John Wesley
'Porque pela graça sois salvos,
por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus'. (Efésios 2:8)
1.
Nada pode ser mais intrincado, complexo e difícil de entender, do que a
religião, como ela tem sido freqüentemente descrita. E isto não é apenas
verdade, concernente a religião dos pagãos, mesmo dos mais sábios deles, mas
concernente à religião daqueles que também foram, em algum sentido, cristãos;
sim, de homens de grande nome no mundo cristão; homens que pareciam ser os
pilares dela. Ainda assim, quão facilmente é entendida; que coisa clara e
simples, é a religião genuína de Jesus Cristo; proporcionada apenas para que a
tomemos em sua forma nativa, justamente como ela é descrita nos oráculos de
Deus! Ela é exatamente adequada, pelo sábio Criador e Governador do mundo, para
o entendimento fraco e a capacidade estreita dos homens, no seu presente
estado. Quão observável é isto, tanto com respeito à finalidade que ela se
propõe, quanto aos meios para se alcançar esta finalidade. A finalidade é, em
uma palavra, salvação; os meios de obtê-la, fé.
2. É facilmente discernido
que essas duas pequenas palavras - quero
dizer fé e salvação - incluem a substância de toda a Bíblia; a medula, como se
diz, de todas as Escrituras. Tanto mais devemos tomar todo cuidado possível
para evitar todo engano, concernente a elas, e formar um julgamento verdadeiro
e correto, concernente a uma, tanto quanto a outra.
3. Permita-nos
inquirir seriamente:
I.
O que é salvação?
II. Qual é está fé, por meio da qual, somos salvos? E...
III.
E como podemos ser salvos por ela?
I
1.
Primeiro, nós vamos inquirir, o que é salvação? A salvação, de que aqui se
fala, não é o que é freqüentemente entendido por esta palavra, o ir para o céu,
e para a felicidade eterna. Não é o ir da alma para o paraíso, denominado por
nosso Senhor, 'Seio de Abraão'. Não é uma bênção que se estende do outro
lado da morte; ou, como nós usualmente falamos, do outro lado do mundo. As
mesmas palavras do texto colocam isto além de toda questão: 'Vocês estão
salvos'. Não é alguma coisa distante: é uma coisa presente; uma bênção que,
através da livre misericórdia de Deus, vocês agora têm posse dela. Mais ainda,
as palavras podem ser interpretadas, e isto com igual propriedade, 'Vocês
têm sido salvos': de modo que a salvação de que falamos aqui, pode ser
estendida para a inteira obra de Deus; desde o primeiro amanhecer da graça na
alma, até que seja consumada na glória.
2. Se
nós tomamos isto em sua extensão extrema, ela irá incluir tudo o que é forjado
na alma, pelo que é freqüentemente denominado 'consciência natural',
mas, mais propriamente, 'graça preventiva'; -- todas as delineações do
Pai; os desejos, em busca de Deus, que, se nós nos rendermos a eles, aumentam
mais e mais; -- toda aquela luz, por meio da qual, o Filho de Deus 'iluminou
todo aquele que veio ao mundo'; demonstrando para cada homem como 'fazer
corretamente; amar a misericórdia, e caminhar humildemente com seu Deus';
-- todas as convicções que Seu Espírito, de tempos em tempos, opera em todo
filho do homem – embora, seja verdade que a generalidade deles as reprime, tão
logo quanto possível, e, depois de algum tempo, esqueça, ou, pelo menos, negue
que as teve, afinal.
3.
Mas, no momento, nós estamos apenas preocupados com aquela salvação, do qual o
Apóstolo está falando diretamente a respeito. E esta consiste em duas partes
gerais, justificação e santificação.
Justificação é uma outra palavra
para perdão. É o perdão de todos nossos pecados; e, o que necessariamente
implica nisto, nossa aceitação com Deus. O preço, por meio do qual, isto tem
sido buscado para nós (comumente denominado 'a causa meritória de nossa
justificação'). É o sangue e retidão de Cristo; ou, para expressá-la, mais
claramente, tudo o que Cristo tem feito
e sofrido por nós, até que Ele despejou Sua alma pelos transgressores'. Os
efeitos imediatos da justificação são, a paz de Deus; 'a paz que ultrapassa
todo entendimento', e um 'regozijar-se na esperança da glória de Deus',
'com alegria inexprimível e glória completa'.
4.
E, ao mesmo tempo em que somos justificados, sim, naquele mesmo momento, a
santificação começa. Naquele instante, somos nascidos novamente; nascido alto;
nascido do Espírito: Existe uma mudança real, assim como relativa. Nós somos
interiormente renovados pelo poder de Deus. Nós sentimos 'o amor de Deus,
espalhando-se pelo nosso coração, através do Espírito Santo, que é dado junto a
nós'; produzindo amor a toda humanidade, e mais especialmente, aos filhos
de Deus; expelindo o amor ao
mundo; o amor ao prazer, à comodidade; à honra; ao dinheiro; juntos, com o
orgulho, a ira, a obstinação, e todos os outros temperamentos pecaminosos; em
uma palavra, mudando da mente terrena, sensual, perversa, para a 'mente que
estava em Jesus Cristo'.
5.
Quão naturalmente, estes que experimentam tal mudança, imaginam que todos os
pecados se foram,; que eles estão inteiramente arrancados de seus corações, e
que têm não mais lugar nele! Quão facilmente, eles esboçam esta conclusão: 'Eu
não sinto pecado; portanto, eu não tenho pecado algum: ele não mais perturba;
por conseguinte, não existe: ele não tem movimento; assim sendo, não tem vida!'
6. Mas, raramente, é muito tempo
antes que eles não sejam enganados, certificando-se que o pecado estava tão
somente suspenso e não destruídos. As tentações retornam, e o pecado revive;
mostrando que estavam apenas adormecidos anteriormente, e não mortos. Eles
agora sentem dois princípios, em si mesmos, claramente contrários, um ao outro:
'a carne cobiçando contra o Espírito'; a natureza opondo-se à graça de
Deus. Eles não podem negar que, apesar de ainda sentirem poder para crer em
Cristo, e amar a Deus; e, embora Seu 'Espírito' ainda 'testemunhe com seus
espíritos que eles são filhos de Deus'; ainda assim, eles sentem, em si
mesmos, algumas vezes, orgulho, ou obstinação; algumas vezes, ira ou descrença.
Eles encontram um ou mais desses, freqüentemente agitando seus corações, embora
que não conquistando; sim, talvez, 'causando ferida neles para que possam
cair'; mas o Senhor é o socorro deles.
7.
Quão exatamente Macário, cento e quatorze anos atrás, descreve a presente
experiência dos filhos de Deus: 'O inábil', ou inexperiente, 'quando
a graça opera, presentemente imagina que ele não tem mais pecado. Enquanto que
aqueles que têm prudência não podem negar que, mesmo nós que temos a graça de
Deus, podemos ser molestados novamente. Porque nós temos freqüentemente tido
exemplos de alguns, entre os irmãos, que têm experimentado tal graça, como a
confirmar que eles não têm mais pecados neles; e, ainda assim, depois de tudo,
quando eles se acreditaram inteiramente livres dele, a corrupção que espreitava
interiormente, levantou-se renovada, e eles quase foram destruídos'.
8.
Do momento de nosso nascer de novo, o trabalho gradual da santificação toma
lugar. Nós somos habilitados 'através do Espírito, a mortificar as ações do
corpo'; de nossa natureza pecaminosa; e, quanto mais estamos mortos para o
pecado, mais e mais, estamos vivos para Deus. Nós seguimos, de graça em graça,
enquanto cuidamos de 'nos abstermos de toda a aparência do mal', e somos
'zelosos das boas obras', quando temos oportunidade, fazendo o bem a
todos os homens; enquanto caminhamos, em todas as Suas ordenanças, sem culpa;
neste sentido, adorando a Ele, em espírito e em verdade, enquanto tomamos nossa
cruz, e negamos, a nós mesmos, todo o prazer que não nos conduz a Deus.
9.
É assim que nós esperamos pela santificação inteira; porque uma salvação
completa de todos os nossos pecados, -- do orgulho, obstinação, ira, descrença;
ou, como o Apóstolo expressa isto, 'buscar a perfeição'. Mas o que é
perfeição? A palavra tem vários sentidos: aqui ela significa amor perfeito. É o
amor eu exclui o pecado; amor preenchendo o coração, dedicando-se a toda capacidade
da alma. É o amor 'regozijando-se, sempre mais; orando, sem cessar; e em
todas as coisas dando graças'.
II
Mas
o que é a fé, por meio da qual somos salvos? Este é o segundo ponto que deverá
ser considerado.
1.
A fé, em geral, é definida pelo Apóstolo como uma evidência; a evidência e
convicção divina (a palavra significa ambas) das coisas que não são vistas; não
visíveis; não perceptíveis, tanto pelas vistas, quanto por qualquer outro
sentido externo. Isto implica ambas em uma evidência de Deus, e das coisas de
Deus; uma espécie de luz espiritual, exibida para a alma, e um panorama ou
percepção supernatural disto. De acordo com o que as Escrituras falam de Deus,
fornecendo, algumas vezes, luz; algumas vezes, poder de discerni-la. Assim, Paulo
diz: 'Deus que ordenou que a luz brilhasse na escuridão, tem brilhado em
nossos corações, para nos dar a luz do conhecimento da glória de Deus, na face
de Jesus Cristo'. E, em outra parte, o mesmo Apóstolo fala a respeito dos 'olhos'
de nosso 'entendimento sendo abertos'. Através da dupla operação do
Espírito Santo, tendo os olhos de nossa alma, ambos abertos e iluminados, nós
vemos as coisas que 'os olhos' naturais 'não vêem, nem os ouvidos ouvem'. Nós
temos um prospecto das coisas invisíveis de Deus; nós vemos o mundo espiritual,
que está em volta de nós, e ainda assim, não mais discernido, através de nossas
faculdades naturais, do que se ele não tivesse existido. E nós vemos o mundo
eterno; penetrando, através do véu que se estende entre o tempo e a eternidade.
Nuvens e trevas, então, não mais repousam sobre ele, porque agora já podemos
ver a glória que deverá ser revelada.
2. Tomando
a palavra, em um sentido mais particular, a fé é uma evidência e convicção
divina, não apenas de que 'Deus está em Cristo, reconciliando o mundo para
Si Mesmo', mas também, que Cristo me amou, e deu a Si Mesmo por mim. É
através da fé (quer nós a denominemos essência, ou antes, uma propriedade
desta) que nós recebemos Cristo; que recebemos a Ele, em todos os Seus ofícios;
como nosso Profeta, Sacerdote e Rei. É, através disto, que 'Deus O faz
sabedoria, retidão, santificação e redenção, junto a nós'.
3. 'Mas
esta é a fé da convicção, ou fé da lealdade?'.
As
Escrituras não mencionam tal distinção. O Apóstolo diz, 'Existe uma fé, e
uma esperança de nosso chamado'; um cristão, uma fé salvadora; 'assim
como existe um Senhor', em quem acreditamos, e 'um Deus e Pai de todos
nós'. E é certo que essa fé implica necessariamente uma convicção (que aqui
é apenas uma outra palavra para evidência, ficando difícil dizer a diferença
entre elas) de que Cristo me amou, e deu a Si Mesmo por mim. Porque 'aquele
que crê', com a verdadeira fé viva, 'tem testemunho em si mesmo': 'O
Espírito Santo testemunha com seu espírito que ele é filho de Deus'. 'Porque ele é um filho, Deus enviou o
Espírito de Seu Filho, ao seu coração, clamando, Aba, Pai'; dando a ele uma convicção de que ele é assim,
e uma confiança inocente Nele. Mas que seja observado que, pela mesma natureza
da coisa, a convicção vem antes da confiança. Porque um homem não pode ter uma confiança pueril em
Deus, até que ele saiba que ele é filho de Deus. Portanto, convicção,
confiança, esperança, lealdade, ou o que mais possa ser chamado, não é a
primeira, como alguns supõem, mas a segunda ramificação ou ato da fé.
4.
Através da fé, somos salvos, justificados, e santificados; tomando a palavra em
seu sentido mais sublime. Mas como nós somos justificados e salvos por ela?
Esta é nossa terceira indagação. Sendo o ponto principal na questão, e um ponto
de extraordinária importância; e não será impróprio dar a ela a mais distinta e
particular consideração.
III
1.
E, primeiro, como nós somos justificados pela fé? Em que sentido isto deve ser
entendido? Eu respondo, a Fé é a condição; a única condição da justificação. É
a condição: ninguém é justificado, a não ser aquele que crê: sem a fé, nenhum
homem é justificado. E é a única condição: esta, tão somente, é suficiente para
a justificação. Todos os que crêem são justificados, o que quer que tenham ou
não tenham. Em outras palavras: nenhum homem é justificado, até que creia;
todos os homens, quando crêem, são justificados.
2.
'Mas Deus não nos ordena que nos arrependamos também? Sim, que produzamos os frutos do arrependimento –
cessando, por exemplo, de fazermos o mal, e aprendendo a fazermos o bem? E,
tanto um quanto o outro, da mais extrema necessidade; considerando que, se nós
negligenciamos, prontamente um, nós não podemos razoavelmente esperar sermos
justificados, afinal? E, se for assim, como podemos dizer que a fé é a única
condição de justificação?'.
Deus,
indubitavelmente, nos ordena a tanto nos arrependermos, quanto a produzirmos os
frutos do arrependimento; o que se prontamente negligenciamos, nós não
poderemos razoavelmente esperar sermos justificados, afinal: Conseqüentemente,
o arrependimento e os frutos produzidos por ele são, em algum sentido,
necessários para a justificação. Mas eles não são necessários, no mesmo
sentido, para a fé; não no mesmo grau; porque esses frutos são apenas
necessários, condicionalmente; se existe tempo e oportunidade para eles. Por
outro lado, um homem pode ser justificado, sem eles, como foi o caso do ladrão
na cruz (se nós podemos chamá-lo assim; porque um recente escritor descobriu
que ele não era um ladrão, mas uma pessoa muito honesta e respeitável!), mas
ele não poderia ser justificado, sem fé; isto é impossível; já que a fé é
imediatamente necessária para a justificação. Permanece que a fé é a única
condição, imediatamente e proximamente necessária para a justificação.
3. 'Mas
você acredita que nós somos santificados pela fé? Nós sabemos que você acredita
que somos justificados pela fé; mas você não acredita, e, portanto, ensina que
nós somos santificados pelas nossas obras?'.
E
assim tem sido redondamente e veementemente afirmado, durante esses vinte e
cinco anos: mas eu tenho constantemente declarado justamente o contrário, e
isto, de todas as maneiras possíveis. Eu tenho continuamente testificado, em
público ou privado, que nós somos santificados, assim como justificados,
através da fé. E, de fato, uma dessas grandes verdades, ilustra grandemente a
outra. Exatamente como nós somos justificados pela fé, nós somos santificados
pela fé. A fé é a condição; e a única condição da santificação, exatamente como
é da justificação. É a condição: ninguém, é santificado, a não ser aquele que
crê; sem a fé, nenhum homem é santificado. E esta é a única condição: apenas
esta é suficiente para a santificação. Todos que crêem são santificados, o que
quer que tenham ou não. Em outras palavras, nenhum homem é santificado, até que
ele creia: todo homem que crê é santificado.
4.
"Mas não existe um conseqüente arrependimento sobre isto, tanto quanto
um arrependimento prévio para a justificação?
E não é incumbência de todos que são justificados, serem 'zelosos das
boas obras?'. Sim, e essas não são assim necessários, de modo que se um homem
prontamente negligenciá-las, ele não poderá razoavelmente esperar que possa
ser, alguma vez, santificado, em seu sentido completo; ou seja, perfeito no
amor? Mais do que isto, ele pode crescer, afinal, na graça, no conhecimento
amoroso de nosso Senhor Jesus Cristo? Sim, pode reter a graça que Deus já deu a
ele? Pode continuar na fé, que recebeu, ou no favor de Deus? Você mesmo não
admite e continuamente afirma tudo isto? Mas, se assim for, como se pode dizer
que esta é a única condição de santificação?".
5. Eu
admito tudo isto, e mantenho continuamente, como a verdade de Deus. Eu admito
que exista um arrependimento, como conseqüência, tanto quanto o arrependimento
prévio para a justificação. É incumbência de todo aquele que é justificado ser
zeloso das boas obras. E existe tal necessidade, porque, se um homem
prontamente as negligencia, ele não poderá razoavelmente esperar que seja,
alguma vez, santificado; ele não poderá crescer na graça, na imagem de Deus; na
mente que estava em Jesus Cristo; mais ainda, ele não poderá reter a graça que
recebeu; ele não poderá continuar na fé; no favor de Deus. Qual é a inferência
que devemos traçar, daqui a diante? Uma vez que tanto o arrependimento,
corretamente entendido, quanto a prática de todas as boas obras, -- obra de
devoção, assim como obras de misericórdia
(agora, propriamente assim chamada, já que elas brotaram da fé) são, em
algum sentido, necessários à santificação.
6.
O arrependimento conseqüente à justificação, é largamente diferente daquele que
a antecede. Isto implica, em nenhuma culpa, no sentido de condenação; nenhuma
consciência da ira de Deus. Ele não admite qualquer dúvida do favor de Deus, ou
algum 'temor de ter tormento'. É uma convicção razoável, forjada pelo
Espírito Santo, do pecado que ainda permanece em nossos corações; da mente
carnal, que 'ainda perdura' (como nosso igreja fala) 'mesmo naqueles
que são regenerados'; embora ela não reine por muito tempo; ela não tenha
agora domínio sobre eles. É uma convicção de nossa predisposição ao mal;
de um coração inclinado à apostasia; da tendência ainda contínua da carne de
cobiçar contra o espírito. A menos que vigiemos e oremos continuamente, ela se
entrega ao orgulho; algumas vezes, à ira; algumas vezes, ao amor do mundo, ao
amor às facilidades; ao amor à honra; ao amor ao prazer, mais do que amor a
Deus. Trata-se de uma convicção ou tendência de nosso coração à obstinação, ao
ateísmo, ou à idolatria; e, acima de tudo, à descrença; por meio da qual, por
milhares de caminhos, e debaixo de milhares de pretextos, nós estamos sempre
partindo, mais ou menos, do Deus vivo.
7. Com
esta convicção do pecado, permanecendo em nossos corações, existe uma clara
convicção do pecado remanescendo em nossas vidas; ainda aderindo-se a todas as
nossas palavras e ações. No melhor desses, nós agora discernimos uma mistura do
mal no espírito, tanto no conteúdo, quanto na maneira deles; alguma coisa que
não poderia resistir ao julgamento reto de Deus, fosse ele extremado para
marcar o que é feito erroneamente. Onde menos suspeitamos, nós encontramos uma
faísca de orgulho ou obstinação; de descrença ou idolatria; de maneira que
estamos agora mais envergonhados das nossas melhores obrigações, do que
anteriormente de nossos piores pecados: e conseqüentemente, nós não podemos
deixar de sentir que esses estão longe de terem alguma coisa meritória neles;
sim, tão longe de serem capazes de permanecer na vista da justiça divina, que,
por causa desses também seríamos culpados diante de Deus, não fosse pelo sangue
do redentor.
8. A
experiência mostra que, junto com esta convicção do pecado, permanecendo em
nossos corações, e aderindo-se a todas as nossas palavras e ações; tanto quanto
a culpa que, por causa disto, nós poderíamos incorrer, não fôssemos
constantemente borrifados com o sangue redentor; uma coisa mais é subtendida
neste arrependimento; ou seja, a convicção de nosso desamparo; de nossa extrema
incapacidade de termos um bom pensamento; ou formamos um bom desejo; e muito
menos, falarmos uma palavra correta; ou executarmos alguma boa ação, a não ser,
através da Sua graça Onipotente; primeiro nos prevenindo, e, então, nos
acompanhando todo momento.
9. 'Mas
que boas obras são essas, cuja prática você afirma ser necessária para a
santificação:'.
Primeiro,
todas as obras de devoção; tais como oração pública; oração familiar; e orando
em seus aposentos; recebendo a Ceia do Senhor; buscando as Escrituras; ouvindo,
lendo, meditando, e usando tal medida de jejum ou abstinência, como nossa saúde
corpórea permite.
10.
Em Segundo Lugar, todas as obras de misericórdia, quer se refiram aos corpos ou
às almas dos homens; tais como alimentar o faminto; vestir o despido; entreter
o estranho; visitar aqueles que estão na prisão, ou doentes, ou afligidos de
maneira variada; tais como se esforçar para instruir o ignorante; acordar o
pecador estúpido; estimular o desinteressado; confirmar o oscilante; confortar
o fraco de espírito; socorrer o tentado; ou contribuir, de alguma maneira, para
salvar as almas da morte. Este é o arrependimento, e esses são 'os frutos
encontrados nele', e que são necessários para a completa santificação. Este
é o caminho que Deus tem indicado aos Seus filhos, em sua busca pela salvação
completa.
11.
Conseqüentemente, pode aparecer o extremo absurdo daquela opinião,
aparentemente inocente, de que não existe pecado em um crente; que todo pecado
está destruído, raiz e ramificação, no momento em que o homem é justificado.
Não existe lugar para o arrependimento naquele que crê que não existe pecado,
quer em sua vida, ou em seu coração: assim sendo, não existe lugar, para que
ele seja perfeito no amor, para o qual aquele arrependimento, é
indispensavelmente necessário.
12.
Por esta razão, pode igualmente aparecer, que não existe possivelmente perigo
nesse esperar pela salvação completa. Porque, supondo-se que estejamos
enganados; supondo-se que tal bênção nunca foi, ou nunca poderá ser obtida,
ainda assim, nós não perdemos coisa alguma; mais do que isto, esta mesma
expectativa nos estimula a usar todos os talentos que Deus nos tem dado; sim, a
aperfeiçoá-los; de modo que, quando nosso Senhor vier, Ele receberá o que é seu
com crescimento.
13.
Mas para retornar: Embora seja permitido que ambos esse arrependimento e seus
frutos sejam necessários para a completa salvação; ainda assim, eles não são
necessários, tanto no mesmo sentido, quanto no mesmo grau, para a fé:
--
Não, no mesmo grau; porque esses frutos são apenas necessários,
condicionalmente, se houver tempo e oportunidade para eles; se, por um lado um
homem pode ser santificado, sem eles; por outro, ele não poderá ser
santificado, sem a fé. Ou seja, um homem tenha muito desse arrependimento, ou
muito das boas obras, ainda assim, isto tudo não será de proveito algum,
afinal: porque ele não será santificado até que creia. Mas, no momento em que
crer, com ou sem esses frutos; sim, com, mais ou menos, desse arrependimento,
ele será santificado.
--
Não, no mesmo sentido; porque esse arrependimento e esses frutos são apenas
remotamente necessários, -- necessários, com o objetivo da continuidade de sua
fé, assim como, do crescimento dela; considerando que a fé é imediatamente e
diretamente necessária para a santificação. Assim sendo, a fé é a única
condição que é imediatamente e proximamente necessária para a santificação.
14. 'Mas
que fé esta, por meio da qual somos santificados, --salvos do pecado, e
perfeitos no amor?'.
É
a evidência e convicção, divinas; primeiro, do que Deus tem prometido nas
santas Escrituras. Até que estejamos totalmente satisfeitos com isto, não
teremos movido um passo adiante sequer. E alguém poderia imaginar que não seria
necessária uma única palavra mais, para convencer um homem razoável disto, do
que a promessa antiga: (Deuteronômio 30:6) "E o Senhor
teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para
amares ao Senhor teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que
vivas". Quão claramente, isto expressa o ser perfeito no amor! – quão
fortemente, implica o ser salvo de todo pecado! Porque, por quanto tempo o amor
tomar todo o nosso coração, que espaço existirá para o pecado, nele?
15. Em
Segundo Lugar, é a evidência e convicção, divinas, de que o que Deus tem
prometido, Ele é capaz de realizar. Admitindo, portanto, que 'com os homens
é impossível extrair coisa limpa da sujeira'; purificar o coração de todo o
pecado, e cultivá-lo com toda santidade;
ainda assim, isto não cria dificuldade no caso, vendo que 'com Deus, todas
as coisas são possíveis'. E, certamente, ninguém imaginou que isto fosse
possível a qualquer outro poder menor do que aquele do Altíssimo! De maneira
que, se Deus fala, isto deverá ser feito. Deus diz: 'Haja luz; e houve luz!'
16.
Em Terceiro Lugar, é uma evidência e convicção de que Ele é capaz e está
disposto a fazer isto já. E por que não? Um momento para Deus, não é o mesmo
que mil anos? Ele não pode querer mais tempo, para executar qualquer que seja a
vontade Dele. E não pode necessitar ou esperar por mais merecimento ou aptidão
nas pessoas, as quais Ele se agradou de honrar. Nós podemos dizer, por
conseguinte, a qualquer tempo, 'Agora é o dia da salvação!'. 'Hoje,
se você ouvir a voz Dele, não endureça seu coração!'. 'Observe que todas as
coisas já estão prontas; venha para o casamento!'.
17.
Para esta confiança de que Deus é tanto capaz, quanto de boa vontade nos
santifica agora, é necessário que acrescentemos uma coisa mais, -- a evidência
e a convicção, divinas, de que Ele faz isto. De que naquela hora é feita: Deus
diz, no mais profundo da alma: 'De acordo com tua fé, que ela seja junto a
ti!'. Então, a alma é purificada de toda mancha do pecado; é limpa 'de
toda iniqüidade'. O crente, então, experimenta o profundo significado
daquelas palavras solenes: 'Se caminharmos na luz, como Ele está na luz, nós
teremos camaradagem, um com o outro, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos
limpará de todos os pecados'.
18.
'Mas Deus opera está grande obra em nossa alma, gradualmente ou
instantaneamente?'. Talvez, em alguns, ela possa ser forjada gradualmente;
eu quero dizer, neste sentido, -- eles não atentam para o momento particular,
em que o pecado cessa de existir. Mas seria infinitamente desejável, fosse da
vontade de Deus, que isto pudesse ser feito instantaneamente; que o Senhor
pudesse destruir o pecado, 'através do respirar de Sua boca'; de
repente, num piscar de olho. E assim, Ele geralmente faz; um fato claro de que
existe evidência suficiente para satisfazer qualquer pessoa sem preconceito.
Portanto, busque por ela, todo momento! Busque por ela, no caminho acima
descrito; em todas essas boas obras, para o que você 'foi renovado em Jesus
Cristo'. Não existe nisto, então, perigo: você não poderá ser pior, se você
não for melhor, para esta espera. Porque mesmo que você fosse desapontado em
sua esperança, ainda assim, não teria perdido coisa alguma. Mas você não será
desapontado em sua esperança: ela virá, e não tardará. Busque por ela, então,
todos os dias, todas as horas, todos os momentos! Por que não nesta hora, neste
momento? Certamente você pode buscá-la agora, se você acredita que é, através
da fé. E, através desse sinal, você pode certamente saber, se você a está
buscando pela fé, ou pelas obras. Se pelas obras, você necessita que alguma
coisa seja feita, primeiro, antes que você seja santificado. Você pensa: eu
devo primeiro ser ou fazer assim e assim. Então, você a está buscando, através
das obras, até o momento. Se você a busca pela fé, você pode esperar por ela,
como você está; e esperá-la agora. É importante observar que existe uma conexão
inseparável entre esses três pontos, -- esperá-la pela fé; esperá-la, como você
está; e esperá-la agora! Negar um deles, é negar a todos eles; permitir um deles,
é permitir a todos. Você crê que nós somos santificados pela fé? Então, seja
verdadeiro para com seus princípios; e busque por essa bênção, exatamente como
você é, nem melhor, nem pior; como um pobre pecador, que, ainda assim, não tem
coisa alguma a pagar; nada a pleitear, a não ser a 'Cristo morto'. E se
você buscar por isto, como você é, então, aguarde por ela agora. Por nada mais;
por que você deveria? Cristo está pronto, e Ele é tudo que você necessita. Ele
está esperando por você: Ele está à porta! Consinta que o mais profundo de sua
alma clame:
Entra, entra, convidado
celestial!
Não se remova daqui novamente;
Mas ceia comigo, e que o banquete
Seja o amor eterno.
[Editado por Anne-Elizabeth Powell,
Bibliotecária na Point Loma Nazarene
College, com correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied
Theology.]
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