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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O Testemunho do Espírito – Parte II




'O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus'. (Romanos 8:16)


I. Ninguém que creia que as Escrituras são a Palavra de Deus, poderá duvidar de que nós somos filhos de Deus.

II. Qual é o testemunho do Espírito?

III. O próprio Espírito testemunha com nosso Espírito.

IV. Uma abundância de objeções tem sido feitas para isto.

V. O Espírito de Deus testifica para o espírito das almas dos crentes.

I

1. Ninguém que acredite que as Escrituras sejam a palavra de Deus, pode duvidar da importância de tal verdade como esta: -- uma verdade revelada nela, não apenas uma vez, não vagamente; não casualmente; mas freqüentemente, e isto em termos expressos; mas solenemente e com firme propósito, como denotando um dos privilégios peculiares dos filhos de Deus.

2. E é mais necessário explicar e defender essa verdade, porque existe perigo de um lado e de outro. Se nós a negamos, existe o perigo de que nossa religião se degenere em mera formalidade; de que, 'tendo a forma de santidade', nós negligenciemos; ou ainda, 'neguemos o poder dela'. Se a permitimos, mas não entendemos o que permitimos, nós estamos sujeitos a alcançarmos a selvageria do entusiasmo. É, portanto, necessário, no mais alto grau, preservar aqueles que temem a Deus, de ambos esses perigos, através de uma ilustração e confirmação bíblica e racional dessa verdade significativa.

            3. Pode parecer que alguma coisa desse tipo é mais necessária, porque tão pouco tem sido escrito sobre o assunto, com alguma clareza; exceto alguns discursos sobre o lado errado da questão, que a explica, em direção oposta completamente. E não se pode duvidar que esses foram ocasionados, pelo menos, em grande medida, pela explicação grosseira, e não bíblica de outros, que 'não sabiam o que eles falavam, nem a respeito de quem eles afirmavam'. 

            4. Mais proximamente concerne aos Metodistas, assim chamados, entenderem, explicarem e defenderem esta doutrina claramente; porque é uma grande parte do testemunho que Deus tem dado a eles conduzir para toda a humanidade. É através dessa bênção peculiar sobre eles na busca das Escrituras, confirmada pela experiência de seus filhos, que essa grande verdade evangélica tem sido resgatada, o que, em muitos anos, tinha sido perdida e esquecida, ou quase isto;

II

1. Mas o que é o testemunho do Espírito? A palavra original martyria pode exprimir o testemunho com o sangue da verdade de Cristo (como está em diversos lugares); ou, bem menos ambiguamente, prestar testemunho, ou registro (I João 5:11) 'E o testemunho é este'; o testemunho, a soma do que Deus testifica em todos os escritos inspirados: 'que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho'. O que ele testemunha para nós é 'que nós somos filhos de Deus'.O testemunho agora considerado é dado pelo Espírito de Deus para, e com nosso espírito: Ele é a Pessoa testificando. O resultado imediato desse testemunho é, 'o fruto do Espírito; ou seja, 'amor, alegria, paz, longanimidade, gentileza, bondade': e sem esses, o próprio testemunho não pode continuar. Porque é inevitavelmente destruído, não apenas pela autoridade de algum pecado exterior, ou pela omissão de não saber o seu dever, mas por dar chance a qualquer pecado interior; em uma palavra, através do que quer que aflija o Espírito Santo de Deus.

            2. Eu observei, muitos anos atrás, o quanto é difícil encontrar palavras, na língua dos homens, para explicar as coisas profundas de Deus. Realmente, não existe uma que irá expressar adequadamente o que o Espírito de Deus opera nos seus filhos. Mas, talvez, alguém possa dizer, (esperando que seja alguém ensinado por Deus, para corrigir, suavizar ou reforçar a expressão) que, 'pelo testemunho do Espírito, eu quero dizer, uma impressão interior da alma, por meio da qual o Espírito de Deus imediatamente e diretamente testemunha para meu espírito, que eu sou um filho de Deus; que Jesus Cristo me amou, e deu a Si mesmo por mim; que todos os meus pecados foram apagados, e eu, até mesmo eu, estou reconciliado com Deus'.

            3. Depois de vinte anos de consideração mais além, eu não vejo razão para desdizer qualquer parte disto. Nem consinto que alguma dessas expressões possa ser alterada, de maneira a torná-las mais inteligíveis. Eu posso apenas acrescentar que, se qualquer um dos filhos de Deus for indicar quaisquer outras expressões, que sejam mais claras, ou mais concordantes com a palavra de Deus, eu rapidamente irei colocar essas de lado.

4. Entretanto, que se observe que eu não quero dizer, por meio disto, que o Espírito de Deus testifica, através de uma voz exterior; não, nem sempre através de alguma voz interior, embora ele possa fazer isto algumas vezes. Nem eu suponho que ele sempre aplique ao coração (embora freqüentemente possa) um ou mais textos das Escrituras. Mas ele, assim opera sobre a alma, através de sua influência imediata, e por uma operação forte, embora inexplicável, de que o vento tempestuoso e as ondas agitadas cessaram, e existe uma doce calma; o coração descansa, como nos braços de Jesus, e o pecador estando claramente satisfeito que Deus é reconciliado com ele, que todas as suas 'iniqüidade estão perdoadas, e seus pecados espiados'.  

5. Então, qual é o assunto da disputa, concernente a isto? Não é, se existe um testemunho do Espírito. Não, se o Espírito Santo testifica com nosso espírito, que somos os filhos de Deus. Ninguém pode negar isto, sem contradição manifesta das Escrituras, e colocando uma mentira sobre a verdade de Deus. Portanto, existe um testemunho do Espírito que é reconhecido por todas as partes.

6. Nem é questionado, se existe um testemunho indireto, de que somos filhos de Deus. Isto é quase, se não, exatamente o mesmo com o testemunho de uma boa consciência, em direção a Deus; e é o resultado da razão, ou reflexão sobre o que nós sentimos em nossas próprias almas. Falando estritamente, é a conclusão esboçada, parcialmente da palavra de Deus, e parcialmente da própria experiência. A palavra de Deus diz que, todos os que têm o fruto do Espírito, é um filho de Deus; experiência, ou consciência interior, diz me que eu tenho o fruto do Espírito; e daí, eu racionalmente concluo: 'Por conseguinte, eu sou um filho de Deus'. Isto é igualmente permitido, por todos, e então, não existe motivo de controvérsia.

7. Nem estamos afirmando que pode haver algum testemunho real do Espírito, sem o fruto do Espírito. Nós afirmamos exatamente o contrário, que o fruto do Espírito nasce imediatamente desse testemunho; decerto que nem sempre no mesmo grau; mesmo quando o testemunho é dado primeiro: e, muito menos, quando é dado, posteriormente; nem a alegria, nem a paz estão sempre presentes; não, nem o amor; assim como, nem o próprio testemunho é sempre forte e claro.

8. Mas o ponto em questão é, se existe algum testemunho direto do Espírito, afinal; se existe algum outro testemunho do Espírito, do que aquele que surge da consciência do fruto.

III

           

1. Eu acredito que haja; porque este é o significado claro e natural do texto, 'O próprio Espírito testemunha com nosso espírito que somos os filhos de Deus'. Aqui existem dois testemunhos mencionados, que juntos, testificam a mesma coisa; o Espírito de Deus, e o nosso espírito. O recente bispo de Londres, em seu sermão sobre este texto, parece abismado que alguém possa duvidar disto; o que surge do mesmo aspecto das palavras. Agora, 'o testemunho de nosso espírito',  diz o bispo, 'é o mesmo que a consciência de nossa sinceridade'; ou para expressar a mesma coisa, um pouco mais claramente, é a consciência do fruto do Espírito. Quando nosso espírito está consciente disto, do amor, paz, longanimidade, gentileza, bondade, ele facilmente infere dessas premissas que somos os filhos de Deus.
           
2. É verdade que aquele grande homem supôs que o outro testemunho é 'A consciência de nossas boas obras'. Isto, ele afirma, é o testemunho do Espírito de Deus. Mas isto está incluído no testemunho de nosso espírito; sim, e na sinceridade, mesmo de acordo com o senso comum da palavra. Assim, diz o Apóstolo, 'Nosso regozijo nisto, o testemunho de nossa consciência, que na simplicidade e sinceridade divina, refere-se às nossas obras e ações, tanto menos quanto mais, às nossas disposições interiores'. De modo que este não é um outro testemunho, mas o mesmo que ele mencionou antes; a consciência de nossas boas obras, é apenas um ramo da consciência de nossa sinceridade. Conseqüentemente, aqui existe apenas um testemunho ainda. Se, portanto, o texto fala de dois testemunhos, um desses não é a consciência de nossas boas obras, nem de nossa sinceridade; tudo isto estando manifestadamente contido no testemunho de nosso espírito.  

3. Qual, então, é o outro testemunho? Isto poderia ser facilmente descoberto, caso o próprio texto não tivesse sido suficientemente claro, no verso imediatamente precedente: (Romanos 8:15)            'Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai'. Segue-se que o próprio Espírito testemunha com nosso espírito que somos os filhos de Deus.

4. Isto é mais além explicado, através de um texto paralelo em (Gálatas 4:6) 'E, porque sois filhos - Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai'. Isto não é alguma coisa imediata e direta, e não o resultado da reflexão ou argumentação? O Espírito de Deus não clama, 'Aba, Pai', em nossos corações, no momento que é dado, anteriormente a qualquer reflexão sobre nossa sinceridade; sim, a qualquer raciocínio que seja? E isto não é o sentido natural e claro das palavras, que atingem a qualquer um, tão logo ele as ouve? Todos esses textos, então, em seu significado mais óbvio, descreve um testemunho direto do Espírito.

5. Que o testemunho do Espírito de Deus deve, pela própria natureza das coisas, ser antecedente ao testemunho de nosso espírito, pode aparecer dessa simples consideração: Nós devemos ser santos no coração e vida, antes que possamos estar conscientes de que assim somos. Mas devemos amar a Deus, antes de sermos santos, afinal; isto sendo a raiz da santidade. Agora, nós não podemos amar a Deus, até que saibamos que Ela nos ama. Nós o amamos, porque Ele nos amou, primeiro. E não podemos saber do seu amor por nós, até que seu Espírito testemunhe isto para nosso espírito. Até então, nós não podemos acreditar nisto; não podemos dizer: 'A vida que eu agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou, e deu a si mesmo por mim'. Então, e apenas então, nós sentimos nosso interesse em seu sangue, e clamamos com alegria inexprimível : 'Tu és meu Senhor, meu Deus!'.
           
Dai, portanto, o testemunho de Deus deve preceder o amor de Deus, e toda santidade; em conseqüência, deve preceder nossa consciência disto.

            6. E aqui, propriamente, a experiência dos filhos de Deus vem confirmar esta doutrina bíblica; a experiência não de dois ou três; não de alguns; mas de uma grande multidão que nenhum homem pode calcular. Ela tem sido confirmada, tanto nesta, como em todas as épocas, através de uma 'nuvem' de 'testemunhas' vivas e mortas. É confirmado, pela sua experiência e a minha. O próprio Espírito que testemunha com meu espírito que eu sou um filho de Deus, deu-me uma evidência disto, e eu imediatamente clamei, 'Aba, Pai!'. E isto eu fiz (e vocês fizeram o mesmo), antes de refletir a respeito, ou estar consciente de qualquer fruto do Espírito. Foi deste testemunho que eu recebi amor, paz, alegria, e todos os frutos produzidos pelo Espírito.

            Primeiro eu ouvi: 'Teus pecados são perdoados! Tu és aceito! – Eu ouvi e o céu brotou em meu coração'.

7. Mas isto é confirmado, não apenas pela experiência dos filhos de Deus; -- milhares dos quais podem declarar que eles nunca souberam que tinham o favor de Deus, até que foi testemunhado diretamente a eles, pelo seu Espírito, -- mas, através de todos aqueles que estão convencidos do pecado; que sentem a ira de Deus habitando sobre eles. Estes não poderão estar satisfeitos com coisa alguma, a não ser o testemunho direto do Espírito de Deus, de que Ele é 'misericordioso para sua falta de retidão, e não mais se lembra dos pecados e iniqüidades deles'. Diga a qualquer um desses: "Você deve saber que é  filho, refletindo o que ele operou em você, no seu amor, alegria e paz; e ele não irá responder imediatamente, 'por tudo isto, eu sei que eu sou um filho do diabo? Eu não tenho mais o amor de Deus do que o diabo tem; minha mente carnal é inimiga de Deus. Eu não tenho alegria no Espírito Santo; minha alma está pesarosa, até a morte. Eu não tenho paz; meu coração é um mar agitado; eu sou todo, tempestade e temporal?'".

De que maneira essas almas possivelmente podem ser confortadas, a não ser pelo testemunho divino -- não o de que eles agora são bons, ou sinceros, ou ajustados às Escrituras, no coração e vida, mas aquele em que Deus justifica o iníquo? – aquele que, até o momento em que é justificado, é todo impuro; abominando toda a santidade verdadeira; aquele que não faz coisa alguma que seja verdadeiramente boa, até que esteja consciente de que é aceito, não por algumas obras de retidão que tenha feito, mas, através da mera e livre misericórdia de Deus; totalmente e exclusivamente, pelo que o Filho de Deus fez e sofreu por ele. E pode ser de algum outro modo, se 'um homem for justificado pela fé, sem as obras da lei?'. Se for assim, de que santidade interior ou exterior, antecedente a sua justificação, ele poderá estar consciente? Mais ainda: É essencialmente, e indispensavelmente necessário, antes que possamos ser 'justificados livremente, através da redenção que está em Jesus Cristo', que não tenhamos nada a pagar; ou seja, o estamos conscientes de que 'nenhuma coisa boa habitava em nós', nem a santidade interior ou exterior? Algum homem foi justificado, desde a sua vinda ao mundo; ou algum jamais poderá  ser justificado, até que seja trazido para este ponto: 'Senhor, eu estou condenado; mas Tu morreste?'

8. Todos, por conseguinte, que negam a existência de tal testemunho, em efeito, negam a justificação pela fé. Segue-se que ele nem experimentou isto, nem nunca foi justificado; ou que ele esqueceu o que Pedro fala, sobre a purificação desses primeiros pecadores, a experiência que eles, então, tinham de si mesmos; a maneira em que Deus operou na alma deles, quando seus primeiros pecados foram apagados.

9. E a experiência, até mesmo dos filhos do mundo, confirma aqui aquela dos filhos de Deus. Muitos desses têm um desejo de agradar a Deus: Alguns deles se afligem para agradar a Ele: Mas eles - um e todos - não consideram o maior absurdo falar que seus pecados foram perdoados? Qual deles, alguma vez, teve pretensões de tal coisa? E ainda assim, muitos deles estão conscientes da própria sinceridade. Muitos desses, sem dúvida, têm, em um grau, o testemunho do próprio espírito; a consciência de sua própria retidão. Mas isto não traz a eles a consciência de que estão perdoados; nenhum conhecimento de que eles são filhos de Deus. Sim, por mais sinceros que eles sejam; por mais apreensivos que eles geralmente estejam, pela falta de conhecimento dele; claramente mostrando que isto não pode ser conhecido, de uma maneira satisfatória, através do mero testemunho de nosso espírito, sem que Deus diretamente testifique que somos seus filhos.

IV

            Mas, uma abundância de objeções tem sido feita a isto: a principal delas pode ser bem considerada:

É objetado, em Primeiro Lugar:

1. 'A experiência não é suficiente para provar a doutrina que está fundamentada nas Escrituras'. Isto, é indubitavelmente verdadeiro; e é uma verdade importante; mas não afeta a presente questão; porque tem sido mostrado que esta doutrina é fundamentada nas Escrituras, portanto, a experiência é propriamente suposta para confirmá-la.

2. Mas os loucos profetas franceses, e entusiastas de todos os tipos, têm imaginado que eles experimentaram este testemunho. Eles o fizeram; e, talvez, não poucos deles, embora eles não tenham retido isto por mais tempo: Mas, se eles não tiveram o testemunho, isto não prova, afinal, que outros não o tenham experimentado;  como um homem louco que se imagina rei, não prova que não existam reis verdadeiros.

'Mais ainda: muitos que fizeram um apelo fortemente para isto, têm criticado calorosamente a Bíblia'. Talvez, seja assim; mas isto não foi a conseqüência necessária: milhares que apelaram para isto têm a mais alta estima pela Bíblia.  

'Sim, mas muitos têm se iludido fatalmente, por meio disto, e estão cheios de convicção'.

Mas, ainda assim, uma doutrina bíblica não é pior, embora os homens abusem dela, para sua própria destruição. 

3. 'Mas é afirmado, como uma verdade indiscutível, que o fruto do Espírito é o testemunho do Espírito'. Não, sem dúvida; milhares duvidam disto; sim, negam isto plenamente: Mas vamos observar: Se o testemunho for suficiente, não existe necessidade de qualquer outro. No entanto, ele é suficiente, a não ser, em uma dessas situações:

1o. Na total falta de frutos do Espírito. E este é o caso, quando o testemunho direto é dado primeiro.

2o. Não se percebendo que foi dado. Mas contender por isto, neste caso, é contender por estar no favor de Deus, e não sabê-lo. Na verdade; não sabendo disto, naquele momento, ou por qualquer outro meio, do que através do testemunho que é dado para esta finalidade. E por isto nós contendemos; nós afirmamos que o testemunho direto pode brilhar claro, mesmo enquanto o indireto está sob uma nuvem.

É objetado, em Segundo Lugar:

4. 'O Objetivo de o testemunho contender por isto, é provar que a confissão que fazemos é genuína'. Mas ele não prova isto. Eu respondo que provar isto não é o objetivo dele. Ele é antecedente a fazermos qualquer confissão, afinal, a não ser esta de sermos pecadores perdidos, incompletos, culpados, e sem esperança. É objetivado afirmar àqueles, a quem é dado, que eles são filhos de Deus; que eles estão 'justificados livremente, através de Sua graça, pela redenção que está em Jesus Cristo'. E isto não supõe que seus pensamentos, palavras, obras e ações, precedentes, estejam de acordo com a regra das Escrituras; isto supõe completamente o contrário, ou seja, que eles são pecadores sobre tudo; pecadores, ambos no coração e vida. Fosse isto do contrário, Deus não justificaria o devoto, e suas obras seriam consideradas retidão para eles. Eu não posso deixar de temer que uma suposição de sermos justificados pelas obras, esteja na raiz de todas essas objeções; porque, quem quer que cordialmente acredite que Deus imputa a todos que são justificados, retidão, sem obras, nós não encontraremos dificuldade em admitir o testemunho de seu Espírito, precedendo o fruto dele.

É objetado, em Terceiro Lugar:

5.  "Um evangelista diz, 'Seu Pai celeste irá dar o Espírito Santo a eles que o pedirem'. O outro evangelista chama a mesma coisa de 'dom'; demonstrando plenamente que o caminho do Espírito testemunhar, é dando os dons". Não! Aqui não existe nada, afinal, a respeito do testemunho, tanto em um texto, quanto em outro. Portanto, até que essa demonstração seja mais bem apresentada, eu permito que fique como está.           

É objetado, Em Quarto Lugar:

6. "As Escrituras dizem que 'uma árvore é conhecida pelos seus frutos'. Provem todas as coisas. Provem os espíritos. Examinem a si mesmos! A maior verdade: portanto, que todo homem que crê que tenha o testemunho, em si mesmo, experimente, se é de Deus. Se o fruto se seguiu, é de Deus; do contrário, não é. Porque, certamente, 'a árvore é conhecida pelos seus frutos":

Por meio disto, nós provamos que ele é de Deus. 'Mas o testemunho direto nunca se refere ao Livro de Deus'. Não, estando sozinho; não, como um testemunho único; mas como que ligado a outro; como que dando um testemunho comum; testificando com nosso espírito que somos filhos de Deus. E quem é capaz de provar que ele não se refere assim, a essas mesmas Escrituras? Examinem a si mesmos, se vocês estão na fé; provem a si mesmos.Vocês sabem, não por si mesmos, que 'Jesus Cristo está em vocês?'. Como é provado que eles não sabiam disto, primeiro, através da consciência interior, e, depois, através do amor, alegria e paz?

            7. 'Mas o testemunho, surgindo de uma mudança interna e externa, alude constantemente para a Bíblia. E é assim que acontece: E nós estamos constantemente nos submetendo a isto, para confirmar o testemunho do Espírito'. 
           
Não somente isto; todas as marcas que temos recebido, por meio das quais, distinguimos as operações do Espírito de Deus da ilusão, se referem às mudanças forjadas em nós. Isto, igualmente, é, sem dúvida, verdadeiro.

É objetado, em Quinto Lugar:
           
8. 'O testemunho direto do Espírito não nos preserva da maior ilusão'. Aquele testemunho é adequado para ser confiado àquele, cujo testemunho não pode ser levado em conta? Que é constrangido a dirigir-se para alguma coisa mais, para provar o que ele afirma? Eu respondo: Para nos preservar da ilusão, Deus nos dá dois testemunhos de que somos seus filhos. E isto, eles testificam conjuntamente. Portanto, 'o que Deus reuniu, nenhum homem pode separar'. E, enquanto eles estiverem unidos, nós não poderemos ser iludidos: Pode-se confiar no testemunho deles. Eles estão ajustados para serem confiados no mais alto grau, e não precisam de coisa alguma mais para provar o que eles afirmam. 

            'Não apenas isto:o testemunho direto tão somente afirma, mas não prova coisa alguma'. Através de dois testemunhos cada palavra poderá ser estabelecida. E, quando o Espírito testemunha com nosso espírito, como Deus o ordena a fazer, então, ele prova completamente que somos filhos de Deus.

É objetado, em Sexto Lugar:
           
9. Que vocês reconheçam que a mudança forjada seja um testemunho suficiente, exceto no caso de provas severas, tal como aquela de nosso Salvador na cruz; mas nenhum de nós pode ser tentado daquela maneira. No entanto, vocês ou eu podemos ser tentados, de alguma forma; assim como, qualquer outro filho de Deus, de modo que será impossível para nós mantermos nossa confiança filial em Deus, sem o testemunho direto de seu Espírito.

            10. Finalmente, objeta-se que, 'a maior parte dos contendores por ela sejam alguns dos mais arrogantes e não generosos dos homens'. Talvez, alguns dos mais acalorados contendores para ela, sejam ambos orgulhosos e não caridosos; mas muitos dos mais seguros contendores por ela são eminentemente meigos, e humildes; e, de fato, em todos os outros aspectos também os verdadeiros seguidores do seu pacífico Senhor.

As objeções precedentes são as mais importantes que eu tenho ouvido, e eu acredito que contêm a força da causa. Assim sendo, eu entendo que quem quer que considere essas objeções, calmamente e imparcialmente, e responda consecutivamente, irá facilmente ver que elas não destroem; não, nem enfraquecem a evidência daquela grande verdade, de que o Espírito de Deus, diretamente, assim como indiretamente, testifica que somos filhos de Deus.

V

1. A soma de tudo isto é: O testemunho do Espírito é uma impressão interior nas almas dos crentes, por meio da qual, o Espírito de Deus testifica diretamente para o espírito deles, que eles são filhos de Deus. E não é questionado, se existe um testemunho do Espírito; mas se existe um testemunho direto; se existe algum outro, do que este que surge da consciência do fruto do Espírito. Nós acreditamos que existe; porque este é significado natural, claro do texto, ilustrado, ambas pelas palavras precedentes, e pela passagem paralela na Epístola aos Gálatas; porque, na natureza das coisas, o testemunho deve preceder o fruto que brota dele, e porque esse significado claro da palavra de Deus, é confirmado pela experiência de inumeráveis filhos de Deus ; sim, e pela experiência de todos os que estão convencidos do pecado; dos  que nunca podem descansar, até que tenham o testemunho direto; e até mesmo, pelos filhos do mundo, que, não tendo o testemunho, em si mesmos, um e todos declaram que ninguém pode ter seus pecados perdoados.

            2. E, considerando que é objetado, que a experiência não é suficiente para provar uma doutrina não confirmada através das Escrituras; -- que os loucos e entusiastas, de todos os tipos, têm imaginado tal testemunho; que o objetivo daquele testemunho é provar nossa genuína profissão; que o objetivo ela não responde; -- que as Escrituras dizem: 'A árvore é conhecida pelos seus frutos'; 'examinem a si mesmos; provem a si mesmos'; e, entretanto, o testemunho direto nunca é referido em toda a Bíblia; -- que ele não nos guarda das maiores ilusões; e, Finalmente, que a mudança forjada em nós é um testemunho suficiente, exceto em tais provas, como somente Cristo passou: -- Nós respondemos: 1o. A experiência é suficiente para confirmar a doutrina , que é fundamentada nas Escrituras. 2o. Embora eles fantasiem muitas experiências, que eles não têm, isto não prejudica a experiência real. 3o. O objetivo do testemunho é nos assegurar de que somos filhos de Deus; e este objetivo ele atende.  4o. O verdadeiro testemunho é conhecido pelos seus frutos, 'amor, paz, alegria'; não, de fato, precedendo, mas como conseqüência dele. 5o. Não pode ser provado que o testemunho, tanto direto quando indireto, não alude a este texto: 'Vocês sabem, por vocês mesmos, que Jesus Cristo está em vocês?'. 6o. O Espírito de Deus, testemunhando com nosso espírito, nos guarda de toda ilusão: E, Finalmente: todos nós estamos sujeitos às provas, nas quais o testemunho de nosso próprio espírito não é suficiente; em que, nada menos do que o testemunho direto do Espírito de Deus pode nos assegurar de que somos seus filhos. 

3. Duas inferências podem ser traçadas do todo:

A Primeira, é não permitir que alguém presuma descansa,r em qualquer suposto testemunho do Espírito, que esteja separado do fruto deste. Se o Espírito de Deus realmente testifica que somos os filhos de Deus, a conseqüência imediata será o fruto do Espírito; igualmente 'o amor, alegria, paz, longanimidade, gentileza, bondade, fidelidade, mansidão, temperança'. E como quer que esse fruto possa ser sombrio, por enquanto, durante o tempo de tentação forte, de modo que não apareça à pessoa provada, enquanto satanás está analisando cuidadosamente a ele como trigo; ainda assim, a parte substancial dela permanece, até mesmo debaixo de nuvens mais grossas. É verdade que a felicidade no Espírito Santo pode ser introvertida, durante a hora de provação; sim, a alma pode estar 'excessivamente pesarosa',  enquanto 'a hora e o poder da escuridão' continuam; mas, até mesmo isto, é geralmente restaurado, com crescimento, até que nos regozijemos 'com a alegria inexprimível e cheia de glória'.  

4. A Segunda inferência é, que ninguém descanse em qualquer suposto fruto do Espírito, sem o testemunho. Devem existir antecipações de alegria, paz, amor, e estas, não ilusórias, mas realmente de Deus, antes mesmo, de termos o testemunho, em nós mesmos; antes, que o Espírito de Deus testemunhe com nosso espírito que temos 'redenção no sangue de Jesus, até mesmo o perdão dos pecados'. Sim, pode existir um grau de longanimidade, de gentileza, de fidelidade, mansidão, temperança, (não uma sombra disto, mas um nível real, através da graça preventiva de Deus), antes de  'sermos aceitos no Amado', e, conseqüentemente, antes de termos o testemunho de nossa aceitação: Mas, de maneira alguma, é aconselhável descansar aqui; porque colocamos em risco nossas almas, se assim o fizermos. Se formos sábios, nós deveremos continuamente clamar a Deus, até que seu Espírito clame em nosso coração, 'Aba, Pai!'. Este é o privilégio de todos os filhos de Deus, e sem isto, nós não podemos estar seguros de que somos seus filhos. Sem isto, nós não podemos preservar a paz permanente; nem evitar as dúvidas e medos desorientadores. Mas, uma vez tendo recebido o Espírito de adoção, essa 'paz que ultrapassa todo entendimento', e que expulsa toda a dúvida e medo, dolorosos, irá 'manter nossos corações e mentes, em Jesus Cristo'. E quando esta produzir seus frutos genuínos, toda a santidade interior e exterior, indiscutivelmente, ela será a vontade Dele que nos chamou, para nos dar, para sempre, o que Ele nos deu uma vez; assim sendo, não existe necessidade de que devamos ainda estar destituídos, tanto do testemunho do Espírito de Deus, quanto do testemunho de nosso, a consciência de nosso caminhar, em toda a retidão e santidade verdadeira

Newry, April 4, 1767.

            [Editado pela Sra. Connie Dunn (Reitora Acadêmica da Nazarene Theological College in Brisbane, Queensland, Australia), com correções de George Lyons of Northwest Nazarene College (Nampa, Idaho) for the Wesley Center for Applied Theology.]


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