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quinta-feira, 23 de abril de 2020

ESPÍRITO UNIVERSAL



John Wesley


"E, partindo dali, encontrou-se com Jonadabe, filho de Recabe, que lhe vinha ao encontro, ao qual saudou e lhe perguntou: O teu coração é sincero para comigo como o meu o é para contigo? Respondeu Jonadabe: É. Então, se é, disse Jeú, dá-me a tua mão". (II Reis 10:15)

I. Vamos considerar a questão proposta por Jeú a Jonadabe, "O teu coração é sincero para comigo, como o meu o é para contigo?"

II. "Se teu coração for sincero, como o meu coração é com o teu", ama toda a humanidade, teus inimigos, os inimigos de Deus, os estranhos, como irmãos em Cristo.

III. Nós podemos aprender disto qual é o espírito católico.

1. Admite-se, mesmo em meio àqueles que não pagam este grande débito, que o amor é devido a toda a humanidade, a lei real: "Tu deves amar a teu próximo, como a ti mesmo", levando sua própria evidência a todos que ouvem isto: e que, não de acordo com a construção miserável colocada sobre ele, pelos zelotes dos tempos antigos: "Tu deves amar teu próximo", teus parentes, conhecidos, amigos, "e odiar teus inimigos"; não desta forma; "eu digo a vocês", diz o Senhor, "Amem seus inimigos; abençoem aqueles que os amaldiçoam; façam o bem àqueles que os odeiam; e orem por aqueles que maliciosamente os usam, e perseguem vocês; para que vocês possam ser os filhos", possam parecer assim à toda a humanidade de "seu Pai que está nos céus; aquele que faz Seu sol brilhar sobre o mal e o bom, e envia a chuva, sobre o justo e o injusto.

2. Mas é certo que existe um amor específico que nós devemos àqueles que amam a Deus. Assim Davi: "Todo meu deleite é junto aos santos que estão na terra, e junto tais que se distinguem na virtude". E assim, um maior do que ele: "Um novo mandamento eu dou a vocês: que amem uns aos outros: como eu tenho amado vocês, que vocês também amem uns aos outros. Através disto, todos os homens deverão saber que são Meus discípulos, se tiverem amor um para com o outro" (João 13:34-35). Este é aquele amor sobre o qual o Apóstolo João insiste tão freqüentemente e tão fortemente: "Esta", diz ele, "é a mensagem que vocês ouviram, desde o início, que nós devemos amar uns aos outros". (I João 3:11)."Por meio disto, percebemos o amor de Deus, porque ele dispôs sua vida por nós: e nós devemos", se o amor puder nos chamar para isto, "dispor nossas vidas pelos irmãos" (Versículo 16). E novamente: "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor" (4:7-8). "Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros" (Versículo 10.11).

3. Todos os homens aprovam isto; mas todos os homens praticam isto? Experiência diária mostra o contrário. Onde estão, até mesmo os cristãos que "amam uns aos outros, como Aquele que nos deu o mandamento?" Quantos obstáculos colocam-se no caminho! Dois grandes e gerais obstáculos são, primeiro, que eles não podem todos pensar da mesma maneira, em conseqüência disto; segundo, que eles não podem caminhar de maneira semelhante; mas em diversos pontos menores, a prática deles deve diferir na proporção da diferença de seus sentimentos.

4. Mas, embora a diferença de opiniões e os modos de adoração possam impedir uma união inteira externa, ainda assim, ela precisa impedir nossa união em afeição? Embora não possamos pensar da mesma forma, nós não podemos amar da mesma forma? Sem dúvida que podemos. Nisto todos os filhos de Deus podem se unir, não obstante essas diferenças menores. Essas permanecendo como estão, eles podem favorecer uns aos outros em amor e nas boas obras.

            5. Certamente, a este respeito, o exemplo do próprio Jeú, quando misturado ao caráter como o dele era, é merecedor tanto da atenção quanto da imitação por parte de todo cristão sério. "E, partindo dali, encontrou-se com Jonadabe, filho de Recabe, que lhe vinha ao encontro, ao qual saudou e lhe perguntou: O teu coração é sincero para comigo como o meu o é para contigo? Respondeu Jonadabe: É. Então, se é, disse Jeú, dá-me a tua mão". 

            O texto naturalmente divide-se em duas partes: -- Primeiro, a questão proposta por Jeú a Jonadabe: "Teu coração é sincero, assim como o meu coração é sincero com o teu?". Em Segundo Lugar, um oferecimento feito sobre a resposta de Jonadabe: "Se é"; "Se ele for, dá-me a tua mão".

I
           
1. Em Primeiro Lugar, vamos considerar a questão proposta por Jeú a Jonadabe: "Teu coração é sincero, como meu coração é para com o teu?".

            A primeira coisa que podemos observar nestas palavras, é que aqui não existe pergunta, concernente às opiniões de Jonadabe. E ainda assim, é certo que ele mantinha algumas, que eram muito incomuns,; na verdade, completamente específicas a ele mesmo; e algumas que tinham uma influência restrita à sua prática; sobre a qual, igualmente, ele colocava tão grande ênfase, de maneira a vinculá-la junto aos filhos de seus filhos, até à última posteridade deles. Isto está evidente do relato dado por Jeremias, muitos anos depois de sua morte: "Então tomei a Jaazanias, filho de Jeremias, filho de Habazínias, e a seus irmãos, e a todos os seus filhos, e a toda a casa dos recabitas,  os introduzi na casa do Senhor, na câmara dos filhos de Hanã, filho de Jigdalias, homem de Deus, a qual estava junto à câmara dos príncipes que ficava sobre a câmara de Maaséias, filho de Salum, guarda do vestíbulo; e pus diante dos filhos da casa dos recabitas taças cheias de vinho, e copos, e disse-lhes: Bebei vinho. Eles, porém, disseram: Não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos ordenou, dizendo: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos; não edificareis casa, nem semeareis semente, nem plantareis vinha, nem a possuireis; mas habitareis em tendas todos os vossos dias; para que vivais muitos dias na terra em que andais peregrinando. Obedecemos pois à voz de Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, em tudo quanto nos ordenou, de não bebermos vinho em todos os nossos dias, nem nós, nem nossas mulheres, nem nossos filhos, nem nossas filhas; nem de edificarmos casas para nossa habitação; nem de possuirmos vinha, nem campo, nem semente; mas habitamos em tendas, e assim obedecemos e fazemos conforme tudo quanto nos ordenou Jonadabe, nosso pai". (Jeremias 35:3-10)

            2. E ainda assim, Jeú (embora pareça ter sido sua maneira, ambas nas coisas seculares quanto religiosas, dirigir-se furiosamente) não se preocupou, afinal, com algumas dessas coisas, mas deixou Jonadabe afluir em sua própria consciência. E nenhum deles parecer ter dado ao outro a menor perturbação, no tocante às opiniões que mantinham.

3. É muito provável, que muitos homens bons agora também possam acolher opiniões específicas; e alguns deles podem ser tão singulares nisto, quanto Jonadabe foi. E é certo, até onde conhecemos, a não ser em parte, que todos os homens não irão ver as coisas do mesmo modo. É uma conseqüência inevitável da presente fraqueza e pequenez do entendimento humano, que muitos homens irão ser de diversas mentes na religião, assim como na vida comum. Assim tem sido, desde o começo do mundo; e assim será "até a restituição de todas as coisas".

4. Mais do que isto: embora cada homem necessariamente acredite que cada opinião específica que ele abrace é a verdadeira (uma vez que acreditar que alguma opinião não é verdadeira, é a mesma coisa que não acatá-la); ainda assim, nenhum homem pode estar seguro de que todas as suas opiniões, juntas, são verdadeiras. Mais ainda, todo homem pensante está seguro de que elas não são, vendo que para o homem "ser ignorante em muitas coisas, e equivocar-se em algumas, é a condição necessária da humanidade".  Isto, portanto, ele está consciente, é seu próprio caso. Ele sabe, no geral, que ele mesmo comete erros; embora naqueles equívocos específicos, ele não saiba, ou talvez, não possa saber.

            5. Eu digo que "talvez, ele não possa saber"; porque quem pode dizer quão longe a ignorância indômita pode se estender? Ou (o que vem a ser a mesma coisa) o preconceito invencível? – que está tão freqüentemente fixado nas mentes ternas, de maneira que é impossível, mais tarde, arrancar o que tem tão profunda raiz. E quem pode dizer, a menos que ele conhecesse todas as circunstâncias que a atendem, quão longe qualquer equívoco é censurável? Vendo-se que toda culpa deve supor alguma conformidade com a vontade; da qual somente Ele que inspeciona os corações pode julgar.

            6. Todo homem sábio, portanto, irá permitir que outros tenham a mesma liberdade de pensamento que ele deseja eles permitam a ele; e não irá insistir que eles abracem suas opiniões, mais do que eles insistem que ele abrace as deles. Ele suporta aqueles que diferem dele, e apenas pergunta àquele com que ele deseja se unir em amor cristão: "Teu coração é sincero comigo, como o meu coração é sincero com o teu?".

7. Em Segundo Lugar, nós podemos observar que aqui não existe pergunta feita quanto ao modo de adoração de Jonadabe; embora seja altamente provável que havia, neste aspecto também, uma muito ampla diferença entre eles. Porque nós podemos bem acreditar que Jonadabe, assim como toda sua posteridade, adorou a Deus em Jerusalém! Considerando que Jeú não o fez: ele tinha mais cuidado com a diplomacia de estado do que com a religião. E embora ele matasse os adoradores de Baal, e "destruísse Baal de Israel", ainda assim, do pecado conveniente de Jeroboão, a adoração dos "bezerros de ouro", ele "não se separou". (II Reis 10:29).

8. Mas, até mesmo, entre os homens de corações honestos; homens que desejam "ter uma consciência nula de ofensa", há necessidade, por quanto tempo existirem várias opiniões, de haver várias maneiras de adorar a Deus; vendo-se que a variedade de opiniões implicam uma variedade de prática. E como, em todas as épocas, os homens diferiram, em nada mais do que em suas opiniões, concernentes ao Ser Supremo; então, em nada mais eles diferiram uns dos outros, do que na maneira de adoração dele. Tivesse isto sido apenas no mundo pagão, não teria sido de todo surpresa; porque nós sabemos que "através" da "sabedoria" eles "não conheciam a Deus"; nem, portanto, poderiam eles saber como adorá-Lo. Mas não é estranho que, até mesmo, no mundo cristão, embora eles todos concordem em geral que "Deus é um Espírito; e que aqueles que o adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade"; ainda assim, nos modelos específicos de adorar a Deus, são quase tão variados quanto entre os ateus?

9. E como devemos escolher entre tantas variedades? Nenhum homem pode escolher ou prescrever por outro. Mas cada um deve seguir os ditames de sua própria consciência, na simplicidade e sinceridade divina. Ele deve ser completamente persuadido em sua própria mente, e, então, agir de acordo com o melhor entendimento que ele tiver. Nem alguma criatura tem poder para constranger outra a caminhar pelas suas próprias regras. Deus tem dado nenhum direito a alguns dos filhos dos homens, de assim agirem como senhores sobre a consciência de seus irmãos; mas cada homem deve julgar por si mesmo, uma vez que cada homem deve dar um relato de si mesmo a Deus.

10. Embora, portanto, cada seguidor de Cristo seja obrigado, pela mesma natureza da instituição cristã, a ser um membro de alguma congregação particular ou de qualquer outra igreja, como isto é usualmente denominado (o que implica uma maneira pessoal de adoração a Deus; uma vez que "dois não podem caminhar juntos, a menos que estejam de acordo"); ainda assim, ninguém pode ser obrigado, por qualquer poder na terra, mas aquele de sua própria consciência, a preferir esta ou aquela congregação à outra; esta ou aquela maneira de adoração. Eu sei que é comumente suposto, que o lugar de nosso nascimento fixa a igreja para a qual devemos pretender; que alguém, por exemplo, que seja nascido na Inglaterra, deva ser membro daquela que é denominada de Igreja da Inglaterra, e, conseqüentemente, adorar a Deus de uma forma específica que seja prescrita por aquela Igreja. Eu fui uma vez um zeloso mantenedor disto; mas eu encontrei muitas razões para minorar este zelo. Eu temo que ele seja atendido com tais dificuldades que nenhum homem razoável poderia superar. Nem o menor deles que é, se esta regra tivesse tomado lugar, não teria havido Reforma do Catolicismo Romano; vendo que ele destrói inteiramente o direito do julgamento privado, no qual toda a Reforma se situa.

11. Eu não me atrevo, portanto, presumir impor meu modo de adoração a algum outro. Eu acredito que isto seja primitivamente verdadeiro e apostólico: mas minha crença é nenhuma regra para outro. Eu não pergunto, conseqüentemente, a ele, com quem eu quero me unir em amor cristão: você é da minha igreja, da minha congregação? Você recebe a mesma forma de governo religioso e permite os mesmos oficiais religiosos, como eu? Você se reúne na mesma forma de oração, na qual eu adoro a Deus? Eu não inquiro: Você recebe a Ceia do Senhor, na mesma postura e maneira que eu o faço? Nem se, na administração do batismo, você concorda comigo em admitir garantia para o batizado, na maneira de administrá-lo; ou quanto à idade daqueles a quem ele deveria ser administrado. Mais do que isto, eu não pergunto de você (tão claro quanto eu estou em minha mente), se você permite batismo e Ceia do Senhor, afinal. Deixe que todas essas coisas como estão: nós iremos falar delas, se for necessário, em uma ocasião mais conveniente. Minha única pergunta no momento é esta: "Teu coração é sincero para comigo, quanto o meu é sincero para contigo?".  

12. Mas o que está propriamente implícito nesta questão? Eu não quero dizer: O que Jeú inseria nisto: Mas, o que poderia um seguidor de Cristo entender por meio disto, quando ele propõe isto a algum dos seus irmãos?

11. Eu não me atrevo, portanto, presumir impor meu modo de adoração a algum outro. Eu acredito que isto seja primitivamente verdadeiro e apostólico: mas minha crença é nenhuma regra para outro. Eu não pergunto, conseqüentemente, a ele, com quem eu quero me unir em amor cristão: você é da minha igreja, da minha congregação? Você recebe a mesma forma de governo religioso e permite os mesmos oficiais religiosos, como eu? Você se reúne na mesma forma de oração, na qual eu adoro a Deus? Eu não inquiro: Você recebe a Ceia do Senhor, na mesma postura e maneira que eu o faço? Nem se, na administração do batismo, você concorda comigo em admitir garantia para o batizado, na maneira de administrá-lo; ou quanto à idade daqueles a quem ele deveria ser administrado. Mais do que isto, eu não pergunto de você (tão claro quanto eu estou em minha mente), se você permite batismo e Ceia do Senhor, afinal. Deixe que todas essas coisas como estão: nós iremos falar delas, se for necessário, em uma ocasião mais conveniente. Minha única pergunta no momento é esta: "Teu coração é sincero para comigo, quanto o meu é sincero para contigo?".  

12. Mas o que está propriamente implícito nesta questão? Eu não quero dizer: O que Jeú inseria nisto: Mas, o que poderia um seguidor de Cristo entender por meio disto, quando ele propõe isto a algum dos seus irmãos?

A primeira coisa inserida é esta: Teu coração é sincero em direção a Deus? Tu crês na existência Dele e em suas perfeições? Sua eternidade, imensidão, sabedoria e poder? Sua justiça, misericórdia e verdade? Crês que ele agora sustenta todas as coisas, através da palavra de seu poder? E que ele governa, até mesmo o mais minúsculo; mesmo o mais nóxio, para sua própria glória, e o bem daqueles que o amam?  Tu tens a evidência divina, a convicção sobrenatural das coisas de Deus? Tu "caminhas pela fé, e não pelas vistas?". Não olhando para as coisas temporais, mas para as coisas eternas?

13. Tu crês no Senhor Jesus Cristo, "Deus sobre todos, abençoado para sempre?". Ele está revelado em tua alma? Tu conheces Jesus Cristo, e Ele crucificado? Ele habita em ti, e tu Nele? Ele está formado em teu coração pela fé? Tendo absolutamente repudiado todas as tuas próprias obras, tua própria retidão, tu tens te "submetido à retidão de Deus, que é pela fé em Jesus Cristo?" Tu te "encontras Nele, não tendo tua própria retidão, mas a retidão que é pela fé?". E tu estás, através Dele, "lutando a boa luta da fé, agarrando-se à vida eterna?".

14. Tua fé está preenchida com a energia do amor? Tu amas a Deus (eu não digo, "acima de todas as coisas", porque se trata de uma expressão não bíblica ou ambígua, mas) "com todo teu coração, e com toda tua mente, e com toda tua alma, e todas as tuas forças?". Tu buscas toda tua felicidade Nele apenas? E tu encontras o que buscaste? Tua alma continuamente "glorifica o Senhor, e teu espírito se regozija no Deus teu Salvador?". Tendo aprendido "em todas as coisas, dar graças, tu consideras que esta é uma coisa alegre e prazerosa?". Deus é o centro da tua alma; a somatória de todos os teus desejos? Tu estás, conseqüentemente juntando tesouros nos céus, e considerando todas as outras coisas mais, esterco e imundície? O amor a Deus expulsou o amor do mundo de tua alma? Então, tu estás "crucificado para o mundo"; tu estás morto para todos abaixo; e tua "vida está oculta com Cristo em Deus".

15. Tu estás empregado em fazer, "não tua própria vontade, mas a vontade dele que o enviou a ti" – Dele que enviou a ti para que permaneças aqui, por algum tempo, para passar poucos dias em uma terra estranha, até que tendo terminado a obra que Ele deu a ti para fazer, tu retornes à casa de teu Pai? É tua carne e bebida "fazer a vontade de teu Pai que está nos céus?". Teu olho é puro em todas as coisas? Sempre fixado Nele? Sempre olhando para Jesus? Tu objetivas a Ele, no que quer que tu faças? Em todo o teu trabalho, teus negócios, teu modo de vida? Almejas apenas a Glória de Deus em tudo, "o que quer que tu faças, quer em palavra ou ação, fazendo tudo em nome do Senhor Jesus; dando graças junto a Deus, mesmo ao Pai, através Dele?".

16. O amor de Deus te constringe a servir a Ele com temor; a "regozijar-se junto a Ele com reverência?". Estás tu mais temeroso de desagradar a Deus, do que tanto da morte quanto do inferno? Nada é tão terrível a ti, do que o pensamento de ofender os olhos de Sua glória? Sobre este alicerce, tu "odeias todos os maus caminhos"; todas as transgressões à sua lei perfeita e santa; e nisto "exercita-te a ter uma consciência nula de ofensa em direção a Deus, e em direção ao homem?".  

17. Teu coração está sincero em direção ao teu próximo? Tu amas toda a humanidade, como a ti mesmo, sem exceção? "Se tu amas apenas aqueles que te amam, que agradecimento tens tu?". Tu "amas teus inimigos?". Tua alma está cheia de boa-vontade, de afeição terna, em direção a eles? Tu amas, até mesmo, os inimigos de Deus; os ingratos e iníquos? No mais íntimo de ti, tu te enterneces por eles? Tu "aceitarias ser amaldiçoado" temporariamente por causa deles? E tu mostras isto, "abençoando aqueles que te amaldiçoam, e orando por aqueles que, maliciosamente usam, e perseguem a ti?".

18. Tu demonstras teu amor, através de tuas obras? Enquanto tens oportunidade, de fato, "fazes o bem a todos os homens", próximos, ou estranhos; amigos ou inimigos; bons ou maus? Fazes a eles todo o bem que podes; esforçando-te para suprir todas as necessidades deles; assistindo a eles, tanto no corpo quanto na alma, no máximo de teu poder? – Se tu estás assim inclinado, possa cada cristão dizer, sim, se tu estás sinceramente desejoso disto, e seguindo até que consigas, então, "teu coração é sincero, como meu coração é sincero com o teu".

II

1. "Se for assim, dá-me tua mão". Eu não quero dizer, "seja da minha opinião". Você não precisa: Eu não espero ou desejo isto. Nem eu quero dizer que "eu serei da tua opinião". Eu não posso; isto não depende de minha escolha: Eu não posso pensar mais do que eu possa ver ou ouvir, como eu desejo. Mantém tua opinião; eu a minha; e isto tão firmemente quanto sempre. Você não precisa, nem mesmo, se esforçar para vir até mim, ou me levar até ti. Eu não desejo disputar esses pontos, ou ouvir ou falar, concernente a eles. Deixa todas as opiniões apenas de um lado ou de outro; apenas "dá-me a tua mão".

2. Eu não quero dizer, "abraça meus modos de adoração", ou "eu irei abraçar os teus". Esta também é uma coisa que não depende quer da tua escolha ou da minha. Nós devemos ambos agir como completamente persuadidos em nossa própria mente. Segura com firmeza aquilo que acreditas seja mais aceitável para Deus, e eu irei fazer o mesmo. Eu creio que a forma episcopal do governo religioso seja bíblica e apostólica. Se tu consideras que o Presbiteriano Independente é melhor, continua a pensar assim, e age de acordo. Eu acredito que as crianças devam ser batizadas; e que isto pode ser feito, por imersão ou aspersão. Se tu estás persuadido do contrário, seja, então, assim, e siga tua própria persuasão. Parece a mim, que as formas de oração são de uso excelente, particularmente, na grande congregação. Se tu julgas a oração improvisada de melhor uso, age, adequado ao teu próprio julgamento. Meu sentimento é que eu não devo proibir água, onde as pessoas possam ser batizadas; e que eu devo comer pão e beber vinho, em memória do meu mestre morto: entretanto, se tu não estás convencido disto, age de acordo com o entendimento que tu tens. Eu não tenho desejo de disputar contigo, em nenhum momento, sobre esses assuntos precedentes. Deixa todos esses pontos menores de lado. Que eles nunca sejam revelados, "se teu coração é como o meu"; se tu amas a Deus e a toda a humanidade, eu não faço mais perguntas. "dá-me a tua mão".

3. Em Primeiro Lugar, eu quero dizer, ama-me: e isto não apenas como tu amas a toda a humanidade; não apenas como tu amas teus inimigos, ou os inimigos de Deus, aqueles que odeiam a ti, que "maliciosamente usam a ti, e te perseguem"; não apenas como um estranho; como alguém de quem tu não sabes nem bem, nem mal, -- Eu não estou satisfeito com isto, -- não; "se teu coração é sincero, como o meu é sincero para contigo", então, ama-me com uma afeição muito terna, como um amigo que é mais íntimo que um irmão; como um irmão em Cristo, um concidadão da Nova Jerusalém, um soldado companheiro engajado na mesma guerra, sob o mesmo Capitão de nossa salvação. Ama-me como um companheiro no reino e amor de Jesus, e um co-herdeiro de Sua glória.

4. Ama-me (mas em um grau mais sublime do que tu fazes com a massa da humanidade), com o amor que é longânime e delicado; que é paciente, -- se eu sou ignorante ou estou fora do caminho, carrega e não aumenta meu fardo; e é terno, delicado, e compassivo ainda; não inveja, se, em algum tempo, agradar a Deus prosperar-me em Sua obra, muito mais do que a ti. Ama-me com o amor que não se altera, quer por minhas tolices ou enfermidades; ou mesmo devido ao meu agir (se algumas vezes puder parecer assim a ti), não de acordo com a vontade de Deus. Ama-me de modo a não desejar mal a mim; a jogar fora todo ciúme e maldade presumida. Ama-me com o amor que cobre todas as coisas; que nunca exibe minhas faltas ou enfermidades, -- que crê em todas as coisas; está sempre desejoso de pensar o melhor; de colocar a mais fiel edificação sobre todas as minhas palavras e ações, -- que espera todas as coisas; mesmo aquelas coisas relatadas que nunca foram feitas; ou não foram feitas com tais circunstâncias como são relatadas; ou, pelo menos, aquelas que foram feitas com uma boa intenção, ou em uma profunda influência de tentação. E espere até o fim, para que o que quer que esteja defeituoso, irá, pela graça de Deus, ser corrigido; e o que quer que esteja faltando, suprido, através das riquezas de Sua misericórdia em Jesus Cristo.

5. Em Segundo Lugar, recomenda-me a Deus, em todas as tuas orações; luta por mim, em meu benefício, para que Ele possa rapidamente corrigir o que parece a Ele, impróprio; e suprir o que seja necessário em mim. Em teus acessos mais próximos ao trono da graça, implora a Ele que está, então, tão presente em ti, que meu coração possa ser mais como o teu coração; mais sincero tanto em direção a Deus quanto em direção ao homem; para que eu possa ter uma convicção mais completa das coisas não vistas, e um entendimento mais forte do amor de Deus em Jesus Cristo; possa mais rapidamente caminhar pela fé, e não pelas vistas; e mais honestamente agarrar a vida eterna. Ora para que o amor a Deus e a toda a humanidade possa ser mais largamente derramado em meu coração; para que eu possa ser mais fervente e ativo ao fazer a vontade de meu Pai que está nos céus; mais zeloso das boas obras; e mais cuidadoso em abster-me de toda a aparência do mal.

6. Em Terceiro Lugar, eu quero dizer, incentiva-me a amar e fazer as boas obras. Apóia tua oração, quanto tiveres oportunidade, falando a mim, em amor, no que quer que tu acreditas ser para a saúde de tua alma. Apressa-me na obra que Deus tem me dado a fazer, e instrua-me em como fazê-la mais perfeitamente. Sim, "atinja-me amigavelmente e me reprove", onde quer que eu pareça a ti estar fazendo preferivelmente a minha vontade, do que a vontade Daquele que me enviou. Ó fala, e não poupa, o que quer que tu acreditas possa conduzir, tanto a emendar minhas faltas, fortalecer minha fraqueza, edificar-me no amor, quanto tornar-me mais adequado, em qualquer tipo, para o uso do Mestre.

7. Eu quero dizer, por ultimo, não me ames em palavra apenas, mas em ação e em verdade. Tanto quanto conscientemente puderes (retendo ainda tuas próprias opiniões, e tua maneira própria de adorar a Deus), une-te a mim na obra de Deus; e vamos seguir de mãos dadas. E é certo que tu podes ir assim tão longe. Fala honrosamente, onde quer que estejas, da obra de Deus, através de quem quer que Ele opere, e delicadamente de seus mensageiros. E, se estiver em teu poder, não apenas condoa-se deles, quando estão em alguma dificuldade ou aflição, mas dê a eles uma assistência disposta e efetiva, para que eles possam glorificar a Deus em teu proveito.

8. Duas coisas devem ser observadas com respeito ao que tem sido falado sob este ultimo assunto: Qualquer que seja o amor; qualquer que seja os ofícios do amor; qualquer que seja sua assistência temporal ou spiritual, eu reivindico dele, cujo coração é sincero, como o meu é para com ele, o mesmo que eu estou pronto, pela graça de Deus, de acordo com minha medida, a dar a ele; o outro, a quem eu não fiz esta reivindicação, em meu próprio proveito, mas de todos, cujos corações são sinceros em direção a Deus e ao homem, para que possamos todos amar, uns aos outros, assim como Cristo tem nos amado.

III

1. Uma inferência nós podemos fazer do que foi dito. Nós podemos aprender disto, o que é um espírito universal.

Escassamente existe alguma expressão que tenha sido mais grosseiramente mal compreendida, e mais perigosamente mal aplicada do que esta: no entanto, para alguém que calmamente considere as observações precedentes será fácil corrigir algumas tais incompreensões, e impedir tais más aplicações.

Porque, disto nós aprendemos, Em Primeiro Lugar, que um espírito universal não é latitudinarismo especulativo [Sistema teológico do século XVII na Inglaterra, que advogava a tolerância quanto a variações não essenciais de doutrinas]. Não se trata de uma indiferença a todas as opiniões: isto é cria do inferno, e não produto dos céus. Esta hesitação de pensamento; isto sendo "dirigido para cima e para baixo, e isto se rendendo a todo vento de doutrina", é uma grande maldição, não uma bênção; um inimigo irreconciliável, não um amigo do verdadeiro universalismo. Um homem de um espírito universal não tem que buscar agora a sua religião. Ele está fixo, como o sol, em seu julgamento, concernente às principais ramificações da doutrina cristã. É verdade, que ele está sempre pronto a ouvir e pesar o que quer que possa ser oferecido contra seus princípios; mas como isto não mostra qualquer indecisão em sua própria mente, assim, nem isto ocasiona alguma. Ele não hesita entre duas opiniões, nem se esforça inutilmente para misturá-las em uma só. Observem isto, vocês que não sabem do que se trata o espírito universal; aqueles que chamam a si mesmos homens de um espírito católico, apenas porque vocês são de um entendimento confuso; porque suas mentes são todas um nevoeiro; porque vocês não têm estabelecido princípios consistentes, mas os têm misturado desordenadamente. Esteja convencido de que vocês têm perdido seu caminho completamente; vocês não sabem onde vocês estão. Vocês pensam que estão indo para o mesmo espírito de Cristo; quando, na verdade, vocês estão mais perto do espírito do anticristo.  Vão, primeiro, e aprendam os primeiros elementos do Evangelho de Cristo, e, então, poderão aprender a ser de um espírito verdadeiramente universal.

2. Em Segundo Lugar, daquilo que tem sido dito, nós aprendemos que um espírito católico não é uma espécie prática de latitudinarismo. Ele não é indiferente tanto à adoração pública, quanto às maneiras exteriores de executá-la. Isto, igualmente, não seria uma bênção, mas uma maldição. Longe de ser uma ajuda a isto, iria, por quanto tempo permanecesse, ser um obstáculo à adoração de Deus, em espírito e em verdade. Mas o homem de um espírito verdadeiramente católico, tendo pesado todas as coisas na balança do altar, não tem dúvida, não tem escrúpulos, afinal, concernente à algum modo pessoal de adoração, em que ele participe. Ele está claramente convencido de que esta maneira de adorar a Deus é tanto bíblica quanto racional. Ele não conhece pessoa alguma no mundo que seja mais bíblica; ninguém que seja mais racional. Portanto, sem divagar, daqui para lá, ele adere-se mais perto a isto, e louva a Deus, pela oportunidade de assim fazê-lo.
3. Em Terceiro Lugar, nós podemos aprender disto, que um espírito católico não é indiferente a todas as congregações. Esta é uma outra espécie de latitudinarismo, não menos absurda, e não bíblica do que a anterior. Mas está muito longe de um homem de espírito verdadeiramente universalista. Ele está fixo em sua congregação, assim como em seus princípios. Ele está unido a uma; não apenas a uma, em espírito, mas através de todos os laços de camaradagem cristã. Lá ele participa de todas as ordenanças de Deus. Lá ele recebe a Ceia do Senhor. Lá ele derrama sua alma em oração pública, e se reúne em louvor e ação de graças pública. Lá ele se regozija de ouvir a palavra da reconciliação, o evangelho da graça de Deus. Com esses seus mais próximos, seus mais amados irmãos, nas ocasiões solenes, ele busca Deus pelo jejum. Esses particularmente ele vigia em amor; como ele faz com sua alma; admoestando, exortando, confortando, reprovando, e em todas as maneiras edificando um ao outro na fé. Esses ele cuida como sua própria família; e, portanto, de acordo com a habilidade que Deus tem dado a ele, naturalmente cuida deles, e providencia para que eles possam ter todas as coisas que são necessárias para a vida e santidade.

4. Mas, enquanto ele está firmemente ajustado em seus princípios religiosos, os quais ele acredita ser a verdade que está em Jesus; enquanto ele firmemente adere àquela adoração de Deus que ele julga ser mais aceitável aos seus olhos; e enquanto ele está unido, através dos laços mais ternos e íntimos a uma congregação em particular, -- seu coração se estende em direção a toda a humanidade, esses que conhece, e esses que não conhece; ele abraça com afeição forte e cordial o próximo e os estranhos; amigos e inimigos. Este é o amor católico ou universal. Porque somente o amor dá o título a este caráter: o amor universal é o espírito universal.

5. Se, então, tomamos esta palavra em seu sentido mais estrito, um homem de espírito católico é alguém que, na maneira acima mencionada, dá sua mão a todos os corações que são sinceros, como seu coração: alguém que sabe como valorizar e louvar a Deus, por todas as vantagens que ele desfruta, com respeito ao conhecimento das coisas de Deus, à maneira bíblica de adorá-Lo, e, acima de tudo, sua união com a congregação, temendo a Deus e operando retidão: alguém que, retém essas bênçãos, com o cuidado mais estrito, mantendo-as como a menina de seus olhos, ao mesmo tempo que ama – como amigos, como irmão no Senhor, como membros de Cristo e filhos de Deus, como parceiros unidos agora do reino presente de Deus e companheiros herdeiros de seu reino eterno – todos, qualquer que seja a opinião, ou adoração, ou congregação, que crêem no Senhor Jesus Cristo; que amam a Deus e homem; que, regozijando-se no agradar, e temendo ofender, é cuidadoso de abster-se do mal, e zeloso das obras do bem. Ele é o homem de espírito católico, que suporta todos esses continuamente junto ao seu coração; que tendo uma inexplicável ternura por essas pessoas, e almejando pelo bem-estar delas, não cessa de recomendá-las a Deus em oração, assim como defender a causa delas diante de homens; que fala confortavelmente delas, e trabalha, através de todas as suas palavras, para fortalecer suas mãos em Deus. Ele as assiste ao máximo de suas forças em todas as coisas, espirituais e temporais. Ele está pronto para "exaustar-se e ser exaustado por elas"; sim, de colocar sua vida pela causa delas.

6. Tu, ó homem de Deus, pensa sobre essas coisas! Se tu estás pronto neste caminho, segue em frente. Se tu, antes, erraste o caminho, graças a Deus que te trouxe de volta! E agora corre a corrida que está colocada diante de ti, no caminho real do amor universal. Presta atenção, a fim de que tu não estejas hesitante em teu julgamento, ou limitado em teu interior: mas mantém uma paz sempre, enraizada na fé uma vez entregue aos santos, e alicerçada no amor, no verdadeiro amor universal, até que tu sejas tragado no amor para sempre e sempre!

[Editado anonimamente na Memorial University of Newfoundland com correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]


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