez, enfraquecendo sua saúde corpórea, -- certamente, para o não pequeno dano de suas almas; já que, por meio disto, eles continuamente alimentaram, e aumentaram aquela insensatez divertida; aquela volubilidade da mente; aquela frivolidade de temperamento; aquela divertida desatenção para com as coisas do mais profundo interesse; aquela irreflexão e descuido de espírito, que eram não outro que a embriaguez da alma, que entorpeceu todas as suas faculdades mais nobres, não menos do que o excesso de vinho ou bebida forte. Para remover, entretanto, o efeito, eles removem a causa. Eles se mantêm distantes de todo o excesso. Eles se abstêm, tanto quanto possível, daquilo que tem, por acaso, os arrastado para a perdição eterna. Eles freqüentemente refreiam totalmente; sempre cuidado para  serem frugais e equilibrados em todas as coisas.

            4. Eles se lembram bem, igualmente, como a abundância de alimento aumentou, não apenas o descuido e leviandade de espírito, mas também os desejos tolos e profanos, e as afeições impuras e vis. E esta experiência não deixou dúvidas. Mesmo a sensualidade gentil, regular, está continuamente erotizando a alma,  e fazendo-na mergulhar no mesmo nível das bestas que perecem. Não pode ser declarado qual o efeito que a variedade e a frugalidade de alimento têm sobre a mente, tanto quanto sobre o corpo; tornando isto justamente oportuno para todo prazer do sentido, tão logo a oportunidade é convidada. Portanto, nesse alicerce também, todo homem sábio irá refrear sua alma, e mantê-la humilde; irá desapegar-se, mais e mais, de todas essas indulgências dos apetites inferiores, que naturalmente tendem a acorrentá-la a terra, e corrompê-la, tanto quanto aviltá-la. Aqui está uma outra razão permanente para o jejum; remover o alimento da luxúria e sensualidade; retrair os incentivos dos desejos tolos e danosos, das afeições vis e inúteis.   

            5. Talvez, nós precisemos não omitir completamente (embora eu não saiba se fará bem  colocar um grande estresse sobre isso) uma outra razão para o jejum, que alguns homens bons têm largamente insistido a respeito; ou seja, o punir a si mesmos por terem abusado dos bons dons de Deus, por, algumas vezes, refreando-se deles; assim exercitando uma espécie de vingança santa sobre si mesmos,  pela insensatez e ingratidão passada, em transformar as coisas que tinham sido para a saúde deles, uma ocasião de queda. Eles supõem que Davi teve um olhar para isto, quando disse: 'Eu pranteio e disciplino',  ou puno. 'minha alma com jejum';  e Paulo, quando menciona: 'que vingança',  a tristeza santa ocasionou nos Corintos. 

6. A quinta e a mais forte razão para o jejum, é que ele é um auxiliar na oração; particularmente, quando nós reservamos porções maiores de tempo para as orações pessoais. Então, é, especialmente, quando Deus freqüentemente se agrada de erguer as almas de seus servos, acima de todas as coisas da terra, e, algumas vezes, levá-las para mais alto, como se fosse, para o terceiro céu. E é, principalmente, como um auxiliar na oração, que ele tem, tão freqüentemente, encontrado um significado, nas mãos de Deus, de conformidade e crescimento, não apenas de uma virtude; não apenas de pureza, (como alguns têm imaginado, em vão, sem qualquer fundamento, tanto Bíblico, racional, quanto experimental), mas também seriedade de espírito, sinceridade, sensibilidade e brandura de consciência, indiferença para com o mundo, e, conseqüentemente, o amor de Deus, e cada afeição santa e divina.

            7. Não que exista alguma conexão natural e necessária entre jejuar e as bênçãos que Deus transmite por meio disto. Mas Ele irá ter misericórdia, quando Ele tiver misericórdia; e Ele irá transmitir o que quer que lhe pareça bom, através de qualquer que seja o meio que lhe agrade apontar. E Ele tem designado este, em todas as épocas, para ser os meios de prevenirmos sua ira, e obtermos quaisquer bênçãos que nós, de tempos em tempos, temos necessidade. 

            E quão poderoso instrumento isto é para impedir a ira de Deus, nós podemos aprender do notável exemplo de Acabe. 'Não existe ninguém como aquele que não vendeu a si mesmo' -- que deu a si mesmo totalmente ao alto, como um escravo comprado com dinheiro – 'para operar perversidade'.  Ainda assim quando ele rasgou suas roupas e colocou aniagem sobre sua carne e jejuou, e veio mansamente, a palavra do Senhor veio a Elias dizendo: 'Vê tu, como Acabe humilhou-se diante de mim? Porque ele se humilhou diante de mim, eu não irei trazer o mal aos seus dias'. (I Reis 21:27-30).

            Foi para essa finalidade, impedir a ira de Deus, que Daniel buscou a Deus 'com jejum, e aniagem, e cinzas'. Isto aparece de todo o teor de sua oração; particularmente, da solene conclusão dela: 'Ó Senhor,de acordo com toda tua retidão',  ou misericórdias, 'permita que tua ira se vá de tua montanha sagrada. – Ouça a oração de teu servo, e faça tua face brilhar sobre o teu santuário, que está devastado, -- Ó Senhor, ouve; Ó Senhor, perdoa;Ó Senhor,escuta atentamente e faze, por amor do Senhor'. (Daniel 9:3, 17).

            8. Mas não é apenas do povo de Deus que podemos aprender, quando sua ira é movida para buscar a Ele, através de jejum e oração; mas mesmo dos pagãos. --  Quando Jonas declarou: 'E levantou-se Jonas e foi a Nínive, segundo a Palavra do Senhor; era, pois Nínive uma grande cidade, de três dias de caminho. E começou Jonas a entrar na cidade, caminho de um dia, e ´pregava, e dizia: Ainda quarenta dias e Ninive será derrotada', o povo de Nínive proclamou um jejum, e vestiu aniagem, do maior ao menor. 'Para que o Rei de Nínive se levantasse de seu trono, e tirasse de si as suas vestes, e se cobrisse com panos de saco, e sentasse em cinzas. E ele fez com que fosse proclamado e publicado, através de Nínive, que não era permitido que homem ou animal; rebanho, nem manada, provassem alguma coisa: Que eles não se alimentem, nem bebam água': (não que o animal tivesse pecado, ou pudesse se arrepender; mas que, pelo exemplo deles, o homem pudesse ser admoestado, considerando que, por seus pecados, a ira de Deus estava dependurada sobre todas as criaturas): 'Quem poderá dizer se Deus irá voltar atrás e arrepender-se, e se apartar do furor de sua ira, para que não pereçamos?'. E o trabalho deles não foi em vão. O furor da ira de Deus afastou-se dele. 'Deus viu suas obras":  (os frutos daquele arrependimento e daquela fé que ele tem forjado neles, por seu Profeta); 'e Deus arrependeu-se do mal que ele tinha dito que viria sobre eles, e não o fez'.  (Jonas 3:4, em diante).

9. E o jejum não é apenas um meio de afastar a ira de Deus, mas também de obter quaisquer que sejam as bênçãos que estejamos precisando. De modo que, quando as outras tribos foram derrotadas diante dos Benjamitas, 'todos os filhos de Israel foram para a casa de Deus, e murmuraram, e jejuaram naquele dia, até à tarde'; e, então, o Senhor disse: 'Levantem-se'  novamente; 'amanhã, eu irei entregá-los, em suas mãos'. (Juízes 20:26, em diante).

Assim, Samuel reuniu toda Israel, quando eles foram cativos dos filisteus, 'e eles jejuaram naquele dia' diante do Senhor: E, então, 'os filisteus se aproximaram para a batalha contra Israel, o Senhor fez trovejar' sobre eles 'com um grande trovão e os confundiu; e eles foram derrotados diante de Israel. (I Samuel 7:6-10).

             Assim, Esdras: 'Eu proclamei um jejum no rio Aava, para que pudéssemos afligir a nós mesmos diante de nosso Deus, e buscar a ele no caminho certo para nós, e para os nossos filhos; e suplicamos a ele'. (Esdras 8:21).

            Assim, Neemias: 'Eu jejuei e orei diante do Deus dos céus e disse: Ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e terrível, prospere-me, eu oro a ti, teu servo esse dia, conceda a ele misericórdia aos olhos desse homem'. E Deus concedeu a ele misericórdia aos olhos do rei (Neemias  1:4-11). 

10. De igual modo, os Apóstolos sempre se reuniram para jejuarem com oração, quando eles desejavam a bênção de Deus em qualquer empreendimento importante. Assim, nós lemos em (Atos 13 1:13) ' Havia na igreja de Antioquia, certos Profetas e Professores: Quando eles ministraram ao Senhor e jejuaram', sem dúvida, para a direção nesse mesmo assunto, 'o Espírito Santo disse: Separa-me a Barnabé e Saul, para o trabalho a que eu os tenho chamado. E, quando eles tiveram' uma segunda vez, 'jejuado e orado, e colocado suas mãos sobre eles, eles os despediram'. 

            Assim, também o próprio Paulo e Barnabé, quando nós lemos no capítulo seguinte, em que eles 'retornaram novamente para Listra, Icônio e Antióquia, confirmando as almas dos discípulos quando eles os ordenaram aos Deões, em cada Igreja, e tinham orado e jejuado, recomendaram-nos ao Senhor' (Atos 14:21-23).

            Sim, que as bênçãos são para serem obtidas, na utilização desses meios, as quais, de outro modo, não são atingíveis, nosso Senhor declara expressamente na resposta aos seus discípulos dizendo: 'Então,os discípulos, aproximando-se de Jesus, em particular,disseram: Por que não podemos nós expulsá-los? E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pequena fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá – e há de passar, e nada vos será impossível. Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum'. (Mateus 17:19-21). – Esses sendo os meios designados de obter aquela fé, por meio da qual mesmos os demônios ficam sujeitos a você.   

            11. Esses foram os meios apontados: Já que não foi meramente pela luz da razão, ou da consciência natural, como ela é chamada, que o povo de Deus tem sido, em todas as épocas, direcionados a fazer uso de jejuns como um meio para esses fins; mas eles têm sido ensinados do próprio Deus, de tempos em tempos, através das revelações claras e declaradas de sua vontade. Tal como aquela notável, através do Profeta Joel: 'Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, e isso com jejuns e com choro e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e vos convertei ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em beneficência e se arrepende do mal. Quem sabe, se ele se voltar e se arrepender, e deixar uma bênção, atrás dele? Tocai a trombeta de Sião, santificai o jejum, congregai solenemente: -- Então, o Senhor terá zelo da sua terra e se compadecerá do seu povo. Sim, e o senhor responderá e dirá ao seu povo: eis que envio o trigo, e o mosto, e o óleo, e deles sereis fartos, e vos não entregarei mais ao opróbrio entre os pagãos'. (Joel 2:12-19)

Agora, não são apenas as bênçãos temporais que Deus direciona seu povo a esperar do uso desses meios. Já que, ao mesmo tempo, que ele prometeu àqueles que pudessem buscá-lo com jejum, e prantear, e murmurar, 'eu irei restaurar a  você os anos que o gafanhoto tem comido; e as locustas, e o pulgão, e a oruga, o meu grande exército que enviei contra vocês';  ele anexa, 'De modo que poderão também saberão que eu estou no meio de Israel, e que eu sou o Senhor seu Deus'. E,então, imediatamente segue a grande promessa evangélica: E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão; os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões: E também sobre os servos e sobre as servas, naqueles dias, derramarei o meu Espírito'. (Joel 2:25-29)

            12. No entanto, quaisquer que tenham sido as razões para estimular aqueles do passado, no zelo e constante desempenho dessa obrigação, eles têm a mesma força para ainda estimular a nós. Mas acima de todos esses, nós temos um motivo pessoal para 'jejuarmos freqüentemente', ou seja, a ordem Dele, através de cujo nome somos chamados. De fato, nesse lugar, Ele não ordena expressamente, tanto o jejum, o fazer donativos, quanto o orar; mas suas direções, em como jejuar, fazer donativos, e orar, são da mesma força que tais injunções. Enquanto, nos ordenar para fazer alguma coisa assim, é uma ordem inquestionável para que façamos aquela coisa; é impossível executa-la dessa forma, se ela não for executada afinal. Conseqüentemente, o dizer: 'Faça donativos, ore, jejue',  dessa maneira, é uma ordem clara para executar todas essas obrigações; tanto quanto executá-las, da maneira que possa, de modo algum, perder sua recompensa.

E este é ainda um motivo e encorajamento mais além para executar essa obrigação; até mesmo a promessa que nosso Senhor tem graciosamente anexado ao devido desempenho dela; 'Teu Pai, que vê em secreto, irá recompensar a ti, abundantemente'.  Tais são os planos, fundamentos, razões e finalidades do jejum; tal nosso encorajamento para perseverar nisto, não obstante a quantidade de objeções, que os homens, mais sábios do que seu Senhor, têm continuamente levantado contra ele.  

III

1. A mais plausível dessas objeções, eu vou considerar agora. Primeiro, tem sido freqüentemente dito: 'Que o cristão jejue do pecado, e não da comida: Isto é o que Deus requer de suas mãos'. Assim é o que Ele quer; mas Ele requer o outro também. Portanto um deve ser feito, e o outro, não deixado sem fazer.

            Veja seu argumento nessas dimensões completas; e você julgará facilmente a extensão dele: --

            Se um cristão deve se abster do pecado, então, ele não deve se abster da comida:

            Mas um cristão deve se abster do pecado.
           
            Portanto, ele não deve se abster da comida.

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Que um cristão deve se abster do pecado, é a mais completa verdade; mas como se segue que ele não deve se abster da comida? Sim, que ele possa fazer tanto uma coisa quanto a outra. Que ele, pela graça de Deus, se abstenha sempre do pecado; e que ele freqüentemente se abstenha da comida; porque tais motivos e finalidades, as experiências e Escrituras mostram terem respondido plenamente a isto.

            2. 'Mas não é melhor' (como tem sido objetado, em Segundo Lugar) 'abster-se do orgulho e vaidade; da insensatez e desejos danosos; da impertinência, e ira, e descontentamento do que da comida?'. Sem duvida. Mas aqui também nós temos necessidade de lembrar você das palavras do Senhor: 'Essas coisas vocês devem fazer; e as outras, não devem deixar sem serem feitas'. E, de fato, a posterior é apenas em ordem da anterior; é um meio para aquela grande finalidade.

Nós nos abstemos da comida com essa visão, -- para que, pela graça de Deus, transmitida às nossas almas, através desse meio exterior, em conjunção com todos os outros canais da graça, que Ele tem apontado, possamos ser capazes de nos abster de toda paixão e temperamento que não são agradáveis aos seus olhos. Abstermo-nos de uma, fornecida do alto, nós possamos ser capazes de refrear a outra. De maneira que  seu argumento prova justamente o contrario do que você pretendeu: Ele prova que devemos jejuar. Porque se nós devemos nos abster dos temperamentos e desejos pecaminosos, então, nós devemos nos abster da comida; já que esses pequenos exemplos de abnegação são os caminhos que Deus tem escolhido, por meio do qual concede aquela grande salvação.

3. 'Mas nós não nos certificamos disto de fato': (Esta é a Terceira objeção) 'Nós temos jejuado, muito freqüentemente; mas qual tem sido o proveito? Nós não ficamos em nada melhores; nós não encontramos bênçãos nisso. Mais ainda: nós temos nos certificado que ele é um empecilho, em vez, de ajuda. Ao contrário de prevenir raiva, por exemplo, ou mau-humor, ele tem sido um meio do crescimento deles; de tal maneira, que nós nem podemos suportar os outros, nem a nós mesmos'.  

Isto, muito provavelmente, deva ser o caso. É possível jejuar e orar, de tal maneira, a nos sentirmos piores do que antes; mais infelizes, mais impuros. Ainda assim, a falha não está nos meios, por si só, mas na maneira de usá-los. Utilize-se deles ainda, mas de uma maneira diferente. Faça o que Deus ordena, da maneira que Ele ordena; e  então, sem dúvida, a promessa Dele não falhará: Suas bênçãos não ficarão retidas por mais tempo; mas, quando você jejuar em secreto, 'Ele que está em secreto, irá recompensá-lo abertamente'.

4. 'Mas, não se trata de mera supertição', (então, este tem sido a Quarta objeção) 'imaginar que Deus leva em consideração, tais pequenas coisas como essas?'. Se você diz que é assim, você condena todas as gerações anteriores dos filhos de Deus. Mas você poderá dizer que esses eram todos homens fracos e supersticiosos? Você pode tão duramente afirmar isto, ambos de Moisés e Josué; de Samuel e Davi; de Josafá, Esdras, Neemias, e todos os outros profetas? Sim; daquele que está acima de todos eles, -- do próprio Filho de Deus? O certo é, que nosso Mestre e todos esses seus servos não imaginaram que o jejum fosse uma coisa sem importância, e que Ele, que é o Altíssimo, deu atenção a ele.

Do mesmo julgamento, evidentemente, foram todos os seus Apóstolos, depois que foram 'preenchidos com o Espírito Santo, e com sabedoria'. Quando eles tiveram a 'unção do Espírito de Deus, os ensinando todas as coisas', eles, ainda assim, confirmaram a si mesmos como Ministros de Deus, 'através do jejum', tanto quanto, 'através da armadura da retidão, na mão direta e na esquerda'. Depois 'do noivo ter sido levado deles, então, eles jejuaram naqueles dias'. Depois que 'o noivo foi levado deles, então, eles jejuaram naqueles dias'. Nem poderiam tentar alguma coisa (como vimos acima), por meio da qual a glória de Deus fosse proximamente afligida, tais como enviar trabalhadores para a colheita, sem o jejum solene, assim como a oração.

            5. 'Mas se jejuar for, de fato, uma coisa de tão grande importância, e atendeu tais bênçãos, não seria melhor' — dizem alguns, em Quinto lugar, — 'jejuarmos sempre? Não o fazermos, de vez em quando, mas nos mantermos em um jejum continuo? Usarmos de tanta abstinência, todo o tempo, até onde as forças corpóreas suportarem?'.  Que ninguém seja desencorajado de fazer isto. De qualquer maneira, faça uso de alimento em pequena quantidade, e modestamente; exercite abnegação nisto, todo o tempo, tanto quanto suas forças corpóreas suportarem. E isto poderá conduzi-lo, pelas bênçãos de Deus, a diversas das grandes finalidades acima mencionadas. Mas isto não é jejum; não o jejum bíblico; e não foi denominado assim, em toda a Bíblia. Ele, em alguma medida, responde algumas das finalidades; mas ainda assim, se trata de uma outra coisa. Pratique isto, de qualquer forma; mas não de tal maneira a colocar de lado, por meio disto, um mandamento de Deus, e um meio instituído de prevenir Seus julgamentos, e obter as bênçãos dos Seus filhos!

            6. Use continuamente, então, de quanta abstinência você se agradar; que, considerada assim, não é outra coisa do que a temperança cristã; mas essa necessidade, afinal, não interfere com nosso observar os momentos solenes de jejum e oração. Por exemplo: Sua abstinência, ou temperança habitual, não o impediria de jejuar em secreto, se você fosse subitamente  afligido por enorme tristeza e remorso, e com medo e desânimo terríveis. Tal situação de mente quase sempre o constrangeria a jejuar; a repugnar seu alimento diário; você dificilmente suportaria, até mesmo tomar tais alimentos necessários para o corpo; até que Deus 'o erguesse desse buraco horrível, e colocasse seus pés sobre a rocha, e ordenasse suas atividades'. O mesmo poderia ser o caso, se você estivesse em agonia de desejo, veementemente lutando com Deus pela bênção Dele. Você não precisaria de alguma mais para instruir você a não comer do pão, até que tivesse o seu pedido atendido.

            7. Novamente, você esteve alguma vez em Níneve, quando foi proclamado, por toda a cidade: 'Que nem homem, nem besta; rebanho ou manada prove coisa alguma: Que eles não comam ou bebam água, mas permita que clamem imensamente junto a Deus'; --  o seu jejum contínuo teria sido alguma razão para não fazer parte naquela humilhação geral? Indubitavelmente, não. Você estaria tão preocupado quanto os outros de não provar alimento naquele dia.

            Nem a abstinência; nem a observação do jejum contínuo, teria desculpado alguns dos filhos de Israel de jejuar,no décimo dia do sétimo mês, para que não fosse afligido, 'não jejuar, naquele dia, faria com que ele fosse extirpado de entre seu povo'.

            Por fim: Você já esteve com os irmãos em Antioquia, no tempo em que eles jejuaram e oraram, antes do envio de Barnabé e Saul; pode você possivelmente imaginar que sua temperança e abstinência teriam sido causa suficiente para não se juntar nisso? Sem dúvida, se você não tivesse feito, você poderia ter sido extirpado da comunidade cristã. Você teria sido, merecidamente, extirpado de entre eles, como que trazendo confusão dentro da Igreja de Deus. 

IV
1. Eu vou, por fim, mostrar de que maneira nós devemos jejuar, para que ele possa ser um serviço aceitável junto ao Senhor.

Primeiro: Que ele seja feito, junto ao Senhor, com nosso olho, isoladamente, fixo Nele. Que nossa intenção nisto seja esta; apenas esta: glorificar nosso Pai que está nos céus;  expressar nossa tristeza e vergonha, por nossas muitas transgressões à sua santa lei; esperar pelo crescimento da graça purificadora; conduzir nossas afeições para as coisas do alto; acrescentar seriedade e sinceridade às nossas orações; impedir a ira de Deus; e obter todas as grandes e preciosas promessas que ele tem feito a nós em Jesus Cristo.  

            Que possamos nos precaver de zombar de Deus, ao fazermos com que nosso jejum, tanto quanto nossas orações, sejam uma abominação a Ele, através da mistura de qualquer visão temporal; particularmente, o louvor de homens. Contra isto, nosso abençoado Senhor mais particularmente nos orienta nas palavras do texto:

            'Além do mais, quando jejuares, não sede como os hipócritas'  -- Assim eram os muitos que foram chamados de povo de Deus; 'de semblante triste': amargurado, sensivelmente triste, colocando seus olhares de uma forma peculiar. 'Porque eles desfiguram seus rostos', não apenas, através de distorções artificiais, mas também os cobrindo, com poeira e cinzas; 'para que pareçam aos homens que jejuam'; esta era o principal, se não o único objetivo. 'Verdadeiramente eu digo que eles já receberam as suas recompensas'; até mesmo a admiração e louvor de homens. 'Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava seu rosto; para que não pareças aos homens que jejuam'; que isto não faça parte de tua intenção; se eles souberem disto, sem qualquer desejo de tua parte, não importa, tu não serás o melhor, nem o pior; --'mas junto ao teu Pai que está em secreto: E teu Pai, que está em secreto, os recompensará. (Mateus 6:16-18)

            2. Em Segundo Lugar: Mas, se nós desejamos essa recompensa, que possamos nos precaver de fantasiar que merecemos alguma coisa de Deus, pelo nosso jejum. Nós também não podemos ser freqüentemente advertidos disto; visto que está tão profundamente enraizado em todos os nossos corações, como um desejo de 'estabelecer nossa própria retidão', o procurar a salvação de débitos, em vez da salvação da graça. Jejuar é apenas um caminho que Deus tem ordenado; no qual esperamos por sua imerecida misericórdia; e no qual, ele prometeu nos dar livremente sua bênção, se não houver alguma desistência de nossa parte.

            3. Nem devemos imaginar que, executando a mera ação exterior, iremos receber qualquer benção de Deus. 'Tal  jejum que tenho escolhido, disse o Senhor, significa um dia para o homem afligir sua alma? É com o objetivo de baixar sua cabeça como um junco, e espalhar aniagem e cinzas sobre ele?'. São essas ações exteriores, por mais que estritamente executadas, tudo o que Ele quer dizer pelo homem 'afligir sua própria alma?'. – 'Irás tu chamar a isto um jejum, e um dia aceitável para o Senhor?'. Certamente que não: se for apenas um mero serviço exterior, será tudo um trabalho perdido. Tal performance poderá possivelmente afligir o corpo; mas quanto à alma, não terá sido de proveito algum.

            4. Sim, o corpo pode algumas vezes ser muito afligido; de maneira a ficar incapacitado para as obras de nosso chamado. Isto também nós, diligentemente, nos guardamos contra; já que devemos preservar a saúde, como um bom dom de Deus. Portanto, deve-se tomar cuidado, quando quer que jejuemos, de tornar o jejum proporcional às nossas forças. Porque nós não podemos oferecer a Deus um assassinato como sacrifício, ou destruirmos nossos corpos, para ajudarmos nossas almas. 

            Mas, nessas épocas solenes, nós podemos, mesmo em grande fraqueza do corpo, evitar o outro extremo, pelo qual Deus condena aqueles que no passado discutiram com ele por não aceitar seus jejuns. 'Para que temos jejuado, dizem eles, se tu não vês? – Observem, se no dia do jejum de vocês, vocês encontraram prazer, diz o Senhor'.  Se nós não podemos nos abster totalmente do alimento, que, pelo menos, nos abstenhamos do alimento prazeroso; e, então, nós não estaremos buscando a face do Senhor, em vão.

            5. Que cuidemos de afligir nossas almas, tanto quanto nossos corpos. Que cada ocasião, em jejum público ou privado, seja uma oportunidade de exercitar todas aquelas afeições santas, que estão inseridas, no coração quebrantado, e arrependido. Que seja uma oportunidade do murmurar religioso; da tristeza santa pelo pecado; tal tristeza como aquelas dos Coríntios, concernente ao que o apóstolo diz:

'Agora, me regozijo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento; pois fostes contristados, segundo Deus; de maneira que por nós tu não padeceste dano em coisa alguma. Porque a tristeza santa' --  a tristeza que é de acordo com Deus, que é um dom precioso de seu Espírito, elevando a alma para Deus de quem ela flui – 'opera arrependimento para a salvação, do qual ninguém se arrepende'. Sim, que nossa tristeza em busca da santidade opere em nós a mesma mudança completa de coração - renovado na imagem de Deus -, na retidão  e santidade verdadeira; e a mesma mudança de vida, até que sejamos santo como Ele é santo; em toda maneira de conversação. Que opere em nós o mesmo esmero, encontrado Nele, sem mancha e sem culpa; a mesma limpeza, em nós mesmos, através de nossas vidas, preferivelmente, do que em palavras; por abstermo-nos da aparência do mal; a mesma indignação e veemente aversão a todo pecado; o mesmo temor de nosso próprio coração enganoso; o mesmo desejo de sermos, em todas as coisas, conformes com a vontade santa e aceitável de Deus; o mesmo zelo, para o que quer que possa ser um meio para sua glória, e crescimento no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo; e o mesmo revanchismo contra Satanás e todas as suas obras; contra toda sujidade da carne e  espírito (2 Cor. 7:9 em diante).

            6. E ao jejum, que possamos sempre juntar a oração fervorosa, derramando toda nossas almas diante de Deus; confessando nossos pecados com todos os seus agravantes; humilhando-nos debaixo de sua poderosa mão; colocando diante dele todas as nossas necessidades, todas as nossas culpas e impotência. Esta é uma ocasião para ampliarmos nossas orações, em favor de nós mesmos ou de nossos irmãos. Que possamos agora lamentar os pecados de nosso povo; e clamar alto pela cidade de nosso Deus; que o Senhor possa edificar Sião, e fazer com que Sua face brilhe sobre suas desolações. Assim, nos podemos observar que os homens de Deus, nos tempos antigos, sempre juntaram oração e jejum; assim como os Apóstolos, em todas as instâncias acima citadas; e assim nosso Senhor os reuniu no discurso diante de nós.

7. Resta apenas, com o objetivo de observarmos o jejum, como algo aceitável ao Senhor, que acrescentemos os donativos; as obras de misericórdia, em nosso poder, tanto para os corpos, quanto para as almas dos homens: 'De tais sacrifícios' também 'Deus se agrada. Assim, o anjo declara para Cornélio, jejuando e orando em sua casa: 'Este, fixando os olhos nele, e muito atemorizado disse: Que é, Senhor?e o anjo lhe disse: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus'. (Atos 10:4 em diante). E isto o próprio Deus declara expressa e largamente: 'Por ventura, não é este o jejum que eu escolhi? Para que você se livre do vínculo do pecado; para que se desfaça dos fardos pesados; para que permita que o oprimido seja liberto, e  para que você quebre todo jugo?'.

            Porventura, não é também para que repartas teu pão com o faminto, e para que recolhas em tua casa o pobre que foi expulso? E vendo o nu, o cubras; e não ocultes a ti mesmo de tua própria carne? Então, que a tua luz possa brilhar como a manhã, e tua cura possa brotar rapidamente; e tua retidão possa seguir diante de ti; a glória do Senhor será a tua recompensa. Assim, tu chamarás e o Senhor irá te responder: Tu clamarás, e ele dirá: 'Aqui eu estou'. – Se, 'quando jejuaste, tu abristes a tua alma ao faminto; e satisfizeste a alma aflita; então tua luz se erguerá na obscuridade, e tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor será teu guia continuamente, e satisfará tua alma na estiagem, e fortificará teus ossos: E tu serás como um jardim regado, e como uma fonte de água, cujas águas nunca faltam'. (Isaías 58:6 em diante).

[Editado por Jason Boldt, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]


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