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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Sobre o Sermão do Monte – Parte V



John Wesley

            'Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque, em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um jota ou til se omitirá da lei, até que ela seja cumprida. Qualquer, pois, que violar um desses menores mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos céus: aquele, porém, que os cumprir e os ensinar, será chamado grande no Reino dos céus' (Mateus 5:17-20).

            1. Em meio à imensidade de reprovações que caíram sobre Ele, que 'era o menosprezado e rejeitado dos homens', não seria de se surpreender, que Ele fosse o professor das boas novas; o introdutor da nova religião. Isto poderia ser afirmado, com muitas cores, porque muitas das expressões que Ele usou não eram comuns entre os judeus: ou eles não as usaram, afinal; ou não as usaram no mesmo sentido; ou no seu significado completo e forte. Acrescente a isto que o adorar a Deus 'em espírito e verdade' parecia ser uma religião nova àqueles que não conheceram, até o momento, a não ser a adoração exterior; coisa alguma, a não ser a 'forma de santidade'.

            2. E não é improvável que alguns poderiam esperar que Ele fosse abolir a velha religião e trazer uma outra, -- uma em que eles tivessem a esperança de ser um caminho mais fácil para os céus. Mas nosso Senhor refuta isto, nessas palavras, tanto as vãs esperanças de uns, quanto as calúnias infundadas de outros. Eu devo considerá-las, na mesma ordem, em que elas se colocam, tomando cada verso do discurso, num título distinto.

I

            I. ''Não pensem que vim destruir a Lei, ou os Profetas: eu não vim destruir, mas cumpri-las'.

            A lei ritual ou cerimonial, entregue por Moisés para os filhos de Israel, contendo todas as injunções e ordenanças que eram relacionadas aos antigos sacrifícios e serviços do templo, nosso Senhor, de fato, veio destruir, dissolver e abolir completamente. Para isto, foram testemunhas todos os Apóstolos; não apenas Barnabé e Paulo, que veementemente opuseram-se contra todos que ensinaram que os cristãos deveriam 'manter a lei de Moisés' (Atos 15:5) 'Alguns, porém, da seita dos fariseus que tinham crido se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés'; não apenas Pedro, que denominou o insistir nisso, na observância da lei ritual, 'por Deus à prova', e 'colocar um jugo no pescoço dos discípulos, que nem nossos anciãos', diz ele, 'nem nós, somos capazes de suportar',  mas todos os Apóstolos, presbíteros, e irmãos, estando reunidos em um só acordo (Atos 15:22)¸ declararam que ordenar a eles que mantenham esta lei, era 'subverter suas almas'; e que 'pareceu bem ao Espírito Santo' e para eles, não impor tal fardo sobre eles. (Atos 15:28). Essas 'ordenanças escritas' nosso Senhor destruiu, jogou fora, e pregou em Sua cruz.

            2. Mas a lei moral, contida nos Dez Mandamentos, - e reforçada pelos profetas, Ele não tirou fora. Não era o objetivo de Sua vinda, ab-rogar alguma parte dela. Esta é uma lei que nunca poderá ser quebrada; que resiste, como uma testemunha fiel nos céus.

A lei moral se situa, em uma fundação completamente diferente da lei cerimonial ou ritual, que foi apenas designada para uma restrição temporária, em cima da desobediência e obstinação das pessoas; considerando que isto foi no começo do mundo, não sendo 'escrita em tábuas', mas nos corações de todos os filhos dos homens, quando eles vieram das mãos do Criador. E, não obstante, as letras, uma vez escritas pelo dedo de Deus, estejam agora, em grande parte, desfiguradas pelo pecado; ainda assim, elas não podem ser apagadas, enquanto nós tivermos alguma consciência de bem e mal. Cada parte dessa lei deve permanecer em vigor, sobre toda a humanidade, e em todas as épocas; não dependendo de tempo ou lugar; ou quaisquer outras circunstâncias, sujeitas a mudanças; mas sobre a natureza de Deus e a natureza do homem, e a relação imutável para com um e  outro.

3. 'Eu não vim destruir a lei, mas cumpri-la'. Alguns têm imaginado que nosso Senhor quis dizer, -- Eu vim para cumpri-la, através de minha inteira e perfeita obediência a ela. Mas isto não parece ser o que Ele pretende aqui, sendo estranho à extensão de seu presente discurso. Sem dúvida, seu significado neste lugar é, (consistentemente com tudo o que vem antes e segue depois) – Eu vim estabelecê-la, em sua plenitude, a despeito de todo a aparência enganosa dos homens: Eu vim situá-la, em seu entendimento completo e claro, por mais difícil de entender e obscura que seja: eu vim declarar a verdade, e o completo significado de cada parte dela; para mostrar o comprimento e largura; a inteira extensão de todo mandamento contido nela; e a altura e profundidade, a sua pureza e espiritualidade inimagináveis, em todas as suas ramificações. 

            4. E isto nosso Senhor tem abundantemente demonstrado nas partes precedentes e subseqüentes do discurso, diante de nós, nas quais ele introduziu uma nova religião no mundo. Mas a mesma,desde o início: -- a religião, cuja essência é sem dúvida, tão antiga quanto a criação, sendo contemporânea do homem, e tendo procedido de Deus, no momento em que 'o homem tornou-se uma alma vivente'; (a essência, eu digo; porque algumas circunstâncias dela, relaciona-se agora ao homem como uma criatura caída); -- a religião testemunhada, tanto pela lei, quanto pelos profetas, em todas as gerações que se seguiram. Ainda assim, ela nunca foi tão completamente explicada, nem tão inteiramente entendida,  até que o próprio grande Autor condescendeu em dar à humanidade esse comentário autêntico sobre todas as ramificações essenciais dela; ao mesmo tempo, declarando que ela nunca deverá ser mudada, mas deverá permanecer em vigor até o fim do mundo. 

II

1. 'Em verdade eu digo a vocês', (um prefácio solene, que denota a importância e a certeza do que estava sendo falado) 'até que o céu e terra passem, nem um jota ou um til, deverá, de forma alguma, serem tirado da lei, até que ela seja cumprida'.

            'Um jota':-- Literalmente, nem um iota [letra grega]; nem a mais insignificante vogal: 'Nem um til',  -- um ângulo, ou ponto de uma consoante. Esta é uma expressão proverbial que significa que nenhum mandamento contido na lei moral; nem a menor parte de algum dele, por mais insignificante que seja, deverá ser anulado.

            'Não deverá, de maneira nenhuma, deixar de cumprir a lei'. A negativa dupla, aqui usada, fortalece o sentido, de modo a admitir nenhuma contradição: E pode ser observado, que não se trata apenas do futuro, declarando o que será; mas tem igualmente a força de um imperativo, ordenando que deverá ser. Esta é uma palavra de autoridade, expressando a soberana vontade e poder Dele que fala; Dele, cuja palavra é a lei do céu e terra, e se mantém para sempre e sempre.

            'Um jota ou um til deverá, de maneira alguma, passar, até que o céu e terra passem'; ou como está expresso imediatamente depois, até que tudo (ou melhor, todas as coisas) sejam cumpridas; até a consumação de todas as coisas. Aqui não existe, por conseguinte, lugar para aquela pobre evasão (com a qual alguns têm livrado a si mesmos grandemente) de que 'nenhuma parte da lei deveria para passar, até que toda a lei fosse cumprida: Mas ela já foi cumprida por Cristo; portanto, agora, deverá passar, para que o Evangelho possa ser estabelecido'. Não é assim; a palavra todo não significa toda a lei, mas todas as coisas no universo; nem o termo 'cumprida', faz qualquer referência à lei, mas a todas as coisas no céu e terra.

2. De tudo isto nós podemos aprender que não existe contradição entre a lei e o Evangelho; que não existe necessidade da lei ser extinta, para que o Evangelho possa ser estabelecido. De fato, nem um deles substitui o outro, mas concordam perfeitamente bem juntos. Sim, as mesmas palavras, consideradas em diferentes aspectos, são partes, tanto da lei, quanto do Evangelho. Se eles são considerados como mandamentos, eles são parte da lei; se, como promessas, do Evangelho. Assim, 'Tu deves amar ao Senhor teu Deus com todo teu coração', quando considerado como um mandamento, é uma ramificação da lei; quando levado em conta de promessa, é uma parte essencial do Evangelho; -- o Evangelho, sendo nada mais do que os mandamentos da lei, dispostos, através do caminho das promessas. Assim sendo, pobreza de espírito; pureza de coração e qualquer outro que esteja anexa na santa lei de Deus, não é outra coisa, quando vista sob a luz do Evangelho, do que as tão grandes e preciosas promessas.

            3. Existe, por conseguinte, uma conexão intima que pode ser concebida, entre a lei e o Evangelho. De um lado, a lei continuamente cria o caminho para o Evangelho, e nos aponta até ele; do outro, o Evangelho continuamente nos conduz a um cumprimento mais exato da lei. A lei, por exemplo, requer que amemos a Deus, que amemos nosso próximo, que sejamos humildes, mansos e santos. Nós sentimos que não somos suficientes para essas coisas; sim, que 'com o homem isto é impossível': Mas nós vemos a promessa de Deus, nos dando aquele amor, e nos tornando humildes, mansos e santos: Nós nos agarramos a esse Evangelho; a essas boas novas; e isto é feito junto a nós, de acordo com nossa fé; e a 'retidão da lei é cumprida em nós', através da fé que está em Jesus Cristo.

            Nós podemos ainda observar, mais além, que todo mandamento nas Escrituras Sagradas é apenas uma promessa encoberta. Porque, através daquela declaração solene: 'Esta é a aliança que eu farei, diz o Senhor; eu irei colocar as leis em suas mentes, e escrevê-las em seus corações'. Deus se comprometeu a dar o que quer que ele ordene. Ele nos ordena, então, que 'oremos, sem cessar?'. Que 'nos regozijemos, mais e mais?'. 'Que sejamos santos, como Ele é santo?'. É o suficiente. Ele irá operar em nós essas mesmas coisas. Elas serão em nós, de acordo com sua palavra.

            4. Mas, se essas coisas são assim, nós não podemos estar perdidos quanto ao que pensar sobre aqueles que, em todas as épocas da Igreja, têm empreendido mudar ou substituir alguns mandamentos de Deus, como eles professaram, através da direção peculiar de seu Espírito. Cristo aqui tem nos dado uma regra infalível, por meio da qual, julga todas essas pretensões. O Cristianismo, como ele inclui toda a lei moral de Deus; tanto pelo caminho da injunção, quanto da promessa, se nós entendermos que ele é designado de Deus para ser a última de todas as suas revelações; não haverá outra a vir depois disso. Isto deve durar até a consumação de todas as coisas. Como conseqüência, essas tais novas revelações são de Satanás, e não de Deus; e todas essas pretensões à outra revelação, por mais perfeitas que sejam, caem por terra, afinal.'Céus e terra passarão'; mas esta palavra 'não passará'.

III

1. 'Qualquer, pois, que violar um desses menores mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos céus: aquele, porém, que os cumprir e os ensinar, será chamado grande no Reino dos céus'.

Quem, ou o que são eles que darão à 'pregação da lei', um caráter de reprovação? Será que eles não sabem, em quem a reprovação deles irá cair, -- quais cabeças ela deverá golpear, por fim? Qualquer um que, por este motivo, menosprezar a nós, menosprezará a Ele que nos enviou. Por que homem algum pregou a lei como Ele; mesmo quando ele veio, não para condenar, mas para salvar o mundo; quando ele veio propositadamente para 'trazer vida e imortalidade à luz, através do Evangelho?'. Pode alguém pregar a lei mais expressamente, mais rigorosamente, do que Cristo faz nessas palavras? E quem é ele que deve corrigi-la? Quem é ele que deve instruir o Filho de Deus, em como pregar? Quem irá ensinar a Ele um caminho melhor, para entregar a mensagem que Ele recebeu do Pai?

2. 'Qualquer, pois, que violar um desses mandamentos', ou um dos menores desses mandamentos. – Nós podemos observar, que 'esses mandamentos' é um termo usado por nosso Senhor, como equivalente com a lei e os Profetas, -- o que é a mesma coisa; vendo que os Profetas nada acrescentaram à lei; apenas declararam, explicaram ou reforçaram-na, quando movidos, pelo Espírito Santo.

'Qualquer que violar alguns desses menores mandamentos'; especialmente, se for feito propositadamente ou presunçosamente: -- Apenas um; -- porque 'ele que mantém toda a lei, e', mesmo assim, 'viola em um ponto, é culpado afinal'; a ira de Deus habita nele, tão certo, quanto se ele tivesse violado cada um. De modo que nenhuma tolerância é feita para uma única concupiscência predileta; nenhuma ressalva para um ídolo; nenhuma desculpa por se reprimir de todas as demais; apenas dando caminho para um único pecado íntimo. O que Deus exige é uma obediência total; como se tivéssemos um olho único para todos Seus mandamentos; do contrário, nós perderemos todo o trabalho que tivemos em manter alguns, e as nossas pobres almas para todo o sempre.  

            'Algum desses menores', ou um dos menores desses mandamentos: -- Aqui está uma outra desculpa eliminada, por meio da qual, muitos que não enganaram a Deus, miseravelmente ludibriaram as suas próprias almas. 'Este pecado', diz o pecador, 'não é um pecado pequeno? O Senhor não irá me poupar nisso? Certamente, que ele não será extremista para marcar este, já que eu não ofendi nas maiores questões da lei'. Esperança vã! Falando como homens, nós podemos denominar esses, de grandes, e aqueles, de pequenos mandamentos; mas, na realidade eles não são assim. Se nós usarmos a propriedade da linguagem, não existe tal coisa como um pequeno pecado; todo pecado é uma transgressão da lei santa e perfeita; e uma afronta à grande Majestade dos céus.

3. 'E ensinarem aos homens dessa maneira'. De alguma forma, pode ser dito que, qualquer que abertamente viola algum mandamento, ensina aos outros o mesmo; porque o exemplo fala, e muitas vezes, mais alto do que a regra. Neste sentido, é aparente que cada bêbado declarado é um professor de alcoolismo; todo aquele que viola o sábado, constantemente ensina seu próximo a profanar o dia do Senhor. Mas isto não é tudo: Um violador habitual da lei, raramente está satisfeito em parar por aqui; ele geralmente ensina outros homens a fazerem o mesmo, através de palavras, assim como, de exemplo; especialmente, quando ele se embrutece, e odeia ser reprovado. Tal pecador, logo se principia, em um advogado para o pecado; ele defende o que ele está resolvido a não renunciar; ele desculpa o pecado que ele não irá deixar, e, assim, ensina diretamente todo pecado que ele comete.

'Ele será chamado o menor no reino dos céus'; -- ou seja, não terá parte nele; Ele é um estranho ao reino dos céus, que está na terra; ele não terá porção naquela herança; não compartilhará daquela 'retidão, e paz, e alegria no Espírito Santo'. Nem, em conseqüência, poderá ter alguma parte na glória a ser revelada.       

            4. Mas, se até mesmo esses que assim violam, e ensinam a outros a violarem 'um dos menores desses mandamentos, serão chamados menores no reino dos céus'; não terão parte no reino de Cristo e de Deus; se estes deverão ser lançados para dentro da 'escuridão exterior, onde existe lamentação e ranger de dentes', então, como será para aqueles que nosso Senhor, principalmente e originalmente, pretende nessas palavras, -- aqueles que, não obstante, levem o caráter de Professores enviados de Deus, violam seus mandamentos; sim, e abertamente ensinam a outros a assim procederem; sendo corruptos tanto na vida quanto na doutrina?

            5. Esses são de diversos tipos. Os do primeiro tipo, vivem em algum pecado terrível habitual. Agora, se um pecador comum ensina, através do seu exemplo, quanto mais um Ministro pecaminoso, -- mesmo que ele não pretenda defender, desculpar ou minorar seu pecado! Se ele faz isto, ele é um assassino, de fato; sim, um assassino geral de sua congregação! Ele povoa as regiões da morte. Ele é o instrumento preferido do príncipe das trevas. Quando ele procede assim, 'o inferno move-se para encontrá-lo em sua vinda'. Nem ele pode afundar no abismo insondável, sem carregar uma multidão atrás de si.

            6. Próximo a estes, estão os agradáveis; um tipo de homens bons: os que vivem uma vida fácil, e inofensiva; não se preocupando com pecado exterior, nem com santidade interior; homens que  não são notáveis, nem por um caminho, nem por outro; nem para a religião, nem para a descrença; que são bastante regulares, tanto em público, quanto em privado, mas que não pretendem ser alguém mais perfeito do que seu próximo. Um Ministro deste tipo não apenas viola um, ou alguns dos menores mandamentos de Deus; mas todas as grandes e importantes ramificações de sua lei, que se relaciona ao poder da santidade, e a tudo que requer que 'passemos o tempo de nossa hospedagem em temor'; para 'operarmos nossa salvação com temor e tremor'; ' tendo sempre nossos quadris amarrados, e nossas luzes queimando'; nos esforçando ou nos afligindo 'para entrarmos pelo portão estreito'. E ele ensina os homens assim, através de toda a forma de sua vida, e no teor geral de sua pregação, que uniformemente tende a confortar aqueles que, em seus sonhos prazerosos, se imaginam cristãos e não o são; para persuadir a todos que atendem ao seu ministério, a dormirem e descansarem. Não seria de se maravilhar, por conseguinte, que ele, e aqueles que o seguem acordassem juntos no fogo eterno'.

            7. Mas, acima de todos estes, no mais alto pódio dos inimigos do Evangelho de Cristo, estão aqueles que abertamente e explicitamente 'julgam a lei', por si mesma, e 'falam mal dela'; aqueles que ensinam os homens a violarem, (a dissolverem, a desprenderem-se, a se desobrigarem dela), não apenas de um mandamento, quer seja ele o menor, ou o maior, mas de todos, de uma tacada só; os que ensinam, sem qualquer pretexto, em tantas palavras: 'O que nosso Senhor fez com a lei? Ele a aboliu. Não existe outra obrigação, a não ser crer. Todos os mandamentos são inadequados para nossos tempos. Nenhum homem é obrigado agora a seguir um passo; a gastar um centavo; a retirar ou omitir um pedaço, de qualquer exigência da lei'. Isto, realmente, é levar os assuntos com um pulso forte; isto é opor-se a nosso Senhor, e dizer a Ele que Ele não soube como entregar a mensagem para o qual Ele fora enviado. Ó, Senhor, não coloque este pecado na responsabilidade deles! Perdoa-lhes, Pai; porque eles não sabem o que fazem!

8. A mais surpreendente de todas as circunstâncias que atendem a essa forte ilusão, é que eles que desistiram dela, realmente acreditam que eles honram a Cristo, subvertendo sua lei, exaltando seu trabalho, enquanto destroem sua doutrina! Sim, eles o honram, assim como fez Judas, quando ele disse: 'Saudações, Mestre', e o beijou. E Jesus pode justamente dizer a cada um deles: 'Traístes o Filho do Homem com um beijo?'. Isto não é nada diferente, do que traí-lo com um beijo; falar de seu sangue, e tirar fora sua coroa; estabelecer a luz, através de alguma parte de sua lei, debaixo da pretensão de melhorar seu Evangelho. Não, de fato, pode alguém escapar dessa responsabilidade, quem prega fé, de tal maneira, que tanto direta, quanto indiretamente tende a colocar de lado algum ramo da obediência. Que prega Cristo, como que a ab-rogar, ou enfraquecer, de qualquer modo, o menor dos mandamentos de Deus.

9. É impossível, de fato, ter tão alta estima pela 'fé do eleito de Deus'. E nós devemos todos declarar: 'Pela graça,você é salvo, através da fé; não da obras, a fim de que homem algum possa gabar-se'. Devemos clamar alto para todo pecador penitente: 'Creia no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo'. Mas, ao mesmo tempo, nós devemos cuidar que todos os homens saibam, que nós não estimamos a fé, a não ser aquela que é operada, através do amor. 'Porque em Jesus Cristo, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim a fé que opera pelo amor'. (Gálatas 5:6); e que nós não somos salvos pela fé, a menos que sejamos libertos do poder e da culpa do pecado. E, quando nós dizemos: 'Creia, e você será salvo'; nós não queremos dizer: 'Creia, e você dará um passo do pecado para o céu, sem alguma santidade entre eles; a fé substituindo a santidade'; mas: 'Creia, e você será santo; acredite em nosso Senhor Jesus, e terá paz e poder juntos. Você terá a paz Dele, em que você crê, para colocar o pecado debaixo de seus pés; terá poder, para amar o Senhor teu Deus, com todo o seu coração; e para servi-lo com todas as suas forças:terá poder 'pela perseverança continua em fazer o bem, em buscar pela glória, e honra e imortalidade; você deverá tanto cumprir, como ensinar os mandamentos de Deus - do menor até o maior: Você deverá ensiná-los, através de sua vida, assim como de suas palavras, e assim sendo, 'ser chamado grande no reino dos céus'.    

1. Qualquer que seja o outro caminho que ensinemos para o reino dos céus, para a glória, honra e imortalidade; seja ele chamado de caminho da fé, ou por algum outro nome, ele será, na verdade, o caminho para a destruição. Ele não irá trazer paz ao homem, por fim. Para isto, disse o Senhor: '[Verdadeiramente] digo a vocês, que com exceção à sua retidão que deve exceder a retidão dos Escribas e fariseus, você, de maneira alguma, entrará no reino dos céus'.   

            Os Escribas, tão freqüentemente mencionados no Novo Testamento, como alguns dos mais constantes e veemente opositores de nosso Senhor, não eram apenas os secretários, ou homens encarregados das escritas, como este termo nos inclinaria a acreditar. Nem eram advogados, como em nosso senso comum da palavra; embora ela tenha sido assim transcrita em nossa tradução. A ocupação deles não tinha afinidade com aquela de um advogado, entre nós, afinal. Eles eram familiarizados com as leis de Deus, e não com a lei dos homens. Essas eram a matéria dos estudos deles: Era ocupação pessoal e peculiar deles, lerem e exporem as leis e os Profetas, particularmente nas sinagogas. Eles eram os pregadores costumeiros e declarados entre os judeus. De maneira que, se o sentido da palavra original era para ser observada assim, nós podemos reproduzi-la como, os Clérigos. Porque esses eram os homens que fizeram da Teologia sua profissão: e eles eram geralmente (como os nomes deles literalmente significam), homens de letras; os maiores homens do saber que existiam, então, na nação judaica.

            2. Os fariseus eram uma facção, ou um corpo de homens, muito antigos, entre os judeus; originalmente assim chamados da palavra hebraica PRS – que significa separar ou dividir. Não que eles tivessem feito alguma separação formal, ou divisão dentro da igreja nacional. Eles eram apenas distinguidos de outros, através da maior rigor de vida; através de uma conversa mais precisa. Já que eles eram zelosos da lei, em seus mínimos pontos; pagando o dízimo de hortelã, anis verde, e cominho: e, por isto eles eram honrados, por todas as pessoas, e geralmente, estimados como os homens mais santos. 

            Muitos dos Escribas eram da seita dos fariseus. Assim o próprio Paulo, que foi educado por um Escriba, primeiro na Universidade de Tarsus; e, mais tarde, naquela em Jerusalém, sob a responsabilidade de Gamaliel, (um dos mais ilustrados Escribas ou Doutores da lei que existiam, então, na nação) declara de si mesmo, perante o Concílio: 'Varões, irmãos, eu sou um fariseu, filho de fariseu!' (Atos 23:6). E, diante do Rei Agrippa: 'Sabendo de mim, desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu'.  (Atos 26:5). E todo o corpo de Escribas, geralmente, estimava e atuava, em concordância com os fariseus. Por isto, nós encontramos nosso Senhor, tão freqüentemente, unindo os dois, em muitos aspectos, debaixo da mesma consideração. Assim sendo, eles parecem ter sido mencionados juntos, como os mais eminentes professores de religião; os primeiros deles, considerados os mais sábios, -- os últimos, os mais santos dos homens.

IV

            3. O que 'a retidão dos Escribas e fariseus' realmente eram, não é difícil determinar. Nosso Senhor tem preservado um relato autêntico, do que um deles deu de si mesmo: E ele é claro e completo na descrição de sua própria retidão; e não se pode supor que tenha omitido alguma parte dele. Ele fora, realmente, 'até o templo para orar'; mas estava tão concentrado em suas próprias virtudes, que ele se esqueceu do porquê tinha vindo. Porque é digno de nota, que ele não orou propriamente, afinal. Ele apenas disse a Deus quão sábio e bom ele era. 'Deus, eu agradeço a ti, que eu não seja como os outros homens, extorquidores, injustos, adúlteros; ou mesmo como esse publicano. Eu jejuo duas vezes, na semana: Eu dou o dízimo de tudo que possuo'. Sua retidão, por conseguinte, consistiu de três partes:

            1o. Disse ele,'eu não sou como os outros homens'; Eu não sou um extorquidor, um homem injusto, um adúltero; nem 'mesmo como esse publicano'.
           
2. 'Eu jejuo duas vezes na semana':
           
3o. 'Eu dou o dízimo de tudo que possuo'.

'Eu não sou como outros homens são'. Este não é um ponto pequeno. Não é todo homem que pode dizer isto. Isto é como se ele tivesse dito: 'Eu não me deixarei levar embora por esta grande correnteza, o hábito. Eu não vivo, através do que é de costume, mas, através da razão; não pelos exemplos de homens, a não ser a Palavra de Deus. Eu não sou um extorquidor, um injusto, um adúltero; não obstante, o quão comuns esses pecados sejam, mesmo entre esses que são chamados o povo de Deus; (extorsão, em particular, -- uma espécie de injustiça legal, não punível, através de alguma lei humana; o obter ganho da ignorância ou carência de outro, tendo preenchido cada canto da terra): nem mesmo como esse publicano; nem culpado de algum pecado declarado ou presumido; nem um pecador exterior; mas um homem justo e honesto, de vida e conversa irrepreensíveis".          

4. 'Eu jejuo duas vezes na semana'. Existe mais coisa incluída nisto, do que nós podemos, a princípio estar sensíveis a respeito. Todos os estritos fariseus observavam os jejuns semanais; ou seja, toda segunda e quinta-feira. No primeiro dia, eles jejuavam, em memória de Moisés ter recebido, naquela data, (como a tradição deles ensina), as duas tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus; no último, em memória da expulsão deles de suas terras, quando ele viu o povo dançando em volta do bezerro de ouro. Nesses dias, eles não se alimentavam, afinal, até três horas da tarde; a hora que começavam a oferecer o sacrifício vespertino no templo. Até esta hora, era costume deles permanecerem no templo, em alguns cantos, salas, ou pátio dele; para que eles pudessem estar prontos para assistir todos os sacrifícios, e reunirem-se em todas as orações públicas. O tempo de espera eles estavam acostumados a empregar, parcialmente em recomendações pessoais a Deus; parcialmente no estudo das Escrituras, em ler a Lei e os Profetas, e em meditação depois disso. Assim, muito está subtendido em 'Eu jejuo duas vezes na semana'; a segunda ramificação da retidão de um fariseu. 

5. 'Eu dou o dízimo de tudo que possuo'. Isto os fariseus faziam com a mais extrema exatidão. Eles não faziam exceção da coisa mais insignificante; não, nem hortelã, anis verde, e cominho. Eles não trariam de volta a menor parte do que eles acreditavam pertencer propriamente a Deus; mas davam um décimo inteiro de todo recurso anualmente, e de todo o ganho, qualquer que ele fosse.

            Sim, os estritos fariseus (como tem sido freqüentemente observado, por aqueles que são versados nos escritos judeus antigos), não satisfeitos em dar um décimo do que tinham para Deus, nos seus sacerdotes e Levitas [membro da tribo de Levi, entre os judeus]; dar outro décimo para Deus, nos pobres; e assim continuamente; eles davam a mesma proporção de tudo que tinham em donativos, como eles estavam acostumados a dar em dízimo. Ele isto igualmente eles ajustavam com a mais extrema exatidão; para que não trouxessem de volta alguma parte, mas devolvendo completamente a Deus as coisas que eram de Deus, como eles consideravam isto ser. De modo que, sobre o total, eles tiravam, de ano a ano, um quinto completo de tudo que eles possuíam. 

            6. Esta era 'a retidão dos Escribas e fariseus'; uma retidão que, em muitos aspectos, vai muito além da concepção que muitos estão acostumados a tomar em consideração, no que concerne a ela. Mas, talvez, seja dito: 'Era tudo falso e dissimulado; porque eles eram todos uma companhia de hipócritas'. Alguns deles, sem dúvida, eram; homens que não tinham religião alguma realmente; nenhum temor a Deus, ou desejo de agradá-lo; que não tinham preocupação pela honra que vem de Deus, mas apenas pelo reconhecimento de homens. E esses são aqueles que nosso Senhor condena severamente; reprova tão categoricamente, em muitas ocasiões.

Nós não podemos supor, porque muitos fariseus eram hipócritas, que, por conseguinte, todos eram assim. Nem de fato é a hipocrisia, por meio de algum significado, os princípios básicos do caráter de um fariseu. Esta não é a marca característica da seita deles. Ela é, preferivelmente, de acordo com o relato de nosso Senhor, isto: 'Eles confiavam em si mesmos, que eles eram retos, e menosprezavam outros'. Este é o distintivo genuíno deles. Mas o fariseu desse tipo não era um hipócrita. Ele devia ser, em um senso comum, sincero; do contrário, ele não poderia 'confiar em si mesmo que ele fosse justo'. O homem que estava aqui recomendando a si mesmo a Deus, inquestionavelmente acreditava que era reto. Conseqüentemente, ele não era hipócrita; ele mesmo não era consciente de alguma insinceridade. Ele agora falava para Deus, exatamente o que ele pensava; ou seja, que ele era abundantemente melhor do que outros homens. 

Mas o exemplo de Paulo, não existisse algum outro, é suficiente para colocar isto fora de toda questão. Ele não poderia apenas dizer, quando cristão, 'E, por isto, procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, em direção a Deus e em direção a homens' (Atos 24:16); mas mesmo concernente ao tempo em que era um fariseu, 'Varões e irmãos, eu tenho vivido em boa consciência, diante de Deus, até esse dia'.  (Atos 23:1). Ele era, portanto, sincero, enquanto fariseu, tanto quanto, quando foi um cristão. Ele não era mais hipócrita, quando ele perseguia a Igreja, do que quando ele pregou a fé que uma vez ele perseguiu. Que a isto, então, seja acrescentado: 'a retidão dos Escribas e fariseus', -- uma crença sincera de que eles eram justos, e, em todas as coisas,  fazendo o serviço de Deus'.

            7. E ainda, 'com exceção de sua retidão', diz nosso Senhor, exceder a retidão dos Escribas e fariseus; ainda assim, de maneira alguma, entrará no reino dos céus'. Uma declaração solene e importante, e que coube a todos os que eram chamados pelo nome de Cristo, considerarem séria e profundamente. Mas, antes que perguntemos como nossa retidão pode exceder a deles, vamos examinar se, no momento, nós nos aproximamos dela.   

            Primeiro, um fariseu não era 'como outros homens eram'. No exterior ele era singularmente bom. Nós somos assim? Nós nos atrevemos a sermos singulares, afinal? Nós não preferimos nadar com a correnteza? Nós não prescindimos da religião e da razão juntas, muitas vezes, porque não pareceríamos singulares? Nós não estamos mais temerosos de estarmos fora da moda, do que de estarmos fora do caminho da salvação? Nós temos coragem de enfrentar a maré? – de andar na contramão do mundo? – 'de obedecer a Deus, preferivelmente, a homem'.  Do contrário, o fariseu nos deixa para trás, no mesmo primeiro passo. Seria bom, se nós o alcançássemos mais.

            Mas, para chegar perto, nós podemos usar sua primeira justificativa com Deus, que é, em substância: 'Eu não causo dano: Eu não vivo em pecado exterior. Eu não faço coisa alguma, pela qual meu coração me condena'. Você não faz? Você está certo disto? Você não vive, em uma prática, pela qual seu coração o condena? Se você não é um adúltero, se você não é lascivo, tanto na palavra ou ação, você não é injusto? A grande medida da justiça, assim como da misericórdia é: 'Não faça aos outros, o que você não quer que seja feito a você'. Você caminha por esta regra? Você nunca fez a alguém o que você não gostaria que ele fizesse a você? Mais ainda: você não é grosseiramente injusto? Você não é um extorquidor? Você não obtém ganho com a ignorância e carência de alguém; nem comprando, nem vendendo? Suponha que você esteja envolvido em um comércio: Você demanda; você recebe não mais do que o valor real do que você vende? Você demanda; você recebe, não mais do ignorante do que do instruído, -- de uma criança pequena, do que de um experiente comerciante? Se você faz, porque seu coração não o condena? Você é um extorquidor descarado! Você não exige de alguém que esteja em necessidade premente,  mais do que o preço usual das mercadorias, -- a quem você deve, e isto sem demora, as coisas com as quais  você apenas pode  prover a ele? Se você procede assim, isto também é uma extorsão clara. De fato, você não alcança a retidão de um fariseu. 

8. Em Segundo lugar, um fariseu (para expressar seu sentido em nosso caminho comum) usou todos os meios da graça. Como ele jejuava freqüentemente e muito, duas vezes em cada semana, então ele atendia todos os sacrifícios. Ele era constante nas orações públicas e privadas, e em ler e ouvir as Escrituras. Você chega a tanto? Você jejua muito e freqüentemente? – duas vezes na semana? Eu temo que não! Uma vez, pelo menos, 'todas as sextas-feiras do ano?' (assim nossa igreja, clara e categoricamente ordena a todos os seus membros a fazerem; a observarem todos esses, tanto quanto as vigílias, e os quarenta dias de quaresma, como dias de jejum e abstinência). Você jejua duas vezes por semana? Eu temo que alguns, entre nós, não podem alegar até mesmo isto! Você não negligencia a oportunidade de atender e participar do sacrifício cristão? 

Quantos são eles que chamam a si mesmos cristãos, e, ainda assim, são extremamente descuidados disto, -- ainda assim, não comem daquele pão; ou bebem daquela taça, por meses; talvez, anos, juntos? Você ouve, lê e medita sobre as Escrituras, todos os dias? Você se reúne em oração com a grande congregação, diariamente, se você tem oportunidade; se não, quando você pode; particularmente, naquele dia que você 'lembra de mantê-lo santo?'. Você se esforça para 'criar oportunidades?'. Você fica feliz, quando eles dizem a você: 'Vamos à casa do Senhor?'. Você é zeloso e diligente nas orações privadas? Você não suporta um dia passar sem elas? Antes, alguns de vocês não estão tão longe de passarem nisto, (como os fariseus) diversas horas, no dia, de maneira a pensarem que uma hora já é completamente suficiente, se não, muito? Você passa uma hora de um dia, ou de uma semana, em oração para o Pai que está em secreto? Sim, uma hora em um mês? Você passa uma hora, reunido em oração privada, desde que você nasceu? Ah! Pobres cristãos! O fariseu não deveria se levantar em julgamento contra vocês e condena-los? A retidão dele está tão acima da sua, quanto os céus estão acima da terra!

9. Em Terceiro lugar, o fariseu dava os dízimos, e fazia donativos de tudo o que possuía. E de que maneira profusa! De modo que ele era (como nós expressamos isto) 'um homem que fazia muito o bem'. Nós o alcançamos aqui? Qual de nós é assim  tão abundante como ele, nas boas obras? Qual de nós dá a quinta parte de tudo que tem a Deus? Tanto do essencial, quanto do lucro? Quem de nós, em vez de (supondo-se) cem libras por ano, dá vinte a Deus e ao pobre; em vez de cinqüenta, dez; e assim em uma proporção maior ou menos: Quando nossa retidão, usando de todos os meios da graça; atendendo a todas as ordenanças de Deus; evitando o mal e fazendo o bem, irá se igualar, por fim, à retidão dos Escribas e fariseus?

            10. E, mesmo que apenas se iguale à deles, de que proveito seria? 'Porque, verdadeiramente, eu digo, que, exceto, se a retidão de vocês excederem à retidão dos Escribas e fariseus, vocês, de modo algum, entrarão no reino dos céus'.  Mas como ela poderá exceder a deles? Em que a retidão de um cristão excederia aquela de um Escriba e fariseu? A retidão cristã excede a deles:

Primeiro, na extensão dela. A maioria dos fariseus, embora fossem rigorosamente exatos, em muitas coisas, ainda assim, eram encorajados, pelas tradições dos presbíteros a prescindirem de outras de igual importância. Assim, eles eram extremamente pontuais em manter o quarto mandamento, -- eles não roubariam uma espiga de milho, no sábado judeu; mas, não em manter o terceiro, afinal, -- tendo a menor consideração ao mais leve, ou até mesmo falso juramento. De modo que a retidão deles era parcial; considerando que a retidão de um cristão real e universal. Ele não observa uma, ou algumas partes da lei de Deus, e negligencia o restante; mas mantêm todos os seus mandamentos, amando-os todos, valorizando-os acima do outro e pedras preciosas. 

            11. Realmente, pode ser que alguns dos Escribas e fariseus se esforçaram para manterem todos os mandamentos; e, conseqüentemente foram, no tocante à retidão da lei, ou seja, de acordo com a letra dela, irrepreensíveis. Mas, ainda assim, a retidão de um cristão excede todas essas retidões de um Escriba e fariseu, no cumprimento do espírito, tanto quanto da letra da lei; através da obediência interior e exterior. Nisto, na espiritualidade dela, não se admite comparação. Este é o ponto que nosso Senhor tem tão largamente provado, em todo o teor deste discurso. A retidão deles era apenas externa: a retidão cristã está no intimo do homem. O fariseu 'limpava o exterior da taça e da travessa'; o cristão é limpo por dentro. O fariseu esforçava-se para apresentar a Deus uma vida boa; o cristão, um coração santo. Um livrava-se das folhas, talvez dos frutos do pecado; o outro, 'deitava o machado na raiz', não estando contente com a forma da santidade exterior, por mais exata que ela pudesse ser, a menos que a vida, o Espírito e o poder de Deus junto à salvação, fossem sentidos, no mais íntimo da alma.

Assim sendo, não causar mal, fazer o bem, e atender a todas as ordenanças de Deus (a retidão de um fariseu) eram todas externas; considerando que, ao contrário, a pobreza de espírito, o murmurar, a humildade, a fome e sede em busca da retidão, o amor nosso próximo, e a pureza do coração - (a retidão de um cristão) - são todas internas. E mesmo a pacificação (ou fazer o bem), e sofrer por causa da retidão, dão direito às bênçãos anexadas a eles, apenas porque implicam nessas disposições interiores que brotam deles, são exercitadas e confirmadas neles. Assim, considerando que a retidão dos Escribas e fariseus era tão somente externa, pode-se dizer, em algum sentido, que a retidão de um cristão é apenas interna: todas as suas ações e sofrimentos, como não sendo nada em si mesmos, e sendo considerados, diante de Deus, apenas, através dos temperamentos do qual elas brotam.  

            12. Quem quer que, por conseguinte, você seja, que carregue o nome santo e honrado de um cristão, veja, primeiro, que a sua retidão não se resuma na retidão de um Escriba e fariseu. Não seja você, 'como os outros homens'. Ouse permanecer sozinho, em ser 'um exemplo contra o singularmente bom'. Se você 'seguir a multidão', afinal, será como 'praticar o mal'. Não permita que o costume e a moda sejam seus guias, mas a razão e a religião. A prática de outros é nada para você: 'Cada homem dará um relato de si mesmo a Deus'. De fato, se você não pode salvar a alma de outro, tente, pelo menos, salvar a sua, -- a própria alma. Caminhe, não nos passos do morto, porque é largo, e muitos caminham nele. Mais ainda, por essa mesma marca, você pode identificá-lo. É este o caminho, no qual você caminha – um caminho largo, bem freqüentado, moderno? Então, ele infalivelmente o conduzirá para a destruição.  Oh! Não seja 'condenado, apenas por companhia!'. Cesse o mal; fuja do pecado, como da face de uma serpente! Por fim, não cause dano. 'ele que comete o pecado é do diabo'. Que você não seja encontrado neste número! No tocante aos pecados exteriores, certamente a graça de Deus é, mesmo agora, suficiente para você.  'Nisto', pelo menos, 'exercite-se para ter uma consciência que evita a ofensa, em direção a Deus, e em direção ao homem'.

            Segundo. Não permita que sua retidão esteja abaixo da deles, com respeito às ordenanças de Deus.  Se a sua força de trabalho ou corpórea não lhe permite jejuar duas vezes na semana, de qualquer modo, proceda fielmente com sua alma, e jejue tão freqüentemente quanto suas forças permitam. Não omita a oportunidade pública ou privada de derramar  a sua alma em oração. Não negligencie a ocasião de comer do pão e beber daquela taça que é a comunhão do corpo e sangue de Cristo. Seja diligente em buscar as Escrituras: leia-nas, o quanto pode, e medite nelas dia e noite. Regozije-se em abraçar cada oportunidade de ouvir 'a palavra da reconciliação' declarada pelos 'embaixadores de Cristo', os 'administradores dos mistérios de Deus'. Em usar todos os meios da graça; em um atendimento constante e cuidadoso a cada ordenança de Deus, esteja à altura (até que você possa ir além) 'da retidão dos Escribas e fariseus'.
            Em Terceiro lugar: Não esteja abaixo de um  fariseu, no fazer o bem. Dê donativos de tudo o que possui. Alguém está faminto? Alimente. Está com sede? Dê-lhe de beber. Nu? Cubra-o com uma vestimenta. Se você tem esses bens materiais, não limite sua beneficência a uma  proporção insuficiente. Seja misericordioso, ao extremo do seu poder. Por que não, tanto quanto esse fariseu? Agora, 'faça amizade com eles',  enquanto o tempo é do 'espírito de cobiça da retidão', para que, quando caíres¸ quando esse tabernáculo terrestre for dissolvido, 'eles possam receber a ti nas habitações eternas'.

            13. Mas não fique por aqui. Deixe que sua 'retidão exceda a retidão dos Escribas e fariseus'. Não fique satisfeito 'em manter toda a lei, e ofender em algum ponto'. Cumpra rapidamente todos os mandamentos Dele, e, todos 'os falsos caminhos, abomine totalmente'. Faça todas as coisas que Ele tem ordenado, e isto, com toda a sua força. Você pode fazer todas as coisas, através de Cristo que o fortalece; embora, sem ele, você nada possa.

            Acima de tudo, permita que sua retidão exceda a deles, na pureza e espiritualidade dela. Qual é a mais diligente forma de religião para você? A mais perfeita na retidão exterior? Vá mais além e mais profundamente do que todas essas! Permita que sua religião seja a religião do coração. Seja pobre em espírito; pequeno, comum, desprezível e vil aos seus próprios olhos; maravilhado e humilhado, diante do 'amor de Deus, que está em Jesus Cristo, seu Senhor. Seja sério: Permita que toda a correnteza de seus pensamentos, palavras e obras sejam tais que fluam da mais profunda convicção de que você está na beira do grande abismo; você e todos os filhos dos homens; prontos para caírem, tanto na glória, quanto no fogo eterno! Seja manso: Deixe que sua alma seja repleta com a brandura, gentileza, perseverança, longanimidade, em direção a todos os homens; ao mesmo tempo, que tudo que existe em você, esteja sedento de Deus, do Deus vivo, desejando acordo em busca de Seu semblante, e estar satisfeito com ele. Seja um amante de Deus, e de toda a humanidade. Neste espírito, suporte todas as coisas. Assim, 'excedido a retidão dos Escribas e Fariseus',  você será 'chamado o maior no reino dos céus'.

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[Editado por Dekek e Beryl Johnson (semi-aposentado pastor Metodista e esposa, em Meadpark, UK,) com correções de George Lyons para a  Wesley Center for Applied Theology of Northwest Nazarene College (Nampa, ID.)]



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